quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Impeachment e os interesses de Wall Street

Por Altamiro Borges

O escritor baiano Luiz Alberto Moniz Bandeira é um dos intelectuais mais respeitados no Brasil e no mundo. Já foi agraciado com dezenas de prêmios por seus livros e trabalhos acadêmicos. Tive a chance de conhecê-lo em 2006, no auditório da Folha de S.Paulo, quando ele recebeu o troféu "Juca Pato" de Intelectual do Ano pela publicação do livro "Formação do Império Americano - Da Guerra contra a Espanha à Guerra no Iraque". A obra imperdível comprova com inúmeros documentos e análises a vocação imperialista dos EUA. Em fevereiro deste ano, a União Brasileira de Escritores (UBE), a convite da Real Academia Sueca, indicou o seu nome para o Prêmio Nobel de Literatura de 2015.

Formado em direito no Rio Janeiro, doutor em ciências políticas pela Universidade de São Paulo e professor titular na Universidade de Brasília, Moniz Bandeira também deu aulas como visitante nas universidades de Heidelberg, Colônia, Estocolmo e Buenos Aires. Atualmente, ele reside na cidade alemã de Heidelberg, onde é cônsul honorário do Brasil. Mas, como profundo conhecedor da história brasileira - seu livro sobre o golpe de 1964 é um clássico - e das ações agressivas do império, Moniz Bandeira não deixa de acompanhar atento e apreensivo o que acontece atualmente no Brasil.

Nesta quarta-feira (9), ele concedeu uma entrevista instigante ao site Sputnik-Brasil, em que afirma, de maneira taxativa, que "Wall Street está por trás da crise brasileira". Para ele, os EUA têm grandes interesses no país e "o objetivo das suas ações externas é quebrar a economia e comprar as empresas estatais a preço de banana". Ele não vacila em afirmar que está em curso um golpe, "que deve ser contido para não produzir graves consequências para a História do país". Vale conferir a entrevista, que evidentemente será desconsiderada pela mídia colonizada, que mantém um forte complexo de vira-lata diante do império e uma sólida relação com os golpistas nativos:

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O objetivo seria quebrar a economia e comprar as empresas brasileiras a preço de banana?

Exatamente, isso é verdade. Eles querem quebrar a economia brasileira – e é aí que eu vejo mais a ação de Wall Street – e comprar as empresas, como estão fazendo, a preço de nada, com o real desvalorizado a esse ponto.

Nós podemos acreditar, então, que o Brasil está na mira de Wall Street?

Está na mira, claro, porque a questão não é só o Brasil, é internacional, é a luta contra a Rússia e a China, mas eles não podem muito contra a China. E querem derrubar a Rússia através da Síria e da Ucrânia. São duas frentes que os Estados Unidos abriram, porque a luta na Síria não é tanto por democracia, isso é bobagem, os EUA não estão se importando com isso. Eles querem mudar o regime para tirar a Base Naval de Tartus e também um ponto em Latakia, ambos da Rússia.

Voltando ao Brasil. O senhor entende que o país voltará a sofrer assaltos especulativos?

É muito complicada a situação aí. Eu não estou certo de nada a respeito do Brasil, é muito difícil. Porque é muito difícil também dar um golpe – um golpe civil como eles querem. As Forças Armadas estão contra o golpe. Elas são um fator de resistência nacionalista no Brasil, assim como o Itamaraty.

O senhor disse que há órgãos no exterior financiando a grande mídia no Brasil. A mídia, ao pregar o golpe, facilita a entrada das grandes corporações internacionais em prejuízo das empresas brasileiras?

Claro, sobretudo no setor de construção, que tem sido alvo principal desse inquérito, que, aliás, é inconstitucional, é tudo ilegal. O objetivo é destruir as grandes empresas brasileiras, as construtoras que são fatores de expansão mundial do Brasil, e permitir que entrem no mercado brasileiro as multinacionais americanas.

O senhor entende que as agências de inteligência dos EUA continuam a espionar a Presidenta Dilma Rousseff e as grandes empresas estatais do país?

Claro, nunca deixaram de espionar. Espionam no Brasil e em todos os países. Se você ler meu livro “Formação do Império Americano”, publicado há dez anos, você verá como eu mostro isso documentado. Já no tempo de Clinton faziam isso. Não há novidade nenhuma na atuação dos EUA. Eu estudo essa questão dos EUA há muitos anos. Acompanhei de perto toda a problemática de Cuba. Estou com 80 anos, desde os meus 20 anos eu assisto a isso que eles fazem na América Latina.

O senhor fala em golpe em curso no Brasil. Qual a sua impressão, esse golpe pode ir avante?

Tanto pode como não pode. As possibilidades são muitas. Ontem mesmo o Supremo Tribunal Federal tomou uma medida constitucionalmente correta, que foi anular essa comissão constituída na Câmara por meio de manobras. O que existe é uma luta de ratos e ladrões, um bando, uma gangue, montada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contra uma mulher honrada e honesta como a Presidenta Dilma Rousseff, com todos os erros que ela possa ter cometido. Não há motivo legal nem constitucional para o impeachment.

A Presidenta Dilma Rousseff conseguirá superar todas essas dificuldades políticas e concluir o seu mandato em 31 de dezembro de 2018?

É muito difícil avaliar a evolução da situação, porque ela é ruim internacionalmente. A situação internacional é muito ruim. Eu disse, em 2009, quando recebi o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia, que uma potência é muito mais perigosa quando está em decadência do que quando conquista o seu império, e os EUA são uma potência em decadência. São muito mais perigosos do que antes.

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Um comentário:

  1. Programa CQC sairá do ar em 2016, na "esperança" de voltar em 2017 sem (no ponto de vista deles, membros da mídia reaça) ver a Dilma no Planalto:

    http://ego.globo.com/televisao/noticia/2015/12/cqc-apresentado-por-dan-stulbach-saira-do-ar-em-2016.html

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