sábado, 4 de junho de 2016

Jucá, o "ministro oculto", será preso?

Por Altamiro Borges

O ex-ministro José Dirceu, considerado o "homem-forte" do presidente Lula, foi perseguido de forma implacável pela mídia venal. Antes mesmo de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ele já havia sido condenado, preso e torturado pela imprensa falsamente moralista. Ele talvez dispute com Lula o recorde de capas terroristas da "Veja", a revista do esgoto, ou dos histéricos comentários dos "calunistas" da TV Globo, a emissora que sonega e mente. A mesma linha editorial, porém, não tem sido adotada diante do ex-ministro Romero Jucá, o "homem-forte" do Judas Michel Temer, que foi "afastado" na semana retrasada. Ele não foi capa das revistas "Veja", "Época" ou "QuantoÉ", nem manchete dos jornalões e nem motivo de cara feia dos William - Bonner e Waack - da TV Globo.

Na verdade, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), um político denunciado em incontáveis escândalos de corrupção, continua sendo o "homem-forte" do governo golpista - sem qualquer escarcéu da mídia udenista. Uma nota minúscula na coluna "Painel" da Folha desta quinta-feira (2) revela que "mesmo fora do Ministério do Planejamento há dez dias, Jucá segue atuando como integrante do primeiro escalão do governo. Frequenta o gabinete de Michel Temer e despacha com seus principais ministros. Na cerimônia de posse dos presidentes de estatais, nesta terça-feira, após deixar o gabinete de Temer, Jucá sentou-se na primeira fila, ao lado dos demais ministros. Dyogo Oliveira, titular interino do Planejamento, ficou na cadeira de trás... A líderes partidários, Jucá justificou o seu trabalho de articulador. Se não atuar, as medidas do governo empacarão no Congresso".

A notinha o rotula de "ministro oculto", mas evita satanizá-lo. A exemplo do restante da mídia chapa-branca, a Folha não promove sua costumeira demonização para salvar a imagem de Michel "Treme", que já anda tão desacreditado e desgastado em menos de um mês do governo golpista. Pela lógica da escandalização midiática, Romero Jucá, o "articulador" palaciano, já deveria ter sido cassado e até preso. Mas ele segue livre e solto, "despachando" com o "interino". Sua folha corrida é quilométrica e antiga, mas a mídia venal decidiu blindá-lo. Sabe que o achacador é decisivo para o futuro de Michel "Treme" na aprovação das medidas impopulares no parlamento e para garantir a vitória do "golpe dos corruptos" na votação definitiva do impeachment de Dilma Rousseff no Senado.      

Oportunista e corrupto profissional

Oportunista profissional, Romero Jucá sempre se safou da cadeia. No processo de redemocratização, ele se ligou ao presidente José Sarney - que também não teve votos, mas chegou ao cargo em função da morte de Tancredo Neves -, passou a presidir a Fundação Nacional do Índio (Funai) e foi nomeado governador do recém-criado Território Federal de Roraima. Já no triste reinado de FHC, ele foi eleito senador pelo PSDB e ganhou generosos espaços na gestão tucana. Com a vitória de Lula, em 2002, ele se bandeou para o PMDB, eterno partido da base governista no Congresso Nacional, para gozar de total impunidade. Neste longo período, Romero Jucá foi alvo de inúmeras denúncias de corrupção.

Como presidente da Funai, o número de funcionários da instituição aumentou abruptamente e o órgão sofreu intervençâo do Tribunal de Contas da União (TCU) por várias irregularidades financeiras. Ele também foi alvo de um processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por ter autorizado ilegalmente a extração de madeira em áreas indígenas. Durante a era tucana, Romero Jucá também sofreu graves acusações, mas sempre contou com ajudinha do "engavetador-geral da República" de FHC. Já na fase recente, o senador foi citado na "delação premiada" do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato. Ele chegou a ser incluído na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no processo enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"Estancar a sangria" das investigações

Ainda nas apurações da Lava-Jato, a empreiteira Andrade Gutierrez apontou, em acordo de leniência, que Romero Jucá seria beneficiário de propina da Usina de Belo Monte. Segundo a delação, ele teria recebido R$ 1 milhão em suborno. Esta ficha imunda ajuda a explicar o seu escabroso diálogo com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado - o seu amigo de sujeiras desde o tempo em que ambos eram dirigentes do PSDB. Num dos trechos vazados, Romero Jucá deixa explícito que a conspiração para depor Dilma Rousseff teria como objetivo "estancar a sangria" das investigações da Lava-Jato. Na prática, o "golpe dos corruptos" visou salvar este e outros larápios de carteirinha da prisão.

Logo após seu afastamento do Ministério do Planejamento, em 23 de maio, Michel Temer fez questão de divulgar uma nota oficial elogiando o "trabalho competente" de Romero Jucá e garantindo que ele seguiria "auxiliando o governo federal no Congresso com sua imensa capacidade política". A decisão é um tapa na cara dos brasileiros que foram às ruas contra a corrupção - inclusive dos "midiotas" que serviram de massa de manobra ao "golpe dos corruptos". No Senado, já há pedidos pela cassação de Romero Jucá. Nas ruas, manifestantes exigem sua imediata prisão. Mas os bandidos que assaltaram o Palácio do Planalto sabem que contam com a complacência da mídia venal para se manter no poder!

*****

Leia também:

- Jucá e o pacto para barrar a Lava-Jato

- Jucá, escudeiro de Temer, confessa o golpe

- As pendências judiciais de Romero Jucá

- Jucá coloca ponto final no governo Temer

- Jucá serve como autópsia do golpe

- "Michel é Cunha", disse Jucá. E agora?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: