Por Luiz Gonzaga Belluzzo, na revista CartaCapital:
Entrevistado na CNN dos Estados Unidos a respeito dos movimentos Black Lives Matter, Cornell West, professor de filosofia em Harvard, não deixou a bola cair.
Diante do constrangimento dos entrevistadores despachou “de prima”:
“Acho que a raiva dos manifestantes é impulsionada pelo indiciamento moral das elites.
Tem a ver com o poder de Wall Street e os crimes de Wall Street.
Os mercados financeiros praticam saques legalizados há muito tempo, com altos níveis de desigualdade de riqueza fluindo de lá”.
Mais adiante, o filósofo chutou o balde: “A história americana é um fracasso”.
Ao longo da entrevista, West diz que a sociedade norte-americana e seu capitalismo de “vencedores” escancaram a incapacidade de entregar o que prometem à maioria dos cidadãos.
Negros e brancos, jovens e mais velhos, se juntam nas ruas para rejeitar os métodos das polícias e as opressões do sistema.
A celebração do sucesso colide com a exclusão social, o desemprego estrutural promovido pela transformação tecnológica e pela migração da manufatura para as regiões de baixos salários tromba com a igualdade de oportunidades.
A busca pela diferenciação do consumo e dos estilos de vida é a marca registrada da concorrência de massa.
Os impulsos para acompanhar os hábitos, gostos e gozos dos bem-aquinhoados se esboroam nas angústias da desigualdade.
A maioria não consegue realizar seu desígnio, atolada no pântano da sociedade de massa governado por poderes invisíveis.
Os mercados financeiros praticam saques legalizados há muito tempo, com altos níveis de desigualdade
Em seu novo livro, System, o ex-secretário do Trabalho Robert Reich investiga as relações entre o poder e a riqueza.
Para compreender a natureza do poder, diz Reich, é preciso entender o papel da riqueza.
“No sistema que temos agora, poder e riqueza são inseparáveis. Grande riqueza flui de grande poder, grande poder depende de grande riqueza.
Riqueza e poder tornaram-se um e o mesmo. Não pretendo que essas realidades subjacentes tornem as pessoas mais cínicas ou resignadas.
Muito ao contrário, o primeiro passo para mudar o sistema é entendê-lo.
Se não podemos compreender, ficamos presos a falsidades convencionais e falsas escolhas, incapazes de imaginar novas possibilidades.
Compreender o sistema como ele é vai nos capacitar a mudá-lo para melhor.”
Os ganhos propiciados pela valorização da riqueza financeira sustentam o poder dos ricos e, simultaneamente, aprisionam as vítimas da crescente desigualdade nos circuitos do crédito.
No afã desatinado de acompanhar os novos padrões de vida, a legião de fragilizados compromete uma fração crescente de sua renda nas encrencas do endividamento.
Já mencionei nesta coluna o estudo patrocinado pelas universidades de Indiana e da Califórnia, Too Little Too Late.
O estudo registra o crescimento exponencial do número de aposentados que recorrem à falência pessoal (bankrupcy).
Os motivos não são difíceis de decifrar: redução no valor das pensões, despesas médicas sem cobertura pública, endividamento elevado e credores implacáveis.
No mundo em que mandam os mercados da riqueza, os vencedores e perdedores dividem-se em duas categorias sociais: na cúspide, os detentores de títulos e direitos sobre a renda e a riqueza gozam de “tempo livre” e do “consumo de luxo”.
Na base, os dependentes crônicos da obsessão consumista e do endividamento, permanentemente ameaçados pelo desemprego e, portanto, obrigados a competir desesperadamente pela sobrevivência.
Em vez de reivindicarem a proteção social como um direito legítimo, os cidadãos sentem-se culpados, vexados e deprimidos por sua dependência dos programas governamentais
O poeta e crítico literário Anis Shivani invadiu o terreno da crítica social para escrever um texto admirável a respeito das peripécias do neoliberalismo.
É um engano, diz ele, imaginar que o neoliberalismo é o retorno ao liberalismo clássico.
O neoliberalismo pressupõe um Estado forte, operando exclusivamente em benefício dos ricos e poderosos, sem qualquer pretensão de neutralidade e universalidade.
“Em vez de reivindicarem a proteção social como um direito legítimo, os cidadãos sentem-se culpados, vexados e deprimidos por sua dependência dos programas governamentais.”
Os cidadãos estão assombrados pelos fantasmas econômicos das “tecnocracias sem rosto”, como disse o ator Michael Caine ao defender a saída do Reino Unido da União Europeia.
Os governantes, acuados pelos favores e poderes da alta finança, tratam de cortar os direitos sociais e econômicos de seus cidadãos, enquanto proclamam a eficiência dos mercados.
Sob o pretexto de enfrentar o corporativismo e a resistência dos “direitos adquiridos”, os serviçais da globalização propõem o retorno aos padrões primitivos nas relações entre as forças do capital e as debilidades do trabalho.
Advogam o encolhimento do sistema de proteção social criado para impedir a desgraça dos mais fracos, o sofrimento do homem comum atormentado pelas ameaças da precarização e do desamparo na saúde e na doença.
Entrevistado na CNN dos Estados Unidos a respeito dos movimentos Black Lives Matter, Cornell West, professor de filosofia em Harvard, não deixou a bola cair.
Diante do constrangimento dos entrevistadores despachou “de prima”:
“Acho que a raiva dos manifestantes é impulsionada pelo indiciamento moral das elites.
Tem a ver com o poder de Wall Street e os crimes de Wall Street.
Os mercados financeiros praticam saques legalizados há muito tempo, com altos níveis de desigualdade de riqueza fluindo de lá”.
Mais adiante, o filósofo chutou o balde: “A história americana é um fracasso”.
Ao longo da entrevista, West diz que a sociedade norte-americana e seu capitalismo de “vencedores” escancaram a incapacidade de entregar o que prometem à maioria dos cidadãos.
Negros e brancos, jovens e mais velhos, se juntam nas ruas para rejeitar os métodos das polícias e as opressões do sistema.
A celebração do sucesso colide com a exclusão social, o desemprego estrutural promovido pela transformação tecnológica e pela migração da manufatura para as regiões de baixos salários tromba com a igualdade de oportunidades.
A busca pela diferenciação do consumo e dos estilos de vida é a marca registrada da concorrência de massa.
Os impulsos para acompanhar os hábitos, gostos e gozos dos bem-aquinhoados se esboroam nas angústias da desigualdade.
A maioria não consegue realizar seu desígnio, atolada no pântano da sociedade de massa governado por poderes invisíveis.
Os mercados financeiros praticam saques legalizados há muito tempo, com altos níveis de desigualdade
Em seu novo livro, System, o ex-secretário do Trabalho Robert Reich investiga as relações entre o poder e a riqueza.
Para compreender a natureza do poder, diz Reich, é preciso entender o papel da riqueza.
“No sistema que temos agora, poder e riqueza são inseparáveis. Grande riqueza flui de grande poder, grande poder depende de grande riqueza.
Riqueza e poder tornaram-se um e o mesmo. Não pretendo que essas realidades subjacentes tornem as pessoas mais cínicas ou resignadas.
Muito ao contrário, o primeiro passo para mudar o sistema é entendê-lo.
Se não podemos compreender, ficamos presos a falsidades convencionais e falsas escolhas, incapazes de imaginar novas possibilidades.
Compreender o sistema como ele é vai nos capacitar a mudá-lo para melhor.”
Os ganhos propiciados pela valorização da riqueza financeira sustentam o poder dos ricos e, simultaneamente, aprisionam as vítimas da crescente desigualdade nos circuitos do crédito.
No afã desatinado de acompanhar os novos padrões de vida, a legião de fragilizados compromete uma fração crescente de sua renda nas encrencas do endividamento.
Já mencionei nesta coluna o estudo patrocinado pelas universidades de Indiana e da Califórnia, Too Little Too Late.
O estudo registra o crescimento exponencial do número de aposentados que recorrem à falência pessoal (bankrupcy).
Os motivos não são difíceis de decifrar: redução no valor das pensões, despesas médicas sem cobertura pública, endividamento elevado e credores implacáveis.
No mundo em que mandam os mercados da riqueza, os vencedores e perdedores dividem-se em duas categorias sociais: na cúspide, os detentores de títulos e direitos sobre a renda e a riqueza gozam de “tempo livre” e do “consumo de luxo”.
Na base, os dependentes crônicos da obsessão consumista e do endividamento, permanentemente ameaçados pelo desemprego e, portanto, obrigados a competir desesperadamente pela sobrevivência.
Em vez de reivindicarem a proteção social como um direito legítimo, os cidadãos sentem-se culpados, vexados e deprimidos por sua dependência dos programas governamentais
O poeta e crítico literário Anis Shivani invadiu o terreno da crítica social para escrever um texto admirável a respeito das peripécias do neoliberalismo.
É um engano, diz ele, imaginar que o neoliberalismo é o retorno ao liberalismo clássico.
O neoliberalismo pressupõe um Estado forte, operando exclusivamente em benefício dos ricos e poderosos, sem qualquer pretensão de neutralidade e universalidade.
“Em vez de reivindicarem a proteção social como um direito legítimo, os cidadãos sentem-se culpados, vexados e deprimidos por sua dependência dos programas governamentais.”
Os cidadãos estão assombrados pelos fantasmas econômicos das “tecnocracias sem rosto”, como disse o ator Michael Caine ao defender a saída do Reino Unido da União Europeia.
Os governantes, acuados pelos favores e poderes da alta finança, tratam de cortar os direitos sociais e econômicos de seus cidadãos, enquanto proclamam a eficiência dos mercados.
Sob o pretexto de enfrentar o corporativismo e a resistência dos “direitos adquiridos”, os serviçais da globalização propõem o retorno aos padrões primitivos nas relações entre as forças do capital e as debilidades do trabalho.
Advogam o encolhimento do sistema de proteção social criado para impedir a desgraça dos mais fracos, o sofrimento do homem comum atormentado pelas ameaças da precarização e do desamparo na saúde e na doença.
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