Por Bepe Damasco, em seu blog:
Se um extraterrestre desembarcasse de seu OVNI esta semana no Brasil, teria a impressão de que uma grande personalidade do país, respeitada internacionalmente, fora convidada para assumir a chefia da Casa Civil do governo de extrema-direita de ocasião.
Só que não. O senador pelo Piauí, Ciro Nogueira, a quem se procura atribuir superpoderes, é apenas mais um entre tantos políticos medíocres e inexpressivos, cuja principal expertise – o fisiologismo político mais escrachado para a conquista de emendas e cargos – está longe de ser novidade no panorama da capital do país. O governo Bolsonaro está repleto de Ciros Nogueiras.
A julgar pelo latifúndio de tempo na TV e pelo espaço privilegiado nos sites e jornais, a troca de comando no ministério responsável pela articulação política mudará pelo avesso a gestão. Ouvimos até apostas vazias de que a mera presença do senador no governo terá o condão de fortalecê-lo.
Globo e congêneres tentam justificar a cobertura exagerada e francamente desproporcional à importância real do episódio com o argumento de que uma das principais lideranças do Centrão acaba de ser finalmente entronizada no Planalto.
Tudo isso como se o fato de Bolsonaro ser refém do Centrão no Congresso fosse novidade. Ou se houvesse uma diferença essencial em termos de postura e métodos entre os próceres do Centrão e os generais da boquinha. Ou se a tal ala ideológica, eufemismo para os descerebrados nazi que rezam na cartilha de Olavo de Carvalho, o Centrão e os militares representassem segmentos radicalmente distintos.
Nada mais falso. Tão fajuto quanto esta história que os “isentões” inventaram de que padecemos dos males de uma conjuntura de polarização política, de clima de Fla x Flu, de disputa de projetos entre extremos.
Qualquer análise sobre o atual cenário político que se pretenda minimamente séria, e não contaminada por uma naturalização que sempre tem lado, há que levar em conta que a natureza do confronto na sociedade se dá entre civilização e barbárie, democracia x ditadura e liberdades democráticas versus totalitarismo.
De um lado, uma grande parcela da nossa gente não abre mão de viver sob a égide do respeito aos direitos humanos, valorizando a ciência e as artes. Do outro, se situam aqueles que destilam ódio e preconceito por todos os poros, exibindo comportamentos racistas, misóginos e homofóbicos, sempre prontos a expressar sua aversão aos pobres.
Isto posto, com nuances e ênfases aqui e acolá à parte, todas as correntes que formam o bloco de apoio a Bolsonaro são sócias de um governo responsável por centenas de milhares de mortes, e por isso têm seus ternos e fardas manchados de sangue.
Seja o deputado ou senador do Centrão especializado em abocanhar emendas do orçamento, ou o militar estrelado que traiu seu compromisso com a pátria para pregar rupturas da ordem constitucional, ou os discípulos da estupidez olavista, todos são parte de um governo neofascista, que ameaça a democracia dia e noite e não esconde de ninguém seu projeto estratégico de destruir os pilares da República e, consequentemente, a nação.
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