Por Jeferson Miola, em seu blog:
Agentes do governo dos EUA já nem disfarçam a intromissão direta no Brasil. Eles agem à luz do dia, sem nenhuma discrição e cerimônia, e nem se preocupam em serem vistos operando. Sob o governo vassalo e servil dos militares, o Brasil se parece um protetorado da potência imperial na América do Sul.
No início de julho o diretor da CIA William Burns teve encontros com Bolsonaro, com os generais do “comitê central” Luís Eduardo Ramos [então na Casa Civil], Augusto Heleno [GSI], Braga Netto [Defesa], com o diretor da ABIN e outras autoridades.
O governo revelou as fotografias, mas não o conteúdo dos encontros. É incomum, para não dizer muito raro, ver-se publicidade de encontro do diretor da CIA com governantes estrangeiros. A atuação da agência estadunidense, mais que discreta, costuma ser secreta nas conspirações para desestabilizar democracias, derrubar governos considerados “inimigos” e instalar ditaduras aliadas.
Bolsonaro sinalizou que além de assuntos internos, na agenda com Burns pode ter abordado a situação geopolítica da região: “… a gente analisa na América do Sul como estão as coisas. A Venezuela a gente não aguenta falar mais, mas olha a Argentina. Para onde está indo o Chile? O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales”, disse ele.
O presidente Nicolás Maduro denunciou que o diretor da CIA visitou o Brasil e a Colômbia para preparar seu assassinato e ataques ao governo soberano da Venezuela [aqui].
Todd Chapman, o excêntrico embaixador dos EUA elogiou que o Brasil [22/7] “é um país super-democrático”. Vestindo o figurino antipetista, o embaixador repetiu a retórica da anticorrupção pretextada pelos EUA para atacarem as soberanias nacionais para dizer que a preocupação central de Washington não é com a ameaça de escalada fascista-militar no país, mas sim “mensalão, petrolão, Lava Jato”.
Petulante, Todd Chapman ainda fez um “alerta de amigo”, segundo suas palavras, e advertiu que a aquisição de tecnologia 5G da empresa chinesa Huawei pelo Brasil não seria tolerada, pois contraria interesses estratégicos dos EUA.
No próximo 5 de agosto desembarcará em Brasília o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA Jake Sullivan com a missão de formatar o banimento da tecnologia chinesa 5G nos leilões brasileiros. Se dará certo ou não, só o tempo dirá, porque a China é um fator estrutural da economia brasileira, e seu veto teria consequências relevantes para o Brasil.
A América Latina está no centro da disputa geopolítica travada pelos EUA com a Rússia no âmbito bélico-militar, e com a China nas dimensões comercial, econômica, política, tecnológica e financeira.
O Brasil, maior potência hemisférica com suas riquezas, fontes energéticas e minerais, mercado de consumo, capacidade de produção alimentar, território, biomas, mananciais hídricos etc, é o epicentro desta guerra de domínio imperial.
Hoje se sabe acerca da participação dos Departamentos de Estado e de Justiça, bem como das agências de inteligência estadunidenses no processo de desestabilização e conspiração para interromper o ciclo de governos progressistas no Brasil. O cineasta Oliver Stone sustenta que a prisão de Lula através da farsa jurídica da Lava Jato foi projeto dos EUA.
Agora que chegaram até aqui, os EUA não vão desistir de continuarem pilhando e subjugando o país. A perspectiva que se abre com a eleição de Lula em 2022, de uma política externa soberana e independente com o fortalecimento do Mercosul, Unasul, CELAC e, sobretudo, dos BRICS, poderá não ser tolerada amigavelmente por Washington.
Para Brian Winter, vice-presidente do conservador Conselho das Américas, “O governo Biden pode não amar Bolsonaro, mas vê o Brasil como peça-chave no crescente confronto global com a China. Grande parte da América Latina está em crise e/ou se voltando contra Washington. O Brasil ainda é um aliado importante dos EUA. E ainda é ‘grande’”.
Brian vê renascer em Washington “o realismo da Guerra Fria de ignorar o comportamento antidemocrático de aliados se eles ajudarem os EUA”.
A continência do Bolsonaro à bandeira dos EUA e a celebração do 4 de julho [independência dos EUA] na casa do embaixador dos EUA em Brasília tem mais que valor simbólico, porque indicam um padrão inédito de subserviência e entreguismo da política externa brasileira sob o governo vassalo dos militares.
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