Por Altamiro Borges
Os tucanos de alta plumagem, que mandam e desmandam em São Paulo há mais de 20 anos, devem achar que os paulistas são otários. Totalmente blindados - pela mídia chapa-branca, pelo Judiciário cooptado e pelo Legislativo amordaçado -, eles nem se esforçam para disfarçar as desgraças causadas pelo tal "choque de gestão" do PSDB. Na semana retrasada, o servil deputado João Paulo Papa teve o desplante de propor a premiação do governador Geraldo Alckmin pela "gestão dos recursos hídricos" no Estado. Na maior caradura, o "picolé de chuchu" agradeceu a gentiliza e comentou: "Modéstia à parte, [o prêmio] é merecido". A ridícula iniciativa é um verdadeiro tapa na cara dos alienados, que sofrem com a crise da falta de água que já dura mais de um ano, e ainda votam nos falsários tucanos.
Puxa-saco empedernido e patético, o deputado federal José Paulo Papa até tentou justificar o agrado ao chefão do seu partido. Em entrevista ao portal G1, da Globo, ele argumentou: "A indicação do governador ocorreu pelo fato de ele governar o estado que mais se aproxima da universalização do saneamento". Ele também garantiu, no maior cinismo, que o fato de ambos pertencerem ao PSDB "não influenciou" a sua escolha para a premiação na Câmara Federal. E ainda minimizou os impactos da falta de água na região metropolitana de São Paulo, que penaliza 6 milhões de habitantes: "A crise evidenciou a condição excepcional do governo de responder a uma crise totalmente imprevisível".
A mídia "privada" - nos dois sentidos da palavra - evitou explorar o ridículo desta cena de bajulação. O assunto não mereceu comentários irônicos nos jornalões e nas emissoras de rádio e tevê, o que só confirma a promíscua relação entre os barões da imprensa e os governos tucanos de São Paulo - com base em farta publicidade, generosas aquisições de assinaturas e outras regalias. Apenas a Folha, que sempre foi tão servil ao tucanato, criticou a grotesca premiação - não se sabe ainda por quais razões. Num artigo de opinião, o jornalista Rogério Gentile detonou a patifaria. Vale conferir:
*****
Folha - 24 de setembro de 2015
Só pode ser piada
Rogério Gentile
Em meio a tanto problema, com presidente no limbo e dólar nas alturas, a Câmara, ao menos, tem-se esforçado para fazer humor. Sarcástico e debochado, mas humor. Decidiu conceder ao governador Alckmin (PSDB) um prêmio por sua atuação na crise hídrica.
O Prêmio Lúcio Costa foi criado com o objetivo de reconhecer iniciativas que buscam a melhora da qualidade de vida das pessoas. Segundo o Datafolha, 71% dos paulistanos já sofreram cortes no fornecimento de água. Será que ser obrigado a sair de casa sem tomar banho ou ter de manter um balde entre as pernas para captar água com sabão no chuveiro significa vida melhor?
Embora, de fato, São Paulo esteja passando pela maior estiagem em 85 anos, não há como elogiar a atuação do governador. Alckmin demorou conscientemente para agir. Retardou uma série de medidas contra a seca simplesmente porque temia seu impacto na eleição.
Em abril de 2014, anunciou que começaria a sobretaxar em 30% as pessoas que gastassem água em demasia. Desaconselhado por assessores políticos, recuou e só implantou a medida em janeiro de 2015. A redução da pressão nas torneiras, principal providência contra a crise, também foi ampliada após a eleição.
Reportagem da Folha mostrou que as represas poderiam ter 51% mais de água se valessem desde o início de 2014, quando a crise já era evidente, as medidas hoje em vigor.
Relatório do Tribunal de Contas do Estado diz que a crise hídrica "é resultado da falta de planejamento das ações do governo" e que alertas foram dados desde 2004.
O próprio Jerson Kelman, presidente da Sabesp, reconhece que a atuação não foi boa. Pouco antes de assumir o cargo, no fim de 2014, afirmou que, por conta da eleição, "desperdiçou-se água e os reservatórios estão mais vazios do que deveriam".
Alckmin, porém, como disse ontem, considera que "o prêmio foi merecido". Só pode mesmo ser piada.
*****
Diante deste escárnio, que trata os paulistas como babacas, várias entidades da sociedade civil já se mobilizam para anular a premiação - que deverá ocorrer na próxima semana. "Milhares de pessoas passam por graves casos de falta de água e o governador é premiado. Isto não faz sentido", argumenta Carlos Thadeu, dirigente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Já para Marussia Whately, da rede Aliança Pela Água, a concessão do prêmio "beira a falta de respeito com as pessoas que sofrem e ainda sofrerão com os efeitos da crise hídrica no Estado". Renê Vicente, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água e Saneamento (Sintaema), a medida deve ser anulada. "Não é hora de receber prêmio, mas de trabalhar para livrar São Paulo do risco de colapso dos reservatórios".
No mesmo rumo, o Coletivo de Luta pela Água, que congrega várias entidades sindicais, movimentos sociais e organizações ambientais, divulgou uma "nota de repúdio" - que reproduzo abaixo:
*****
Conferir ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação 'em virtude do trabalho desenvolvido à frente da Sabesp e da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo' é um profundo desrespeito à população da Região Metropolitana de São Paulo e de muitas outras cidades do Estado que diariamente e por longas horas se veem privados do acesso ao bem mais primordial para a vida que é a água.
Faltou bom senso à Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara de Deputados ao premiar o principal responsável pela maior crise hídrica pela qual já passou o estado de São Paulo, conforme análise da Agência Nacional de Águas, do Tribunal de Contas do Estado, do Ministério Público e de outros organismos que apontaram que havia sólidos indícios de uma forte estiagem - que se repete a cada década e que faltou planejamento e ação ao governo do Estado para minimizar a crise e minorar o sofrimento das pessoas, especialmente daquelas que vivem nos pontos mais altos e distantes nas periferias e que chegam a ficar vários dias seguidos sem água.
Perguntamos aos deputados que selecionaram o governador Geraldo Alckmin para receber este prêmio pela gestão do saneamento e dos recursos hídricos se cabe a honraria quando a Sabesp perde por vazamentos um em cada três litros de água potável produzida? Se os rios estão poluídos pelo lançamento de esgoto sem tratamento em quantidade que corresponde a quase metade do esgoto gerado na grande São Paulo? Por não ter executado as obras previstas pelo próprio governo em diversos planos de abastecimento? Por realizar obras emergenciais de interligação com rios que não tem água como o Guaió desperdiçando dinheiro público? Por fazê-las sem o devido licenciamento ambiental, degradando áreas de proteção de mananciais e para justificar a ilegalidade declarando situação de criticidade de última hora quando desde 2013 a sociedade pede que se diga a verdade sobre a crise? Por deixar de apresentar um plano de contingência - “papelório inútil” nas palavras do governador - para enfrentar a crise, muitas vezes prometido e sempre adiado? Por deixar de fazer os investimentos necessários para privilegiar o pagamento de dividendos aos acionistas privados e ao próprio Estado, que também não reverteu os recursos em serviços de saneamento?
A premiação de Geraldo Alckmin é uma afronta à memória do grande arquiteto e urbanista Lúcio Costa, autor do projeto do Plano Piloto de Brasília. A infeliz indicação do deputado federal João Paulo Papa (PSDB-SP), ex alto funcionário da Sabesp e a sua aprovação pela Comissão de Desenvolvimento Urbano precisa de revisão urgente. Não é possível distorcer a realidade de forma que algo se transforme em seu oposto.
Reafirmamos que a água é um direito humano e não uma mercadoria, como tem sido vista pelos últimos governos paulistas o que resultou nesta grave crise que tem afetado profundamente a vida dos paulistas.
*****
Leia também:
- Folha mente sobre crise da água em SP
- Crise da água e o pânico da mídia
- Crise da água e o sadomasoquismo de SP
- Alckmin mentiu sobre a crise hídrica
- Mídia tucana abafa crise da água em SP
- As causas da crise da água em São Paulo
Os tucanos de alta plumagem, que mandam e desmandam em São Paulo há mais de 20 anos, devem achar que os paulistas são otários. Totalmente blindados - pela mídia chapa-branca, pelo Judiciário cooptado e pelo Legislativo amordaçado -, eles nem se esforçam para disfarçar as desgraças causadas pelo tal "choque de gestão" do PSDB. Na semana retrasada, o servil deputado João Paulo Papa teve o desplante de propor a premiação do governador Geraldo Alckmin pela "gestão dos recursos hídricos" no Estado. Na maior caradura, o "picolé de chuchu" agradeceu a gentiliza e comentou: "Modéstia à parte, [o prêmio] é merecido". A ridícula iniciativa é um verdadeiro tapa na cara dos alienados, que sofrem com a crise da falta de água que já dura mais de um ano, e ainda votam nos falsários tucanos.
Puxa-saco empedernido e patético, o deputado federal José Paulo Papa até tentou justificar o agrado ao chefão do seu partido. Em entrevista ao portal G1, da Globo, ele argumentou: "A indicação do governador ocorreu pelo fato de ele governar o estado que mais se aproxima da universalização do saneamento". Ele também garantiu, no maior cinismo, que o fato de ambos pertencerem ao PSDB "não influenciou" a sua escolha para a premiação na Câmara Federal. E ainda minimizou os impactos da falta de água na região metropolitana de São Paulo, que penaliza 6 milhões de habitantes: "A crise evidenciou a condição excepcional do governo de responder a uma crise totalmente imprevisível".
A mídia "privada" - nos dois sentidos da palavra - evitou explorar o ridículo desta cena de bajulação. O assunto não mereceu comentários irônicos nos jornalões e nas emissoras de rádio e tevê, o que só confirma a promíscua relação entre os barões da imprensa e os governos tucanos de São Paulo - com base em farta publicidade, generosas aquisições de assinaturas e outras regalias. Apenas a Folha, que sempre foi tão servil ao tucanato, criticou a grotesca premiação - não se sabe ainda por quais razões. Num artigo de opinião, o jornalista Rogério Gentile detonou a patifaria. Vale conferir:
*****
Folha - 24 de setembro de 2015
Só pode ser piada
Rogério Gentile
Em meio a tanto problema, com presidente no limbo e dólar nas alturas, a Câmara, ao menos, tem-se esforçado para fazer humor. Sarcástico e debochado, mas humor. Decidiu conceder ao governador Alckmin (PSDB) um prêmio por sua atuação na crise hídrica.
O Prêmio Lúcio Costa foi criado com o objetivo de reconhecer iniciativas que buscam a melhora da qualidade de vida das pessoas. Segundo o Datafolha, 71% dos paulistanos já sofreram cortes no fornecimento de água. Será que ser obrigado a sair de casa sem tomar banho ou ter de manter um balde entre as pernas para captar água com sabão no chuveiro significa vida melhor?
Embora, de fato, São Paulo esteja passando pela maior estiagem em 85 anos, não há como elogiar a atuação do governador. Alckmin demorou conscientemente para agir. Retardou uma série de medidas contra a seca simplesmente porque temia seu impacto na eleição.
Em abril de 2014, anunciou que começaria a sobretaxar em 30% as pessoas que gastassem água em demasia. Desaconselhado por assessores políticos, recuou e só implantou a medida em janeiro de 2015. A redução da pressão nas torneiras, principal providência contra a crise, também foi ampliada após a eleição.
Reportagem da Folha mostrou que as represas poderiam ter 51% mais de água se valessem desde o início de 2014, quando a crise já era evidente, as medidas hoje em vigor.
Relatório do Tribunal de Contas do Estado diz que a crise hídrica "é resultado da falta de planejamento das ações do governo" e que alertas foram dados desde 2004.
O próprio Jerson Kelman, presidente da Sabesp, reconhece que a atuação não foi boa. Pouco antes de assumir o cargo, no fim de 2014, afirmou que, por conta da eleição, "desperdiçou-se água e os reservatórios estão mais vazios do que deveriam".
Alckmin, porém, como disse ontem, considera que "o prêmio foi merecido". Só pode mesmo ser piada.
*****
Diante deste escárnio, que trata os paulistas como babacas, várias entidades da sociedade civil já se mobilizam para anular a premiação - que deverá ocorrer na próxima semana. "Milhares de pessoas passam por graves casos de falta de água e o governador é premiado. Isto não faz sentido", argumenta Carlos Thadeu, dirigente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Já para Marussia Whately, da rede Aliança Pela Água, a concessão do prêmio "beira a falta de respeito com as pessoas que sofrem e ainda sofrerão com os efeitos da crise hídrica no Estado". Renê Vicente, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água e Saneamento (Sintaema), a medida deve ser anulada. "Não é hora de receber prêmio, mas de trabalhar para livrar São Paulo do risco de colapso dos reservatórios".
No mesmo rumo, o Coletivo de Luta pela Água, que congrega várias entidades sindicais, movimentos sociais e organizações ambientais, divulgou uma "nota de repúdio" - que reproduzo abaixo:
*****
Conferir ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação 'em virtude do trabalho desenvolvido à frente da Sabesp e da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo' é um profundo desrespeito à população da Região Metropolitana de São Paulo e de muitas outras cidades do Estado que diariamente e por longas horas se veem privados do acesso ao bem mais primordial para a vida que é a água.
Faltou bom senso à Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara de Deputados ao premiar o principal responsável pela maior crise hídrica pela qual já passou o estado de São Paulo, conforme análise da Agência Nacional de Águas, do Tribunal de Contas do Estado, do Ministério Público e de outros organismos que apontaram que havia sólidos indícios de uma forte estiagem - que se repete a cada década e que faltou planejamento e ação ao governo do Estado para minimizar a crise e minorar o sofrimento das pessoas, especialmente daquelas que vivem nos pontos mais altos e distantes nas periferias e que chegam a ficar vários dias seguidos sem água.
Perguntamos aos deputados que selecionaram o governador Geraldo Alckmin para receber este prêmio pela gestão do saneamento e dos recursos hídricos se cabe a honraria quando a Sabesp perde por vazamentos um em cada três litros de água potável produzida? Se os rios estão poluídos pelo lançamento de esgoto sem tratamento em quantidade que corresponde a quase metade do esgoto gerado na grande São Paulo? Por não ter executado as obras previstas pelo próprio governo em diversos planos de abastecimento? Por realizar obras emergenciais de interligação com rios que não tem água como o Guaió desperdiçando dinheiro público? Por fazê-las sem o devido licenciamento ambiental, degradando áreas de proteção de mananciais e para justificar a ilegalidade declarando situação de criticidade de última hora quando desde 2013 a sociedade pede que se diga a verdade sobre a crise? Por deixar de apresentar um plano de contingência - “papelório inútil” nas palavras do governador - para enfrentar a crise, muitas vezes prometido e sempre adiado? Por deixar de fazer os investimentos necessários para privilegiar o pagamento de dividendos aos acionistas privados e ao próprio Estado, que também não reverteu os recursos em serviços de saneamento?
A premiação de Geraldo Alckmin é uma afronta à memória do grande arquiteto e urbanista Lúcio Costa, autor do projeto do Plano Piloto de Brasília. A infeliz indicação do deputado federal João Paulo Papa (PSDB-SP), ex alto funcionário da Sabesp e a sua aprovação pela Comissão de Desenvolvimento Urbano precisa de revisão urgente. Não é possível distorcer a realidade de forma que algo se transforme em seu oposto.
Reafirmamos que a água é um direito humano e não uma mercadoria, como tem sido vista pelos últimos governos paulistas o que resultou nesta grave crise que tem afetado profundamente a vida dos paulistas.
*****
Leia também:
- Folha mente sobre crise da água em SP
- Crise da água e o pânico da mídia
- Crise da água e o sadomasoquismo de SP
- Alckmin mentiu sobre a crise hídrica
- Mídia tucana abafa crise da água em SP
- As causas da crise da água em São Paulo
A sorte do picolé de chuchu é que a falta d´água afeta "apenas" o pessoal que é atendido pelo Cantareira. Se o Guarapiranga também sacar, os coxinhas paneleiros, moradores de parte da região central e da zona sul já teriam derrubado o grande gestor hídrico.
ResponderExcluirAqui falta água de dois em dois dias, mas nos bairros abastados não falta de água.
ResponderExcluirDesde que não falte água para bairros nobres da elite paulista, os pobres conseguem assistir à premiação. Nenhum outro Estado usou volume morto para abastecer a população. Só o premiado. A globo premiou o Moro que pegou o Cunha que recebeu mais apoio ainda da globo para virar Presidente e mudar a Constituição que o Moro usou para grampeá-lo. É tudo sobre dinheiro, e dinheiro público.
ResponderExcluir