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Após o ano do absurdo, 2017 inicia-se como passagem do absurdo ao ridículo. A história política mostra que uma vez alcançado o absurdo fatalmente se chega ao ridículo. Parece ser algo inevitável, como se tratasse de um aspecto imanente aos períodos de decadência dos regimes políticos. Antes que Maria Antonieta ridicularizasse os famintos de Paris, a monarquia francesa havia se refestelado em absurdas pompas e banquetes. Em Roma, Nero não era menos absurdo que ridículo. Se é verdade que na história as coisas se repetem a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. não se deixe de reconhecer que não há tragédia sem algo de absurdo, nem farsa sem algo de ridículo.
É inconteste, pelo menos para aqueles que não perderam o bom senso, que o prefeito de São Paulo vestido de gari é uma das mais ridículas demagogias que já se viu. Não que o nosso atual prefeito seja uma figura política ridícula, porém memorável, como foram Maria Antonieta e Nero. É bem verdade que ante estes personagens maiores, ele é uma figura menor, quase um anão. Certamente, o prefeito Doria será lembrando pelos atos ridículos, porém não tem a realeza da monarca francesa, nem teve como preceptor alguém da envergadura de Sêneca. Todavia, ser anão entre gigantes do ridículo torna-o ainda mais ridículo.
Não podendo agigantar-se no teatro político do ridículo, nosso prefeito, contudo, já tem adeptos emblemáticos. Em uma declaração, após a vitória nas urnas, a primeira dama profetizou o começo da era do ridículo ao se insinuar como uma Evita Perón: ridícula confusão entre o carisma que ela não tem e a atenção bajuladora que tem em primeira mão. Agora, a ínclita atriz, flagrada de vassoura em punho, junta-se ao séquito dos politicamente ridículos. Sua presença completou o rito farsesco, em uma cena na qual o prefeito era mais ator que a artista global. Nas calçadas da paulista, ocorria uma cena muito semelhante à de um comício de Terra em Transe. Como no filme de Glauber Rocha, hoje o ridículo, mais que a demagogia, dá a forma do político.
O ridículo e a demagogia estão sempre juntos, são como irmãos siameses, pois não há demagogia que não tenha traços de ridículo. Não se pode esquecer, todavia, que em um mundo regido pela ordem das imagens, pela forma narcísica do querer ser visto, apresentar-se de modo ridículo é uma das formas de atrair maior atenção para sua própria imagem. Se o que importa é ser visto, a forma como se é visto, na maioria dos casos, não importa tanto. Basta recordar que imagens de coisas ridículas são sempre muito vistas. Algumas por serem absurdas e ridículas, outras por serem apenas ridículas. Das absurdas e ridículas se pode rir, já não daquelas somente absurdas.
Não podendo agigantar-se no teatro político do ridículo, nosso prefeito, contudo, já tem adeptos emblemáticos. Em uma declaração, após a vitória nas urnas, a primeira dama profetizou o começo da era do ridículo ao se insinuar como uma Evita Perón: ridícula confusão entre o carisma que ela não tem e a atenção bajuladora que tem em primeira mão. Agora, a ínclita atriz, flagrada de vassoura em punho, junta-se ao séquito dos politicamente ridículos. Sua presença completou o rito farsesco, em uma cena na qual o prefeito era mais ator que a artista global. Nas calçadas da paulista, ocorria uma cena muito semelhante à de um comício de Terra em Transe. Como no filme de Glauber Rocha, hoje o ridículo, mais que a demagogia, dá a forma do político.
O ridículo e a demagogia estão sempre juntos, são como irmãos siameses, pois não há demagogia que não tenha traços de ridículo. Não se pode esquecer, todavia, que em um mundo regido pela ordem das imagens, pela forma narcísica do querer ser visto, apresentar-se de modo ridículo é uma das formas de atrair maior atenção para sua própria imagem. Se o que importa é ser visto, a forma como se é visto, na maioria dos casos, não importa tanto. Basta recordar que imagens de coisas ridículas são sempre muito vistas. Algumas por serem absurdas e ridículas, outras por serem apenas ridículas. Das absurdas e ridículas se pode rir, já não daquelas somente absurdas.
Nosso cotidiano, até mesmo em sua parte mais ínfima, está impregnado pelo ridículo. O ridículo atrai e ajuda a entreter, retirar o peso da seriedade obrigatória. Não são de coisas ridículas, a maior parte dos vídeos e mensagens que recebemos no aplicativo do celular? Se das coisas absurdas não podemos rir, das ridículas pode-se rir e não rir. Nomear absurdas chacinas de “acidente pavoroso”, e depois tentar justificar o uso da expressão apelando para o dicionário, é uma daquelas coisas ridículas, porém das quais não se pode rir. O ridículo do entretenimento é comédia, já o ridículo da política é, quase sempre, tragédia.
Berlusconi foi quem primeiro realizou com sucesso a redução do político às formas do entretenimento e da publicidade. Desde da ascensão do midiático plutocrata italiano, não se trata mais de gerir a máquina publicitária para fins políticos, mas de gerir o político como se uma máquina de publicidade fosse. A publicidade deixa de fazer parte apenas do período de campanha eleitoral para se tornar parte do modus operandi da própria gestão. É o que Doria faz agora, movimentando os mesmos mecanismos publicitários de que fez uso na sua propaganda eleitoral (veja-se o texto Política em tempos de neobarroco II). Neste âmbito, já se está muito além do conluio entre o aparelho midiático e seus protegidos. Tal conluio não morre, porém sobrevive como linha auxiliar. A forma midiática não ocorre mais posteriormente, mas por antecipação.
Assim como se vinculam propagandas de produtos, vincula-se o político que já se apresenta com dotes midiáticos. Não é preciso criar a publicidade em torno do produto, ele já aparece pronto para exibição. Neste caso, o produto é o próprio político com o qual o conluio está formado. O choramingo sem disfarces que emissoras como a Globo News fazem em torno da saída de Obama exemplifica isto. Barack Obama é o caso literalmente mais loquaz deste tipo de “produto” político-midiático. De discurso fácil, portador de gestos de gentileza calculada, com a desenvoltura típica de um apresentador de TV, ele é capaz de chorar na frente das câmeras, criando frases de efeito simplórias, porém marcantes, como slogans. Obama discursa na forma da notícia e se expressa segundo os cânones midiáticos. É difícil separar nele a figura do político e a do pop star. Embora experimentado na lógica do espetáculo, Doria está longe deste tipo de carisma midiático. Por isso, seu apelo à imagem ridícula, e não ao gesto e à palavra, como faz Obama. O prefeito de São Paulo está mais próximo de Berlusconi do que do americano.
Doria vestido de gari segue a mesma lógica publicitária da apresentadora global que faz propaganda de comida enlatada e congelada. É óbvio que ela não consume tal tipo de alimento. São as classes populares que, por falta de maior poder aquisitivo e tempo, mais consomem produtos alimentícios enlatados e congelados. Da mesma forma que a apresentadora não come aqueles alimentos que propagandeia, é claro que o prefeito, que aparece de vassoura na mão posando para as câmeras, não é capaz de varrer os corredores de sua própria mansão. Nos dois casos, é nítido para o consumidor que a imagem vendida não corresponde, de fato, à realidade. Mas então como se explica o uso deste tipo de recurso melindroso?
Trata-se de operar com a aceitação consensual do falso. Este é um dos estratagemas primordiais da publicidade. Aceita-se a falsidade implícita entre aquele que, apesar de aparecer na peça publicitária, não faz parte do público alvo do produto vendido. Sabe-se que a relação entre o famoso e o produto é falsa, mas consome-se o produto. É este tipo de aceitação do falso que preparou terreno para o que se denominou de pós-verdade. Se a pós-verdade é aceitação de algo falso apenas pelo entusiasmo e apelo emocional causado por aquilo que não apresenta elementos seguros de veracidade, a publicidade promove o consumo justamente mais pelo impacto emocional produzido do que pela qualidade do produto vendido.
A lógica da então denominada pós-verdade é esta: melhor sentir algo com o falso do que nada sentir com o verdadeiro. A pós-verdade é apenas a consequência mais acabada do mundo do consumo. Consumo predatório de produtos primários, consumo de bens simbólicos, consumo de notícias, consumo da política. Desse modo, também na política importará mais o apelo do que a qualidade do conteúdo. Corroída as bases e os conteúdos democráticos das repúblicas contemporâneas, restam os modelos exibicionistas da encenação e da farsa. Ademais, como se trata de um tipo de encenação que possua apelo hodierno, nada melhor que encenar na forma do ridículo.
Como o prefeito Doria não é, de fato, um trabalhador, mas um plutocrata; e, embora eleito em um pleito regular, sua legitimidade é corroída por sua própria e verdadeira imagem: a de homem rico, um tanto esnobe e distante da vida real do povo. Por isso, usurpando a dignidade dos trabalhadores da limpeza urbana, se vestiu de gari sem se importar com o caráter ridículo de tal ato. Ora, se vestirá e vai se fantasiar de quantas profissões puder, pois Doria sabe que não poderá ficar muito tempo vestido de si mesmo. Logo, teremos que nos acostumar com o simulacro e sua faceta ridícula.
Como o prefeito Doria não é, de fato, um trabalhador, mas um plutocrata; e, embora eleito em um pleito regular, sua legitimidade é corroída por sua própria e verdadeira imagem: a de homem rico, um tanto esnobe e distante da vida real do povo. Por isso, usurpando a dignidade dos trabalhadores da limpeza urbana, se vestiu de gari sem se importar com o caráter ridículo de tal ato. Ora, se vestirá e vai se fantasiar de quantas profissões puder, pois Doria sabe que não poderá ficar muito tempo vestido de si mesmo. Logo, teremos que nos acostumar com o simulacro e sua faceta ridícula.
sem falar nessa TRAGEDIA CHAMADA REDES SOCIAIS. chamaram haddad de demagogo quando ia de ônibus pro trabalho. agora ENDEUSAM esse Dória por ter se vestido de gari. ou seja, um povo RIDICULO esse Brasileiro no geral!
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