Na política, nada mais parecido a Jair Bolsonaro que a figura de um jogador, destes obcecados pelo desejo de ganhar mais e, por isso, dilapidar irresponsavelmente o que, uma vez, a sorte lhe deu nas apostas.
O grande prêmio eleitoral de 2018, em dois anos e meio, dissipou-se à metade, ou menos, mas ele segue salivando por mais uma, nem que isso possa custar-lhe o que tem e que bastaria para mantê-lo fora da escolha que ele mesmo enunciou, entre a vitória ou a prisão ou ainda a morte.
E é essa compulsão que o faz apostar todas as fichas que lhe restam nas manifestações do Sete de Setembro, empregando todo o seu empenho em que sejam maiores e mais golpistas do que vinham sendo, mirradas pelo seu próprio desgaste e obrigando a expedientes como os das motociatas para dar-lhes impressão de força e a ele mesmo darem uma imagem de vigor que não é mais que uma casca.
A pergunta obrigatória é: ainda que dê certo, o que estas manifestações darão a Jair Bolsonaro?
A continuidade da crise institucional, do confronto com o Supremo, da ideia de que ele trama um golpe, mais apoio nas Forças Armadas para que o apoiem nisso? Fará subir o nível das represas e baixar o dos preços nos supermercados? Atrair investimentos para um país que o mundo acha dirigido por um lunático golpista? Vai conseguir intimidar o Supremo?
Mesmo que a convocação intensa – seja pelo uso da máquina do governo, seja pela insânia robótica das redes ou pelo afretamento de ônibus promovidos por policiais ou sojeiros – resulte em uma multidão, isso só servirá para provocar uma reação mais forte e ampla dos que vêem nela, como é, um perigo maior de um golpe.
E, portanto, provocar maior reação.
O país está visivelmente cansado desta escalada de tensão e ansioso por virar a página deste pesadelo.
Bolsonaro tem insistido em que não procura o golpe porque “ja é presidente”.
Errado: quer o golpe porque já é quase um ex-presidente.
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