Decididamente o Brasil virou um lugar onde alguns traços até então submersos do caráter nacional – ou de parcela de sua gente – afloraram de modo abrupto nos últimos anos: a burrice, o arcaísmo, o preconceito, a desfaçatez, a prepotência.
Não que não existissem mas eram, então, contidos pelo temor de seus portadores no aguardo de uma liderança para libertá-los das amarras da civilização. Nada se compara, porém, ao boom da mentira.
Lugar privilegiado para desfrutar esta safra copiosa é a CPI da Covid. Ali, um médico, um empresário, um diplomata, um general e outra médica fizeram uma demonstração deste novo esporte nacional: a balela.
Ou a patranha, potoca, peta, lorota, loa, lampana, prego, broca e outros tantos nomes do ato de mentir segundo o dicionário Aurélio.
É possível arriscar dizer que se mentira gerasse energia elétrica, o Brasil poderia doar seu quinhão de Itaipu ao Paraguai. Bastaria um testemunho, como o do general Pazuello, para iluminar o país.
Se fosse uma commodity, entupiria de dólares os cofres nacionais com as exportações, mandando para as calendas as preocupações com o equilíbrio da balança comercial.
Brincadeiras à parte, mentir ou não mentir não é uma questão para a patota do Planalto. É uma pergunta que não faz sentido, um absurdo, uma peça de non sense.
O poeta Mário Quintana dizia que “a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”. Pazuello, Araújo, Queiroga, Wajngarten e Pinheiro apresentaram-se como especialistas na exaltação de verdades que se esqueceram de acontecer.
Para uma mentira existir é preciso um mentiroso, problema que absolutamente não temos. A diferença entre os mentirosos da velha escola e os neomentirosos é o profissionalismo dos últimos.
Chama a atenção neles a paixão pelo ofício, a qualificação técnica, as performances quase artísticas. Eles não apenas contam a mentira mas - turbinados pelo mídia training - desenvolveram um padrão superior de atuação.
É aquilo que os americanos chamam de poker face, aquela expressão facial que dá a entender que a criatura ali na frente nada tem a ver com o assunto. No popular, cara de pau.
Outra característica é a repetição da mentira como se ela nunca tivesse sido contada. Sempre há uma velha mentira contada como se fosse nova.
No ranking das mentiras mais ouvidas no país, por exemplo, está aquela que atribui ao STF a entrega do combate à pandemia exclusivamente aos estados e municípios, proibindo o governo federal de intervir nesse campo.
Não importa quantas vezes tenha sido desmentida. Ela sempre retorna derramada da boca de um novo personagem. Na CPI também foi assim.
Acontece que a mentira virou um modo de governar. E não é de hoje. Neste aspecto, o bolsonarismo é apenas uma reprodução pálida dos acontecidos na Alemanha.
Em 1939, Hitler fardou alemães como soldados poloneses e simulou um ataque a uma emissora de rádio alemã. O ataque fake funcionou como pretexto para a invasão da Polônia.
É imprudente subestimar o poder da mentira. Grande profissional do ramo, Joseph Goebbels, ministro da propaganda do III Reich, dizia que uma mentira contada mil vezes vira verdade.
Outra tirada, também a ele atribuída, ensina que “a verdade é o inimigo mortal da mentira e, portanto, por extensão, a verdade é o maior inimigo do Estado”.
Olha, não sei não mas, não fosse a turba de Bolsonaro tão hostil às letras, diria até que esse pessoal anda lendo Goebbels.
Não que não existissem mas eram, então, contidos pelo temor de seus portadores no aguardo de uma liderança para libertá-los das amarras da civilização. Nada se compara, porém, ao boom da mentira.
Lugar privilegiado para desfrutar esta safra copiosa é a CPI da Covid. Ali, um médico, um empresário, um diplomata, um general e outra médica fizeram uma demonstração deste novo esporte nacional: a balela.
Ou a patranha, potoca, peta, lorota, loa, lampana, prego, broca e outros tantos nomes do ato de mentir segundo o dicionário Aurélio.
É possível arriscar dizer que se mentira gerasse energia elétrica, o Brasil poderia doar seu quinhão de Itaipu ao Paraguai. Bastaria um testemunho, como o do general Pazuello, para iluminar o país.
Se fosse uma commodity, entupiria de dólares os cofres nacionais com as exportações, mandando para as calendas as preocupações com o equilíbrio da balança comercial.
Brincadeiras à parte, mentir ou não mentir não é uma questão para a patota do Planalto. É uma pergunta que não faz sentido, um absurdo, uma peça de non sense.
O poeta Mário Quintana dizia que “a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”. Pazuello, Araújo, Queiroga, Wajngarten e Pinheiro apresentaram-se como especialistas na exaltação de verdades que se esqueceram de acontecer.
Para uma mentira existir é preciso um mentiroso, problema que absolutamente não temos. A diferença entre os mentirosos da velha escola e os neomentirosos é o profissionalismo dos últimos.
Chama a atenção neles a paixão pelo ofício, a qualificação técnica, as performances quase artísticas. Eles não apenas contam a mentira mas - turbinados pelo mídia training - desenvolveram um padrão superior de atuação.
É aquilo que os americanos chamam de poker face, aquela expressão facial que dá a entender que a criatura ali na frente nada tem a ver com o assunto. No popular, cara de pau.
Outra característica é a repetição da mentira como se ela nunca tivesse sido contada. Sempre há uma velha mentira contada como se fosse nova.
No ranking das mentiras mais ouvidas no país, por exemplo, está aquela que atribui ao STF a entrega do combate à pandemia exclusivamente aos estados e municípios, proibindo o governo federal de intervir nesse campo.
Não importa quantas vezes tenha sido desmentida. Ela sempre retorna derramada da boca de um novo personagem. Na CPI também foi assim.
Acontece que a mentira virou um modo de governar. E não é de hoje. Neste aspecto, o bolsonarismo é apenas uma reprodução pálida dos acontecidos na Alemanha.
Em 1939, Hitler fardou alemães como soldados poloneses e simulou um ataque a uma emissora de rádio alemã. O ataque fake funcionou como pretexto para a invasão da Polônia.
É imprudente subestimar o poder da mentira. Grande profissional do ramo, Joseph Goebbels, ministro da propaganda do III Reich, dizia que uma mentira contada mil vezes vira verdade.
Outra tirada, também a ele atribuída, ensina que “a verdade é o inimigo mortal da mentira e, portanto, por extensão, a verdade é o maior inimigo do Estado”.
Olha, não sei não mas, não fosse a turba de Bolsonaro tão hostil às letras, diria até que esse pessoal anda lendo Goebbels.
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