Foto: Ricardo Stuckert |
Globo, Bandeirantes e UOL estão pressionando a campanha de Lula para que este compareça aos debates no primeiro turno e obviamente seja exposto às ofensas pessoais de Ciro Gomes e companhia.
Não se sabe o que Lula tenha a ganhar eleitoralmente ao comparecer, sem ou com Bolsonaro.
Não há que ter ilusão de que esses debates de primeiro turno, com o formato e os jornalistas designados pelos veículos da mídia conservadora, venham a servir para aprofundar ou esclarecer com isenção qualquer importante questão programática.
Pressionado, Lula vacilou e propôs três debates transmitidos por um pool de tvs, jornais e, percebam, portais.
Atilado, Lula pode ter incluído aí a mídia progressista, irrecusável.
Bolsonaro de seu lado anunciou, sem crítica efetiva ou surpresa, que só vai a debates no segundo turno.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, e Lula em 2006 (no primeiro turno), tiveram posições idênticas diante de debates.
Ambos disputavam um segundo mandato e avaliaram que seriam os escolhidos prioritários para as pedradas dos opositores, aliados nestas situações.
Líderes das pesquisas nos dois momentos, calcularam que não compensava o desgaste.
Agora, Lula, líder de novo, resolveu se expor desnecessariamente.
Em 1998, diante da desistência de FHC frente aos debates, a Globo resolveu não organizar nenhum debate, deixando o campo livre para a reeleição.
Em TV, não houve nenhum debate naquele ano, quando o favorito era FHC.
Agora, a pressão da mídia pelos debates não visa apenas se apropriar de um evento da campanha.
Ela faz parte de um movimento maior para “moderar” o próprio conteúdo do programa do candidato petista.
Esse movimento vem dos mesmos que disseram que Lula iria perder pontos se continuasse “improvisando” sobre aborto ou a guerra na Ucrânia. Lula não perdeu e até cresceu em algumas importantes pesquisas de intenção de voto.
Os supostos escorregões não tiveram até agora qualquer efeito relevante.
Essa tensão interna à campanha do lulista se agrava com a adesão de tucanos antigos ou atuais, sendo que um deles, na posição de candidato a vice, abre o caminho para outros, tucanos ou não.
É uma aliança incomum entre dois antigos adversários e esse amálgama não se dá sem ajustes e crispações, como não poderia deixar de ser.
Politicamente, com Alckmin vêm setores sociais inteiros, com suas agendas e ambições de protagonismo.
Deve ser vista assim a mais recente “polêmica” declaração de Lula sobre a morte do PSDB. A mídia conservadora, os fiscais de fala, umbilicalmente ligada a essas novas camadas, esperançosas, tenta disputar o comando da campanha.
De diversas formas, quer o que Lula pode ou não pode dizer.
Dizer o óbvio, criticar o PSDB, declarar audaciosamente sua morte, por exemplo, é um sacrilégio.
Querem pôr uma mordaça logo em quem.
Diante dessas incursões, Lula que recebe essas pressões todas, contra-ataca e toma as rédeas da campanha que, afinal, com estimados 70 milhões de eleitores, é antes de tudo sua.
Seus improvisos ou “escorregões”, não por acaso vão sempre numa direção mais progressista.
Lula ocupa e afirma a posse do seu terreno, sem medo de arriscar ou de buscar mais espaço.
Líderes não são inteiramente racionais e submissos ao que parece mais cuidadoso.
As falas de Lula são freio de arrumação no seu ônibus lotado de recém-chegados. São golpes para afastar quem quer sentar-se na janela.
Desde que vem se fixando a impressão, precipitada no tempo, impossível de garantir, mas indicada por quase todas as pesquisas, de que Lula tem grandes chances de vencer as eleições de outubro, transferiu-se para o interior da campanha do candidato petista a disputa entre esquerda e direita pela direção de sua política.
Lula talvez seja quem mais tenha consciência dessa situação.
O que antes era confrontação externa, feita por adversários conservadores, ou seja, o poder econômico empoleirado principalmente nos partidos de direita, agora estende seu alcance e busca tornar-se pressão que intenta penetrar a campanha lulista por todos os lados, especialmente o midiático.
Precisa combinar com Lula.
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