sábado, 15 de setembro de 2012

Arthur Neto e a truculência em Manaus

Por Iram de Sena Alfaia

O candidato do PSDB à Prefeitura de Manaus, Arthur Virgílio Neto, ex-ministro de FHC, não perde a oportunidade de revelar o lado truculento que lhe caracterizou quando foi parlamentar. Ele chamou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), sua principal adversária, de farsante. Isso porque um dos seus cabos eleitorais está sendo acusado de cuspir no rosto da candidata, antes de um debate na TV Em Tempo no último dia 11.


O tucano atropelou as principais evidências do caso (fotos e vídeos) para apresentar uma montagem grosseira de fotos sustentando que a candidata havia forjado a agressão. Não teve sucesso. Cometeu um erro primário de ignorar a ação policial durante o acontecimento.

No relatório de ocorrência da Polícia Militar, o principal acusado, apontado por quatro testemunhas, concedeu o nome falso de José Henrique Gonçalves (ele não portava a carteira de identidade). Mais tarde, no seu depoimento à delegada de polícia Sylvia Laureana Arruda da Silva, revelou que se chamava Arthur Macedo Bulcão, contratado como cabo eleitoral da campanha de Arthur.

O acusado, que negou a autoria da agressão, está sendo processado pela candidata por ainda levar ao local uma boneca de bruxa numa clara manifestação para atacar a imagem dela. Ou seja, ao contrário do que diz Arthur, existem fatos e a polícia está apurando o caso.

Outra ação criminal está sendo movida por Vanessa pela débil acusação do tucano dizendo que ela cometeu farsa. Os blogs e veículos de comunicação que deram guarita somente para a versão tucana também serão processados.

Conheça o caso, segundo relato do assessor jurídico Daniel Nogueira

1. As imagens utilizadas para justificar a versão da “farsa” são de MINUTOS DEPOIS DA AGRESSÃO.

As imagens que compõem a teoria conspiracionista de Arthur são todas da candidata Vanessa andando, fora do carro, com resíduos no rosto.

Apesar de debater temas de alta indagação como “em que mão está a caixa de halls” , "olhe como a roupa dela está limpa” e “percebam o confete metálico na testa”, tais imagens são inconsequentes ao fato. Como se verá mais embaixo, no momento em que foi agredida, a candidata estava dentro do seu veículo. Aliás, a agressão ocorreu alguns minutos ANTES que essas fotos fossem tiradas.

2. As imagens verdadeiras mostram que a agressão verdadeiramente ocorreu

Antes de mostrar o momento da agressão, tenho desde logo que externar minha imensa tristeza em fazê-lo. É degradante ter que publicar essas imagens, que mostram uma mulher, uma senadora da república, numa situação de absoluta humilhação, para provar que a agressão que sofreu foi, de fato, verdadeira. Nenhuma mulher gostaria de tornar públicas imagens como essas.

Não bastasse o vilipendio de receber um escarrado cuspe nos olhos (o que, convenhamos, é muito pior do que um ovo), a candidata se viu obrigada à nova indignidade de ter que ser exposta naquele momento triste.

A denegação de fatos evidentes não é uma técnica nova. Até hoje os nazistas denegam a ocorrência do holocausto, como forma de legitimar suas odiosas pretensões. É sempre haverão incautos que acreditarão, sem questionar, a denegação feita. As nossas redes sociais mostram – tristemente – quanto corpo tomou a tese de denegação da ofensa, encampada por Arthur e sua campanha (apesar de as imagens apresentadas por ele se constituírem, em essência, prova de absolutamente nada para aqueles com qualquer senso crítico).

É para jogar uma pá de cal em cima da tresloucada tese adotada que apresentamos os fatos. Eis a verdade.

As imagens abaixo mostram uma sequência de fotografias tiradas no momento em que Vanessa chegava ao debate.

Sorridente, alegria nos olhos, pondo-se à disputa democrática pelos meios republicanos.

A alegria continua. A moça de boné se aproxima. Continua a festa na próxima imagem. E então, ocorre a agressão. Vejam, no detalhe, a primeira imagem após a candidata ter sido alvejada por uma cusparada. As imagens que se seguem mostram o desespero, o asco e o horror de alguém que é atingida por uma substância viscosa na face e nos olhos. Aviso que não são imagens fáceis de ver. Eis a resposta mais eloquente possível à insensibilidade e malícia da campanha de Arthur.

3. Não era ovo. Quem insistiu na história de ovo foi a imprensa e não a campanha.

No meio da confusão da entrada no debate, a candidata Vanessa foi alvejada por algo gosmento no rosto enquanto ainda estava no carro. Não presenciou de onde veio a agressão. Ao sair do carro, presumiu pela consistência que tivesse sido um ovo e disse isso àqueles que a cercavam.

Quando o jurídico identificou testemunhas da ofensa, ainda no local do debate, estas foram unânimes em dizer que a senadora foi alvejada por uma cusparada e não um ovo. Desde então, não mais se falou em ovo.

Senadores prestam solidariedade a Vanessa contra agressão

A sessão do Senado de quarta-feira acabou se transformando num ato político de solidariedade à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e em repúdio às agressões que sofreu de cabos eleitorais ligados ao candidato Arthur Neto (PSDB). A senadora levou fotos ao plenário do grupo de pessoas de onde partiu a violência.

“Foi um ato planejado, um ato que partiu de um grupo que foi para a frente da emissora de forma organizada, (...) a serviço de um candidato concorrente, portava bonecas que representavam bruxas, cartazes denegrindo a minha imagem e ovos na mão (...). Sofri uma agressão como nunca a cidade de Manaus viu nos últimos tempos”, discursou a senadora.

Ela expediu um ofício ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), para que reforce um pedido de apuração feito à polícia e ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amazonas.

“Não compreendemos como possa ser vítima de uma agressão dessa natureza, porque ela não só a atinge, mas atinge todos nós e o País, porque os costumes políticos que levam a esse tipo de procedimento realmente denigrem o próprio País, onde estamos assistindo, e temos assistido sempre, à festa da democracia, que têm sido as eleições. Senadora Vanessa, a senhora teve a solidariedade da Casa, de todos nós, e acredito que terá do povo amazonense”, disse Sarney, após outros se posicionarem.

Primeiro a prestar solidariedade, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), lembrou que os amazonenses não têm a tradição de um povo truculento e agressivo. “Não conheço isso na história de 30 anos da vida pública do Amazonas”, reagiu.

Denúncia do senador Magno Malta

Ao prestar solidariedade à colega, o senador Magno Malta (PR-ES) fez uma denúncia: “Quero dizer ao Brasil e à senadora que o que estão preparando para ela ou o que tentavam preparar é absolutamente pior. Tenho recebido no meu gabinete telefonemas. E já recebi uma equipe de gravação, vinda de Manaus, para me gravar, dizendo-me que eu deveria fazer uma palavra, falando tão somente que eu afirmava que a senadora Vanessa Grazzotin era a favor do aborto”, acusou. “Nunca conheci a senadora como abortista. E, se fosse, eu não o faria”.

“Receba de mim este apoio. Eu precisava revelar em plenário os convites e os apelos que tenho recebido, dizendo o seguinte: se você gravar isso e entrar no ar em Manaus, acaba a campanha de Vanessa Grazziotin. Isso é muito indigno, senhor presidente!”, protestou Malta.

O ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM), que apoia o candidato do seu partido em Manaus, fez o que ele considerou o primeiro pedido ao governador Omar Aziz para que a Secretaria de Segurança do seu governo “instale imediatamente uma investigação para apurar os responsáveis por esse ato desonesto cometido contra a senadora Vanessa”.

A vice-presidente do Senado, Marta Suplicy (PT-SP), reagiu com indignação: “E eu digo uma coisa, senador Eduardo Braga: alguém que faz isso com uma adversária – com qualquer adversário, mas com uma adversária – perdeu a eleição ali! Eu acredito que nós temos que ser respeitados como políticos, e mulheres políticas têm que ser respeitadas muito mais! Toda a minha solidariedade, senadora Vanessa, e tenho certeza de que o povo de Manaus saberá honrá-la”.

Ainda prestaram solidariedade à senadora, Ana Amélia (PP-RS), João Capiberibe (PSB-AP), Lídice da Mata (PSB-BA) e Eduardo Suplicy (PT-SP).






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