Crianças brincando no pátio da escola (1933), Portinari |
Mas o “tucanistão” de São Paulo parece estar com os seus dias contados. Todas as pesquisas eleitorais apontam para as enormes dificuldades do PSDB em 2022. Após o fiasco de Geraldo Alckmin em 2018, quando a fartura de tempo na TV e de recursos na campanha resultou em apenas 4,76% dos votos no Brasil, agora é João Doria que não decola na disputa presidencial.
Nas prévias internas da sigla, as bicadas são sangrentas. Nessa crise no ninho, o tucanato finalmente pode perder a hegemonia também em São Paulo. É visível a fadiga de material com o PSDB no Estado. O candidato de proveta do atual governador à sua sucessão, o ex-demo Rodrigo Garcia, está empacado nas pesquisas. Ele não conseguiu sequer empolgar o próprio partido, que está rachado e sofre defecções – como a do ex-governador Geraldo Alckmin, que hoje se vinga do filhote que o traiu.
Há chances concretas de São Paulo iniciar uma nova fase na sua história, superando o período de trevas e retrocessos imposto pelos neoliberais na mais rica unidade da federação. Não dá para se omitir nessa batalha eleitoral que definirá o destino de milhões de trabalhadores. O sindicalismo terá papel decisivo nessa disputa estratégica.
A redução dos investimentos na saúde
É preciso superar a desgraceira do prolongado reinado tucano. Ela está presente em vários quesitos. Vale destrinchar alguns setores. Na saúde, por exemplo, a pandemia da Covid-19 só escancarou os graves problemas já existentes. Não é para menos que doenças que deveriam estar extintas seguem ativas – como a leptospirose, que matou 43 pessoas no ano retrasado. Já a dengue teve um crescimento assustador de quase 3.000% em 2019 – antes do coronavírus.
Apesar desse quadro de anomalia, o governo reduziu os investimentos na saúde. Reportagem da Folha de S.Paulo de 13 de setembro passado mostra que os gastos “com obras, compra de equipamentos e outras melhorias que não incluem as despesas fixas – como pagamento de salários e aposentadorias e desembolsos com custeio em geral” – foram cortados durante a gestão de João Doria.
Entre 2011 e 2018, nas gestões de Geraldo Alckmin, “a média anual de investimentos feitos pela Secretaria da Saúde foi de R$ 1,054 bilhão, em valores corrigidos. Nos dois primeiros anos do governo Doria, essa média caiu para R$ 811 milhões – quantia 23% menor”, informa o jornal.
O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) alerta para as consequências danosas dessa redução. “Se a gente está assim agora, imagina com a progressiva incorporação de mais pessoas dependentes do SUS. Com aumento de sequelas pós-pandemia, a demanda represada, as cirurgias eletivas. A gente atualizou o conceito de colapso”, enfatiza o presidente da entidade.
O quadro desolador na educação
Já na área da educação, o cenário é desolador. O autoritário João Doria nunca respeitou os trabalhadores do setor e as entidades sindicais da categoria. Em pleno repique da pandemia, no início de 2021, o governador impôs a volta às aulas presenciais, o que gerou um aumento acelerado de infectados, hospitalizados e mortos – inclusive de menores de idade.
Segundo a Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), o desmonte no setor é antigo. A categoria não tem aumento salarial há 12 anos. Ela que já teve o quarto melhor salário do país, atualmente está na 16ª posição. A terceirização é hoje uma triste realidade em todos os níveis de ensino – desde o programa Primeira Infância, que destina verba pública a 37 mil vagas em creches privadas.
O governo também tem promovido mudanças curriculares que destroem conteúdos democráticos, impõe o projeto de escola integral que reduz direitos dos docentes e incentiva o modelo autoritário da escola cívico-militar. Além disso, ele tem firmado contratos milionários com a iniciativa privada, como plataformas digitais, editoras e ONGs mercantilistas.
* Texto elaborado como contribuição para o 10º Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).
** Continua...
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