Não existe nada mais importante para o Brasil que a educação. Infelizmente, o presidente eleito Jair Bolsonaro sabe disso, e como não gosta do país, está fazendo de tudo para destruir o setor. O recente vaivém na indicação do ministro responsável pela pasta – método que se tornou regra, voltando atrás de decisões e culpando os outros por suas barbeiragens – teve pelo menos desta vez o mérito da clareza. Ele não voltou atrás para melhorar sua decisão, foi exatamente o contrário.
Não se pode dizer que o processo faz parte do jogo político de ensaio e erro, já que a trapalhada teve vários capítulos, muito mais erros que ensaios. Entre os nomes que foram empinados como balões especulativos marcaram presença desde o nefasto e grosseiro Olavo de Carvalho (uma espécie de anti-herói da ignorância de direita – há direitistas inteligentes, mas não é o caso de Olavo) até Viviane Senna, criadora do instituto que leva o nome do irmão.
A rolagem de especulação passou por Maria Inês Fini, presidente do Inep, responsável pelo Enem, que ganhou “cartão vermelho” do capitão reformado por insuflar “marxismo nisso daí”. Chegou ao ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Mozart Neves Ramos, também ligado ao Instituto Ayrton Senna, e igualmente defenestrado de forma desrespeitosa, depois de ter sido bancado pelo círculo próximo do poder.
O presidente eleito se desdisse por pressão explícita dos defensores da chamada escola sem partido. Em outras palavras, Bolsonaro se arroga de independente de partidos e outras forças políticas, mas pelo visto não manda nada. Suas constantes reviravoltas, dizendo que não disse o que disse e culpando sempre a imprensa por ter sido mal interpretado, não convencem mais. Pode fazer cara feia. Mais feia é a mentira.
O presidente eleito vai deixando claro, a cada anúncio de novos colaboradores, que segue os passos ditados pelos patrocinadores de sua eleição, e não pelos compromissos com o eleitor. Sua lista de ministros tem o carimbo de seus quatro maiores credores: os militares, os pastores evangélicos, os juízes e os representantes do capital e do rentismo. Cada um desses grupos indica seus peões, o que vem resultando no primeiro escalão formado por portadores de patentes de variadas gradações, ovelhas moralistas, ativistas judiciários e operadores do mercado.
Tem de tudo nesse cardápio: banqueiro que não sabe como se vota o orçamento, juiz que operou para definir o quadro eleitoral, musa do veneno, astronauta pop, deputado do baixo clero, diretor de plano de saúde, diplomata com traços paranoides que deslustra a tradição intelectual do Itamaraty. E por aí vai. O mais grave, no entanto, parece estar programado para a educação.
A forte reação dos setores ligados à escola sem partido (um curioso consenso de todos os segmentos conservadores relacionados acima) não preservou sequer a imagem do presidente. Ele foi, no sentido mais pleno da palavra, desmoralizado. Tiraram a moral do homem. Cada segmento mandou sua fatura.
Os pastores, de olho no conservadorismo e na formação repressiva, querem empreender uma cruzada moralista e anti-iluminista, relativizando fatos históricos e mesmo científicos, como a teoria da evolução e a educação sexual.
Os procuradores, apoiando a bandeira da censura de cátedra, que já defendem em várias ações do Ministério Público, além de propor uma vigilância dirigida ao trabalho dos professores, incentivando uma prática hedionda de delações e anátemas.
Os economistas neoliberais, com a defesa do lucrativo mercado educacional, que já ganhou de Temer o bônus do estímulo ao ensino à distância, sem falar na destruição do caráter crítico do processo educacional.
A caserna se esbalda com a valorização das escolas militares, que assumem o papel de modelo educacional em termos, sobretudo, disciplinares: uma escola para a submissão, treinamento, ordem unida, hinos e juras à bandeira. Cabelos curtos e contidos. Ideias curtas e contidas.
O projeto educacional de Bolsonaro ainda não está claro. Sabe-se, entretanto, onde quer chegar. Num sistema voltado apenas para desenvolvimento de habilidades requeridas pelo mercado, não para a emancipação humana.
Num modelo em que o professor não tenha autonomia, se limite a repetir informações sem a contribuição da crítica e no qual alunos têm o papel desonroso de delatores.
Na formação moralizante e conservadora, anti-inclusiva e autoritária. Na valorização da disciplina ainda que implique em cercear a liberdade de discordância e criatividade.
Num ambiente intelectual sem capacidade de reflexão e análise crítica do conhecimento, em nome de um falso relativismo que coloque lado a lado saber científico e dogmas religiosos ou fideístas.
Numa educação de classe, que reforce a divisão social, naturalizando a injustiça social ancorada numa meritocracia que não garanta oportunidades reais.
Num projeto pedagógico que desvaloriza o potencial libertário da cultura, das artes e das ciências humanas em favor de um sistema voltado para a obediência sem contestação e para a formação de mentalidades dóceis.
Numa coisa é preciso concordar com o capitão: trata-se do futuro do país. Ou de um país sem futuro.
Não se pode dizer que o processo faz parte do jogo político de ensaio e erro, já que a trapalhada teve vários capítulos, muito mais erros que ensaios. Entre os nomes que foram empinados como balões especulativos marcaram presença desde o nefasto e grosseiro Olavo de Carvalho (uma espécie de anti-herói da ignorância de direita – há direitistas inteligentes, mas não é o caso de Olavo) até Viviane Senna, criadora do instituto que leva o nome do irmão.
A rolagem de especulação passou por Maria Inês Fini, presidente do Inep, responsável pelo Enem, que ganhou “cartão vermelho” do capitão reformado por insuflar “marxismo nisso daí”. Chegou ao ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Mozart Neves Ramos, também ligado ao Instituto Ayrton Senna, e igualmente defenestrado de forma desrespeitosa, depois de ter sido bancado pelo círculo próximo do poder.
O presidente eleito se desdisse por pressão explícita dos defensores da chamada escola sem partido. Em outras palavras, Bolsonaro se arroga de independente de partidos e outras forças políticas, mas pelo visto não manda nada. Suas constantes reviravoltas, dizendo que não disse o que disse e culpando sempre a imprensa por ter sido mal interpretado, não convencem mais. Pode fazer cara feia. Mais feia é a mentira.
O presidente eleito vai deixando claro, a cada anúncio de novos colaboradores, que segue os passos ditados pelos patrocinadores de sua eleição, e não pelos compromissos com o eleitor. Sua lista de ministros tem o carimbo de seus quatro maiores credores: os militares, os pastores evangélicos, os juízes e os representantes do capital e do rentismo. Cada um desses grupos indica seus peões, o que vem resultando no primeiro escalão formado por portadores de patentes de variadas gradações, ovelhas moralistas, ativistas judiciários e operadores do mercado.
Tem de tudo nesse cardápio: banqueiro que não sabe como se vota o orçamento, juiz que operou para definir o quadro eleitoral, musa do veneno, astronauta pop, deputado do baixo clero, diretor de plano de saúde, diplomata com traços paranoides que deslustra a tradição intelectual do Itamaraty. E por aí vai. O mais grave, no entanto, parece estar programado para a educação.
A forte reação dos setores ligados à escola sem partido (um curioso consenso de todos os segmentos conservadores relacionados acima) não preservou sequer a imagem do presidente. Ele foi, no sentido mais pleno da palavra, desmoralizado. Tiraram a moral do homem. Cada segmento mandou sua fatura.
Os pastores, de olho no conservadorismo e na formação repressiva, querem empreender uma cruzada moralista e anti-iluminista, relativizando fatos históricos e mesmo científicos, como a teoria da evolução e a educação sexual.
Os procuradores, apoiando a bandeira da censura de cátedra, que já defendem em várias ações do Ministério Público, além de propor uma vigilância dirigida ao trabalho dos professores, incentivando uma prática hedionda de delações e anátemas.
Os economistas neoliberais, com a defesa do lucrativo mercado educacional, que já ganhou de Temer o bônus do estímulo ao ensino à distância, sem falar na destruição do caráter crítico do processo educacional.
A caserna se esbalda com a valorização das escolas militares, que assumem o papel de modelo educacional em termos, sobretudo, disciplinares: uma escola para a submissão, treinamento, ordem unida, hinos e juras à bandeira. Cabelos curtos e contidos. Ideias curtas e contidas.
O projeto educacional de Bolsonaro ainda não está claro. Sabe-se, entretanto, onde quer chegar. Num sistema voltado apenas para desenvolvimento de habilidades requeridas pelo mercado, não para a emancipação humana.
Num modelo em que o professor não tenha autonomia, se limite a repetir informações sem a contribuição da crítica e no qual alunos têm o papel desonroso de delatores.
Na formação moralizante e conservadora, anti-inclusiva e autoritária. Na valorização da disciplina ainda que implique em cercear a liberdade de discordância e criatividade.
Num ambiente intelectual sem capacidade de reflexão e análise crítica do conhecimento, em nome de um falso relativismo que coloque lado a lado saber científico e dogmas religiosos ou fideístas.
Numa educação de classe, que reforce a divisão social, naturalizando a injustiça social ancorada numa meritocracia que não garanta oportunidades reais.
Num projeto pedagógico que desvaloriza o potencial libertário da cultura, das artes e das ciências humanas em favor de um sistema voltado para a obediência sem contestação e para a formação de mentalidades dóceis.
Numa coisa é preciso concordar com o capitão: trata-se do futuro do país. Ou de um país sem futuro.
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