Por Bepe Damasco, em seu blog:
O mundo desabaria se viesse à tona a informação de que os governos Lula e Dilma tinham um orçamento paralelo, no valor de R$ 3 bilhões, com o objetivo de comprar parlamentares, na forma de distribuição clandestina de emendas para seus redutos.
E se, para tornar ainda grave a história, o esquema fosse operado pelos presidentes da Câmara e do Senado? Faço ideia do latifúndio de tempo que o Jornal Nacional dedicaria à denúncia e das capas histriônicas da Veja a condenar sem julgamento os acusados.
O jornal O Estado de São Paulo, bastião do conservadorismo e do reacionarismo mais empedernidos, publicou no último fim de semana reportagem consistente e com riqueza de dados e detalhes sobre o orçamento secreto do governo Bolsonaro, fora do alcance do controle público.
Mas e daí? E daí nada? Na tarde desta segunda-feira (10) consultei os dois sites noticiosos mais importantes do cartel da mídia. Resultado: no G1, do grupo Globo, nenhuma linha; no UOL, do Grupo Folha, precisando de lupa para ler, estavam lá duas notícias devidamente escondidas: uma dando conta de um pedido de investigação feito pelo líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon, e outra chamando para um artigo do bravo Ricardo Kotscho.
Ou seja, um procedimento a anos luz de distância do jornalismo de guerra do tempo dos governos petistas. Mas a tática tem nuances e sutilezas, feitas sob medida para enganar os trouxas.
Dar uma notícia desta gravidade e depois esquecer o assunto, como tem sido o comportamento padrão da imprensa em relação a boa parte dos incontáveis crimes cometidos por Bolsonaro, não contribui para criar massa crítica na sociedade e acaba levando o caso ao esquecimento.
Funciona também como um protocolar desencargo de consciência editorial, coisa do tipo: “ué, mas nós demos a matéria.” Sim, mas sem a ênfase, a sequência, a cobrança e os desdobramentos que casos de desvio de dinheiro público merecem.
Nesta terça-feira (11), vejo que o jornal O Globo e seu principal escriba Merval Pereira também trataram do episódio, mas certamente o fizeram para “cumprir tabela.”
O céu parece ser o limite para a condescendência dos barões da imprensa e seus porta-vozes com as molecagens golpistas e criminosas de Bolsonaro.
Tirante um ou outro colunista liberado por seus patrões para desossar o bolsonarismo e assim dar uma roupagem ao veículo de jornalismo comprometido com os bons valores, a maioria da imprensa tem feito jogo de cena, fingindo indignação com Bolsonaro. Esse é um dos principais motivos para o impeachment ainda ser uma miragem.
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