quarta-feira, 21 de abril de 2021

CPI e a solidão de Bolsonaro na cloroquina

Por Fernando Brito, em seu blog:

Embora o governo Bolsonaro trate como uma vitória o adiamento para a próxima terça-feira da instalação da CPI da Covid, politicamente ela já está funcionando.

As notícias dos jornais – especialmente as da Folha, informando as ações sobre o Exército para liberar recursos às pressas para a produção de montanhas de comprimidos de hidroxicloroquina e a ordem dada por ofício à Fundação Oswaldo Cruz para que estimulasse, entre os médicos, a orientação para prescrevê-la, além de também produzir quantidades extras – mostram que a apuração dos absurdos praticados pelo governo brasileiro está em pleno processo de apuração e, mais ainda, de comprovação formal de sua autoria.

E acontece que, nesta questão do “tratamento precoce” todos estão desesperados por dizer que “não fui eu” quem indicou a cloroquina, embora muitos tenham sido omissos ou cúmplices deste charlatanismo ,do qual não se afastou até agora.

Trump, pelo menos, escafedeu-se do assunto e de outras bobagens que falou, investindo maciçamente na compra de vacinas.

O “Mito” fez o inverso e por isso não terá solidariedade de ninguém, a não ser de seus alucinados falangistas.

Do Exército, não é preciso dizer mais do que a forma que trata Eduardo Pazuello, uma “batata quente” que querem em qualquer lugar, menos junto da corporação cuja imagem ele “ferrou”, para usar a expressão do ex-comandante, general Edson Pujol, relatada hoje por Ancelmo Gois, em O Globo.

O Conselho Federal de Medicina, praticamente a única entidade médica a ser tolerante com o medicamento, está sob pressão de grande parte da corporação e do próprio Ministério Público, ao qual vem protelando a entrega das atas das reuniões nas quais decidiram que receitá-la fazia parte da “liberdade médica”.

Também não vai adiantar referir-se às referências internacionais: o médico francês Didier Raoul, que lançou a irresponsabilidade, voltou atrás e admitiu que a cloroquina não produz benefícios.

A Índia, onde o primeiro-ministro Narendra Modi foi parceiro de Bolsonaro na indicação da droga, está mergulhada numa explosão de casos da doença – 300 mil ao dia – , o que, de quebra, vai arruinar o cronograma de entrega das 42 milhões de doses do Consórcio Covax Facility, da OMS, que esperávamos ansiosamente aqui, porque estão suspensas todas as exportações dos laboratórios indianos.

Nesta questão, o horizonte é de completa solidão para o charlatão Bolsonaro, porque não terá nem a companhia de seu ministro da Saúde, que não pode responde com um simples “sim” à pergunta direta sobre se receitaria hidroxicloroquina a um paciente de Covid.

Ninguém o apoiará nisso.

Como já vimos, nem as emas do Alvorada.

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