sexta-feira, 25 de junho de 2021

A direita pode “matar” Bolsonaro a tempo?

Por Fernando Brito, em seu blog:


Lula ter maioria nas intenções de voto em pesquisas não é surpresa.

Mas a grande imprensa estar dando o destaque que dá ao favoritismo do ex-presidente é algo que para a esquerda sempre pobre das atenções da mídia faz levantar a desconfiança desta esmola farta: será que ainda contam com tempo e condições para “matar” Bolsonaro eleitoralmente e fazer surgir do pescoço da Górgona um Pégaso imaculado para ser seu candidato em 2022?

Muita gente boa pensa nisso e não deixo de reconhecer razões na matreirice de um conservadorismo cascudo como o nosso, que não admite partilha e menos ainda a entrega do poder.

Há, entretanto, alguns obstáculos neste caminho, tanto é que a tal “3ª via” continua, faltando 16 meses para a eleição, de calças curtas.

E o bloqueio para a via curte de exclusão do presidente, a do impeachment, está bloqueada pelo Centrão.

O primeiro deles é a devastação que ela própria causou nos meios políticos.

A matéria prima para moldar o “Adão” da terceira via é parca e de má qualidade.

Os barreiros de onde se podia tirar – os partidos políticos – foram devastados, espezinhados, poluídos à vista de todos e despertam asco na população. De quem foi a obra nem é preciso dizer.

O ogro do qual se serviram para vencer em 2018, tirado das bordas desta argila, tem outra composição.

Tem um núcleo duro no fanatismo, na ignorância, na agressividade, no recalque social e não se desfará com as mesmas feitiçarias com as quais foi feito.

E um elemento que lhes dá liga e força: militares, policiais e bandos armados alinhados ao ex-capitão.

Esta é a segunda dificuldade: tirar a tolerância com Bolsonaro não é o mesmo que tirar a sua militância, as suas falanges de fanáticos, as divisões de motocicletas senis que lhe faz a corte.

A terceira e mais importante, acho, é que as próprias elites brasileiras, que poderiam liderar um movimento de esvaziamento de Jair Bolsonaro, apodreceram tanto que nem mesmo o inevitável sentimento de nojo a um governo genocida as mobiliza para defender o país de onde drenam a riqueza.

Há nelas, como no camponês da galinhados ovos de ouro, a vontade de ganhar muito, tudo e rápido, ainda que o Brasil se degrade, física e socialmente, como estamos vendo acontecer.

A não ser que surja um “fato-adélio” tão inesperado quanto aquele outro psicopata de Juiz de Fora, Bolsonaro parece condenado a sobreviver até 22, ao menos.

Creio que é mais provável que uma parte da elite e da classe média que dele se descolou neste momento volte a aderir à besta-fera, de tanto ódio que têm ao povo brasileiro.

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