Provavelmente é mais uma “flor do recesso” – aquelas “notícias” que surgem nos intervalos da política parlamentar – mas o fato é que os boatos em torno da criação do “Partido do Centrão”, reunindo o PSL, o Democratas e os Partido (nada) Progressista são algo que tem, a olhos vistos, o “regador” do Planalto a estimular.
Seria, afinal, um partido para Bolsonaro?
Dificilmente será, por uma série de fatores, o primeiro deles sendo, evidentemente, a incapacidade de Jair Bolsonaro de dividir poder ou coordenar arranjos políticos, tanto que não só falhou, em dois anos e meio e poder, em controlar o PSL, em fazer o “Aliança38” e ate em domar o modestíssimo “Patriota” à conveniência de servir-lhe de montaria em 2022.
Bolsonaro, já se disse aqui, é um especialista em transformar adversário em inimigo.
Mas há outro obstáculo, muito mais sério para os parlamentares, especialmente os deputados: o de que a soma política não é algo em que o total corresponde à adição das partes.
É fácil verificar quem sairia em vantagem neste PCB – Partido do Centrão Bolsonarista.
Os bolsonaristas notórios, num partido marcado pelo estigma do “Mito”, sairiam em vantagem política e eleitoral.
Política, porque contariam com a preferência ou, ao menos, a simpatia presidencial para ocupar cargos de comando partidário, o que, além do mais, define a distribuição de verbas de campanha a quem os ocupa.
Eleitoral, pelo fato de que, embora muito longe do “arrastão” bolsonarista que levou ilustres desconhecidos a votações estrondosas, é claro que eles concentrarão os votos das falanges direitistas que remanescem, menores mas mais orgânicas que em 2018.
Salvo um ou outro, porém, não serão mais “puxadores de voto”, a menos que alguém acredite que personagens como Helio Lopes – o Hélio Negão ou Helio Bolsonaro, seus nomes eleitorais – vá repetir os seus 345 mil votos de 2018, um salto gigante ante os 480 míseros votos que teve dois anos antes?
Serão, porém, comensais privilegiados no bolo menor do voto bolsonarista e concorrerão direta e privilegiadamente com os parlamentares amorfos do fisiologismo e do regionalismo político, daqueles que “não me importa em quem você vote para presidente ou governador, desde que para deputado vote em mim”.
Numa eleição que, até onde a vista alcança, se polariza, vale a pena amarrar-se ao lado que está minguando?
Portanto, sair um “Partidão do Bolsonaro” é quase impossível. Pode sair sair até como o “Partido do Centrão”, sem Bolsonaro, mas não é menos problema juntar DEM e PP em vários estados.
O certo, porém, é que essa “aliança” vai se escrever, sim, nas emendas parlamentares, com cooptações e chantagens.
Nessa “sociedade”, sempre que possível, é “a minha parte em emendas, por favor".
Isto é, em dinheiro para amealhar votos.
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