Por Cris Rodrigues, no blog Somos Andando:
Fazia tempo que não me divertia tanto com alguma coisa encontrada num jornal. Juro, estou #rindolitros em casa. Eu já nem chamaria de hipocrisia, uma palavra quase simpática, o que li no editorial da Zero Hora de hoje, intitulado “O limite da notícia”, na verdade, é uma demonstração de absoluta e enorme cara-de-pau.
É esse jornal que, com total desfaçatez, critica hoje não apenas a postura do cidadão que operou as escutas ilegais do News of the World (NoW) de Rupert Murdoch na Inglaterra, mas “a empresa de comunicação que explorava e estimulava a conduta antiética, caracterizada pelo desrespeito e pelo desrespeito à privacidade das pessoas”. É quase um pecado usar a famosa parábola sobre a ética do jornalista de Cláudio Abramo para sustentar esta posição.
A empresa jornalística ora em questão, a gaúcha RBS, é aquela que em 2010 tinha cerca de dez profissionais (não se sabe quais e nem se teve notícia de demissões na empresa por causa disso) vinculados a ela com acesso a um sistema sigiloso e ilegal do governo do estado de obtenção de informações sobre determinadas pessoas sem mandato judicial ou investigação oficial em curso.
Marco Weissheimer era um dos jornalistas investigados, por exemplo. Curiosamente, ele fazia oposição ao governo Yeda, aquele que forneceu as senhas aos jornalistas. O filho pequeno da então deputada estadual e hoje secretária de Administração do governo Tarso teve suas fotos vistas por toda essa galera. Mas gente de dentro do governo e da grande imprensa também estava na lista, já que era possível descobrir se corria algum tipo de investigação sobre elas.
Está dando pra pegar a ironia da coisa? O jornal Zero Hora quase se diz ofendido com a atitude de seus pares europeus no que tange a privacidade, justamente o quesito desrespeitado em outubro do ano passado.
Aí ela diz que foi “a imprensa sadia” que denunciou o NoW. Eu diria que foi a concorrente que denunciou, dentro dos mais nobres princípios da competição de mercado. Ou, no caso de jornais do mesmo grupo – News Corp. –, da necessidade de salvar sua pele diante do barco afundado.
Não digo que todo jornalismo é mau. Muito pelo contrário, há muita gente boa por aí peleando. Mas tampouco há santos.
Mas o pior de tudo, não só no jornalismo, é a contradição consciente. A postura de dizer uma coisa e fazer outra sabendo que não age daquela maneira. Não adianta, a palavra para isso é mesmo hipocrisia. Mas sempre tem aqueles casos mais feios dela. Esse é dos piores.
*****
P.S.: Quando Zero Hora diz que “os cidadãos já controlam a mídia pelo direito de escolha”, finge ignorar que o cidadão tem o direito de escolher entre as restritas opções – especialmente restritas no caso do Rio Grande do Sul – que lhe são apresentadas, e tem poucas oportunidades de questionar sua qualidade ou mesmo propor alternativas, devido a limitações financeiras. “Controle social da mídia” é exatamente a cobrança pela sociedade da observância de “um comportamento ético, responsável e construtivo” por parte dos veículos de comunicação e de regulamentação. Justamente aquilo que o jornal termina dizendo ser importante. Ah, a contradição…
Fazia tempo que não me divertia tanto com alguma coisa encontrada num jornal. Juro, estou #rindolitros em casa. Eu já nem chamaria de hipocrisia, uma palavra quase simpática, o que li no editorial da Zero Hora de hoje, intitulado “O limite da notícia”, na verdade, é uma demonstração de absoluta e enorme cara-de-pau.
É esse jornal que, com total desfaçatez, critica hoje não apenas a postura do cidadão que operou as escutas ilegais do News of the World (NoW) de Rupert Murdoch na Inglaterra, mas “a empresa de comunicação que explorava e estimulava a conduta antiética, caracterizada pelo desrespeito e pelo desrespeito à privacidade das pessoas”. É quase um pecado usar a famosa parábola sobre a ética do jornalista de Cláudio Abramo para sustentar esta posição.
A empresa jornalística ora em questão, a gaúcha RBS, é aquela que em 2010 tinha cerca de dez profissionais (não se sabe quais e nem se teve notícia de demissões na empresa por causa disso) vinculados a ela com acesso a um sistema sigiloso e ilegal do governo do estado de obtenção de informações sobre determinadas pessoas sem mandato judicial ou investigação oficial em curso.
Marco Weissheimer era um dos jornalistas investigados, por exemplo. Curiosamente, ele fazia oposição ao governo Yeda, aquele que forneceu as senhas aos jornalistas. O filho pequeno da então deputada estadual e hoje secretária de Administração do governo Tarso teve suas fotos vistas por toda essa galera. Mas gente de dentro do governo e da grande imprensa também estava na lista, já que era possível descobrir se corria algum tipo de investigação sobre elas.
Está dando pra pegar a ironia da coisa? O jornal Zero Hora quase se diz ofendido com a atitude de seus pares europeus no que tange a privacidade, justamente o quesito desrespeitado em outubro do ano passado.
Aí ela diz que foi “a imprensa sadia” que denunciou o NoW. Eu diria que foi a concorrente que denunciou, dentro dos mais nobres princípios da competição de mercado. Ou, no caso de jornais do mesmo grupo – News Corp. –, da necessidade de salvar sua pele diante do barco afundado.
Não digo que todo jornalismo é mau. Muito pelo contrário, há muita gente boa por aí peleando. Mas tampouco há santos.
Mas o pior de tudo, não só no jornalismo, é a contradição consciente. A postura de dizer uma coisa e fazer outra sabendo que não age daquela maneira. Não adianta, a palavra para isso é mesmo hipocrisia. Mas sempre tem aqueles casos mais feios dela. Esse é dos piores.
*****
P.S.: Quando Zero Hora diz que “os cidadãos já controlam a mídia pelo direito de escolha”, finge ignorar que o cidadão tem o direito de escolher entre as restritas opções – especialmente restritas no caso do Rio Grande do Sul – que lhe são apresentadas, e tem poucas oportunidades de questionar sua qualidade ou mesmo propor alternativas, devido a limitações financeiras. “Controle social da mídia” é exatamente a cobrança pela sociedade da observância de “um comportamento ético, responsável e construtivo” por parte dos veículos de comunicação e de regulamentação. Justamente aquilo que o jornal termina dizendo ser importante. Ah, a contradição…
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: