"Auschwitz e eu"/David Olère |
A maior homenagem que a família de Joseph Safra, o homem mais rico do Brasil e 63º do mundo, poderia fazer a sua memória, seria doar a metade dos seus 119 bilhões de dólares a hospitais, museus e entidades comunitárias do Brasil, país que acolheu seus pais e irmãos.
Já houve casos de bilionários que se desfizeram de parte de suas fortunas em benefício da Humanidade. Warren Buffet doou 37 bilhões de dólares para a caridade. E continuou bilionário, mas com a consciência mais tranquila e a alegria de ter salvado milhares de vidas e sustentado defensores da Natureza.
Não há como uma família herdeira gastar 119 bilhões de dólares, nem nas próximas dez gerações: chega um ponto em que não há mais o que comprar, o que consumir. A menos que a ganância seja doentia, um ser humano não precisa, ao longo da vida, deixando herdeiros ricos, de mais que um ou dois bilhões em propriedades, investimentos ou cash. Dificilmente algum ser humano já chegou a enxergar ou tocar um bilhão de dólares em notas de 100...
Joseph Safra doou bastante a hospitais da comunidade israelita de São Paulo, que prestam serviços à população, mas cobram caríssimo. Doou também a museus, o que é nobilíssimo.
Para que não seja lembrado apenas como um banqueiro "judeu" - marca ignomiosa que Shakespeare cunhou na Cultura e que Hitler usou na sua campanha de extermínio ao nobre povo semita, seus herdeiros, irmãos e sócios, poderiam dar uma demonstração de gratidão ao Brasil, onde Joseph nasceu e veio a morrer.
Imagino a família Safra doando 500 milhões para a reconstrução do Museu Nacional do Rio de Janeiro, irresponsavelmente destruído por um incêndio, e cujos técnicos e amigos lutam para restaurar. E duas ou três peças raras de sua imensa coleção de artes para o MASP, além de equipamentos de segurança para nossos tantos museus hoje à míngua. Nem falo da ajuda financeira gigantesca que poderiam dar aos institutos de pesquisa e às vítimas do Covid-19.
Enfim, no Brasil não faltam setores, entidades, instituições carentes de recursos, que sobram nas mãos da família Safra, neste momento da perda de seu prócer. Seguindo sua conduta em vida, elevariam sua memória ao respeito de todos os brasileiros.
Dirão que estou sonhando, mas eu visitei Autchwitz e sei da solidariedade do nobre povo judeu em seus momentos de dor.
* Antonio Barbosa Filho é jornalista, coordenador do Centro Barão de Itararé no Vale do Paraíba.
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