Conforme pudemos ler em matéria recentemente publicada, Bolsonaro e outros expoentes das forças da extrema direita nazifascistas levam uma enorme vantagem quanto à utilização da potencialidade das redes digitais de comunicação pela internet.(i) Esta constatação coloca um problema para todos os que estamos fazendo o enfrentamento contra o que existe de mais retrógrado a nível social na humanidade.
Até poucos anos atrás, a gente andava discutindo o papel que a mídia corporativa hegemônica exercia como principal partido político na defesa dos interesses do capital financeiro e do grande capital em geral. Este processo, que passou a ter conotações mais nítidas a partir da década de 1970, com o predomínio dos ideais do neoliberalismo por todo o planeta subjugado ao capitalismo, atingiu seu apogeu nos primeiros anos do século XXI.
Mas, como ocorre com todo e qualquer mecanismo de dominação social, com o passar do tempo e com o desenrolar dos embates, as forças sociais que se contrapõem à dominação do grande capital foram conhecendo melhor os modos de atuação deste aparato midiático e, consequentemente, aprendendo também a encontrar formas de neutralizá-lo.
Aqui no Brasil, especificamente, as quatro vitórias presidenciais consecutivas do PT em associação com outras forças não subordinadas por completo às diretrizes do complexo de poder das classes dominantes serviram como claro indicador de que a mídia corporativa tradicional não estava em condições de continuar sendo o carro chefe da defesa dos interesses do grande capital e do imperialismo a ele vinculado.
Pessoalmente, tive a oportunidade de manifestar este pressentimento num artigo em que analisava o andamento da campanha presidencial no Brasil em 2010. Já por então, antevia que seria impossível para os setores economicamente hegemônicos persistirem no mesmo esquema comunicacional, o qual ia se mostrando incapaz de garantir a dominação intelectual necessária para a sobrevivência de uma sociedade de classes com tanta desigualdade como a nossa.
Quando comentei sobre os efeitos esperados de uma muito provável vitória de Dilma Rousseff contra o então candidato do establishment, José Serra, expressei textualmente o seguinte:
“Não será fácil para a mídia corporativa recuperar-se de tal derrota. Não digo que seja impossível, mas será muito difícil. E, se as forças populares souberem tirar proveito adequado desta derrota acachapante da mídia corporativa, é possível que as forças do capital hegemônico a descartem de vez como sua representante política. Tratarão de encontrar outros instrumentos e, possivelmente, os encontrarão. Mas isto vai levar um tempinho.”[ii]
Embora eu vislumbrasse uma perda iminente de importância da mídia corporativa tradicional como baluarte da defesa dos interesses das classes dominantes, eu não tinha clareza sobre o que estava por vir em substituição. Além disso, eu acreditava que o processo de mudança para algum outro esquema fosse ocorrer num período de tempo mais ou menos significativo. Foi por tal motivo que escrevi “Isto vai levar um tempinho”. Contudo, o tal tempinho foi muito mais breve do que eu e muitos de nós podíamos imaginar. E foi assim que, muito rapidamente, o Whatsapp roubou a cena.
De certa maneira, podemos considerar a campanha eleitoral de 2010 como o início de uma nova fase da luta política comunicacional no Brasil. Até então, o Whatsapp não era um aplicativo de uso tão extensivo como passou a ser nos anos seguintes. A partir de sua aquisição pelo mesmo grupo proprietário do Facebook, tornou-se um aplicativo de uso generalizado. Atualmente, sua presença se alastrou por todos os centros urbanos do país, e o número de seus usuários é gigantesco, mesmo entre gente de condições socioeconômicas humildes.
Tive a possibilidade de ler vários bons artigos sobre o uso que a direita (em especial, a extrema-direita) vem fazendo do Whatsapp em várias partes do mundo. Entre eles, aqueles que abordam as movimentações políticas que salpicaram pelo Oriente Médio, pela Europa Oriental, na Europa Ocidental (que resultou no Brexit) e, até mesmo, nos Estados Unidos (que propiciou a eleição de Donald Trump).
Neste momento, nosso país está no centro dos embates e da disputa comunicacional. O processo que acarretou na eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil pode servir como indicador da capacidade que instrumentos como o Whatsapp têm para dar vazão à manipulação dos sentimentos e instintos de imensas massas humanas a ponto de levá-las a eleger para o cargo mais importante da nação uma pessoa cujo programa de governo a maior parte de seus eleitores não tem sequer ideia do que seja.
Muitas críticas têm sido feitas à esquerda por ter permitido que a direita saísse na frente no uso destas novas tecnologias, enquanto se mantinha aferrada à prática do jornalismo tradicional, imaginando que os artigos e análises de seus blogs poderiam alcançar resultados equiparáveis aos que haviam sido conquistados quando se contrapunham à prática da mídia corporativa pouco tempo antes.
Embora seja importante ter clareza da situação e do problema que ela aponta, precisamos entender que seria improvável que o fenômeno viesse a ocorrer de modo invertido. O fato é que, devido às condições concretas existentes, a esquerda jamais poderia ter saído à frente com o uso dessas novas ferramentas e tê-las feito servir a seus propósitos com igual eficácia que a alcançada pela direita. Para entender as razões para o que acabamos de mencionar, é preciso entender o que queremos dizer com “direita” e “esquerda” numa determinada sociedade de classes.
Ao empregarmos o termo “direita”, estamos fazendo referência às forças que representam e defendem os interesses dos principais grupos econômicos de uma sociedade, em outras palavras, as classes dominantes. Na verdade, a expressão se refere à tropa de choque política dos economicamente poderosos. Portanto, se aplica para aqueles que atuam em nome dos dominadores, dos que defendem seus interesses e, logicamente, dependem e recebem dos tais poderosos o apoio vital para sua existência. Por sua vez, a expressão política “esquerda” está historicamente associada com aqueles que lutam e defendem os interesses dos grupos sociais que vivem submetidos ao domínio dos poderosos.
Em vista do que acaba de ser dito, está mais do que evidente que a esquerda não conta com o apoio ideológico, organizacional e, muito menos, econômico das classes dominantes do país.
Sendo assim, em um país capitalista, como esperar que seja a esquerda que saia na frente com a introdução de novas tecnologias? Se tais tecnologias dependem fundamentalmente de vultosos recursos econômicos que somente os ricos e poderosos podem dispor, como esperar que sua implementação se origine na esquerda? A bem da verdade, a direita sai sempre na frente com as inovações tecnológicas, seja na produção industrial ou na comunicação de massas. Isto é assim porque a direita representa o capital, e o capital é sempre quem lança as inovações tecnológicas no sistema capitalista.
Por mais que se esforcem, os trabalhadores, ou as forças que os representam, nunca estiveram, estão, ou vão estar em condições equiparáveis para lançar novas tecnologias de ponta, ou mesmo para tirar proveito máximo das já existentes. Neste aspecto, os elementos vinculados com a direita vão sempre levar vantagem.
Sim, é evidente que muito poderia e deveria ter sido feito para minimizar os efeitos devastadores que levaram à vitória do nazifascismo bolsonarista. Talvez devêssemos ter usado o tempo de que dispúnhamos na televisão naquele momento muito mais para desconstruir as falácias que eram propagadas em favor de Bolsonaro do que insistir em apresentar o programa de governo de Lula, visto que suas propostas já eram bem conhecidas por nosso povo devido a sua exitosa gestão de governo.
Porém, jamais teríamos tido condições de fazer uso de aplicativos como Whatsapp, Facebook, Twitter, etc., para impor nosso programa na mente dos eleitores. E as razões para que seja assim derivam das características inerentes a essas ferramentas.
O emprego eficaz de mecanismos como os citados exige brevidade nas mensagens e uma repetição constante. E mensagens breves e curtas são muito eficientes quando se quer trazer à tona, ou reforçar, preconceitos já sedimentados na mente das pessoas por anos, décadas ou séculos de martelação.
Assim que, quando uma mensagem por Whatsapp faz referência a expressões do tipo: “A corrupção do PT”, ou, “Vamos impedir que os corruptos do PT continuem mamando na teta do Estado”, isto vem de encontro uma intensa campanha de demonização contra o PT que vem sendo desenvolvida há muitos anos. Ou seja, essas curtas frases se sobrepõem e encaixam à perfeição com todo o trabalho de difamação feito com anterioridade por órgãos da mídia corporativa capitaneada pela rede Globo e acompanhada por quase todos os outros grandes veículos de comunicação corporativa: Rede Record, Band, SBT, Veja, FSP, Jovem Pan, etc.
Então, como desconstruir estes preconceitos com o mesmo reduzido número de palavras? Convenhamos, isto é impossível! Além do mais, tão somente os representantes do capital podem ter fácil acesso aos resultados das varrições algorítmicas efetuadas na internet por meio de suas principais plataformas (Google, Yahoo, Facebook, Instagram, Twitter, etc). Para os trabalhadores, ou seus representantes, aceder a esses dados é tarefa quase que inimaginável.
Como é sabido, é através desses algoritmos que eles se dão conta daquilo que os usuários da internet estão procurando saber, o que gostariam de saber e o que não deveriam saber. Como resultado, cada qual vai receber mensagens e estímulos diretamente associado a algum interesse de sua parte previamente detectado. E, logicamente, se soubermos de antemão o que uma pessoa tem como seu interesse, poderemos elaborar nossa exposição de maneira tal que nossa proposta pareça estar sempre em concordância com o interesse dela.
Exemplificando, se for detectado que uma pessoa é contrária ao aborto, vamos jogar sobre ela uma tonelada de mensagens que apresentem nossos adversários como abortistas. Por outro lado, nada de nossos adversários que possa estar em sintonia com as expectativas do público alvo vai ser mencionado. É simples assim. Mas, ainda não é tudo.
Ainda nos resta saber como conseguir que essas mensagens que nos interessam sejam divulgadas a dezenas, centenas, milhares e milhões de pessoas. Nenhum partido ou organização de esquerda teria recursos para levar a cabo tal tarefa. O custo para isso é elevadíssimo. Isto exige muitos recursos econômicos para montar, comprar, ou alugar, as estruturas que possam deslanchar essas operações de difusão. Está efetivamente fora do alcance da esquerda.
E como a direita enfrenta este problema? Resposta: com simplicidade. Para isso estão os banqueiros, os grandes proprietários do agronegócio, os donos de imensas redes de lojas de varejo, os donos de grandes transportadoras, além, é claro, das contribuições vindas de certos amiguinhos do exterior que nutrem interesse por aquelas coisas de nosso país que eles gostariam que passassem a ser deles. Para que não paire dúvidas, não creio que tenhamos condições de usar a nosso favor o Whatsapp e outras novas ferramentas com a mesma eficácia que a direita usa.
É certo que também nunca fomos capazes de usar a imprensa escrita de modo equivalente, mas pudemos neutralizá-la em vários momentos decisivos. Também conseguimos coisa semelhante em relação com a televisão. Fomos aprendendo a neutralizar, mas sempre estando alguns passos atrás.
Creio que chegou o momento de neutralizar os efeitos malignos que o uso intensivo pela extrema direita dos novos aplicativos para redes sociais digitais na internet estão nos causando. Uma das maneiras que me parece essencial e imprescindível é a volta ao trabalho de base verdadeiro, aquilo de estar junto do povo, conviver com o povo, sofrer e buscar alternativas junto com o povo.
Claro que devemos nos esforçar para aprender a manejar melhor as tecnologias que existem na atualidade, esta é uma obrigação a qual precisamos nos dedicar. Mas, nada pode substituir o contato face a face com o povo. Isto é algo que tem um valor imenso para aqueles que procuramos levar para o povo uma mensagem com um sentimento sincero. Esta mensagem de sentimento e amor sinceros não consegue ser transmitida com toda eficácia por meios digitais. Ela depende de nossa presença física junto ao povo. Mas, tenhamos convicção e certeza, é uma mensagem que, uma vez transmitida, custa muito a ser borrada.
Quem sabe, no dia em que tenhamos um Estado dirigido e controlado pelos interesses da maioria trabalhadora, a gente possa colocá-lo como ponta de lança das inovações tecnológicas em comunicação para benefício das maiorias. Até lá, vamos ter de correr atrás. Fazer o trabalho de base, ao mesmo tempo em que nos dedicamos às redes sociais pela internet. Pode ser que caminhemos um pouco demorados nesta última questão. O importante é que não fiquemos muito para trás.
Notas
Pessoalmente, tive a oportunidade de manifestar este pressentimento num artigo em que analisava o andamento da campanha presidencial no Brasil em 2010. Já por então, antevia que seria impossível para os setores economicamente hegemônicos persistirem no mesmo esquema comunicacional, o qual ia se mostrando incapaz de garantir a dominação intelectual necessária para a sobrevivência de uma sociedade de classes com tanta desigualdade como a nossa.
Quando comentei sobre os efeitos esperados de uma muito provável vitória de Dilma Rousseff contra o então candidato do establishment, José Serra, expressei textualmente o seguinte:
“Não será fácil para a mídia corporativa recuperar-se de tal derrota. Não digo que seja impossível, mas será muito difícil. E, se as forças populares souberem tirar proveito adequado desta derrota acachapante da mídia corporativa, é possível que as forças do capital hegemônico a descartem de vez como sua representante política. Tratarão de encontrar outros instrumentos e, possivelmente, os encontrarão. Mas isto vai levar um tempinho.”[ii]
Embora eu vislumbrasse uma perda iminente de importância da mídia corporativa tradicional como baluarte da defesa dos interesses das classes dominantes, eu não tinha clareza sobre o que estava por vir em substituição. Além disso, eu acreditava que o processo de mudança para algum outro esquema fosse ocorrer num período de tempo mais ou menos significativo. Foi por tal motivo que escrevi “Isto vai levar um tempinho”. Contudo, o tal tempinho foi muito mais breve do que eu e muitos de nós podíamos imaginar. E foi assim que, muito rapidamente, o Whatsapp roubou a cena.
De certa maneira, podemos considerar a campanha eleitoral de 2010 como o início de uma nova fase da luta política comunicacional no Brasil. Até então, o Whatsapp não era um aplicativo de uso tão extensivo como passou a ser nos anos seguintes. A partir de sua aquisição pelo mesmo grupo proprietário do Facebook, tornou-se um aplicativo de uso generalizado. Atualmente, sua presença se alastrou por todos os centros urbanos do país, e o número de seus usuários é gigantesco, mesmo entre gente de condições socioeconômicas humildes.
Tive a possibilidade de ler vários bons artigos sobre o uso que a direita (em especial, a extrema-direita) vem fazendo do Whatsapp em várias partes do mundo. Entre eles, aqueles que abordam as movimentações políticas que salpicaram pelo Oriente Médio, pela Europa Oriental, na Europa Ocidental (que resultou no Brexit) e, até mesmo, nos Estados Unidos (que propiciou a eleição de Donald Trump).
Neste momento, nosso país está no centro dos embates e da disputa comunicacional. O processo que acarretou na eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil pode servir como indicador da capacidade que instrumentos como o Whatsapp têm para dar vazão à manipulação dos sentimentos e instintos de imensas massas humanas a ponto de levá-las a eleger para o cargo mais importante da nação uma pessoa cujo programa de governo a maior parte de seus eleitores não tem sequer ideia do que seja.
Muitas críticas têm sido feitas à esquerda por ter permitido que a direita saísse na frente no uso destas novas tecnologias, enquanto se mantinha aferrada à prática do jornalismo tradicional, imaginando que os artigos e análises de seus blogs poderiam alcançar resultados equiparáveis aos que haviam sido conquistados quando se contrapunham à prática da mídia corporativa pouco tempo antes.
Embora seja importante ter clareza da situação e do problema que ela aponta, precisamos entender que seria improvável que o fenômeno viesse a ocorrer de modo invertido. O fato é que, devido às condições concretas existentes, a esquerda jamais poderia ter saído à frente com o uso dessas novas ferramentas e tê-las feito servir a seus propósitos com igual eficácia que a alcançada pela direita. Para entender as razões para o que acabamos de mencionar, é preciso entender o que queremos dizer com “direita” e “esquerda” numa determinada sociedade de classes.
Ao empregarmos o termo “direita”, estamos fazendo referência às forças que representam e defendem os interesses dos principais grupos econômicos de uma sociedade, em outras palavras, as classes dominantes. Na verdade, a expressão se refere à tropa de choque política dos economicamente poderosos. Portanto, se aplica para aqueles que atuam em nome dos dominadores, dos que defendem seus interesses e, logicamente, dependem e recebem dos tais poderosos o apoio vital para sua existência. Por sua vez, a expressão política “esquerda” está historicamente associada com aqueles que lutam e defendem os interesses dos grupos sociais que vivem submetidos ao domínio dos poderosos.
Em vista do que acaba de ser dito, está mais do que evidente que a esquerda não conta com o apoio ideológico, organizacional e, muito menos, econômico das classes dominantes do país.
Sendo assim, em um país capitalista, como esperar que seja a esquerda que saia na frente com a introdução de novas tecnologias? Se tais tecnologias dependem fundamentalmente de vultosos recursos econômicos que somente os ricos e poderosos podem dispor, como esperar que sua implementação se origine na esquerda? A bem da verdade, a direita sai sempre na frente com as inovações tecnológicas, seja na produção industrial ou na comunicação de massas. Isto é assim porque a direita representa o capital, e o capital é sempre quem lança as inovações tecnológicas no sistema capitalista.
Por mais que se esforcem, os trabalhadores, ou as forças que os representam, nunca estiveram, estão, ou vão estar em condições equiparáveis para lançar novas tecnologias de ponta, ou mesmo para tirar proveito máximo das já existentes. Neste aspecto, os elementos vinculados com a direita vão sempre levar vantagem.
Sim, é evidente que muito poderia e deveria ter sido feito para minimizar os efeitos devastadores que levaram à vitória do nazifascismo bolsonarista. Talvez devêssemos ter usado o tempo de que dispúnhamos na televisão naquele momento muito mais para desconstruir as falácias que eram propagadas em favor de Bolsonaro do que insistir em apresentar o programa de governo de Lula, visto que suas propostas já eram bem conhecidas por nosso povo devido a sua exitosa gestão de governo.
Porém, jamais teríamos tido condições de fazer uso de aplicativos como Whatsapp, Facebook, Twitter, etc., para impor nosso programa na mente dos eleitores. E as razões para que seja assim derivam das características inerentes a essas ferramentas.
O emprego eficaz de mecanismos como os citados exige brevidade nas mensagens e uma repetição constante. E mensagens breves e curtas são muito eficientes quando se quer trazer à tona, ou reforçar, preconceitos já sedimentados na mente das pessoas por anos, décadas ou séculos de martelação.
Assim que, quando uma mensagem por Whatsapp faz referência a expressões do tipo: “A corrupção do PT”, ou, “Vamos impedir que os corruptos do PT continuem mamando na teta do Estado”, isto vem de encontro uma intensa campanha de demonização contra o PT que vem sendo desenvolvida há muitos anos. Ou seja, essas curtas frases se sobrepõem e encaixam à perfeição com todo o trabalho de difamação feito com anterioridade por órgãos da mídia corporativa capitaneada pela rede Globo e acompanhada por quase todos os outros grandes veículos de comunicação corporativa: Rede Record, Band, SBT, Veja, FSP, Jovem Pan, etc.
Então, como desconstruir estes preconceitos com o mesmo reduzido número de palavras? Convenhamos, isto é impossível! Além do mais, tão somente os representantes do capital podem ter fácil acesso aos resultados das varrições algorítmicas efetuadas na internet por meio de suas principais plataformas (Google, Yahoo, Facebook, Instagram, Twitter, etc). Para os trabalhadores, ou seus representantes, aceder a esses dados é tarefa quase que inimaginável.
Como é sabido, é através desses algoritmos que eles se dão conta daquilo que os usuários da internet estão procurando saber, o que gostariam de saber e o que não deveriam saber. Como resultado, cada qual vai receber mensagens e estímulos diretamente associado a algum interesse de sua parte previamente detectado. E, logicamente, se soubermos de antemão o que uma pessoa tem como seu interesse, poderemos elaborar nossa exposição de maneira tal que nossa proposta pareça estar sempre em concordância com o interesse dela.
Exemplificando, se for detectado que uma pessoa é contrária ao aborto, vamos jogar sobre ela uma tonelada de mensagens que apresentem nossos adversários como abortistas. Por outro lado, nada de nossos adversários que possa estar em sintonia com as expectativas do público alvo vai ser mencionado. É simples assim. Mas, ainda não é tudo.
Ainda nos resta saber como conseguir que essas mensagens que nos interessam sejam divulgadas a dezenas, centenas, milhares e milhões de pessoas. Nenhum partido ou organização de esquerda teria recursos para levar a cabo tal tarefa. O custo para isso é elevadíssimo. Isto exige muitos recursos econômicos para montar, comprar, ou alugar, as estruturas que possam deslanchar essas operações de difusão. Está efetivamente fora do alcance da esquerda.
E como a direita enfrenta este problema? Resposta: com simplicidade. Para isso estão os banqueiros, os grandes proprietários do agronegócio, os donos de imensas redes de lojas de varejo, os donos de grandes transportadoras, além, é claro, das contribuições vindas de certos amiguinhos do exterior que nutrem interesse por aquelas coisas de nosso país que eles gostariam que passassem a ser deles. Para que não paire dúvidas, não creio que tenhamos condições de usar a nosso favor o Whatsapp e outras novas ferramentas com a mesma eficácia que a direita usa.
É certo que também nunca fomos capazes de usar a imprensa escrita de modo equivalente, mas pudemos neutralizá-la em vários momentos decisivos. Também conseguimos coisa semelhante em relação com a televisão. Fomos aprendendo a neutralizar, mas sempre estando alguns passos atrás.
Creio que chegou o momento de neutralizar os efeitos malignos que o uso intensivo pela extrema direita dos novos aplicativos para redes sociais digitais na internet estão nos causando. Uma das maneiras que me parece essencial e imprescindível é a volta ao trabalho de base verdadeiro, aquilo de estar junto do povo, conviver com o povo, sofrer e buscar alternativas junto com o povo.
Claro que devemos nos esforçar para aprender a manejar melhor as tecnologias que existem na atualidade, esta é uma obrigação a qual precisamos nos dedicar. Mas, nada pode substituir o contato face a face com o povo. Isto é algo que tem um valor imenso para aqueles que procuramos levar para o povo uma mensagem com um sentimento sincero. Esta mensagem de sentimento e amor sinceros não consegue ser transmitida com toda eficácia por meios digitais. Ela depende de nossa presença física junto ao povo. Mas, tenhamos convicção e certeza, é uma mensagem que, uma vez transmitida, custa muito a ser borrada.
Quem sabe, no dia em que tenhamos um Estado dirigido e controlado pelos interesses da maioria trabalhadora, a gente possa colocá-lo como ponta de lança das inovações tecnológicas em comunicação para benefício das maiorias. Até lá, vamos ter de correr atrás. Fazer o trabalho de base, ao mesmo tempo em que nos dedicamos às redes sociais pela internet. Pode ser que caminhemos um pouco demorados nesta última questão. O importante é que não fiquemos muito para trás.
Notas
(i) https://www.metropoles.com/brasil/bolsonaro-tem-mais-seguidores-nas-redes-que-principais-rivais-juntos
[ii] Souza, Jair: O que está em jogo nas próximas eleições. Publicado em Desacato.info, em 18/09/2010 (http:/ desacato.info/o-que-esta-em-jogo-nas-proximas-eleicoes/)
* Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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