quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O que Ustra faria com Flávio Bolsonaro?

Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

O Brasil da lama bolsonarista conseguiu transformar o assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra em algo próximo de um ícone pop.

Saímos definitivamente do armário. A hashtag “Ustra Vive” é um dos assuntos mais comentados do Twitter.

O filósofo e professor da USP Vladimir Safatle foi uma das personalidades entrevistadas no programa que o DCM fazia com produção da TVT.

Safatle falou da nova configuração da sociedade brasileira no pós-golpe. O Brasil precisa encarar, dizia ele, que “não é um país”.

“Somos completamente divididos”, afirmou. “O Brasil encarou de uma vez por todas que não é um país. É completamente dividido”.

“Nós nem sequer conseguimos constituir uma narrativa unificada sobre a ditadura militar. Nós não conseguimos estabelecer que isso é uma linha vermelha e jamais ocorrerá”, declarou.

“Tanto é que temos aí Jair Bolsonaro”.

No nosso pacto, na nossa vocação conciliatória, na Anistia, as Forças Armadas não foram forçadas a reconhecer os crimes no período entre 1964 e 1985.

Ao contrário da Argentina, por exemplo, ninguém pagou pelas torturas, mortes, estupros, ocultações de cadáveres.

O Uruguai está julgando agora seus “estupradores fardados”. Um general foi preso no final do ano passado.

Nós os festejamos.

Os apologistas fazem o que querem. Seviciadores subiram em carros de som na avenida Paulista ao lado de senhoras carregando cartazes nos quais se lia “por que não mataram todos em 64?”.

O Brasil mal discutiu o assunto. Não estabelecemos uma linha, um limite civilizatório.

Passados esses anos, a sombra e a mistificação são muito mais intensas que a luz.

Os adoradores de Ustra e seus métodos não levam em conta o seguinte: o que faria a turma do coronel do Exército para forçar, digamos, Flávio Bolsonaro ou Fabrício Queiroz a abrirem o bico?

Pau de arara? Cadeira do dragão?

Como ele mesmo disse: “Tem que acabar com essa impunidade. O cara faz o que quer e não acontece nada?”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: