sexta-feira, 2 de julho de 2021

Bolsonaro desmoraliza o impeachment

Por Marcos Coimbra, no site Brasil-247:


Bolsonaro enlameia tudo por onde passa, espalhando baixaria, truculência e falta de educação. Vai demorar até que o Brasil se livre do que ele e seu bando largaram em nossa sociedade.

Foi através de um impeachment que o capitão chegou aonde está. O caminho até o Planalto e ao poder de desmoralização que hoje tem (e exerce na plenitude) abriu-se com a deposição de Dilma.

A mesma maquinação que derrubou a petista fez nascer Bolsonaro.

Aquele é o exemplo mais evidente, em nossa história, de um tiro que sai pela culatra.

A justificativa “técnica” para o impeachment, das pedaladas fiscais, era ridícula.

A “real”, de que seu governo era desastroso e levava o País à instabilidade, sempre foi uma hipocrisia, pois os problemas que enfrentava resultavam, em sua maioria, da ação dos adversários.

Quem duvidar, que se lembre das “pautas bomba” na Câmara, monstrengos legislativos desenhados para atrapalhar o Executivo e desorganizar as finanças públicas. Seu principal executor?

Um presidente da Casa interessado em dinamitá-la e continuar com negociatas.

E ainda houve beócios que foram manifestar-se contra Dilma carregando faixas dizendo “Somos todos Eduardo Cunha”.

Em retrospecto, é claro que o desgaste orquestrado e o impeachment de Dilma tinham o objetivo de interromper a sequência de governos do PT.

Sua vitória em 2014, a quarta seguida, era a perspectiva de, no mínimo, mais duas, com Lula voltando em 2018 e se reelegendo em 2022, algo que não parecia (e não era) improvável.

A desmoralização do impeachment como peça da estrutura institucional brasileira não começou com Bolsonaro.

Não foi ele quem a iniciou, embora se tornasse seu principal beneficiário.

No vácuo criado pela deposição de Dilma, a campanha contra o PT e perante o veto dos generais à candidatura de Lula, a direita foi viabilizada e quem lucrou foi o capitão.

Cinco anos depois do impeachment de Dilma, tudo vai mal.

Seguiu-se o governo Temer, o mais rejeitado, em seu conjunto, desde o fim da ditadura.

De 2019 em diante, o que estava mal piorou, como ficou dramaticamente claro com a pandemia.

Salvo para alguns bilionários, só retrocessos e o aprofundamento da miséria.

Não espanta que não seja majoritária, na opinião pública, a defesa do impeachment de Bolsonaro, pois as pesquisas mostram que as pessoas veem o mecanismo com ceticismo.

Se o mais recente nada trouxe de bom e, ao contrário, se suas consequências são as que vemos, por que apoiar mais um?

O desânimo atual em relação à ideia de impeachment contrasta com os sentimentos que prevaleciam em 1992.

A queda de Fernando Collor resultou da mobilização do País e coroou um período de intensa participação da sociedade, que deu autoconfiança às pessoas comuns e a sensação de que tinham poder.

Em pesquisas qualitativas feitas então e nos anos subsequentes, tornou-se normal ouvir entrevistados dizendo que, com o afastamento de Collor, uma nova regra havia sido escrita: “Se o presidente se revelar ruim, nós tiramos”.

Os eleitores não se sentiam condenados a tolerar maus governantes, podiam assumir as rédeas e fazê-los sair.

A democracia tinha remédios para os problemas que seu funcionamento, eventualmente, criava.

Do ponto de vista de nossa cultura democrática, o impeachment de Collor foi bom e o de Dilma ruim.

Saímos fortalecidos do primeiro e enfraquecidos do segundo.

Agora, a desmoralização da instituição atinge seu ponto máximo.

Proteger alguém como Bolsonaro, impedir que o Congresso sequer o avalie e julgue, depois das incontáveis ilegalidades, irresponsabilidades, suspeitas e evidências de irregularidades, é sepultá-la.

O que terá que fazer um governante futuro para que a tramitação de seu impeachment seja iniciada?

No rastro de destruição que vai deixando em seu caminho desastroso, uma das vítimas do capitão é uma instituição essencial para a democracia.

Vamos logo fazer o impeachment de Bolsonaro, nem que seja somente para impedir que ele desmoralize o mecanismo em definitivo.

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