segunda-feira, 26 de outubro de 2020

A propósito da “Mariafofoca” e dos generais

Por Luís Carlos Paes

Bolsonaro não seria Presidente da República sem os militares. Eles foram os principais estrategistas de sua campanha. Usaram e abusaram do prestígio que ainda lhes resta na sociedade brasileira. Pressionaram o STF para garantir a inelegibilidade de Lula. E, ao lado do imperialismo americano, do mercado financeiro, de grandes grupos econômicos e de religiosos fundamentalistas, seguem apoiando firmemente o governo do capitão cloroquina.

Bolsonaro, entretanto, nunca foi um militar de verdade, entrou no exército não por convicção e patriotismo, mas para melhorar de vida e por isso mesmo ainda tenente, virou líder sindical da tropa, tentou praticar atos terroristas e, num acordo com seus superiores, deixou a farda e entrou na política. Vereador e depois deputado, continuou sua ação em defesa dos militares, sua principal base social de apoio no Rio de Janeiro, posteriormente ampliada para milicianos e evangélicos, durante trinta anos de mandatos ininterruptos.

Excetuando seu ódio à esquerda, a defesa do neoliberalismo e a vassalagem diante dos Estados Unidos existem muitas diferenças entre o capitão e seus ex-colegas de farda. Além de avesso à ciência, à cultura e às artes, de defender uma política externa excessivamente ideológica, de confronto com importantes parceiros comerciais do País e de esposar ideias extremamente obscurantistas, Bolsonaro busca um confronto desnecessário, segundo boa parte dos altos oficiais, com as instituições democráticas do País.

O estilo Bolsonaro de governar, suas ideias e seu comportamento, condicionado pela chamada ala ideológica, têm levado a seguidas crises com esta base de apoio fundamental para a continuidade de seu governo. Desde o ano passado, começando pelo Secretário de Governo, general Santos Cruz, passando pelo presidente da Funai, general Franklimberg Freitas, pelo ex-presidente dos Correios, general Juarez de Paula Cunha, a quem chamou de sindicalista, por se manifestar contra a privatização da empresa e, mais recentemente, com a desmoralização do general-ministro da saúde Pazuello, que se apequenou diante do capitão, agora, o Presidente passa a mão na cabeça de Ricardo Salles, o Ministro-destruidor do Meio Ambiente que chamou o Secretário de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, sem qualquer pudor, de “Mariafofoca”.

Até quando os militares, em defesa de um preconceito irracional contra a esquerda, um falso combate à corrupção e uns trinta dinheiros pelos milhares de cargos ocupados no governo, vão continuar se submetendo a este vexame e desmoralização?

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