Por Altamiro Borges
Em seu depoimento à CPI do Genocídio na quarta-feira (9), o coronel da reserva Elcio Franco, que foi secretário-executivo do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, tentou livrar a cara do ex-chefe e esconder a existência do "gabinete paralelo" – ou "gabinete da morte". O milico, para não perder o costume, esbanjou arrogância e má-fé!
Vale lembrar que o coronel, considerado o braço direito do ex-ministro, tinha muitos poderes e conhece todos os crimes da gestão genocida. Entre outras funções, ele era o responsável pelas negociações com os fabricantes para a compra de vacinas contra a Covid-19. Ele enrolou ao máximo para tentar justificar o injustificável – o atraso na aquisição das vacinas.
Durante sua permanência no Ministério da Saúde, Elcio Franco protagonizou inúmeras cenas deprimentes – como quando destratou um garçom de seu gabinete ou quando utilizou um broche com uma "faca na caveira", símbolo da violência, em seu terno. Em um dos momentos de maior cinismo, ele negou a compra de cloroquina em função da pandemia:
“Por determinação do Pazuello, na nossa gestão não ocorreu aquisição de cloroquina em 2020 para combater a Covid-19. Porém, identificamos que para atender ao programa antimalária, em 30 de abril em 2020 foi assinado um termo aditivo ao TED com a Fiocruz no valor de R$ 50 mil visando a aquisição desse fármaco para o programa antimalária."
A arrogância do capacho do general-ministro, porém, não inibiu os senadores. Houve vários bate-bocas durante a sessão. Após o depoimento, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, chegou a listar cinco “contradições” – para não dizer mentiras – de Elcio Franco, conforme reportagem do site UOL:
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1. Decisão da Anvisa
Elcio: "A Lei 6.360 não permite aquisição de medicamentos sem aprovação da Anvisa. Por isso não houve permissão legislativa para aquisição da vacina do Butantan"
"Verdade dos fatos", segundo Renan: "A Lei 6.360/76 NÃO proíbe a aquisição de vacinas sem aprovação da Anvisa"
2. Abandono nas negociações
Elcio: "Nenhuma tratativa com Butantan foi cancelada"
"Verdade dos fatos", segundo Renan: "Episódio público – live gravada entre o Presidente Bolsonaro e o então Ministro Pazuello - deixou claro o cancelamento do ofício que declarou a intenção de compra com o Butantan: "um manda e outro obedece" (frase de Pazuello se referindo ao mandatário da República)"
3 e 4. Tratativas com Butantan
Elcio: "Não recebeu ordem para interromper tratativas com o Butantan, não recebeu ordem do Ministro e deu continuidade a elas e não consultou o Ministro Pazuello quanto a necessidade de dar fim às negociações"
"Verdade dos fatos", segundo Renan: "(Contradição 1) Presidente do Butantan, Dimas Covas, afirmou que houve interrupção das tratativas entre Governo Federal e Butantan após o vídeo público (live) e declarações públicas do Ministro da Saúde" e "(contradição 2) Ofício do Ministério da Saúde, assinado pelo próprio depoente, afirma textualmente que não houve qualquer interesse ou negociação com o Governo de São Paulo, que tem o Butantan a este vinculado"
5. Covax Facility
Elcio: "O depoente declarou que o Ministério da Saúde optou por não se associar a 50% da produção das vacinas fabricadas por meio do consórcio CovaxFacility. Isso porque já teria 200 milhões de doses contratadas (apesar de ainda não ter assinado com o Butantan)"
"Verdade dos fatos", segundo Renan: "Ao mesmo tempo em que afirma ter previsão de 200 milhões de vacinas contratadas — sem especificar a origem e sem ter assinado ainda com o Butantan —, declarou que não precisaria usar 200 milhões de doses. Além disso, testemunha o Secretário que não precisaria dessa quantidade de doses. E, finalmente, assevera que, em março/21, contratou mais de 500 milhões de doses e vai continuar contratando".
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