Editorial do site Vermelho:
As projeções e os dados do crescimento da economia brasileira têm servido de maquiagem para as ilusões que o governo Bolsonaro tenta vender. O país segue com baixo investimento – público e privado –, o que afeta, além da infraestrutura, o emprego e a renda, componentes básicos do desenvolvimento nacional associado ao progresso social. O persistente crescimento do desemprego em níveis elevados, por exemplo, decorre, basicamente, do baixo investimento, a causa fundamental da inconsistência da retomada do crescimento.
Mesmo sendo o setor onde houve mais investimento em infraestrutura e compra de maquinas, o agronegócio não gerou um impactos expressivo na geração de emprego já que o elevado nível de tecnologia ainda funciona como redutor do uso da força de trabalho. Puxado pela demanda da economia mundial e favorecido pela valorização cambial – a alta do dólar –, o setor bateu recorde de crescimento em 2020 e tende a repetir o feito em 2021. Com o agravante de que a exportação de alimentos sem um controle de estoques contribuiu para encarecer os alimentos no mercado interno e o dólar mais caro dificulta a importação de insumos.
O resultado aparece na arrancada da inflação, que atinge sobretudo os mais pobres – o consumo das famílias caiu 0,1% em comparação ao último trimestre de 2020 e 1,7% em relação ao primeiro trimestre –, além de revelar estagnação dos investimentos públicos, sem os quais o setor privado se paralisa. Em um país com déficits enormes em sua infraestrutura, essa equação tem efeitos perversos.
Ela está explícita aumento pouco expressivo de investimentos contida no crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, de 4,6% e em relação aos primeiros três meses do ano passado. Afora o impacto significativo da internalização de plataformas de petróleo pelo Repetro (regime aduaneiro especial que facilita a importação de bens destinados à exploração de petróleo), que chega a 50%, sobra o resultado dos investimentos no agronegócio e, em menor escala, na produção interna de bens de capital e no desenvolvimento de softwares, entre outros.
São dados que radiografam em profundidade a natureza da crise econômica, impulsionada pela fracassada tese neoliberal de que as forças de “mercado” são mais eficientes do que a vontade dos governos. Com base nela, surgiu a ideia de que os países menos desenvolvidos devem afrouxar os controles para a circulação de capitais em suas fronteiras, no fundo a causa da pobreza de muitos pelos instrumentos que garantem a riqueza de poucos.
O centro do problema está no dilema sobre como distribuir a riqueza de forma eficiente. Entre os fatores determinantes para a melhor utilização dos recursos disponíveis estão o papel do Estado como ente preparado para a prestação de serviços sociais públicos, os investimentos prioritários em infraestrutura e a elevação dos salários. No fundo, esse é o debate que realmente interessa.
O que os números atuais da economia mostram é a repetição do que aconteceu entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1980, quando o Brasil cresceu a taxas anuais superiores a 8%, enquanto as desigualdades de renda cresceram. A condução da economia pelo governo atual segue a mesma linha, agora representando com ênfase o que há de mais nefasto para o país: a especulação financeira. Unir forças para dar combate a essa linha de desconstrução nacional é o principal desafio político para as forças democráticas, progressistas e patrióticas do país na atualidade.
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