Por Moisés Mendes, no Diário do Centro do Mundo:
O bolsonarismo não consegue mais oferecer grandes surpresas, porque tudo passou a ser possível nas falas e nas atitudes da extrema direita.
Mas a informação de Flavio Bolsonaro sobre o pastor Silas Malafaia tem o poder de nos inquietar, pelo menos isso. Flavio disse na CPI que o pastor é conselheiro diário do pai dele.
Um país devastado por uma pandemia, com um governante incapaz, com ações deliberadas que matam mais gente, com um ministro da Fazenda medíocre, com desalento, desespero, fome e miséria, esse país pode estar tendo seus rumos orientados por um pastor fundamentalista.
Um sujeito que odeia gays, comunistas e feministas deve estar dizendo a Bolsonaro o que ele deve fazer.
Flavio sugeriu que os senadores devem ouvir Malafaia.
O conselheiro de Bolsonaro não é Armínio Fraga, não é um sábio da FGV ou um banqueiro.
É um pastor. A Folha saiu atrás do homem, e Malafaia confirmou: quer ir à CPI.
Aí deve ter algum truque combinado entre o chefe do Queiroz e o pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Essa ideia não pode ter surgido ali, na hora.
Malafaia confirmou à Folha que fala quase todos os dias com Bolsonaro, muitas vezes pelo Whats, sobre a pandemia, a cloroquina, as vacinas, a azitromicina e o lockdown.
Ele deu a lista de assuntos que trata com o amigo e poderá, se quiserem, tratar na CPI.
O pastor fala sobre qualquer tema.
“Pode botar aí que eu não tenho medo desses caras”, disse Malafaia à Folha, desafiando os senadores antiBolsonaro da CPI.
Mas o que os senadores e o país teriam a ganhar com o depoimento do homem?
A sugestão de Flavio pode ser uma armadilha.
Malafaia quer ser o emissário de Bolsonaro para esculhambar com a CPI.
Não há como o pastor ser atacado ou mesmo preso, porque nenhum senador é capaz de desafiar o poder de um líder religioso do porte de Malafaia.
Nenhum político corre o risco de se indispor com os evangélicos. Malafaia iria flanar à vontade, com sua retórica bíblica, e enrolar a CPI mais do que Pazuello já enrolou. É possível até que, ao final, ele passasse o chapéu e arrecadasse uma grana.
Eu aprovaria a ida do pastor confidente de Bolsonaro se ele se dispusesse a fazer um exorcismo nos senadores com os corpos tomados pelos demônios da cloroquina.
Mas Malafaia é de outra linha, ele não faz exorcismos. Então, deixem o sujeito longe de uma CPI que já está a caminho de virar uma confusão. Malafaia iria dançar com o diabo em cima da mesa. Não corram esse risco.
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