domingo, 3 de julho de 2022

Biblioteca Nacional zomba com Daniel Silveira

Charge: Nando Motta
Por Altamiro Borges


Com a eleição de Jair Bolsonaro, os fascistas penetraram em todas as instituições públicas. Vai dar uma baita trabalheira limpar as estruturas de poder dessas figuras tóxicas. Na quinta-feira (30), a coluna de Mônica Bergamo na Folha revelou que a direção da Biblioteca Nacional decidiu, em um gesto de deboche e provocação, conceder a Medalha da Ordem do Mérito do Livro ao deputado Daniel Silveira, o famoso brucutu bolsonarista condenado pelo Supremo Tribunal Federal.

Conforme lembrou a matéria, “a homenagem é historicamente concedida a acadêmicos, autoridades e intelectuais que contribuem para o universo da literatura. Entre eles estão os escritores Gilberto Freyre e Carlos Drummond de Andrade”. Sem noção do ridículo, o troglodita confirmou a honraria ao jornal. “Para mim é muito honroso ter o reconhecimento de lá”, festejou o parlamentar. Em abril deste ano, Daniel Silveira foi condenado pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão por ataques às instituições democráticas. Só escapou da punição porque recebeu um indulto do fascista Jair Bolsonaro (PL).

Um provocador bolsonarista

Desde março passado, a Biblioteca Nacional – a mais antiga instituição cultural brasileira com 212 anos de existência – é presidida pelo patético Luiz Carlos Ramiro Júnior – que substituiu outro traste, o monarquista Rafael Nogueira. Como registra a Folha, o sujeito “tem um canal no YouTube em que discute política. Em vídeo publicado durante a pandemia, ele afirmou que vivíamos uma ‘guerra bioideológica’ e que havia exagero nas medidas tomadas para conter a Covid-19. Ele levantou desconfiança de que o vírus poderia ser uma arma biológica e disse que a doença não matava idosos sem comorbidades, crianças e nem mulheres grávidas”.

A confirmação da homenagem ao miliciano Daniel Silveira gerou indignação. A Associação dos Servidores da Biblioteca Nacional (ASBN) publicou nota na sexta-feira (1) em repúdio à honraria. No texto, ela afirma que recebeu “com espanto” a notícia de que a medalha concedida para personalidades que contribuem com a literatura seria entregue a um “político completamente desvinculado da causa do livro, da leitura e da cultura, e infame por seus seguidos ataques às instituições democráticas”.

A ASBN também afirma que só soube da entrega por meio da imprensa e que até o momento da publicação da nota, a lista completa dos homenageados não havia sido divulgada. “Não é de se surpreender que tal homenagem tenha sido mantida em segredo, impedindo inclusive que seus servidores manifestassem seu desacordo”. Ainda segundo a nota, a Biblioteca Nacional passa por um momento de desvalorização dos servidores, que estão sobrecarregados em meio à falta de concurso e aposentadorias, e com salários defasados.

Repúdio da família de Carlos Drummond

Na mesma sexta-feira, segundo notinha do site Metrópoles, “o escritor, poeta e tradutor Marco Lucchesi e o professor emérito da UFRJ Antonio Carlos Secchin, imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), recusaram a medalha da Ordem do Mérito do Livro após a notícia de que Daniel Silveira também receberia a homenagem. ‘Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca’, afirmou Lucchesi”.

Já a família do escritor Carlos Drummond de Andrade divulgou uma carta afirmando que é “um verdadeiro deboche" a entrega da medalha ao parlamentar fascistoide do PTB-RJ. Ela lembra que, quando o poeta recebeu a honraria, “o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação”.

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Confira a íntegra da carta da família de Drummond:

"Em 1985, o escritor Carlos Drummond de Andrade recebeu a Medalha Biblioteca Nacional – Ordem do Mérito do Livro, concedida a intelectuais e autoridades que se distinguiam pelo trabalho em favor da cultura, do conhecimento e do saber. Agora, noticia-se que a comenda será entregue ao deputado Daniel Silveira, condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal por ataques à democracia e a instituições que a legitimam.

Diante desse verdadeiro deboche, a família de Carlos Drummond de Andrade vem a público lembrar que o poeta recebeu a homenagem quando a Biblioteca Nacional era dirigida pela escritora Maria Alice Barroso, nome respeitável que honrou e engrandeceu a Casa que também já teve, como diretores, intelectuais do porte de Josué Montello e Affonso Romano de Sant’Anna. Época em que o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação."

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