Charge: Gervásio |
A volta de Moro à corrida presidencial é a demonstração de que está batendo o desespero nos artífices da “terceira via”.
Doria desagrega até seu próprio partido e não empolga o eleitorado. A onda Leite, que a mídia tentou criar, não se formou. Mandetta e Tebet nunca passaram de factoides. O pé-direito de Ciro é baixo.
O ex-juiz volta à rinha desgastado pela desmoralização da Lava Jato, hoje exposta como uma conspiração contra a democracia e uma agressão ao Estado de direito.
Sua passagem pelo governo Bolsonaro, na qual participou do acobertamento de crimes contra a vida e teve como carro-chefe uma proposta de impunidade para a violência policial, torna difícil credenciá-lo como democrata.
Ao mesmo tempo, sua saída do governo tornou-o persona non grata para a base bolsonarista.
As pesquisas de intenção de voto mostram a situação difícil de Moro. Ele não cisca votos no campo do bolsonarismo, muito menos da esquerda.
Seu eleitor hoje é a parte da direita que anda incomodada com Bolsonaro, mas continua disposta a votar num fascista.
Sob este ponto de vista, é fascinante a coluna de Joel Pinheiro da Fonseca, na Folha de hoje.
Começa com um elogio genérico à Lava Jato, por ter posto gente graúda na cadeia, “críticas legítimas à parte”. Só que as críticas que ele silencia ferem de morte a operação. Para um liberal, como Fonseca diz ser, a violação de direitos básicos pelo aparelho repressivo de Estado deveria ser um problema de monta, não um detalhe a ser posto de lado.
Em seguida, reconhece que o programa de Moro-candidato é idêntico ao de Bolsonaro: “mas onde Bolsonaro optava por um extremismo sem base, Moro se coloca dentro dos parâmetros do debate racional e da ciência”.
Programa de Moro é idêntico ao de Bolsonaro
Doria desagrega até seu próprio partido e não empolga o eleitorado. A onda Leite, que a mídia tentou criar, não se formou. Mandetta e Tebet nunca passaram de factoides. O pé-direito de Ciro é baixo.
O ex-juiz volta à rinha desgastado pela desmoralização da Lava Jato, hoje exposta como uma conspiração contra a democracia e uma agressão ao Estado de direito.
Sua passagem pelo governo Bolsonaro, na qual participou do acobertamento de crimes contra a vida e teve como carro-chefe uma proposta de impunidade para a violência policial, torna difícil credenciá-lo como democrata.
Ao mesmo tempo, sua saída do governo tornou-o persona non grata para a base bolsonarista.
As pesquisas de intenção de voto mostram a situação difícil de Moro. Ele não cisca votos no campo do bolsonarismo, muito menos da esquerda.
Seu eleitor hoje é a parte da direita que anda incomodada com Bolsonaro, mas continua disposta a votar num fascista.
Sob este ponto de vista, é fascinante a coluna de Joel Pinheiro da Fonseca, na Folha de hoje.
Começa com um elogio genérico à Lava Jato, por ter posto gente graúda na cadeia, “críticas legítimas à parte”. Só que as críticas que ele silencia ferem de morte a operação. Para um liberal, como Fonseca diz ser, a violação de direitos básicos pelo aparelho repressivo de Estado deveria ser um problema de monta, não um detalhe a ser posto de lado.
Em seguida, reconhece que o programa de Moro-candidato é idêntico ao de Bolsonaro: “mas onde Bolsonaro optava por um extremismo sem base, Moro se coloca dentro dos parâmetros do debate racional e da ciência”.
Programa de Moro é idêntico ao de Bolsonaro
Quem quer que tenha acompanhado o discurso do ex-juiz sabe que é difícil constatar a diferença que o colunista da Folha tenta estabelecer.
Mudam a indumentária, o tom de voz e os erros de sintaxe, mas o programa de Moro é idêntico ao de Bolsonaro: punitivismo, desprezo aos direitos, redução do Estado, despreocupação com a igualdade.
O que é preocupante é que, depois da tragédia do governo Bolsonaro, uma fatia dos grupos dominantes, incluída aí a maior parte da mídia, esteja disposta a renovar suas apostas neste projeto.
Duas lideranças de extrema-direita, com posturas próximas do fascismo, tomando conta do espaço que era do conservadorismo tradicional – eis um quadro preocupante para a política brasileira.
Imagino que a candidatura Moro tenha que mostrar seu potencial em curto prazo – ou seus patrocinadores buscarão alguma alternativa. Apesar do investimento da mídia, não sei se ela se viabiliza.
Além do desgaste de sua imagem, Moro é péssimo candidato. Não é só a voz, como ele foi levado a auto-ironizar em seu discurso inaugural de campanha. É a precariedade de seu repertório, o deserto de ideias, o desconhecimento do Brasil, a carência de agilidade intelectual.
Será que ele também vai fugir dos debates? Pois se Lula já lhe dava um banho quando era um réu frente a seu algoz, imaginem na situação de candidato contra candidato.
Em suma: creio que a chance maior é que a candidatura Moro não decole. Mas é significativo – e preocupante – que ela tenha sido recolocada na mesa.
Há quem se iluda julgando que, depois de Bolsonaro, a classe dominante brasileira iniciou seu caminho de Damasco, na direção da aceitação da democracia. Nem de longe. Continua pronta a abraçar o fascismo.
Mudam a indumentária, o tom de voz e os erros de sintaxe, mas o programa de Moro é idêntico ao de Bolsonaro: punitivismo, desprezo aos direitos, redução do Estado, despreocupação com a igualdade.
O que é preocupante é que, depois da tragédia do governo Bolsonaro, uma fatia dos grupos dominantes, incluída aí a maior parte da mídia, esteja disposta a renovar suas apostas neste projeto.
Duas lideranças de extrema-direita, com posturas próximas do fascismo, tomando conta do espaço que era do conservadorismo tradicional – eis um quadro preocupante para a política brasileira.
Imagino que a candidatura Moro tenha que mostrar seu potencial em curto prazo – ou seus patrocinadores buscarão alguma alternativa. Apesar do investimento da mídia, não sei se ela se viabiliza.
Além do desgaste de sua imagem, Moro é péssimo candidato. Não é só a voz, como ele foi levado a auto-ironizar em seu discurso inaugural de campanha. É a precariedade de seu repertório, o deserto de ideias, o desconhecimento do Brasil, a carência de agilidade intelectual.
Será que ele também vai fugir dos debates? Pois se Lula já lhe dava um banho quando era um réu frente a seu algoz, imaginem na situação de candidato contra candidato.
Em suma: creio que a chance maior é que a candidatura Moro não decole. Mas é significativo – e preocupante – que ela tenha sido recolocada na mesa.
Há quem se iluda julgando que, depois de Bolsonaro, a classe dominante brasileira iniciou seu caminho de Damasco, na direção da aceitação da democracia. Nem de longe. Continua pronta a abraçar o fascismo.
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