Ciro Gomes. Foto: AFP |
A bancada do PDT na Câmara fez um acordo com o bolsonarista Artur Lira para aprovar a PEC dos Precatórios. Também conhecida como PEC do Calote, ela é um instrumento para dar fôlego a Bolsonaro em ano eleitoral. O acordo significa entregar munição decisiva para o inimigo.
De 24 deputados do partido, 15 votaram com o bolsonarismo. O PDT tem cinco deputados no Ceará, e quatro votaram "Sim".
Impossível acreditar que André Figueiredo e Leônidas Cristino (dois pedetistas cearenses muito próximos aos Ferreira Gomes), por exemplo, não tenham informado Ciro e o irmão Cid sobre a votação.
O candidato a presidente acordou, na quinta-feira (dia 4/11), sob fogo intenso de sua militância digital, que cobrava explicações.
Em vez de explicar, Ciro tomou atitude unilateral de interromper a campanha - até que tudo se esclareça.
Ciro tenta agora reverter os votos pedetistas, antes do segundo turno de votação da PEC, para que o candidato apareça como uma liderança coerente e que não aceita acertos espúrios.
Se conseguir mudar os votos, sai fortalecido; do contrário, pode inviabilizar sua candidatura.
Mas há outra hipótese: Ciro sabia muito bem da movimentação na bancada, e quer agora aproveitar o episódio para interromper definitivamente a campanha; seria uma "saída honrosa", para um candidato que apostou tudo no antipetismo e, ao que parece, não consegue colher frutos consistentes para 2022.
Se Ciro sair do jogo, que significado isso teria para o PDT, e mesmo para os eleitores ciristas?
Pesquisa Datafolha de setembro/2021 mostrou que 56% dos eleitores de Ciro optariam por Lula num segundo turno contra Bolsonaro.
Ou seja: os ciristas são, em sua maioria, progressistas que têm restrições em relação ao PT. Mas que na hora da decisão ficarão com uma candidatura mais à esquerda.
É razoável supor que a desistência de Ciro levaria pelo menos metade de seus eleitores a apoiar Lula já no primeiro turno, visto que os outros nomes da chamada Terceira Via são mais alinhados com a centro direita. Ou seja, Lula que hoje está na faixa de 42% a 44% poderia crescer mais e se aproximar da vitória em primeiro turno.
Mas e o partido, o que aconteceria se Ciro desistisse? Dos 24 deputados federais pedetistas, 14 são do Rio de Janeiro ou de estados do Nordeste (Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Bahia). Para eles, uma aliança com Lula talvez facilitasse bastante a tentativa de reeleição.
Há ainda duas candidaturas a governador do PDT, com chances razoáveis: o senador Weverton Rocha (Maranhão) e o ex prefeito de Niterói Rodrigo Neves (Rio de Janeiro) são lulistas, e não escondem que gostariam de ter o petista em seus palanques.
Portanto, o PDT institucionalmente poderia ganhar se Ciro desistisse da candidatura.
Ah, mas uma bancada que vota com Lira não tem interesse em acordo com Lula... Hum... Não é assim que funcionam esses arranjos.
A bancada do PDT cedeu aos "apelos" de Lira (que prometeu incluí-la na lista de agraciados com emendas, no absurdo orçamento secreto).
A maioria topou o jogo, mirando justamente a reeleição. Não há contradição entre pegar dinheiro de emendas para turbinar apoios nas bases, e logo depois apoiar o candidato (Lula) com maior penetração junto ao eleitorado.
A desistência de Ciro, talvez, ajude até mesmo a acertar o palanque no Ceará.
Os Ferreira Gomes tentariam eleger governador do PDT, mantendo a aliança com o petista Camilo Santana (que sairá ao Senado).
A família de Ciro ficaria com a máquina estadual, facilitando um arranjo nacional em que o PDT poderia voltar ao "leito natural" de coalizão com Lula - já no primeiro turno.
Seria um quadro bom para Lula, para a bancada do PDT e especialmente para os candidatos pedetistas no Maranhão e no Rio.
Se insistir na candidatura, Ciro corre o risco de desidratar mais e, lá na frente, ser obrigado a aceitar o mesmo arranjo em condições até piores. A ver....
Minha hipótese sobre Rodrigo Vianna, e todos os demais lulistas, é que ele não consegue se impedir de ser tendencioso, derivando suas análises permanentemente para favorecer o SEU candidato, o representante da desastrosa concepção política ideológica da corrente que hegemoniza o PT, que, com seu famigerado "modo petista de governar", fragilizou de forma evidente e contraditória, as principais organizações de base brasileiras que estiveram reunidas para eleger esse tipo de governo. Se Ciro retirar sua candidatura, o processo eleitoral se converteria em um lamentável plebiscito, que nos obrigaria a ter que escolher entre o social liberalismo petista, que tanto parece agradar aos lulistas, e o fascismo que nos infelicita. Uma outra hipótese, que se converteu possível em função de acontecimentos recentes, é que, sem Ciro, Sérgio Moro ficarei sem contestação de alguém de fora do PT, e teria espaço para viabilizar-se como "terceira via", derrotando Bolsonaro no 1° turno e disputando com Lula o 2° turno. Em 2018, as pesquisas (os lulistas, que tanto vibram com os números atuais destas pesquisas extremamente provisórias, fingem que desconhecem esse fato) asseguravam que somente Ciro poderia derrotar Bolsonaro no 2° turno. Pois, em 2022, minha intuição política, que em 2018 desconfiou da possibilidade da vitória de Bolsonaro antes que as pesquisas começassem a apontá-la, me diz que, primeiro, há muito espaço para uma "terceira via", e, segundo, somente Ciro poderia assegurar que Sergio Moro não terá chances de derrotar Bolsonaro no 1° turno, pois ele, Ciro, é que viabilizaria, pela esquerda, a candidatura da "terceira via". O ufanismo petista, sua tendência em fazer análises que configuram os seus desejos, assim como em 2018 subestimava Bolsonaro, agora, em 2021, subestima a candidatura de Sérgio Moro, acreditando que ele estaria desmoralizado pelas denúncias do The Intercept. Entretanto, há quantidade apreciável de antipetismo não bolsonarista em nossa sociedade, tão grande e muito mais consolidada que aquela que havia em 2014, que, somada ao fascismo bolsonarista, pode frustrar os projetos hegemonistas do PT. Mesmo na hipótese de uma vitória eleitoral de Lula, esse antipetismo produziria um quadro de sabotagem e perturbação das ruas pelas falanges fascistas, que buscariam permanentemente galvanizar esse antipetismo, acuando um governo Lula eleito por força de sua capacidade para impor sua candidatura sem consultar as recomendações da Ciência Politica. A vitória de Lula, em vez de revigorar o PT, como supõe seus dirigentes, normalizando o quadro político a partir de 2023, pode colocar esse partido sob fogo cerrado dos fascistas e sua atual capacidade de mobilizar as ruas apoiando-se no antipetismo estruturado como corrente política tão consistente quanto o próprio petismo. Lula, que praticou uma descarada politica de conciliação dos interesses de classe em condições extremamente favoráveis para evitá-la, se veria obrigado a ter que praticá-la de forma ainda mais intensa, posto que o seu partido já não pode contar com a força das organizações de base que o "modo petista de governar" fragilizou. Para mim, que não penso como petista, seria muito mais fácil reestruturar e fortalecer as organizações de base que se fragilizaram sob os governos petistas em um suposto governo Ciro do que em um governo Lula. A essas organizações de base, tanto a repressão fascista quanto o aparelhamento e paternalismo lulista não interessam aos seus interesses de autonomia para mobilizar, conscientizar e organizar os trabalhadores e o povo para travar a luta de classes contra a burguesia. Os lulistas não conseguem entender o meu raciocínio porque não conseguem pensar como um revolucionário, que dá muito mais importância à luta não institucional do que à institucional.
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