No segundo pronunciamento desde a detonação da crise que pode ser terminal para seu governo, Temer faz como o desesperado que está chafurdado na areia movediça: se agarra ao próprio cabelo, na vã ilusão de conseguir sair do atoleiro.
Ele fez um discurso enérgico, incisivo e juridicamente bem orientado. Temer embarcou no barco oferecido pelo PSDB através da Folha e do Estadão – em contradição com a Globo, que pede a rápida renúncia dele – para questionar a autenticidade dos áudios com o empresário Joesley Batista e acusar fraude nas gravações.
A estratégia de defesa ficou clara: apelar para filigranas jurídicas [que não serão reconhecidas] para esconder o conteúdo e as práticas mafiosas reveladas nas conversas mantidas em encontro não registrado na agenda oficial, perto da meia noite, no Palácio Jaburu.
Um parêntesis: [um presidente formal da sétima economia do planeta, mesmo que não-eleito democraticamente, manter encontro com o maior empresário mundial da produção de carnes, em condições e horários tão extravagantes e extra-oficiais para tratar de corrupção e crime continuado, seria causa suficiente para o afastamento imediato].
No pronunciamento, Temer fez um ataque ao empresário denunciante que, por coincidência, é o mesmo mecenas que bancou a camarilha dele e do Cunha, Padilha, Moreira, Jucá e Geddel com milhões de reais para comprar a eleição de deputados e preparar o golpe de Estado com a fraude do impeachment.
Apesar do esforço, da preparação e do ensaio do usurpador Temer, soou como um discurso inverossímil.
Nenhuma pessoa de razoável inteligência; ninguém que tenha ouvido os áudios e visto o monitoramento feito pela PF dos momentos de entrega da propina de R$ 500 mil ao deputado Rodrigo Rocha Loures, preposto do Temer, e do repasse de R$ 400 mil à irmã do doleiro Lúcio Funaro, pode levar a sério esta pantomima ensaiada com advogados e marqueteiros e executada por ele.
O discurso serve unicamente para adiar a debandada de partidos políticos cada vez mais pressionados nas bases eleitorais e, por isso, tendentes a abandonar o barco.
Temer está totalmente isolado e sem condições de continuar ocupando a cadeira presidencial. O país está travado, e entrará numa espiral depressiva com sua permanência desmoralizada, agravando o desemprego e o caos social.
Temer ainda se mantém no cargo porque o PSDB, partido até recentemente presidido por Aécio Neves, um personagem investigado por crimes que vão da corrupção contumaz ao homicídio e ao narcotráfico, lhe dá aval.
Michel Temer e sua camarilha, que no dia seguinte à deposição perderiam o foro privilegiado que os blinda de investigações e condenações pelos múltiplos crimes cometidos, fazem o que qualquer criminoso desesperado faria: esperneiam.
A classe dominante momentaneamente está dividida, ainda não definiu a estratégia para o próximo período e o destino para o cadáver putrefato, mantido na UTI com o auxílio de aparelhos.
De um lado está a Globo, defendendo a renúncia do Temer e a continuidade do golpe e da agenda antipopular e antinacional através da eleição indireta do sucessor pelo Congresso ilegítimo e corrupto.
No outro lado estão os paulistas, ou seja, o centro dominante da oligarquia golpista capitaneada pelo PSDB, FSP e Estadão, que provisoriamente prefere manter o cadáver sentado na cadeira presidencial.
É certo que no momento devido, os dois blocos da classe dominante estarão juntos e unidos contra a democracia e viabilizando uma solução por cima para a continuidade do golpe, de costas para as aspirações da sociedade brasileira, que na quase totalidade [96%] pede eleição direta já.
A viabilização de saídas democráticas, que dêem início à reconstrução econômica e social do Brasil e à restauração democrática não se dará nos âmbitos do Congresso ou do judiciário, porque somente se confirmará se houver força das ruas e radicalização das mobilizações populares por diretas já e pelo fim das reformas antipopulares e antinacionais.
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