Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil |
Economista de linha desenvolvimentista e avesso à ortodoxia neoliberal, Guido Mantega tem sólida formação acadêmica. Nascido em Gênova, Itália, mas naturalizado brasileiro, Mantega é graduado e pós-graduado em Economia pela USP, onde também concluiu doutorado em Sociologia. Lecionou economia na PUC-SP. Atualmente é professor da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Mantega foi o ministro da Economia que ficou mais tempo no cargo, nos governos Lula e Dilma, com oito anos e nove meses à frente do ministério. Antes, presidiu o BNDES e comandou a pasta do Planejamento.
Mas, por que será que, desde que deixou o governo, no começo do segundo mandato de Dilma, Mantega se transformou em vilão das contas públicas, na visão dos rentistas e de seus porta-vozes na imprensa corporativa?
A mais recente demonstração de repulsa ao economista se deu quando Lula defendeu seu nome para o Conselho de Administração da Vale, ou mesmo para o cargo de CEO da mineradora. A gritaria dos chamados "agentes econômicos" - leia-se mercado financeiro - fez com que o governo recuasse da indicação.
A aversão que o ex-ministro desperta na Faria Lima e entre os analistas econômicos da mídia comercial tem a ver tanto com o pensamento econômico que ele representa, como também por sua passagem pelo Ministério da Economia. Vejamos:
1) Durante a megacrise financeira global que se seguiu à quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, Mantega e Lula tomaram um série de medidas anticíclicas, na contracorrente do aprofundamento da ortodoxia neoliberal, como fizeram a União Europeia e os Estados Unidos. Com o reforço do papel dos bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil e Caixa ampliaram fortemente a oferta de linhas de crédito) e o incentivo ao consumo pregado pelo presidente Lula, o Brasil foi o último país a ser afetado pela crise e o primeiro a sair dela. Tirou a "marolinha" de letra.
2) O fortalecimento do mercado interno, a manutenção da renda e dos empregos dos brasileiros e o maciço investimento no PAC levaram o Brasil a experimentar um crescimento chinês do PIB, de 7,5%, em 2010.
3) Durante a gestão de Mantega, o Brasil alcançou o menor patamar de desemprego da história. Os 4,3% de desocupação são considerados inclusive como situação de pleno emprego. O Brasil, que chegou ao patamar de sexta economia do planeta, virou caso de sucesso celebrado nas principais publicações da imprensa internacional.
4) O país deve também ao ex-ministro a política vitoriosa de elevação das reservas internacionais. Vista como um colchão protetor contra crises de liquidez e ataques especulativos, essas reservas atingiram o nível recorde de U$ 370 bilhões e até hoje são fator de estabilidade da economia brasileira.
É curioso observar que o erro que merece maior destaque na longa passagem de Mantega pelo ministério seja a desoneração da folha de pagamento de setores econômicos que hoje não se cansam de atacá-lo. A expectativa de que o alívio tributário criaria novos postos de trabalho se esfarelou diante da conhecida ganância e falta de visão estratégica de boa parte dos capitalistas nativos.
A folga de caixa acabou apropriada como lucro.
Mas a perseguição a Mantega não se limita às questões econômicas e também teve seu capítulo abjeto do ponto de vista pessoal. Em 2016, auge da nefasta Lava Jato, quando acompanhava sua mulher, Eliana Berger, em tratamento de câncer, ele foi detido dentro de um hospital, alvo de uma condução coercitiva, para prestar depoimento à Policia Federal.
Como a arbitrariedade desumana (Mantega nunca se negara prestar os esclarecimentos solicitados em ocasiões anteriores), tinha fins políticos, o mercado e a imprensa comemoraram.
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