domingo, 13 de junho de 2021

Com que finalidade induziram à morte?

Por Moisés Mendes, no Diário do Centro do Mundo:


Com que finalidade o deputado e médico Osmar Terra propagou com insistência no ano passado, com a cumplicidade de parte da imprensa, a informação de que a epidemia da Covid-19 não mataria nem mil pessoas no Brasil?

Com que finalidade?

Esta é a pergunta que abre as portas para muitas respostas.

Com que finalidade Terra, no começo da epidemia (que ainda não era pandemia), saiu a alardear que as pessoas não precisariam se proteger, que nem de vacina o Brasil precisaria, porque morreria pouca gente e em pouco tempo todos estariam imunizados pelo contágio de rebanho?

A expressão “com que finalidade” foi apresentada ontem, na CPI do Genocídio, pelo médico sanitarista e cientista de saúde pública Claudio Maierovitch, da Fundação Oswaldo Cruz, ex-presidente da Anvisa, em depoimento na CPI do Genocídio, quando ele se referiu a Terra.

Esta é a pergunta, que Maierovitch juntou a outras questões envolvidas pelo negacionismo na defesa obsessiva da cloroquina, do combate ao uso de máscara, da depreciação das vacinas, da sabotagem das medidas de isolamento: com que finalidade?

Com que finalidade Terra ofereceu a Bolsonaro os argumentos difundidos hoje por todos os negacionistas?

Com que finalidade a extrema direita repete sem parar que a pandemia está no fim?

Com que finalidade as pessoas foram orientadas a procurar tratamentos precoces que matam?

Claudio Maierovitch observou que os brasileiros podem, desde o começo da pandemia, encontrar orientações conflitantes sobre qualquer assunto, porque os negacionistas pregam o que muita gente quer ouvir desde o não uso da máscara ao uso de remédios milagrosos.

O negacionismo explorou medos, desinformação, ignorância e má fé.

As pessoas ainda são induzidas ao erro e à morte porque até agora não há uma resposta definitiva para a pergunta feita por Maierovitch: com que finalidade?

Com que finalidade Bolsonaro e seus cúmplices espalharam, como lembrou o médico, que “só os maricas se protegem” na pandemia?

Com que finalidade estimulam as pessoas a circularem pelas cidades?

Com que finalidade o governo Bolsonaro incentiva os brasileiros a não se protegerem e a não protegerem os outros, porque a busca da proteção estaria associada a uma espécie de acovardamento e mesmo de sofrimento?

Com que finalidade Terra e Bolsonaro incentivaram as pessoas a aderirem ao que Maierovitch definiu como “desejo suicida” do contágio de rebanho a qualquer custo, como se a população fosse tratada como bicho?

Com que finalidade? Com que finalidade?

Temos suspeitas, mas um dia descobriremos, com provas, qual foi a finalidade.

A vacina e o goleiro

Vale a pena ler na íntegra a analogia que a microbiologista Natalia Pasternak fez ontem, na CPI do Genocídio, entre a vacina e o goleiro:

“Costumo dar o exemplo sempre do jogo de futebol e do goleiro. Como é que a gente sabe que um goleiro é um bom goleiro? A gente olha o histórico dele, que é a eficácia do goleiro. A frequência com que ele pega a bola.

Se ele tem um bom histórico, uma boa eficácia, ele é um bom goleiro, mas isso não quer dizer que ele é infalível, não quer dizer que ele é invicto, não quer dizer que ele nunca vai tomar gol.

E se a gente olha para um único jogo onde ele tomou um frango e fala, ih, esse cara tomou frango, ele é uma porcaria. Não, ele não é uma porcaria, ele é um bom goleiro, ele só não é infalível.

E se ele tem uma defesa do time que é droga que não serve pra nada, que não usa máscara, que não faz distanciamento social, que não respeita as medidas preventivas, vai ter tanta bola vindo pro gol, vai ter tanto vírus circulando?

Que a probabilidade dele errar é muito maior.

Então, uma boa vacina é um bom goleiro.

Ela pode ser muito boa, mas ela não é infalível.

E se tiver muita bola pro gol, muito vírus circulando, a probabilidade dela falhar é maior.

Então, a gente precisa reforçar a defesa do time.

A gente precisa ter o bom goleiro, que é uma boa vacina, mas também precisamos ter uma boa defesa do time.

Tudo isso em conjunto, vai nos levar a um momento no futuro, onde a curva da doença vai decair e vai permitir, então, que a gente relaxe as medidas de quarentena.

Esse momento ainda não chegou.

E quando você tem o chefe da nação fingindo que esse momento chegou, isso confunde a população.

Nós não precisamos de uma população confusa, nós precisamos de uma população esclarecida”.

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