Por Bepe Damasco, em seu blog:
Do alto de sua sabedoria, sagacidade e experiência, a economista Maria da Conceição Tavares, fiel ao seu estilo desabrido e contundente, disparou quando soube do resultado do PIB : “As pessoas não comem PIB. Comem alimentos.”
Além de confrontar o foguetório midiático que se seguiu ao anúncio do aumento do Produto Interno Bruto de 1,2% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre de 2020, a decana dos economistas progressistas do país, provavelmente, também mirava em outro alvo.
É que não faltaram análises de economistas e jornalistas especializados do campo democrático e de esquerda prevendo que o fim da estagnação econômica e o crescimento acima do esperado do PIB projetam um cenário político-eleitoral mais favorável a Bolsonaro em 2022.
Só que o diabo mora nos detalhes. E haja detalhes! Primeiro que o avanço de Produto Interno Bruto por si está longe de ter o condão de melhorar o humor das pessoas e injetar-lhes otimismo quanto à melhoria de vida no presente e esperança de um futuro mais alvissareiro.
Direto ao ponto: crescimento do PIB só se transforma em valiosa moeda eleitoral se for capaz de provocar o sentimento geral de que as condições de vida de fato melhoraram.
Sem essa percepção, pode a mídia bombardear à vontade e o governo bancar milionárias campanhas publicitárias para edulcorar a nova realidade que o retorno eleitoral será pífio.
Então, basta traçarmos um rápido panorama da economia real para entendermos os motivos pelos quais a tentativa de se criar um ambiente econômico de otimismo com o anúncio do PIB ficou distante de seduzir o povão, limitando-se a iludir uma parcela das classes média e alta:
1- O crescimento, que teve como base de comparação uma situação de fundo de poço, se concentrou fortemente no agronegócio, especialmente, e lateralmente no setor industrial. Esses segmentos empregam cada vez menos, pois o processo acelerado de automação levou a ganhos de produtividade, com expressiva redução de postos de trabalho.
2- É grande o descompasso entre os indicadores do PIB e do desemprego, que continua batendo recordes na casa dos 14%.
3- Em situação de desalento, desemprego e subemprego encontram-se nada menos do que 30% da população economicamente ativa do Brasil.
4- Os preços dos alimentos, inclusive de gêneros da cesta básica, estão pela hora da morte. Essa alta desenfreada, dentre outros fatores, explica porque a inflação e a perda de renda são maiores entre os mais pobres.
5- Em forte elevação, a previsão do mercado para a inflação deste ano chega a 5,82%, acima do teto da meta, que é 5,25%.
6- Os chamados preços administrados (combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica, etc) não param de subir.
7- A taxa de investimento no Brasil retrocedeu 20 anos, segundo dados da Unctad (Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento) divulgados no último dia 21 de junho.
8- O ritmo atual da vacinação contra a covid-19 atrasa de forma significativa a retomada consistente da atividade econômica.
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