Charge: Fredy Varela |
A candidatura de José Múcio para o Ministério da Defesa ameaça transformar-se no primeiro grande conflito político do governo Lula.
Num universo habituado a se mover em silêncio, as tensões provocadas pela indicação são crescentes.
Quadro experiente do conservadorismo brasileiro, que passou o regime de 64 nas asas do PFL e adjacências, Múcio tem sido apontado como o gerente ideal para administrar uma das mais delicadas questões políticas da República -- o lugar dos comandantes militares em nossa democracia.
A questão é complexa, porém.
Sabemos que no artigo 142 a Carta de 1988 consagra subordinação das Forças Armadas ao poder civil ao dizer que elas constituem "instituições nacionais, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República".
Outro fato sabido é que a história recente andou por caminhos tortuosos e mesmo sombrios.
A partir do tuíte do general Villas Boas, que pressionou o STF a abandonar sua obrigação de defesa da presunção da inocência e abriu a porta da cela de Curitiba para a prisão de Lula, impedindo sua candidatura em 2018, consolidou-se outra força nos subterrâneos do país, o chamado Partido Militar.
Numa cena emblemática desses tempos, Villas Boas foi o principal homenageado na posse presidencial de 2019, quando Bolsonaro curvou-se diante do general e lhe disse: "Você é um dos responsáveis por estarmos aqui".
Quatro anos mais tarde, a partir da vitória de Lula em outubro de 2022, o quadro sofreu uma mudança radical, deixando caminhos abertos para um retorno a um ambiente de recuperação democrática, sem forças paralelas em atividade.
É nessa situação que, conforme apurou o Estado de S. Paulo, o Alto Comando do Exército, integrado por oficiais de quatro estrelas nomeados por Bolsonaro ao longo do mandato, decidiu fazer uma mudança no calendário e organizar um novo retrocesso.
Em vez de respeitar uma tradição que reserva ao presidente eleito e recém-empossado o direito de nomear seus generais, como legítimo representante da soberania popular traduzida nas urnas, a ideia agora é outra.
Permitir que Bolsonaro nomeie novos generais -- e deixe um time já escalado para receber Lula, privando o novo presidente de exercer uma das mais importantes atribuições de um chefe de governo em qualquer país do mundo -- o direito de escolher comandantes militares de sua confiança.
A indicação de José Múcio nasce daí.
“Julgo que seria muito bem visto pelas Forças Armadas”, disse o vice-presidente Mourão, que mais uma vez tenta embarcar numa caravana de ideias erradas para o país.
Alguma dúvida?
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