Equipes de resgate procuram possíveis sobreviventes em meio a escombros deixados por ataques aéreos israelenses em Gaza, 16/5/21. Foto: Mohammed Salem |
Sob qualquer ângulo que se examine os conflitos que se sucederam desde que em 1948 as Nações Unidas impuseram a implantação do Estado de Israel na Palestina, em nenhum deles o sentimento será menos vomitável que outro.
A matança que Israel está promovendo nestes dias é, neste sentido, um degrau ainda mais abjeto da violência que aquela teocracia cometera no período imediatamente precedente.
Em todo e qualquer quesito de poder e violência – mas em absolutamente todos os aspectos: econômico, político, midiático e, principalmente, bélico – Israel é inalcançávelmente superior à espezinhada e indefesa Palestina.
O poderio israelense sobre a capacidade de ataque e de defesa palestina é não menos que oceanicamente superior.
Por isso é falso afirmar que existe um “confronto entre Israel e o Hamas”, como mente a mídia hegemônica.
O que existe, na realidade, é uma guerra etnocida promovida por Israel para dizimar o povo palestino para, desse modo, devastar e ocupar todo território ainda sob débil e cada vez mais precária jurisdição palestina.
O ataque cruel e desproporcional de Israel ao Estado da Palestina, que num único bombardeio matou 8 crianças dentre 126 adultos, é o ponto culminante da estratégia sionista executada de modo permanente nas últimas décadas para promover uma limpeza étnica sob o cínico pretexto do combate ao “terrorismo do Hamas”.
Esta estratégia tem sido executada com perseverança ano a ano, passo a passo, governo a governo – sempre com a conivência internacional, principalmente dos EUA.
A ocupação forçada e ilegal do território palestino com colonos judeus é a política oficial do Estado israelense, executada independentemente do governo israelense de plantão.
Os sionistas transformaram o Estado Palestino em um imenso campo de concentração ao estilo Auschwitz.
Israel detonou a integridade territorial da Palestina, uma nação mais perfurada que queijo suíço. Um povoado palestino não se comunica com outro povoado palestino sem passar por barreiras policiais e alfandegárias israelenses!
Israel atua como um exército de ocupação da Palestina.
A matança étnica promovida por Israel reproduz os mesmos métodos e conceitos que Hitler empregou contra os judeus nos anos 1933-1945.
Deste ponto de vista, portanto, a matança do povo palestino é o nazismo redivivo pelas mãos de Israel sujas de sangue palestino.
É assombroso, por isso, que este crime racista esteja sendo outra vez cometido sem que haja uma condenação dura e implacável de Israel pelos crimes nazistas perpetrados contra o povo palestino.
A elite mundial e sua mídia hegemônica criminosamente silenciam, mesmo depois da bomba israelense que destruiu a sede de uma agência internacional de notícias em Gaza.
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Republico, a seguir, artigo que escrevi em 5 de agosto de 2014:
Em 2048 suplicaremos a Palestina
A estupidez avança irrefreável no território que já foi o Estado palestino até 1948. Se os EUA e a Europa não atuarem decididamente sobre Israel, a realidade evoluirá para a dizimação da Palestina.
O conflito do Oriente Médio é o principal do mundo, em torno do qual giram as possibilidades de paz e estabilidade mundial. O mundo não terá paz e tampouco será seguro enquanto subsistir aquela realidade: em torno do conflito se articula um dos componentes bélicos estruturantes da geopolítica do pós-Guerra.
Uma questão que diz respeito ao mundo inteiro, mas que, paradoxalmente, sua resolução depende basicamente da ação de duas potências: EUA e Europa, em especial a Inglaterra.
A ONU não somente não tem força e poder para aglutinar os consensos necessários e impô-los na vida real, como sucessivas resoluções desde 1967 são sistematicamente descumpridas por Israel, com a cobertura dos EUA e da Europa.
Mesmo fora da lei internacional, Israel não só não sofre sanções, como segue recebendo milionária ajuda norte-americana para o massacre dos palestinos.
Essa “janela” no direito internacional tem permitido a Israel desenvolver, ao longo das últimas décadas, a estratégia persistente de expansão do domínio territorial às custas do direito de existência do Estado palestino.
Atualmente, Israel ocupa uma área muitas vezes superior ao território originalmente destinado para sua instalação em 1948. Com a invasão territorial, reduziu quase 80% da superfície da Palestina e fragmentou o país em duas áreas incomunicáveis – Gaza e Cisjordânia –, dois Auschwitz afastados por centenas de quilômetros.
A atual estratégia israelense é guiada por uma política fanático-religiosa. Nessa etapa, promove a guerra total; o massacre de extermínio de parcelas significativas do povo palestino – matando-os diretamente, ou aumentando a diáspora de um povo na sua maioria já tornado apátrida.
Os palestinos assistem à devastação do país, da cultura e da sua tradição. Suportam, ainda, a cínica imputação de que pretendem destruir Israel, e que por isso são atacados. E, pura metáfora cruel, são submetidos ao martírio mais abjeto que qualquer ser humano pode sofrer, tal qual aquele perpetrado pelos nazistas contra os judeus.
O patamar atingido pelo conflito traz dificuldades consideráveis. A realidade é desalentadora. É difícil vislumbrar solução aceitável e passível de mediação. E parece improvável uma solução equilibrada e justa.
A continuidade da dinâmica atual fará a situação descambar para o terreno da imponderabilidade, um mergulho às cegas na barbárie. As potências mundiais têm a obrigação de fazer algo imediatamente para deter essa loucura.
A destruição material da Palestina é devastadora, e obviamente marcará para sempre a história palestina, geração após geração. Mas a humilhação, a dor, a segregação, os assassinatos sistemáticos de homens, mulheres e crianças abrem feridas profundas e ressentimentos que podem tornar irreconciliável a convivência entre os dois povos.
O fanatismo religioso implode as possibilidades de paz com a loucura de um Estado confessional. No atual estágio dos acontecimentos, é duvidosa a viabilidade das alternativas historicamente cogitadas, que tinham como premissa a coexistência pacífica de Israel e Palestina, de palestinos e israelenses.
A proposta de um Estado e duas nações, por exemplo, há muito se tornou incogitável. A criação de dois Estados para dois povos também se torna remota, porque [1] requereria a restituição do mapa de 1967, e [2] a desconfiança mútua ensejaria um altíssimo grau de militarização e belicismo.
O futuro comporta, portanto, desfechos temíveis. A hipótese mais otimista, paradoxalmente, é a da Palestina fragmentada em duas áreas apartadas e debilitadas – Gaza e Cisjordânia – encravados no território invadido por Israel. Ou, numa perspectiva radical, a derrota da Palestina acompanhada do seu extermínio.
Se não houver um esforço verdadeiro e decidido para deter a espiral destrutiva perpetrada por Israel, o século 21 ficará maculado com esse bárbaro crime. Em 2048, no centenário da criação de Israel, a Palestina então existirá somente nos livros de História.
O fanatismo delirante de Benjamim Netanyahu em nada fica devendo ao de Osama Bin Laden. Ambos pertencem à classe dos monstros terroristas.
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