Por Jeferson Miola, em seu blog:
Não parece incrível, para não dizer inacreditável, que o general e ex-ministro da Morte Eduardo Pazuello até hoje não consiga nomear quem foi responsável pela indicação do advogado que defendeu milicianos do Rio de Janeiro para ser Assessor Especial do ministério da Saúde em abril de 2020?
Quando foi nomeado, ninguém no ministério da Saúde sabia esclarecer quem tinha sido responsável pela indicação do advogado criminalista Zoser Plata Bondim Hardman de Araújo para o cargo. A única certeza é que ele não caiu do céu, mas a dúvida perdura até hoje.
Na época, chamou atenção a falta de respostas e transparência. Em reportagem, o site Congresso em Foco noticiou que advogado de milicianos é nomeado assessor especial do ministro da Saúde [21/5/2020], e discorreu sobre o currículo resumido da sua atuação profissional:
– entre os clientes estão o ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, conhecido como Batman, que foi condenado por comandar uma milícia na zona Oeste do Rio;
– advogou para o ex-vereador carioca Cristiano Girão, que foi cassado e preso por chefiar uma milícia na Gardênia Azul e é investigado como suspeito de ser mandante do assassinato de Marielle Franco;
– defendeu o tenente Daniel Benitez, condenado a 36 anos de prisão pelo assassinato com 21 tiros da juíza Patrícia Acioli na porta de sua casa em Niterói, em 2011. A juíza Patrícia combatia milícias e grupos de extermínio integrados por policiais militares.
A reportagem do Congresso em Foco recorda que “À época, conforme registro da Folha de S. Paulo, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro contemporizou o assassinato da juíza”.
E reproduziu twitter de Flavio Bolsonaro desdenhando o bárbaro assassinato da Patrícia Acioli: “Que Deus tenha essa juíza, mas a forma absurda e gratuita com q ela humilhava Policiais nas sessões contribuiu p ter mts inimigos [sic]”.
Um ano depois da revelação sobre a surpreendente nomeação de Zoser Hardman como Assessor Especial do ministério da Saúde, Pazuello ainda mantém mistério sobre quem, de fato, indicou o advogado para ser nomeado por ele.
Na CPI, em depoimento na 4ª feira, 19/5/2021, diante da pergunta objetiva e direta do senador Renan Calheiros a respeito, Pazuello recorreu a uma resposta evasiva:
“O SR. RENAN CALHEIROS – V. Exa. foi responsável pela nomeação do advogado Zoser Hardman como assessor especial do ministério, no início da sua gestão como Ministro interino. Pergunto: como V. Exa. e o Dr. Hardman se conheceram?
O SR. EDUARDO PAZUELLO – O Dr. Hardman, ele já era conhecido de um dos oficiais que veio comigo, e apresentou o Dr. Hardman como um candidato a trabalhar na nossa equipe.
[…]
O SR. RENAN CALHEIROS – Por quanto tempo ele permaneceu no cargo?
O SR. EDUARDO PAZUELLO – Ele saiu comigo, entrou em abril e saiu comigo em março.
O SR. RENAN CALHEIROS – V. Exa. ainda tem contato com o advogado?
O SR. EDUARDO PAZUELLO – Tenho, o Dr. José [referindo-se a Zoser], pro bono, ele permaneceu me auxiliando na organização das nossas documentações para apresentar aqui.
O SR. RENAN CALHEIROS – Ele continua, portanto, lhe prestando algum serviço de consultoria.
O SR. EDUARDO PAZUELLO – Sim, de consultoria jurídica, mas pro bono”.
Do mesmo modo que é inacreditável a lembrança seletiva [ou o esquecimento seletivo] do Pazuello sobre quem indicou Zoser Hardman para ser seu Assessor Especial, não deixa de ser incrível que o general o tenha contratado para ser seu defensor na CPI conhecendo seu currículo com antecedentes de prestação de serviços profissionais para milicianos envolvidos em crimes bárbaros no Rio de Janeiro.
Além de mentiras, opacidade e falta de transparência, mistérios e coincidências também fazem parte da atmosfera distópica deste muito especial e hermético universo miliciano-militar que se ilude imaginando que o mundo é feito de trouxas que não sabem o que eles fizeram no verão passado.
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