Com exceção da TV Globo, boa parte da mídia criticou a postura conservadora, fundamentalista, do bispo de Olinda e Recife, que excomungou a equipe médica responsável pelo aborto salvador de uma menina de nove anos. Na mesma toada, ela poderia difundir mais amplamente a posição corajosa e progressista da Comissão Pastoral da Terra, que condenou os ataques despropositados do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Movimento dos Sem-Terra. O ministro Gilmar Mendes bem que poderia ser “excomungado” por suas atitudes reacionárias. Reproduzo a elucidativa nota da CPT intitulada “Ai dos que coam mosquitos e engolem camelos”:
As prioridades do ministro
A coordenação nacional da CPT diante das manifestações do presidente do STF, Gilmar Mendes, vem a público se manifestar. No dia 25 de fevereiro, à raiz da morte de quatro seguranças armados de fazendas no Pernambuco e das ocupações de terras no Pontal do Paranapanema, o ministro acusou os movimentos de praticarem ações ilegais e criticou o poder executivo de cometer ato ilícito por repassar recursos públicos para quem, segundo ele, pratica ações ilegais. Cobrou do Ministério Público investigação sobre tais repasses.
No dia 4 de março, ele voltou à carga discordando do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para quem o repasse de dinheiro público às entidades que “invadem” propriedades públicas ou privadas, como o MST, não deve ser classificado automaticamente como crime. O ministro, então, anunciou a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual ele mesmo é presidente, de recomendar aos tribunais de todo o país que seja dada prioridade a ações sobre conflitos fundiários.
1.493 trabalhadores assassinados
Esta medida de dar prioridade aos conflitos agrários era mais do que necessária. Quem sabe com ela aconteça o julgamento das apelações dos responsáveis pelo massacre de Eldorado de Carajás, (PA), sucedido em 1996; tenha desfecho o processo do massacre de Corumbiara (RO-1995); seja por fim julgada a chacina dos fiscais do Ministério do Trabalho, em Unaí (MG-2004); seja também julgado o massacre de sem terras, em Felisburgo (MG-2004); o mesmo acontecendo com o arrastado julgamento do assassinato de Irmã Dorothy Stang, em Anapu (PA) no ano de2005, e cuja federalização foi negada pelo STJ, em 2005.
Quem sabe com esta medida possam ser analisados os mais de mil e quinhentos casos de assassinatos de trabalhadores do campo. A CPT, com efeito, registrou de 1985 a 2007, 1.117 ocorrências de conflitos com a morte de 1.493 trabalhadores. Em 2008, ainda dados parciais, são 23 assassinatos. Destas 1.117 ocorrências, só 85 foram julgadas até hoje, tendo sido condenados 71 executores dos crimes e absolvidos 49 e condenados somente 19 mandantes, dos quais nenhum se encontra preso. Ou aguardam julgamento das apelações em liberdade, ou fugiram da prisão, muitas vezes pela porta da frente, ou morreram.
Parcialidade do presidente do STF
Causa estranheza, porém, o fato desta medida estar sendo tomada neste momento. A prioridade pedida pelo CNJ será para o conjunto dos conflitos fundiários ou para levantar as ações dos sem terra a fim de incriminá-los? Pelo que se pode deduzir da fala do presidente do STF, “faltam só dois anos para o fim do governo Lula” e não se pode esperar, “pois estamos falando de mortes”, nos parece ser a segunda alternativa, pois conflitos fundiários, seguidos de mortes, são constantes. Alguém já viu, por acaso, este presidente do Supremo se levantar contra a violência que se abate sobre os trabalhadores do campo, ou denunciar a grilagem de terras públicas, ou cobrar medidas contra os fazendeiros que exploram mão-de-obra escrava?
Ao contrário, o ministro vem se mostrando insistentemente zeloso em cobrar do governo as migalhas repassadas aos movimentos que hoje abastecem dezenas de cidades brasileiras com os produtos dos seus assentamentos, que conseguiram, com sua produção, elevar a renda de diversos municípios, além de suprirem o poder público em ações de educação, de assistência técnica, e em ações comunitárias. O ministro não faz a mesma cobrança em relação ao repasse de vultosos recursos ao agronegócio e às suas entidades de classe.
“Que Deus nos livre de Mendes”
Pelas intervenções do ministro se deduz que ele vê na organização dos trabalhadores sem terra, sobretudo no MST, uma ameaça constante aos direitos constitucionais. O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como grande proprietário de terra no Mato Grosso ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas os que valem, são os que impulsionam o “progresso”, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terras, da destruição do meio-ambiente, e da exploração da mão de obra em condições análogas às de trabalho escravo.
Gilmar Mendes escancara aos olhos da Nação a realidade do Poder Judiciário que, com raras exceções, vem colocando o direito à propriedade da terra como um direito absoluto e relativiza a sua função social. O poder judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante, é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes. Exemplo disso foi a veloz libertação do banqueiro Daniel Dantas, também grande latifundiário no Pará, mesmo pesando sobre ele acusações muito sérias, inclusive de tentativa de corrupção.
O Evangelho é incisivo ao denunciar a hipocrisia reinante nas altas esferas do poder: “Ai de vocês, guias cegos, vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo” (MT 23,23-24). Que o Deus de Justiça ilumine nosso País e o livre de juízes como Gilmar Mendes!
Preconceito e rancor de classe
Também de forma contundente, o Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), que reúne as principais entidades do setor, condenou as “declarações carregadas de preconceito e rancor de classe do presidente do STF, Gilmar Mendes, apoiadas pelos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, contra os movimentos sociais e sindicais do campo... Nunca a sociedade brasileira ouviu do ministro condenação aos grupos de latifundiários armados ou às concessões de financiamentos públicos aos grandes grupos econômicos, que tem provocado o trabalho escravo, chacinas contra populações tradicionais e crimes ambientais”.
“A luta pela reforma agrária não vai recuar diante de declarações imponderadas como esta do ministro Gilmar Mendes. Ao contrário, elas fortalecem a luta do FNRA contra as legislações que institucionalizam a criminalização das organizações e que impedem as legítimas ocupações e a favor da emenda constitucional que limita o tamanho da propriedade rural e da portaria que atualiza os índices de produtividade. Atualmente existem cerca de 250 mil famílias de sem-terra acampadas nas beiras de estradas. Os recursos orçamentários da União destinados à reforma agrária não dão conta desta demanda, apesar de estar comprovado que o Estado possui recursos suficientes para realizar a reforma agrária em menos de três anos. Adiar este processo significa promover e estimular a violência no campo, colocando em risco a vida de milhares de famílias”.
quarta-feira, 11 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
Folha “fica de joelhos” e manobra
Indignado com a Folha de S.Paulo que qualificou de “ditabranda” a ditadura militar brasileira, o ilustre jurista Fabio Konder Comparato ironizou numa carta ao jornal: “O autor do vergonhoso editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada”. Relembrando sua postura nos anos de chumbo, a arrogante Folha rechaçou a crítica do jurista e da professora Maria Victória Benevides, taxando-a de “cínica e mentirosa”. Mas, com o emocionante ato de repúdio à Folha neste sábado, Otavio Frias Junior, chefão do jornal, teve que ficar de joelhos!
Numa manobra inteligente, o jornal noticiou o ato. Não deu manchete ou fotos, relatou que havia 300 pessoas – quando foram coletadas 345 assinaturas no protesto e muita gente sequer assinou a lista dos presentes – e ainda destilou seus venenos. Apesar disto, foi forçado a noticiar o protesto, reconhecendo o crime. Para acobertá-lo, contou com a cumplicidade dos outros veículos privados de comunicação, que nada falaram sobre o evento. Apenas a TV Brasil, num ponto valioso para a nova emissora pública, cobriu a manifestação. Até no exterior o protesto teve mais repercussão. “Leitores obrigam diário brasileiro a reconhecer seu erro em editorial”, noticiou a agência EFE.
Uma aparente autocrítica
Além da reportagem, a Folha publicou a marota autocrítica do diretor de redação, Otavio Frias Junior. “O uso da expressão ‘ditabranda’ em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana, que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis”. O recuo, porém, é aparente. O herdeiro do trono nada fala sobre o apoio do Grupo Folha ao golpe de 64 e os serviços sujos prestados à repressão fascista. E ainda insiste em desqualificar os professores Comparato e Benevides.
Como afirma Eduardo Guimarães, presidente do Movimento Sem Mídia responsável pelo ato, a reação do jornal foi lamentável: “Os textos em questão são absurdos porque dizem que a Folha errou ao qualificar a ditadura militar brasileira de ditabranda, mas reiteram e endossam a teoria que gerou o neologismo”. Ele também rejeita a exigência do jornal do “atestado ideológico” aos que discordam da sua linha: “Sou cidadão brasileiro, não cubano, chileno ou da Cochinchina”. Na essência, a Folha mantém sua linha editorial reacionária; mas, como peça de marketing, tenta preservar a máscara de jornal “plural e democrático”, para continuar iludindo os ingênuos.
A conversão de Eugênio Bucci
Neste esforço, a Folha conta com insólitos apoios. É o caso do jornalista Eugênio Bucci, que faz questão de dizer que militou no grupo trotskista Organização Socialista Internacionalista (OSI) e que dirigiu a Radiobrás no primeiro mandato do presidente Lula. Num artigo intitulado “A briga em que todos perdem”, ele tenta limpar a barra do jornal. Após se solidarizar com os professores Comparato e Benevides, ele lembra seu papel na campanha das Diretas-Já e do impeachment de Fernando Collor para enfatizar que “a democracia brasileira deve muito à Folha de S.Paulo”.
Para Eugênio Bucci, que também parece querer apagar o passado, a polêmica sobre o editorial do jornal, “assumiu proporções de movimentos radicalizados, de parte a parte... Quem ganha com a radicalização? Apenas os inimigos da democracia”. Após atacar a esquerda brasileira, que “tem seus oportunistas, ladrões, cínicos e mentirosos”, ele afirma que é um erro caracterizar a Folha “como um pilar da ditadura – ou, pior, da ‘ditabranda’. Cair nessa armadilha é uma temeridade – e até mesmo os melhores, quando movidos pela raiva repentina, embarcam nessa falácia”. Num passado recente, Bucci teria ido ao ato de repúdio; hoje, prefere relativizar os crimes dos Frias.
Numa manobra inteligente, o jornal noticiou o ato. Não deu manchete ou fotos, relatou que havia 300 pessoas – quando foram coletadas 345 assinaturas no protesto e muita gente sequer assinou a lista dos presentes – e ainda destilou seus venenos. Apesar disto, foi forçado a noticiar o protesto, reconhecendo o crime. Para acobertá-lo, contou com a cumplicidade dos outros veículos privados de comunicação, que nada falaram sobre o evento. Apenas a TV Brasil, num ponto valioso para a nova emissora pública, cobriu a manifestação. Até no exterior o protesto teve mais repercussão. “Leitores obrigam diário brasileiro a reconhecer seu erro em editorial”, noticiou a agência EFE.
Uma aparente autocrítica
Além da reportagem, a Folha publicou a marota autocrítica do diretor de redação, Otavio Frias Junior. “O uso da expressão ‘ditabranda’ em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana, que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis”. O recuo, porém, é aparente. O herdeiro do trono nada fala sobre o apoio do Grupo Folha ao golpe de 64 e os serviços sujos prestados à repressão fascista. E ainda insiste em desqualificar os professores Comparato e Benevides.
Como afirma Eduardo Guimarães, presidente do Movimento Sem Mídia responsável pelo ato, a reação do jornal foi lamentável: “Os textos em questão são absurdos porque dizem que a Folha errou ao qualificar a ditadura militar brasileira de ditabranda, mas reiteram e endossam a teoria que gerou o neologismo”. Ele também rejeita a exigência do jornal do “atestado ideológico” aos que discordam da sua linha: “Sou cidadão brasileiro, não cubano, chileno ou da Cochinchina”. Na essência, a Folha mantém sua linha editorial reacionária; mas, como peça de marketing, tenta preservar a máscara de jornal “plural e democrático”, para continuar iludindo os ingênuos.
A conversão de Eugênio Bucci
Neste esforço, a Folha conta com insólitos apoios. É o caso do jornalista Eugênio Bucci, que faz questão de dizer que militou no grupo trotskista Organização Socialista Internacionalista (OSI) e que dirigiu a Radiobrás no primeiro mandato do presidente Lula. Num artigo intitulado “A briga em que todos perdem”, ele tenta limpar a barra do jornal. Após se solidarizar com os professores Comparato e Benevides, ele lembra seu papel na campanha das Diretas-Já e do impeachment de Fernando Collor para enfatizar que “a democracia brasileira deve muito à Folha de S.Paulo”.
Para Eugênio Bucci, que também parece querer apagar o passado, a polêmica sobre o editorial do jornal, “assumiu proporções de movimentos radicalizados, de parte a parte... Quem ganha com a radicalização? Apenas os inimigos da democracia”. Após atacar a esquerda brasileira, que “tem seus oportunistas, ladrões, cínicos e mentirosos”, ele afirma que é um erro caracterizar a Folha “como um pilar da ditadura – ou, pior, da ‘ditabranda’. Cair nessa armadilha é uma temeridade – e até mesmo os melhores, quando movidos pela raiva repentina, embarcam nessa falácia”. Num passado recente, Bucci teria ido ao ato de repúdio; hoje, prefere relativizar os crimes dos Frias.
sexta-feira, 6 de março de 2009
Repúdio à Folha e os movimentos sociais
Neste sábado, às 10 horas, será realizado um ato de repúdio ao jornal Folha de S.Paulo, que num recente editorial usou o odioso neologismo de “ditabranda” para qualificar a cruel ditadura militar brasileira que prendeu, torturou e assassinou milhares de patriotas. O evento, organizado pelo Movimento dos Sem Mídia, ocorrerá em frente ao prédio do Grupo Folhas, na Alameda Barão de Limeira, 425, no centro da capital paulista. Além do ato, um manifesto de repúdio ao editorial já coletou mais de 7 mil assinaturas.
A mobilização para este protesto democrático, contra a manipulação midiática, tem sido feita basicamente através de internet. Dezenas de sítios e blogs convocam o ato, além de denunciarem a linha editorial da Folha, que se traveste de “plural e democrática”, mas que defendeu o golpe militar de 1964 e deu apoio às brutalidades do regime. Até agora, porém, observa-se pouco engajamento dos movimentos sociais. Presos às demandas do cotidiano, eles nem sempre se dão conta das lutas de caráter mais estratégico – como a batalha nevrálgica pela democratização das comunicações, contra a ditadura midiática.
Passado e presente nefastos
O problema da Folha e da maioria dos meios privados não se restringe ao passado. Com o neologismo “ditabranda”, ela apenas deu um tiro no pé e confessou o crime. A mesma atitude golpista e autoritária, embora mais nuançada, o jornal mantém nos dias atuais. O problema não é histórico, é de classe. A mídia privada defende os interesses da residual minoria capitalista e contrapõe-se aos anseios da maioria do povo, dos trabalhadores. Com recursos poderosos, ela faz de tudo para manipular corações e mentes. Ela ocupa o papel, como já disse o revolucionário italiano Antonio Gramsci, de “partido do capital”.
Uma seleção de recentes editoriais da Folha, que refletem as opiniões da Famíglia Frias, mostra que os movimentos sociais deveriam dar mais atenção ao ato de repúdio. Além da adoração ao “deus-mercado” e da crítica implacável a qualquer medida progressista do governo, o jornal se caracteriza por atacar sem piedade as organizações populares e os direitos sociais e trabalhistas:
Ódio ao MST e ao sindicalismo
- O MST é alvo recorrente. O editorial de 21 de janeiro de 2009, intitulado “Decadente aos 25”, decreta que o movimento “não amadurece”, tenta criar cizânia com o governo Lula e conclui de forma arrogante: “Encurralada pela própria decadência, o MST reage a seu modo. Desta vez, sua vanguarda de ativista recebe a ordem de avançar sobre as cidades, protagonizando mais ações estapafúrdias e desconexas. Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença e desconfiança da maioria da população”.
- Os direitos dos trabalhadores, inclusive ao emprego, também são negados. O editorial de 16 de janeiro de 2009, intitulado “Agitações de oratória”, ridiculariza o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, por ele ter criticado a onda de demissões no país. “Descontada a espuma retórica, ninguém haverá de ignorar o irrealismo da proposta de estabilidade no emprego numa situação econômica tão incerta como a atual”, pontifica o jornal, um dos apologistas do modelo neoliberal que levou a economia mundial ao desfiladeiro. Para a Famíglia Frias, os trabalhadores devem pagar o ônus da crise.
Contra os direitos trabalhistas
- Qualquer avanço na área trabalhista ou previdenciária também é rechaçado. O editorial de 7 de janeiro, “Gestão e demagogia”, critica as negociações entre governo e centrais “para substituir o fator previdenciário – sistema implantado em 1999, que estimula a postergação da aposentadoria – por regras mais brandas. Isso comprometeria as contas públicas e representaria um retrocesso num país cuja população está envelhecendo”. Já o editorial de 8 de dezembro de 2008, “Proteção excessiva”, afirma que uma das causas do desemprego e da informalidade é “a legislação trabalhista excessivamente rígida”.
Como se observa, para o jornal Folha de S.Paulo não foi apenas a ditadura militar que foi branda. O capitalismo brasileiro também é brando demais. Deveria coibir os movimentos sociais e retirar ainda mais direitos dos trabalhadores. Apesar das peças publicitárias, a Folha tem mesmo o “rabo preso com o capital”. O leitor incauto é alvo da sua manipulação e os movimentos sociais, dos seus ataques. Não dá se omitir diante deste descarado e arrojado “partido do capital”.
A mobilização para este protesto democrático, contra a manipulação midiática, tem sido feita basicamente através de internet. Dezenas de sítios e blogs convocam o ato, além de denunciarem a linha editorial da Folha, que se traveste de “plural e democrática”, mas que defendeu o golpe militar de 1964 e deu apoio às brutalidades do regime. Até agora, porém, observa-se pouco engajamento dos movimentos sociais. Presos às demandas do cotidiano, eles nem sempre se dão conta das lutas de caráter mais estratégico – como a batalha nevrálgica pela democratização das comunicações, contra a ditadura midiática.
Passado e presente nefastos
O problema da Folha e da maioria dos meios privados não se restringe ao passado. Com o neologismo “ditabranda”, ela apenas deu um tiro no pé e confessou o crime. A mesma atitude golpista e autoritária, embora mais nuançada, o jornal mantém nos dias atuais. O problema não é histórico, é de classe. A mídia privada defende os interesses da residual minoria capitalista e contrapõe-se aos anseios da maioria do povo, dos trabalhadores. Com recursos poderosos, ela faz de tudo para manipular corações e mentes. Ela ocupa o papel, como já disse o revolucionário italiano Antonio Gramsci, de “partido do capital”.
Uma seleção de recentes editoriais da Folha, que refletem as opiniões da Famíglia Frias, mostra que os movimentos sociais deveriam dar mais atenção ao ato de repúdio. Além da adoração ao “deus-mercado” e da crítica implacável a qualquer medida progressista do governo, o jornal se caracteriza por atacar sem piedade as organizações populares e os direitos sociais e trabalhistas:
Ódio ao MST e ao sindicalismo
- O MST é alvo recorrente. O editorial de 21 de janeiro de 2009, intitulado “Decadente aos 25”, decreta que o movimento “não amadurece”, tenta criar cizânia com o governo Lula e conclui de forma arrogante: “Encurralada pela própria decadência, o MST reage a seu modo. Desta vez, sua vanguarda de ativista recebe a ordem de avançar sobre as cidades, protagonizando mais ações estapafúrdias e desconexas. Enfrentará, além de mais processos judiciais, apenas a indiferença e desconfiança da maioria da população”.
- Os direitos dos trabalhadores, inclusive ao emprego, também são negados. O editorial de 16 de janeiro de 2009, intitulado “Agitações de oratória”, ridiculariza o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, por ele ter criticado a onda de demissões no país. “Descontada a espuma retórica, ninguém haverá de ignorar o irrealismo da proposta de estabilidade no emprego numa situação econômica tão incerta como a atual”, pontifica o jornal, um dos apologistas do modelo neoliberal que levou a economia mundial ao desfiladeiro. Para a Famíglia Frias, os trabalhadores devem pagar o ônus da crise.
Contra os direitos trabalhistas
- Qualquer avanço na área trabalhista ou previdenciária também é rechaçado. O editorial de 7 de janeiro, “Gestão e demagogia”, critica as negociações entre governo e centrais “para substituir o fator previdenciário – sistema implantado em 1999, que estimula a postergação da aposentadoria – por regras mais brandas. Isso comprometeria as contas públicas e representaria um retrocesso num país cuja população está envelhecendo”. Já o editorial de 8 de dezembro de 2008, “Proteção excessiva”, afirma que uma das causas do desemprego e da informalidade é “a legislação trabalhista excessivamente rígida”.
Como se observa, para o jornal Folha de S.Paulo não foi apenas a ditadura militar que foi branda. O capitalismo brasileiro também é brando demais. Deveria coibir os movimentos sociais e retirar ainda mais direitos dos trabalhadores. Apesar das peças publicitárias, a Folha tem mesmo o “rabo preso com o capital”. O leitor incauto é alvo da sua manipulação e os movimentos sociais, dos seus ataques. Não dá se omitir diante deste descarado e arrojado “partido do capital”.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Mídia tenta calar os movimentos sociais
Numa operação que parece orquestrada, a mídia hegemônica desencadeou nos últimos dias uma brutal ofensiva contra os movimentos sociais brasileiros. Cada veículo escolheu um alvo e bateu pesado. A Folha de S.Paulo, que acha que a ditadura militar foi “branda”, atacou o sindicalismo, concluindo que ele está “despreparado”, “enferrujado” e “atrelado ao governo Lula”. O Correio Braziliense destilou veneno contra a UNE, questionando, sem qualquer consistência, os recursos públicos destinados legitimamente à entidade máxima dos estudantes universitários. E todos os meios privados se somaram no ataque aos líderes do Movimento dos Sem-Terra. “Eles invadem e também matam”, esbravejou a revista Veja, que trata o MST como “bando de delinqüentes”.
Vários fatores explicam esta nova ofensiva da mídia. Como principal “partido do capital”, ela se mostra atordoada com a popularidade de Lula e teme que ele faça seu sucessor (ou sucessora) em 2010. A mídia, que já advogou o impeachment do presidente e tentou evitar a sua reeleição, não engole a idéia da continuidade do atual bloco de forças no poder. Ao criminalizar os movimentos sociais, ela visa fragilizar uma importante base de apoio, embora autônoma e crítica, do governo Lula. A ofensiva também tem caráter preventivo. A mídia teme que, com o agravamento da crise mundial capitalista, as lutas sociais se intensifiquem e empurrem o governo mais à esquerda.
Ódio à “estrutura sindical getulista”
Tanto isto é verdade que ela tenta, a todo custo, colocar uma cunha entre as organizações sociais e o governo Lula. No caso do sindicalismo, o motivo de toda sua gritaria é a conquista histórica da legalização das centrais e do direito a uma parcela da Contribuição Sindical – com recursos advindos do bolso do próprio trabalhador. Para os barões da mídia, tais conquistas “atrelam” o sindicalismo ao governo e agravam sua crise de representação. A Folha, que apoiou a ditadura quando esta interveio nos sindicatos, prendeu e matou seus dirigentes, agora prega a “autonomia sindical” e defende ações mais duras de combate ao governo. O canto de sereia é habilidoso!
Os editoriais do Estadão, Folha, Globo e de outros veículos privados revelam que a mídia nunca concordou com a legalização das centrais e nem aceitou que elas tenham recursos legítimos para investir nas suas ações. Para ela, é urgente desmontar a “estrutura sindical getulista”, liquidando a unicidade e todos os mecanismos de contribuição financeira. Quanto mais fraco e pulverizado o sindicalismo, melhor para o capital. Em especial, num momento de agravamento da crise do capitalismo, que tende a aguçar os conflitos de classe. Quanto à relação com o governo, a mídia prefere o cenário imposto por FHC, que tentou quebrar a “espinha dorsal” do sindicalismo.
Resposta certeira da UNE
O mesmo intento de desgastar os movimentos sociais e causar atritos na relação com o governo fica patente nas críticas ao movimento estudantil e ao MST. Na matéria intitulada “10 milhões para amansar a UNE”, o Correio Braziliense não esconde este objetivo maroto. Insinua que os recursos públicos são usados de forma irregular e sem transparência, mas não apresenta qualquer prova neste sentido. Ele questiona a autonomia e a legitimidade da UNE, mas não aborda as suas mobilizações e reivindicações. Deixa implícita a critica ao governo Lula por manter uma relação democrática com o movimento estudantil – talvez também saudosa dos tempos da ditadura.
Diante destes ataques gratuitos e maliciosos, a presidente da entidade, Lucia Stumpf, não vacilou em condenar a manipulação midiática. “O título da referida matéria não é justificado em nenhum fato concreto. A matéria não aponta nenhum caso em que a UNE tenha se calado e nem poderia, visto que tal comportamento não ocorreu em nenhum momento. A UNE preserva sua autonomia e independência frente a este ou a qualquer outro governo”. Após elencar as iniciativas culturais e sociais da entidade, Lucia enfrenta com coragem o debate matreiro sobre os recursos públicos e não cai na defensiva. “A UNE, assim como qualquer organização civil, tem toda a legitimidade para pleitear verbas públicas e o faz com toda responsabilidade e dentro dos parâmetros legais”.
O MST e os delinqüentes da Veja
Já no tocante ao MST, a cantilena midiática é antiga. Jornalões e emissoras de televisão insistem em pintar o movimento como ilegal, “criminoso”, que recebe verbas públicas do governo Lula. Neste coro reacionário, que despreza o papel civilizador do MST na luta pela reforma agrária, a mídia venal agora conta com o ativismo do presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes. Exacerbando nas suas atribuições, ele declarou que “o financiamento público de movimentos que cometem ilícitos é ilegal, é ilegítimo” – para deleite dos veículos privados.
Excitada, a revista Veja foi ao ápice do seu reacionarismo e indagou: “Até quando esse bando de delinqüentes terá licença para afrontar a lei?”. Num artigo rancoroso e ideologizado, afirmou que a recente onda de ocupações de terras ociosas “obedece a calendário e motivo bem definidos. Às vésperas de um ano eleitoral, MST e os congêneres querem continuar a receber vultosos repasses governamentais – o que implica a permanência do PT no governo... Por meio do embrutecimento de seus métodos ou do puro e simples banditismo, os sem-terra tentam influenciar os rumos das eleições em seu favor”. O triste é saber que este pasquim direitista ainda tem publicidade oficial!
O Berlusconi da direita nativa
João Paulo Rodrigues, membro da direção nacional do MST, também não se intimidou diante da mídia e do presidente do STF. Rechaçou a notícia divulgada pela imprensa de que o movimento recebeu R$ 40 milhões dos cofres públicos, mas explicou que as organizações vinculadas à luta pela reforma agrária recebem recursos oficiais. “Isto é legítimo e legal”. Irônico, lembrou que a ONG Alfabetização Solidária, criada pela ex-primeira dama no governo FHC, recebeu mais de R$ 330 milhões do Estado, no mais caro programa educativo do planeta. Ele citou ainda recente reportagem da revista Carta Capital, que denúncia que o Instituto Brasiliense de Direito Público, ligado ao ministro Gilmar Mendes, recebeu 2,4 milhões de verbas públicas.
Sobre o presidente do STF, João Paulo foi incisivo. “O ministro Gilmar Mendes foi transformado no mais novo líder da direita brasileira. Ágil para defender o patrimônio, mas lento para defender as vidas. Ele ataca os povos indígenas, os quilombolas, os direitos dos trabalhadores e defende os militares da ditadura. Enfim, agora a direita tem seu Berlusconi tupiniquim. Ele opina sobre tudo e sobre todos. Aliás, ele deve à opinião pública uma explicação sobre a rapidez com que soltou o banqueiro corrupto Daniel Dantas, que financia muitas campanhas eleitorais e alicia grande parte da mídia... Como líder da direita, Mendes defende os interesses da burguesia e faz intenso ataque ideológico à esquerda e aos movimentos sociais, pavimentando a retomada eleitoral da direita em 2010. José Serra não precisa se preocupar, já tem um cabo eleitoral poderoso no STF”.
Vários fatores explicam esta nova ofensiva da mídia. Como principal “partido do capital”, ela se mostra atordoada com a popularidade de Lula e teme que ele faça seu sucessor (ou sucessora) em 2010. A mídia, que já advogou o impeachment do presidente e tentou evitar a sua reeleição, não engole a idéia da continuidade do atual bloco de forças no poder. Ao criminalizar os movimentos sociais, ela visa fragilizar uma importante base de apoio, embora autônoma e crítica, do governo Lula. A ofensiva também tem caráter preventivo. A mídia teme que, com o agravamento da crise mundial capitalista, as lutas sociais se intensifiquem e empurrem o governo mais à esquerda.
Ódio à “estrutura sindical getulista”
Tanto isto é verdade que ela tenta, a todo custo, colocar uma cunha entre as organizações sociais e o governo Lula. No caso do sindicalismo, o motivo de toda sua gritaria é a conquista histórica da legalização das centrais e do direito a uma parcela da Contribuição Sindical – com recursos advindos do bolso do próprio trabalhador. Para os barões da mídia, tais conquistas “atrelam” o sindicalismo ao governo e agravam sua crise de representação. A Folha, que apoiou a ditadura quando esta interveio nos sindicatos, prendeu e matou seus dirigentes, agora prega a “autonomia sindical” e defende ações mais duras de combate ao governo. O canto de sereia é habilidoso!
Os editoriais do Estadão, Folha, Globo e de outros veículos privados revelam que a mídia nunca concordou com a legalização das centrais e nem aceitou que elas tenham recursos legítimos para investir nas suas ações. Para ela, é urgente desmontar a “estrutura sindical getulista”, liquidando a unicidade e todos os mecanismos de contribuição financeira. Quanto mais fraco e pulverizado o sindicalismo, melhor para o capital. Em especial, num momento de agravamento da crise do capitalismo, que tende a aguçar os conflitos de classe. Quanto à relação com o governo, a mídia prefere o cenário imposto por FHC, que tentou quebrar a “espinha dorsal” do sindicalismo.
Resposta certeira da UNE
O mesmo intento de desgastar os movimentos sociais e causar atritos na relação com o governo fica patente nas críticas ao movimento estudantil e ao MST. Na matéria intitulada “10 milhões para amansar a UNE”, o Correio Braziliense não esconde este objetivo maroto. Insinua que os recursos públicos são usados de forma irregular e sem transparência, mas não apresenta qualquer prova neste sentido. Ele questiona a autonomia e a legitimidade da UNE, mas não aborda as suas mobilizações e reivindicações. Deixa implícita a critica ao governo Lula por manter uma relação democrática com o movimento estudantil – talvez também saudosa dos tempos da ditadura.
Diante destes ataques gratuitos e maliciosos, a presidente da entidade, Lucia Stumpf, não vacilou em condenar a manipulação midiática. “O título da referida matéria não é justificado em nenhum fato concreto. A matéria não aponta nenhum caso em que a UNE tenha se calado e nem poderia, visto que tal comportamento não ocorreu em nenhum momento. A UNE preserva sua autonomia e independência frente a este ou a qualquer outro governo”. Após elencar as iniciativas culturais e sociais da entidade, Lucia enfrenta com coragem o debate matreiro sobre os recursos públicos e não cai na defensiva. “A UNE, assim como qualquer organização civil, tem toda a legitimidade para pleitear verbas públicas e o faz com toda responsabilidade e dentro dos parâmetros legais”.
O MST e os delinqüentes da Veja
Já no tocante ao MST, a cantilena midiática é antiga. Jornalões e emissoras de televisão insistem em pintar o movimento como ilegal, “criminoso”, que recebe verbas públicas do governo Lula. Neste coro reacionário, que despreza o papel civilizador do MST na luta pela reforma agrária, a mídia venal agora conta com o ativismo do presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes. Exacerbando nas suas atribuições, ele declarou que “o financiamento público de movimentos que cometem ilícitos é ilegal, é ilegítimo” – para deleite dos veículos privados.
Excitada, a revista Veja foi ao ápice do seu reacionarismo e indagou: “Até quando esse bando de delinqüentes terá licença para afrontar a lei?”. Num artigo rancoroso e ideologizado, afirmou que a recente onda de ocupações de terras ociosas “obedece a calendário e motivo bem definidos. Às vésperas de um ano eleitoral, MST e os congêneres querem continuar a receber vultosos repasses governamentais – o que implica a permanência do PT no governo... Por meio do embrutecimento de seus métodos ou do puro e simples banditismo, os sem-terra tentam influenciar os rumos das eleições em seu favor”. O triste é saber que este pasquim direitista ainda tem publicidade oficial!
O Berlusconi da direita nativa
João Paulo Rodrigues, membro da direção nacional do MST, também não se intimidou diante da mídia e do presidente do STF. Rechaçou a notícia divulgada pela imprensa de que o movimento recebeu R$ 40 milhões dos cofres públicos, mas explicou que as organizações vinculadas à luta pela reforma agrária recebem recursos oficiais. “Isto é legítimo e legal”. Irônico, lembrou que a ONG Alfabetização Solidária, criada pela ex-primeira dama no governo FHC, recebeu mais de R$ 330 milhões do Estado, no mais caro programa educativo do planeta. Ele citou ainda recente reportagem da revista Carta Capital, que denúncia que o Instituto Brasiliense de Direito Público, ligado ao ministro Gilmar Mendes, recebeu 2,4 milhões de verbas públicas.
Sobre o presidente do STF, João Paulo foi incisivo. “O ministro Gilmar Mendes foi transformado no mais novo líder da direita brasileira. Ágil para defender o patrimônio, mas lento para defender as vidas. Ele ataca os povos indígenas, os quilombolas, os direitos dos trabalhadores e defende os militares da ditadura. Enfim, agora a direita tem seu Berlusconi tupiniquim. Ele opina sobre tudo e sobre todos. Aliás, ele deve à opinião pública uma explicação sobre a rapidez com que soltou o banqueiro corrupto Daniel Dantas, que financia muitas campanhas eleitorais e alicia grande parte da mídia... Como líder da direita, Mendes defende os interesses da burguesia e faz intenso ataque ideológico à esquerda e aos movimentos sociais, pavimentando a retomada eleitoral da direita em 2010. José Serra não precisa se preocupar, já tem um cabo eleitoral poderoso no STF”.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Ato contra a “ditabranda” neste sábado
Neste sábado, 7 de março, às 10 horas, ocorrerá o ato de repúdio à Folha de S.Paulo, que num editorial infame qualificou a ditadura militar brasileira de “ditabranda”. Os presentes também prestarão solidariedade à professora Maria Victória Benevides e ao jurista Fábio Konder Comparato, agredidos pelo jornal, que rotulou as criticas de ambos ao editorial como “cínicas e mentirosas”. O protesto ocorrerá em frente ao prédio da Folha, na Alameda Barão de Limeira, 425, no centro da capital paulista, e reunirá familiares de presos, desaparecidos e torturados pelo regime militar, intelectuais e ativistas dos movimentos sociais e das organizações de direitos humanos.
Todos os que lutam contra a ditadura midiática têm um compromisso militante no sábado. Como afirma Eduardo Guimarães, editor do blog Cidadania, presidente do Movimento dos Sem Mídia e organizador do ato, não dá para se omitir diante da “perniciosa e ameaçadora revisão histórica perpetrada pelo editorial da Folha, num texto que relativizou a gravidade dos crimes cometidos pelo Estado entre os anos de 1964-1985, período no qual a nação sofreu a usurpação de um golpe militar ilegal e inconstitucional”. Para fustigar os inertes, ele cita um pensamento do líder negro Martin Luther King: “O que preocupa não são os gritos dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Pesadelos da Famíglia Frias
Convocado pela internet, sem qualquer logística, o ato contra a Folha pode surpreender e deixar a famíglia Frias preocupada com os disparates que difunde impunemente. Democratas de várias localidades já confirmaram presença. Manifesto de repúdio ao editorial, deflagrado por docentes da Unicamp, já reúne mais de 7 mil assinaturas – a mais recente adesão foi de Oscar Niemeyer, um símbolo da luta democrática. Como afirma o manifesto, “o estelionato semântico manifesto pelo neologismo ‘ditabranda’ é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada pela minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-64”.
O editorial da Folha, publicado nas vésperas do Carnaval, tirou a fantasia deste jornal que ainda engana alguns ingênuos com o seu falso ecletismo. Revelou que o Grupo Folhas, de propriedade da Famíglia Frias, sempre teve fortes tendências fascistizantes e golpistas. Ele clamou pelo golpe militar de 64, apoiou a linha dura dos generais golpistas e cedeu a sua estrutura para a tortura dos presos políticos. De forma habilidosa, a Folha apoiou a campanha pelas Diretas-Já, como relata o jornalista Ricardo Kotscho no livro “Do golpe ao Planalto”. Mas nunca abandonou o seu instinto golpista, como ficou patente nas suas colunas favoráveis ao impeachment do presidente Lula.
Boicote total à Folha
Diante desta trajetória, a jornalista Elaine Tavares foi certeira: “Sempre me causou espécie ver a intelectualidade de esquerda render-se ao feitiço da Folha, que insistia em dizer que era ‘o mais democrático’ ou que ‘abria espaço para a diferença’. Ora, o jornal dos Frias pode ser comparado à velha historinha do lobo que estudou na França e voltou querendo ser amigo das ovelhas. Tanto insistiu que elas foram visitá-lo. Então, já dentro da casa do lobo, ele as comeu. Uma delas, moribunda, lamentou: ‘Mas você disse que tinha mudado’. E ele, sincero: ‘Eu mudei, mas não há como mudar os hábitos alimentares’. E assim é com a Folha... São os seus hábitos alimentares”.
O editorial da Folha expressa a radicalização da direita nativa, que perde nacos do poder político e teme seu futuro – inclusive na sucessão presidencial. Diante desta exasperação, é preciso adotar medidas mais efetivas. A corajosa Maria Victória Benevides, difamada pelos estrumes da direita, já anunciou que cancelará a sua assinatura da Folha, e Elaine Tavares arrematou: “A Folha é lixo e como tal deve ser descartada. Penso eu que se cada ser humano neste país que ficou indignado com a Folha deixar de comprá-la, ela não se sustenta. Se serve à elite, que seja alimentada por ela somente”. Eu já estou cancelando a minha assinatura! Boicote total à Folha de S.Paulo.
Todos os que lutam contra a ditadura midiática têm um compromisso militante no sábado. Como afirma Eduardo Guimarães, editor do blog Cidadania, presidente do Movimento dos Sem Mídia e organizador do ato, não dá para se omitir diante da “perniciosa e ameaçadora revisão histórica perpetrada pelo editorial da Folha, num texto que relativizou a gravidade dos crimes cometidos pelo Estado entre os anos de 1964-1985, período no qual a nação sofreu a usurpação de um golpe militar ilegal e inconstitucional”. Para fustigar os inertes, ele cita um pensamento do líder negro Martin Luther King: “O que preocupa não são os gritos dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Pesadelos da Famíglia Frias
Convocado pela internet, sem qualquer logística, o ato contra a Folha pode surpreender e deixar a famíglia Frias preocupada com os disparates que difunde impunemente. Democratas de várias localidades já confirmaram presença. Manifesto de repúdio ao editorial, deflagrado por docentes da Unicamp, já reúne mais de 7 mil assinaturas – a mais recente adesão foi de Oscar Niemeyer, um símbolo da luta democrática. Como afirma o manifesto, “o estelionato semântico manifesto pelo neologismo ‘ditabranda’ é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada pela minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-64”.
O editorial da Folha, publicado nas vésperas do Carnaval, tirou a fantasia deste jornal que ainda engana alguns ingênuos com o seu falso ecletismo. Revelou que o Grupo Folhas, de propriedade da Famíglia Frias, sempre teve fortes tendências fascistizantes e golpistas. Ele clamou pelo golpe militar de 64, apoiou a linha dura dos generais golpistas e cedeu a sua estrutura para a tortura dos presos políticos. De forma habilidosa, a Folha apoiou a campanha pelas Diretas-Já, como relata o jornalista Ricardo Kotscho no livro “Do golpe ao Planalto”. Mas nunca abandonou o seu instinto golpista, como ficou patente nas suas colunas favoráveis ao impeachment do presidente Lula.
Boicote total à Folha
Diante desta trajetória, a jornalista Elaine Tavares foi certeira: “Sempre me causou espécie ver a intelectualidade de esquerda render-se ao feitiço da Folha, que insistia em dizer que era ‘o mais democrático’ ou que ‘abria espaço para a diferença’. Ora, o jornal dos Frias pode ser comparado à velha historinha do lobo que estudou na França e voltou querendo ser amigo das ovelhas. Tanto insistiu que elas foram visitá-lo. Então, já dentro da casa do lobo, ele as comeu. Uma delas, moribunda, lamentou: ‘Mas você disse que tinha mudado’. E ele, sincero: ‘Eu mudei, mas não há como mudar os hábitos alimentares’. E assim é com a Folha... São os seus hábitos alimentares”.
O editorial da Folha expressa a radicalização da direita nativa, que perde nacos do poder político e teme seu futuro – inclusive na sucessão presidencial. Diante desta exasperação, é preciso adotar medidas mais efetivas. A corajosa Maria Victória Benevides, difamada pelos estrumes da direita, já anunciou que cancelará a sua assinatura da Folha, e Elaine Tavares arrematou: “A Folha é lixo e como tal deve ser descartada. Penso eu que se cada ser humano neste país que ficou indignado com a Folha deixar de comprá-la, ela não se sustenta. Se serve à elite, que seja alimentada por ela somente”. Eu já estou cancelando a minha assinatura! Boicote total à Folha de S.Paulo.
terça-feira, 3 de março de 2009
Resposta ao provocador Mainardi
Diogo Mainardi, colunista da Veja e comentarista da TV Globo, parece que ficou irritadinho com uma postagem deste blog. Na revista estadunidense de maior circulação no Brasil, ele atacou esta página – omitido meu nome e sem dar o endereço deste blog, talvez para evitar que seus leitores leiam opiniões antagônicas as suas. Aproveitou-se de um erro de informação – que teve origem numa notícia que circulou amplamente na internet, inclusive com fotos da festança que reuniu o tucano José Serra e o colunista Arnaldo Jabor. Reconheço o erro e peço desculpas aos leitores. Não padeço da doentia vaidade do provocador global, um hitlerzinho egocêntrico.
O erro, porém, não nega as relações íntimas entre o presidenciável tucano e as “estrelas” globais. A data pode ter sido trocada, mas as relações de vassalagem só aumentaram. Arnaldo Jabor ficou ainda mais rancoroso nos seus comentários na TV Globo, tornando-se um ícone da direita nativa. Miriam Leitão, tida pelo provocador como “a melhor colunista de economia do país”, expressa as idéias neoliberais mais anacrônicas, bancadas pelos demos e rentistas. Em síntese, o erro de informação não anula a essência das críticas às posições fascistóides de Mainardi. Ele até tentou posar de jornalista “neutro”, que critica os seus cupinchas da direita midiática. Puro engodo!
A reação de Mainardi evidencia que a blogosfera incomoda os serviçais da mídia hegemônica – a Folha, que recentemente qualificou a ditadura brasileira de “ditabranda”, também está sentindo a sua força. “A internet é como uma cidadezinha no interior do Pará, assolada por parasitas que proliferam nessas zonas insalubres do Terceiro Mundo”, esbraveja este elitista, na sua linguagem tipicamente preconceituosa. A sua ira, porém, não mete medo. Mainardi é um pitbul desdentado, que late, mas não morde. Não retiro uma palavra que já disse sobre este “difamador travestido de jornalista”. Para reforçá-las, reproduzo artigo de minha autoria publicado em vários sítios em novembro de 2006:
Mainardi, o pitbul da Veja
O presidente interino do PT e ex-coordenador da campanha presidencial de Lula, Marco Aurélio Garcia, deu a resposta que estava entalada na garganta de muitos brasileiros. Na semana passada, o “colunista” Diogo Mainardi, o pitbul da revista Veja, solicitou por e-mail uma entrevista exclusiva com o dirigente petista. “Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista. Ela será apresentada integralmente”, apelou.
A resposta de Marco Aurélio foi direta: “Sr. Diogo Mainardi, há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta, que, aliás, foi republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.
Reacionário e preconceituoso convicto
Há tempos que as estripulias deste badalado jornalista da mídia hegemônica mereciam este tipo de reação. Expressão do que há de mais reacionário e preconceituoso na imprensa brasileira, este direitista convicto colecionou inúmeros adversários desde que deixou de escrever banalidades sobre cultura e passou a tratar de temas políticos na sua coluna semanal da revista Veja, na qual escreve desde 1999. Seus cinco livros – um deles sugestivamente batizado de “Contra o Brasil” – e dois filmes nunca tiveram maior repercussão, mas seus comentários rancorosos na mídia excitaram a direita nativa. Mais recentemente, ele também substituiu outro renomado elitista, Arnaldo Jabor, no programa Manhattan Connection, da Rede Globo.
Provocador contumaz, ocupou estes espaços midiáticos regiamente pagos para satanizar o governo Lula – “sou um conspirador da elite, quero derrubar Lula, só não quero ter muito trabalho” (Veja, 13/8/05) – e tudo o que tenha alguma conotação progressista. Não poupa o MST, o sindicalismo, os intelectuais e as lideranças de esquerda no país e no mundo. Apóia o genocídio dos EUA no Iraque e odeia Fidel Castro, Evo Morales e Hugo Chávez. Prepotente e egocêntrico, ele chegou se gabar de “quase ter derrubado o presidente Lula” e ficou furioso com os milhões de votos dados para a sua reeleição. A exemplo de outro ícone da “nova direita”, Reinaldo Azevedo, faz questão de explicitar a sua aversão e nojo ao povo.
“Difamador travestido de jornalista”
No meio jornalístico, Mainardi é visto como um aventureiro, um troglodita, em busca de fama e dinheiro. Também é chamado de fascista por ter criado o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promove uma cruzada leviana contra vários profissionais da imprensa. “Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou ao anunciar a estréia do seu “tribunal” na Veja em dezembro de 2005. “Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha na rua. Outro dia mesmo ela foi vista em Brasília distribuindo santinhos do PT. Paulo Henrique Amorim pertence a outra raça de lulistas. Ele é da raça dos lulistas aloprados, dos lulistas bolivarianos. Ele acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a Veja”, afirmou recentemente em sua coluna.
Esta atitude fascistóide já resultou em vários processos na Justiça de jornalistas como Mino Carta e Paulo Henrique Amorim. Mas também lhe rendeu dividendos entre os barões da mídia e a direita. No caso mais famoso e execrável, Mainardi precipitou a demissão do jornalista Franklin Martins da Rede Globo. Na guerra pública travada entre os dois, iniciada após a inclusão do segundo na lista “macartista” da Veja, a poderosa emissora preferiu ficar com o estrume da direita – uma opção de classe. Mas Franklin Martins não levou desaforo para casa. Desafiou publicamente “o difamador travestido de jornalista” a comprovar a “estapafúrdia história de que eu teria uma cota pessoal de nomeações no serviço público”, publicada na revista Veja de abril de 2006. Vale a pena reproduzir alguns trechos deste documento:
“Não tem compromisso com a verdade”
“Se qualquer um dos 81 senadores ou senadoras vier a público e afirmar que o procurei pedindo apoio me sentirei sem condições de seguir em meu trabalho como comentarista político. Pendurarei as chuteiras e irei fazer outra coisa na vida. Em contrapartida, se nenhum senador ou senadora confirmar a invencionice do Sr. Mainardi, ele deverá admitir publicamente que foi leviano e, a partir daí, poupar os leitores da Veja da coluna que assina na revista. O Sr. Mainardi topa o desafio? Se não topar, o Sr. Mainardi estará apenas confessando que não tem compromisso com a verdade e deixando claro que não passa de um difamador”.
“Nos últimos meses, semana sim, semana não, pelo menos duas dúzias [de jornalistas] foram vítimas de investidas absolutamente desrespeitosas, carregadas de insinuações capciosas contra as suas atividades e carreiras. Mas como ninguém deu pelota para os arreganhos do rapaz – nem os jornalistas, que simplesmente não o levam a sério, nem os leitores da Veja, que já se cansaram de ver um anão de jardim querendo passar-se por um gigante da crônica política –, o Sr. Mainardi decidiu aumentar o calibre de seus ataques. E partiu para a difamação pura e simples”.
“Vivemos numa democracia, felizmente. Todos têm direito a defender suas idéias, mesmo os doidivanas, e a tornar públicas as suas posições, mesmo as equivocadas. Em compensação, todos estão obrigados a aceitar que elas sejam criticadas livremente. O Sr. Mainardi, por exemplo, tem a prerrogativa de dizer as bobagens que lhe dão na telha, mas não pode ficar chateado se aparecer alguém em seguida dizendo que ele não passa de um bobo. Pode pedir a deposição do presidente Lula, mas não pode ficar amuado se alguém, por isso, chamá-lo de golpista. Pode dizer que o povo brasileiro é moralmente frouxo, mas não pode se magoar depois se alguém classificá-lo apenas como um tolo enfatuado. Ou seja, o Sr. Mainardi pode falar o que quiser, mas não pode querer impedir que os outros falem”.
“As tolices e o bobo da corte”
“Mais ainda: o Sr. Mainardi é responsável pelo que fala e escreve. Enquanto permaneceu no terreno das bobagens e das opiniões disparatadas, tudo bem. Faz parte da democracia conviver com uma cota social de tolices e, além disso, presta atenção no bobo da corte quem quer. Mas quando o bufão passa a atacar a honra alheia, substituindo as bobagens pela calúnia e as opiniões disparatadas pela difamação, seria um erro deixá-lo prosseguir na sua torpe empreitada. No Estado de Direito, existe um caminho para os que consideram que tiveram a honra atacada por um detrator: recorrer à Justiça. É o que farei nos próximos dias”.
”Desde já, adianto que, se a Justiça fixar indenizações por dano moral, o dinheiro será doado à Federação Nacional dos Jornalistas e à Associação Brasileira de Imprensa. Não quero um centavo dessa causa. Não dou tanta importância a dinheiro como o Sr. Mainardi, que já definiu seu próprio perfil: ‘Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha’. Prefiro ficar com Cláudio Abramo: ‘O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter’. Mas, para tanto, o Sr. Mainardi está incapacitado. Não porque lhe seja escassa a inteligência; simplesmente falta-lhe caráter. A história da moedinha diz tudo”.
“Mainardi envergonha os jornalistas”
O “macartismo mainardiano” já causou certa revolta no meio jornalístico – infelizmente, muito aquém do necessário. Um abaixo-assinado foi encaminhado à Central Globo de Jornalismo manifestando “o nosso protesto e preocupação com a demissão do jornalista e comentarista político Franklin Martins, um dos mais qualificados e respeitados profissionais do país. Acusado levianamente por um articulista, cuja missão ‘do momento’ parece ser unicamente agredir profissionais e intelectuais com relevantes serviços prestados ao aperfeiçoamento democrático do país, Martins não teve direito de resposta. Esperamos que a Justiça obrigue esse veículo a atender este preceito básico do jornalismo: ouvir o contraditório”.
O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal também teve a honradez de acioná-lo na Justiça por sua defesa escancarada do assassinato de Hugo Chávez, feita durante o programa Manhattan Connection de setembro de 2005. “Se o pastor protestante dos EUA, Pat Robinson, quiser realmente matar o presidente Chávez, eu ajudo”, bravateou. “Este deplorável episódio exige reflexões severas sobre o papel dos meios de comunicação e dos comunicadores sociais. Diogo Mainardi envergonha os jornalistas brasileiros com essa campanha homicida e revela a natureza intelectual, a estatura moral e o caráter de certa oposição aos dirigentes que empreendem transformações sociais no continente”, explicou a nota do sindicato.
Sua postura leviana gerou críticas até de Alberto Dines, do Observatório da Imprensa: “Diogo Mainardi é, na feliz expressão de Luís Nassif, um parajornalista. Um dos muitos revelados nestes meses de crise. Ouviram falar de Carlos Lacerda e imaginaram que basta indignação e nenhum senso de responsabilidade para ganhar o respeito dos leitores. Seus colegas na direção da Veja ofereceram-lhe uma isca e ele, faminto de reconhecimento, a abocanhou com voracidade. Quanto mais se entrega ao delírio mais se enreda na armadilha. Há poucos meses puxava o cordão dos que mais recebia mensagens; agora nem aparece no esfarrapado Oscar semanal. O leitor da Veja já não agüenta tanta fanfarronada”.
O erro, porém, não nega as relações íntimas entre o presidenciável tucano e as “estrelas” globais. A data pode ter sido trocada, mas as relações de vassalagem só aumentaram. Arnaldo Jabor ficou ainda mais rancoroso nos seus comentários na TV Globo, tornando-se um ícone da direita nativa. Miriam Leitão, tida pelo provocador como “a melhor colunista de economia do país”, expressa as idéias neoliberais mais anacrônicas, bancadas pelos demos e rentistas. Em síntese, o erro de informação não anula a essência das críticas às posições fascistóides de Mainardi. Ele até tentou posar de jornalista “neutro”, que critica os seus cupinchas da direita midiática. Puro engodo!
A reação de Mainardi evidencia que a blogosfera incomoda os serviçais da mídia hegemônica – a Folha, que recentemente qualificou a ditadura brasileira de “ditabranda”, também está sentindo a sua força. “A internet é como uma cidadezinha no interior do Pará, assolada por parasitas que proliferam nessas zonas insalubres do Terceiro Mundo”, esbraveja este elitista, na sua linguagem tipicamente preconceituosa. A sua ira, porém, não mete medo. Mainardi é um pitbul desdentado, que late, mas não morde. Não retiro uma palavra que já disse sobre este “difamador travestido de jornalista”. Para reforçá-las, reproduzo artigo de minha autoria publicado em vários sítios em novembro de 2006:
Mainardi, o pitbul da Veja
O presidente interino do PT e ex-coordenador da campanha presidencial de Lula, Marco Aurélio Garcia, deu a resposta que estava entalada na garganta de muitos brasileiros. Na semana passada, o “colunista” Diogo Mainardi, o pitbul da revista Veja, solicitou por e-mail uma entrevista exclusiva com o dirigente petista. “Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista. Ela será apresentada integralmente”, apelou.
A resposta de Marco Aurélio foi direta: “Sr. Diogo Mainardi, há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta, que, aliás, foi republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.
Reacionário e preconceituoso convicto
Há tempos que as estripulias deste badalado jornalista da mídia hegemônica mereciam este tipo de reação. Expressão do que há de mais reacionário e preconceituoso na imprensa brasileira, este direitista convicto colecionou inúmeros adversários desde que deixou de escrever banalidades sobre cultura e passou a tratar de temas políticos na sua coluna semanal da revista Veja, na qual escreve desde 1999. Seus cinco livros – um deles sugestivamente batizado de “Contra o Brasil” – e dois filmes nunca tiveram maior repercussão, mas seus comentários rancorosos na mídia excitaram a direita nativa. Mais recentemente, ele também substituiu outro renomado elitista, Arnaldo Jabor, no programa Manhattan Connection, da Rede Globo.
Provocador contumaz, ocupou estes espaços midiáticos regiamente pagos para satanizar o governo Lula – “sou um conspirador da elite, quero derrubar Lula, só não quero ter muito trabalho” (Veja, 13/8/05) – e tudo o que tenha alguma conotação progressista. Não poupa o MST, o sindicalismo, os intelectuais e as lideranças de esquerda no país e no mundo. Apóia o genocídio dos EUA no Iraque e odeia Fidel Castro, Evo Morales e Hugo Chávez. Prepotente e egocêntrico, ele chegou se gabar de “quase ter derrubado o presidente Lula” e ficou furioso com os milhões de votos dados para a sua reeleição. A exemplo de outro ícone da “nova direita”, Reinaldo Azevedo, faz questão de explicitar a sua aversão e nojo ao povo.
“Difamador travestido de jornalista”
No meio jornalístico, Mainardi é visto como um aventureiro, um troglodita, em busca de fama e dinheiro. Também é chamado de fascista por ter criado o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promove uma cruzada leviana contra vários profissionais da imprensa. “Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou ao anunciar a estréia do seu “tribunal” na Veja em dezembro de 2005. “Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha na rua. Outro dia mesmo ela foi vista em Brasília distribuindo santinhos do PT. Paulo Henrique Amorim pertence a outra raça de lulistas. Ele é da raça dos lulistas aloprados, dos lulistas bolivarianos. Ele acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a Veja”, afirmou recentemente em sua coluna.
Esta atitude fascistóide já resultou em vários processos na Justiça de jornalistas como Mino Carta e Paulo Henrique Amorim. Mas também lhe rendeu dividendos entre os barões da mídia e a direita. No caso mais famoso e execrável, Mainardi precipitou a demissão do jornalista Franklin Martins da Rede Globo. Na guerra pública travada entre os dois, iniciada após a inclusão do segundo na lista “macartista” da Veja, a poderosa emissora preferiu ficar com o estrume da direita – uma opção de classe. Mas Franklin Martins não levou desaforo para casa. Desafiou publicamente “o difamador travestido de jornalista” a comprovar a “estapafúrdia história de que eu teria uma cota pessoal de nomeações no serviço público”, publicada na revista Veja de abril de 2006. Vale a pena reproduzir alguns trechos deste documento:
“Não tem compromisso com a verdade”
“Se qualquer um dos 81 senadores ou senadoras vier a público e afirmar que o procurei pedindo apoio me sentirei sem condições de seguir em meu trabalho como comentarista político. Pendurarei as chuteiras e irei fazer outra coisa na vida. Em contrapartida, se nenhum senador ou senadora confirmar a invencionice do Sr. Mainardi, ele deverá admitir publicamente que foi leviano e, a partir daí, poupar os leitores da Veja da coluna que assina na revista. O Sr. Mainardi topa o desafio? Se não topar, o Sr. Mainardi estará apenas confessando que não tem compromisso com a verdade e deixando claro que não passa de um difamador”.
“Nos últimos meses, semana sim, semana não, pelo menos duas dúzias [de jornalistas] foram vítimas de investidas absolutamente desrespeitosas, carregadas de insinuações capciosas contra as suas atividades e carreiras. Mas como ninguém deu pelota para os arreganhos do rapaz – nem os jornalistas, que simplesmente não o levam a sério, nem os leitores da Veja, que já se cansaram de ver um anão de jardim querendo passar-se por um gigante da crônica política –, o Sr. Mainardi decidiu aumentar o calibre de seus ataques. E partiu para a difamação pura e simples”.
“Vivemos numa democracia, felizmente. Todos têm direito a defender suas idéias, mesmo os doidivanas, e a tornar públicas as suas posições, mesmo as equivocadas. Em compensação, todos estão obrigados a aceitar que elas sejam criticadas livremente. O Sr. Mainardi, por exemplo, tem a prerrogativa de dizer as bobagens que lhe dão na telha, mas não pode ficar chateado se aparecer alguém em seguida dizendo que ele não passa de um bobo. Pode pedir a deposição do presidente Lula, mas não pode ficar amuado se alguém, por isso, chamá-lo de golpista. Pode dizer que o povo brasileiro é moralmente frouxo, mas não pode se magoar depois se alguém classificá-lo apenas como um tolo enfatuado. Ou seja, o Sr. Mainardi pode falar o que quiser, mas não pode querer impedir que os outros falem”.
“As tolices e o bobo da corte”
“Mais ainda: o Sr. Mainardi é responsável pelo que fala e escreve. Enquanto permaneceu no terreno das bobagens e das opiniões disparatadas, tudo bem. Faz parte da democracia conviver com uma cota social de tolices e, além disso, presta atenção no bobo da corte quem quer. Mas quando o bufão passa a atacar a honra alheia, substituindo as bobagens pela calúnia e as opiniões disparatadas pela difamação, seria um erro deixá-lo prosseguir na sua torpe empreitada. No Estado de Direito, existe um caminho para os que consideram que tiveram a honra atacada por um detrator: recorrer à Justiça. É o que farei nos próximos dias”.
”Desde já, adianto que, se a Justiça fixar indenizações por dano moral, o dinheiro será doado à Federação Nacional dos Jornalistas e à Associação Brasileira de Imprensa. Não quero um centavo dessa causa. Não dou tanta importância a dinheiro como o Sr. Mainardi, que já definiu seu próprio perfil: ‘Hoje em dia, só dou opinião sobre algo mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um e-mail, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera de uma moedinha’. Prefiro ficar com Cláudio Abramo: ‘O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter’. Mas, para tanto, o Sr. Mainardi está incapacitado. Não porque lhe seja escassa a inteligência; simplesmente falta-lhe caráter. A história da moedinha diz tudo”.
“Mainardi envergonha os jornalistas”
O “macartismo mainardiano” já causou certa revolta no meio jornalístico – infelizmente, muito aquém do necessário. Um abaixo-assinado foi encaminhado à Central Globo de Jornalismo manifestando “o nosso protesto e preocupação com a demissão do jornalista e comentarista político Franklin Martins, um dos mais qualificados e respeitados profissionais do país. Acusado levianamente por um articulista, cuja missão ‘do momento’ parece ser unicamente agredir profissionais e intelectuais com relevantes serviços prestados ao aperfeiçoamento democrático do país, Martins não teve direito de resposta. Esperamos que a Justiça obrigue esse veículo a atender este preceito básico do jornalismo: ouvir o contraditório”.
O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal também teve a honradez de acioná-lo na Justiça por sua defesa escancarada do assassinato de Hugo Chávez, feita durante o programa Manhattan Connection de setembro de 2005. “Se o pastor protestante dos EUA, Pat Robinson, quiser realmente matar o presidente Chávez, eu ajudo”, bravateou. “Este deplorável episódio exige reflexões severas sobre o papel dos meios de comunicação e dos comunicadores sociais. Diogo Mainardi envergonha os jornalistas brasileiros com essa campanha homicida e revela a natureza intelectual, a estatura moral e o caráter de certa oposição aos dirigentes que empreendem transformações sociais no continente”, explicou a nota do sindicato.
Sua postura leviana gerou críticas até de Alberto Dines, do Observatório da Imprensa: “Diogo Mainardi é, na feliz expressão de Luís Nassif, um parajornalista. Um dos muitos revelados nestes meses de crise. Ouviram falar de Carlos Lacerda e imaginaram que basta indignação e nenhum senso de responsabilidade para ganhar o respeito dos leitores. Seus colegas na direção da Veja ofereceram-lhe uma isca e ele, faminto de reconhecimento, a abocanhou com voracidade. Quanto mais se entrega ao delírio mais se enreda na armadilha. Há poucos meses puxava o cordão dos que mais recebia mensagens; agora nem aparece no esfarrapado Oscar semanal. O leitor da Veja já não agüenta tanta fanfarronada”.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Demissões e reestatização da Embraer
Num golpe baixo, que desmascara as bravatas sobre a “responsabilidade social das empresas”, a Embraer aproveitou o feriadão de Carnaval para demitir 4.200 operários, transformando suas vidas numa prolongada “quarta-feira de cinzas”. No ano passado, sem maior alarde, ela já havia dispensado outros 700 trabalhadores. A desculpa, que já virou chavão do patronato para instalar o clima de terrorismo nas empresas, foi a da “crise mundial”. De forma truculenta, ela se recusou a receber o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e rejeitou medidas alternativas ao facão, como férias coletivas ou licença remunerada. A Embraer foi cruel e arrogante!
As demissões evidenciam toda a ganância do capital. Em 2008, ela bateu recordes de produção e venda de aviões e obteve a maior rentabilidade da sua história. Foram fabricadas 204 aeronaves e a projeção para este ano, mesmo com a alardeada crise, é de 246 unidades. No primeiro semestre, a Embraer elevou seus lucros em 73%, embolsando quase R$ 240 milhões; a sua receita superou os R$ 5 bilhões. Ou seja: a produção aumenta e os lucros crescem, mas os trabalhadores são jogados na rua; os que ficam trabalham num ritmo mais intenso e desumano. A jornada média de trabalho na empresa é de 43,5 horas semanais, a maior do setor aeronáutico no mundo.
BNDES financiou R$ 8,2 bilhões
Diante destes recordes de lucro, a alegação da Embraer não cola. Até o presidente Lula teria se irritado com as desculpas esfarrapadas. Mas isto não basta. É preciso tomar medidas duras para conter a ganância patronal. Entre outras, é urgente reavaliar a política de subsídios às empresas. Nos últimos anos, a Embraer recebeu R$ 8,2 bilhões do BNDES para ampliar a sua produção. Parte deste recurso público pode ter sido usada para instalar unidades da empresa no exterior, como a prevista em Portugal; outra pode servir agora para pagar indenização aos demitidos. Não há qualquer cláusula que obriguem as empresas subsidiadas a manterem o nível de emprego.
Outra medida que volta a ser defendida é a da reestatização da Embraer. A empresa hoje é líder mundial na produção de jatos comerciais de pequeno porte. Para alcançar este patamar, ela teve generosos subsídios públicos. A sua própria privatização, em 1995, foi bancada com recursos do BNDES, numa operação criminosa de vende-pátria do governo FHC. Como afirma o jornalista Beto Almeida, “se o Estado faz aporte de capitais para uma Embraer que destina sua produção ao exterior, ele também pode fazê-lo para recuperar o controle acionário da empresa”. Ele lembra que outros países do continente caminham nesta direção. Cristina Kirchner acaba de reestatizar a Aerolíneas Argentinas e Hugo Chávez recriou a Empresa Aérea Nacional, a antiga Viasa.
Unidade e pressão social
Para o integrante do conselho diretivo da Telesur, o momento é ideal para reverter as nefastas privatizações e para reaver o patrimônio público. A crise capitalista, agravada pela desregulação neoliberal, recoloca na ofensiva os que defendem o papel ativo do Estado e enterra os mitos do capital. “De um dia para o outro, a empresa cantada em loas como produtiva, rentável, exemplar, moderna e primeiro mundista mostra toda a sua cruel fragilidade e a sua selvageria laboral... Os recursos do BNDES, recursos dos próprios trabalhadores, agora são usados para seu sacrifício”.
É evidente que tais medidas – da contrapartida no uso dos recursos públicos ou da reestatização – dependem de forte pressão social. Apesar da aparente “irritação”, o presidente Lula não parece disposto a enfrentar o terrorismo do capital. Daí a importância dos protestos dos metalúrgicos e do apelo “à solidariedade urgente” na luta pela reintegração dos demitidos. A unidade é essencial para barrar a ofensiva do patronato. Superando sectarismos, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, expoente da Conlutas, juntou-se à Força Sindical numa audiência no Tribunal Regional do Trabalho. Também recebeu o irrestrito apoio da CTB e de outras centrais.
Nesse rumo, não ajuda em nada a guerra travada entre a Conlutas e a CUT, que a mídia patronal tem instigado descaradamente. O Painel da Folha adora estimular a divisão. A disputa por bases sindicais ou os discursos sectários contra as “traições” não ajudam a construir a unidade na luta.
As demissões evidenciam toda a ganância do capital. Em 2008, ela bateu recordes de produção e venda de aviões e obteve a maior rentabilidade da sua história. Foram fabricadas 204 aeronaves e a projeção para este ano, mesmo com a alardeada crise, é de 246 unidades. No primeiro semestre, a Embraer elevou seus lucros em 73%, embolsando quase R$ 240 milhões; a sua receita superou os R$ 5 bilhões. Ou seja: a produção aumenta e os lucros crescem, mas os trabalhadores são jogados na rua; os que ficam trabalham num ritmo mais intenso e desumano. A jornada média de trabalho na empresa é de 43,5 horas semanais, a maior do setor aeronáutico no mundo.
BNDES financiou R$ 8,2 bilhões
Diante destes recordes de lucro, a alegação da Embraer não cola. Até o presidente Lula teria se irritado com as desculpas esfarrapadas. Mas isto não basta. É preciso tomar medidas duras para conter a ganância patronal. Entre outras, é urgente reavaliar a política de subsídios às empresas. Nos últimos anos, a Embraer recebeu R$ 8,2 bilhões do BNDES para ampliar a sua produção. Parte deste recurso público pode ter sido usada para instalar unidades da empresa no exterior, como a prevista em Portugal; outra pode servir agora para pagar indenização aos demitidos. Não há qualquer cláusula que obriguem as empresas subsidiadas a manterem o nível de emprego.
Outra medida que volta a ser defendida é a da reestatização da Embraer. A empresa hoje é líder mundial na produção de jatos comerciais de pequeno porte. Para alcançar este patamar, ela teve generosos subsídios públicos. A sua própria privatização, em 1995, foi bancada com recursos do BNDES, numa operação criminosa de vende-pátria do governo FHC. Como afirma o jornalista Beto Almeida, “se o Estado faz aporte de capitais para uma Embraer que destina sua produção ao exterior, ele também pode fazê-lo para recuperar o controle acionário da empresa”. Ele lembra que outros países do continente caminham nesta direção. Cristina Kirchner acaba de reestatizar a Aerolíneas Argentinas e Hugo Chávez recriou a Empresa Aérea Nacional, a antiga Viasa.
Unidade e pressão social
Para o integrante do conselho diretivo da Telesur, o momento é ideal para reverter as nefastas privatizações e para reaver o patrimônio público. A crise capitalista, agravada pela desregulação neoliberal, recoloca na ofensiva os que defendem o papel ativo do Estado e enterra os mitos do capital. “De um dia para o outro, a empresa cantada em loas como produtiva, rentável, exemplar, moderna e primeiro mundista mostra toda a sua cruel fragilidade e a sua selvageria laboral... Os recursos do BNDES, recursos dos próprios trabalhadores, agora são usados para seu sacrifício”.
É evidente que tais medidas – da contrapartida no uso dos recursos públicos ou da reestatização – dependem de forte pressão social. Apesar da aparente “irritação”, o presidente Lula não parece disposto a enfrentar o terrorismo do capital. Daí a importância dos protestos dos metalúrgicos e do apelo “à solidariedade urgente” na luta pela reintegração dos demitidos. A unidade é essencial para barrar a ofensiva do patronato. Superando sectarismos, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, expoente da Conlutas, juntou-se à Força Sindical numa audiência no Tribunal Regional do Trabalho. Também recebeu o irrestrito apoio da CTB e de outras centrais.
Nesse rumo, não ajuda em nada a guerra travada entre a Conlutas e a CUT, que a mídia patronal tem instigado descaradamente. O Painel da Folha adora estimular a divisão. A disputa por bases sindicais ou os discursos sectários contra as “traições” não ajudam a construir a unidade na luta.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Folha e os “cães de guarda” da ditadura
O editorial da Folha de S.Paulo da semana passada, que qualificou a sanguinária ditadura militar brasileira de “ditabranda”, foi um tiro no pé. Em pleno carnaval, serviu para tirar sua fantasia de jornal eclético e plural, que até hoje engana alguns ingênuos. A balela publicitária de que a Folha “tem o rabo preso com o leitor” foi para o esgoto. Em poucos dias, dois mil leitores indignados assinaram um manifesto de repúdio ao jornal. Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, já propõe realizar um ato de protesto em frente ao prédio do Grupo Folhas, na Rua Barão de Limeira.
Da própria redação, o jornalista Fernando de Barros e Silva resolveu se indignar - infelizmente, a maioria mantém o silêncio cúmplice: “Certamente não é a primeira vez que um colunista da casa diverge da posição expressa pelo jornal em editorial. Mas é a primeira vez que este colunista se sente compelido a tornar pública sua discordância... O mundo mudou um bocado, mas ‘ditabranda’ é demais. O argumento de que, comparada a outras instaladas na América Latina, a ditadura brasileira apresentou ‘níveis baixos de violência política e institucional’ parece servir, hoje, para atenuar a percepção dos danos daquele regime de exceção”.
Indignação e silêncio cúmplice
“Algumas matam mais, outras menos, mas toda ditadura é igualmente repugnante... Se é verdade que o aparelho repressivo brasileiro produziu menos vítimas do que o chileno e o argentino, isso se deu porque a esquerda armada daqui era menos organizada e foi mais facilmente dizimada, não porque nossos militares tenham sido ‘brandos’. Quando a tortura se transforma em política de Estado, como de fato ocorreu após o AI-5, o que se tem é a ‘ditadura escancarada’, para falar como Elio Gaspari”, reagiu o editor de política da Folha na sua coluna desta terça-feira, dia 24.
É certo que Fernando de Barros dá uma no cravo e outra na ferradura, enfatizando sua concepção liberal. Democracia política sim; democracia social, nem tanto. Como ele registra, o seu protesto se dá “em nome do que aprendi durante 20 anos de Folha”. Demarcando com os que aderiram ao manifesto de repúdio, ele ataca gratuitamente Cuba, Venezuela e “os figurões e as figurinhas da esquerda nativa” com a sua “retórica igualitária” – por ironia, o mesmo argumento utilizado pela ditadura para não ser nada branca no Brasil. Apesar deste escorregão liberal, entretanto, ele pelo menos resolveu se indignar com o odioso editorial da Folha. Melhor do que o silêncio cúmplice.
“O diário oficial da Oban”
Na onda de repúdio à postura fascistóide da Folha também ressurge sua história sinistra. O livro de Beatriz Kushnir, “Cães de guarda”, renegado pelos resenhistas quando foi lançado em 2004, agora aparece como uma obra indispensável para se entender as íntimas ligações da mídia com o regime militar. Com 404 páginas, ela é resultado da tese de doutorado da historiadora carioca e foi aprovada com louvor na Unicamp. Com base em documentos oficiais e entrevistas, Kushnir prova o “colaboracionismo” dos veículos privados e de muitos jornalistas, que se tornaram “cães de guarda” da ditadura, encobrindo seus crimes e justificando o seu projeto político-econômico.
A autora dedica longo capítulo à Folha de Tarde, o principal jornal da Famíglia Frias nos anos de chumbo da repressão. Editado na época por Antonio Aggio, que depois foi assessorar o senador Romeu Tuma, ex-chefe da Polícia Federal, o jornal virou “o diário oficial da Oban” – a Operação Bandeirantes, que torturou e assassinou vários patriotas. Ele desqualificou os que lutaram contra a ditadura – Lamarca era rotulado de “louco” –; ignorou a morte do jornalista Wladimir Herzog; não deu destaque à prisão de Frei Betto, que fora da sua equipe de reportagem; e transmitiu a versão oficial sobre mortos e desaparecidos – como o do ex-metalúrgico Joaquim Seixas.
A mudança tática do discurso
Durante uma década e meia, a Folha ficou sob o comando da direita golpista e muitos dos seus jornalistas ocuparam cargos na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Tanto que passou a ser ironizada como o jornal de “maior tiragem” devido à forte presença de “tiras” (policiais) na redação. Com o fim do regime militar, a Folha da Tarde entrou em declínio e faliu; seu lugar foi ocupado pela Folha de S.Paulo. A famíglia Frias tentou esconder seu passado sujo e reciclar seu discurso. Numa entrevista ao jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Kushnir afirma que esta mudança foi tática – a empresa nunca abandonou suas posições de direita.
“Em 1977, o Boris Casoy assumiu a redação da Folha. São tirados todos os nomes dos Frias do expediente, que só vão ser recolocados no jornal em 1984, na época das Diretas. É toda uma jogada de marketing da Folha. Se você repensar hoje o Projeto Folha, ela está muito longe de qualquer análise que diga: ali tínhamos uma redação neutra. Mas as pessoas continuam lendo o projeto Folha como isso. Como um momento em que a Folha vai sair de tudo isso como se nada desse passado tivesse a ver com a família Frias, e vai entrar limpar para a história nesse momento de redemocratização do país, o que não é verdade”.
Agora, com o editorial da “ditabranda”, a Folha retoma sua verdadeira história e tira a máscara!
Da própria redação, o jornalista Fernando de Barros e Silva resolveu se indignar - infelizmente, a maioria mantém o silêncio cúmplice: “Certamente não é a primeira vez que um colunista da casa diverge da posição expressa pelo jornal em editorial. Mas é a primeira vez que este colunista se sente compelido a tornar pública sua discordância... O mundo mudou um bocado, mas ‘ditabranda’ é demais. O argumento de que, comparada a outras instaladas na América Latina, a ditadura brasileira apresentou ‘níveis baixos de violência política e institucional’ parece servir, hoje, para atenuar a percepção dos danos daquele regime de exceção”.
Indignação e silêncio cúmplice
“Algumas matam mais, outras menos, mas toda ditadura é igualmente repugnante... Se é verdade que o aparelho repressivo brasileiro produziu menos vítimas do que o chileno e o argentino, isso se deu porque a esquerda armada daqui era menos organizada e foi mais facilmente dizimada, não porque nossos militares tenham sido ‘brandos’. Quando a tortura se transforma em política de Estado, como de fato ocorreu após o AI-5, o que se tem é a ‘ditadura escancarada’, para falar como Elio Gaspari”, reagiu o editor de política da Folha na sua coluna desta terça-feira, dia 24.
É certo que Fernando de Barros dá uma no cravo e outra na ferradura, enfatizando sua concepção liberal. Democracia política sim; democracia social, nem tanto. Como ele registra, o seu protesto se dá “em nome do que aprendi durante 20 anos de Folha”. Demarcando com os que aderiram ao manifesto de repúdio, ele ataca gratuitamente Cuba, Venezuela e “os figurões e as figurinhas da esquerda nativa” com a sua “retórica igualitária” – por ironia, o mesmo argumento utilizado pela ditadura para não ser nada branca no Brasil. Apesar deste escorregão liberal, entretanto, ele pelo menos resolveu se indignar com o odioso editorial da Folha. Melhor do que o silêncio cúmplice.
“O diário oficial da Oban”
Na onda de repúdio à postura fascistóide da Folha também ressurge sua história sinistra. O livro de Beatriz Kushnir, “Cães de guarda”, renegado pelos resenhistas quando foi lançado em 2004, agora aparece como uma obra indispensável para se entender as íntimas ligações da mídia com o regime militar. Com 404 páginas, ela é resultado da tese de doutorado da historiadora carioca e foi aprovada com louvor na Unicamp. Com base em documentos oficiais e entrevistas, Kushnir prova o “colaboracionismo” dos veículos privados e de muitos jornalistas, que se tornaram “cães de guarda” da ditadura, encobrindo seus crimes e justificando o seu projeto político-econômico.
A autora dedica longo capítulo à Folha de Tarde, o principal jornal da Famíglia Frias nos anos de chumbo da repressão. Editado na época por Antonio Aggio, que depois foi assessorar o senador Romeu Tuma, ex-chefe da Polícia Federal, o jornal virou “o diário oficial da Oban” – a Operação Bandeirantes, que torturou e assassinou vários patriotas. Ele desqualificou os que lutaram contra a ditadura – Lamarca era rotulado de “louco” –; ignorou a morte do jornalista Wladimir Herzog; não deu destaque à prisão de Frei Betto, que fora da sua equipe de reportagem; e transmitiu a versão oficial sobre mortos e desaparecidos – como o do ex-metalúrgico Joaquim Seixas.
A mudança tática do discurso
Durante uma década e meia, a Folha ficou sob o comando da direita golpista e muitos dos seus jornalistas ocuparam cargos na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Tanto que passou a ser ironizada como o jornal de “maior tiragem” devido à forte presença de “tiras” (policiais) na redação. Com o fim do regime militar, a Folha da Tarde entrou em declínio e faliu; seu lugar foi ocupado pela Folha de S.Paulo. A famíglia Frias tentou esconder seu passado sujo e reciclar seu discurso. Numa entrevista ao jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Kushnir afirma que esta mudança foi tática – a empresa nunca abandonou suas posições de direita.
“Em 1977, o Boris Casoy assumiu a redação da Folha. São tirados todos os nomes dos Frias do expediente, que só vão ser recolocados no jornal em 1984, na época das Diretas. É toda uma jogada de marketing da Folha. Se você repensar hoje o Projeto Folha, ela está muito longe de qualquer análise que diga: ali tínhamos uma redação neutra. Mas as pessoas continuam lendo o projeto Folha como isso. Como um momento em que a Folha vai sair de tudo isso como se nada desse passado tivesse a ver com a família Frias, e vai entrar limpar para a história nesse momento de redemocratização do país, o que não é verdade”.
Agora, com o editorial da “ditabranda”, a Folha retoma sua verdadeira história e tira a máscara!
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
O repúdio à ditadura da Folha
Circula pela internet um manifesto, aberto à adesão dos interessados, de repúdio ao editorial da Folha de S.Paulo publicado na semana passada. Na ocasião, para desqualificar a vitória de Hugo Chávez num referendo democrático sobre a possibilidade da reeleição, o jornal da Famíglia Frias escancarou toda a sua postura autoritária, de viés fascista, ao insinuar que o governo bolivariano seria pior do que a ditadura militar brasileira que prendeu, matou e torturou milhares de patriotas entre 1964-1984. O asqueroso editorial chega a qualificar a ditadura brasileira de “ditabranda”.
Além do repúdio, a petição também presta solidariedade à professora Maria Victoria Benevides e ao jurista Fabio Konder Comparato, os primeiros a condenarem o editorial na sessão de cartas do jornal, e que foram duramente insultados pela abjeta direção da Folha. “Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de ‘ditabranda’?”, questionou Benevides. “O autor do vergonhoso editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada”, afirmou Comparato.
A resposta do jornal lembrou a reação de Bush, Cheney e Rumsfeld aos críticos de suas políticas terroristas. “A Folha respeita a opinião dos leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas delas. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio às ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa”. Juntos, o editorial fascista e a resposta arrogante indicam a urgência da coleta de adesões ao manifesto.
A íntegra do manifesto
“Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 64, os abaixo-assinados manifestam o seu mais firme e veemente repúdio a arbitrária e inverídica revisão histórica contida no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro. Ao denominar de ditabranda o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país”.
“Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história polí¬tica brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo ditabranda é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964”.
“Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a nota de redação, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro em resposta as cartas enviadas pelos professores Maria Victória de Mesquita Benevides e Fabio Konder Comparato. Sem razões ou argumentos, a Folha de S.Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis a atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal. Pela luta pertinaz e conseqüente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro”.
A história suja da famíglia Frias
O manifesto já teve a adesão de mais de mil pessoas - entre outras, do professor Antonio Candido, do jurista Goffredo da Silva Telles Jr., dos sociólogos Emir Sader e Caio Toledo e dos historiadores Augusto Buonicore e Antonio Mazzeo. Como afirma o jornalista e ex-preso político Alípio Freire, é preciso reagir às bravatas de Otavio Frias Filho, diretor editorial da Folha. “Elas não podem ser atribuídas apenas aos ‘maus bofes’ de um jovem (?) herdeiro rico, mimado, que se supõe gênio (o que diariamente lhe repete a sua corte), que não conhece limites e, portanto, é afeito a chiliques. Embora seja também isso, é muito mais, e só pode ser entendido a partir da história daquele jornal”.
Como se sabe, o Grupo Folhas sempre esteve ligado aos setores mais reacionários da sociedade. Clamou pelo golpe militar de 64 para “combater o comunismo e a república sindical de Jango”; apoiou a setor “linha dura” dos generais golpistas; cedeu suas peruas para transportar os presos políticos à tortura; e foi o jornal de “maior tiragem do país”, segundo repete Mauro Santayana, não pela quantidade de exemplares, mas sim pelo número de tiras (policiais) na redação. Neste período sombrio, Grupo Folhas também esteve envolvido em casos obscuros de corrupção, como o da antiga Rodoviária Júlio Prestes. A empresa prosperou nas masmorras da ditadura militar.
“O menino idiota chamado Otavinho”
Alípio Freire, no artigo para o jornal Brasil de Fato, cita alguns episódios marcantes da história do Grupo Folhas. Lembra o caso da jornalista Rose Nogueira, presa pelos órgãos de repressão da ditadura. “Vinte e sete anos depois [1997], descubro que fui punida não apenas pela polícia toda-poderosa... Ao buscar, agora, nos arquivos da Folha a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Dops, incomunicável, ‘abandonei’ meu emprego de repórter do jornal”, relata a jornalista, que estava de licença-maternidade quando da sua prisão ilegal e que foi demitida sem qualquer direito trabalhista da Folha.
Alípio também retoma uma pérola do renomado Mino Carta: “A Folha não só nunca foi censurada, como emprestava as suas C-14 [peruas usadas no transporte do jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban. Isso está mais do que provado. É uma das obras-primas da Folha... Hoje você vê esses anúncios do jornal – desse menino idiota chamado Otavinho – que contam de um jeito que parece que a Folha, nos anos de chumbo, sofreu muito. Ela não sofreu nada. Quando houve mínima pressão, o Sr. Frias afastou o Cláudio Abramo da direção do jornal. Digo que foi a ‘mínima pressão’ porque o Sr. Frias estava envolvido na pior das candidaturas, apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do Exército de Geisel].
Além do repúdio, a petição também presta solidariedade à professora Maria Victoria Benevides e ao jurista Fabio Konder Comparato, os primeiros a condenarem o editorial na sessão de cartas do jornal, e que foram duramente insultados pela abjeta direção da Folha. “Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de ‘ditabranda’?”, questionou Benevides. “O autor do vergonhoso editorial e o diretor que o aprovou deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça púbica e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada”, afirmou Comparato.
A resposta do jornal lembrou a reação de Bush, Cheney e Rumsfeld aos críticos de suas políticas terroristas. “A Folha respeita a opinião dos leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas delas. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio às ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa”. Juntos, o editorial fascista e a resposta arrogante indicam a urgência da coleta de adesões ao manifesto.
A íntegra do manifesto
“Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 64, os abaixo-assinados manifestam o seu mais firme e veemente repúdio a arbitrária e inverídica revisão histórica contida no editorial da Folha de S. Paulo de 17 de fevereiro. Ao denominar de ditabranda o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país”.
“Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história polí¬tica brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo ditabranda é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964”.
“Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a nota de redação, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro em resposta as cartas enviadas pelos professores Maria Victória de Mesquita Benevides e Fabio Konder Comparato. Sem razões ou argumentos, a Folha de S.Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis a atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal. Pela luta pertinaz e conseqüente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro”.
A história suja da famíglia Frias
O manifesto já teve a adesão de mais de mil pessoas - entre outras, do professor Antonio Candido, do jurista Goffredo da Silva Telles Jr., dos sociólogos Emir Sader e Caio Toledo e dos historiadores Augusto Buonicore e Antonio Mazzeo. Como afirma o jornalista e ex-preso político Alípio Freire, é preciso reagir às bravatas de Otavio Frias Filho, diretor editorial da Folha. “Elas não podem ser atribuídas apenas aos ‘maus bofes’ de um jovem (?) herdeiro rico, mimado, que se supõe gênio (o que diariamente lhe repete a sua corte), que não conhece limites e, portanto, é afeito a chiliques. Embora seja também isso, é muito mais, e só pode ser entendido a partir da história daquele jornal”.
Como se sabe, o Grupo Folhas sempre esteve ligado aos setores mais reacionários da sociedade. Clamou pelo golpe militar de 64 para “combater o comunismo e a república sindical de Jango”; apoiou a setor “linha dura” dos generais golpistas; cedeu suas peruas para transportar os presos políticos à tortura; e foi o jornal de “maior tiragem do país”, segundo repete Mauro Santayana, não pela quantidade de exemplares, mas sim pelo número de tiras (policiais) na redação. Neste período sombrio, Grupo Folhas também esteve envolvido em casos obscuros de corrupção, como o da antiga Rodoviária Júlio Prestes. A empresa prosperou nas masmorras da ditadura militar.
“O menino idiota chamado Otavinho”
Alípio Freire, no artigo para o jornal Brasil de Fato, cita alguns episódios marcantes da história do Grupo Folhas. Lembra o caso da jornalista Rose Nogueira, presa pelos órgãos de repressão da ditadura. “Vinte e sete anos depois [1997], descubro que fui punida não apenas pela polícia toda-poderosa... Ao buscar, agora, nos arquivos da Folha a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Dops, incomunicável, ‘abandonei’ meu emprego de repórter do jornal”, relata a jornalista, que estava de licença-maternidade quando da sua prisão ilegal e que foi demitida sem qualquer direito trabalhista da Folha.
Alípio também retoma uma pérola do renomado Mino Carta: “A Folha não só nunca foi censurada, como emprestava as suas C-14 [peruas usadas no transporte do jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban. Isso está mais do que provado. É uma das obras-primas da Folha... Hoje você vê esses anúncios do jornal – desse menino idiota chamado Otavinho – que contam de um jeito que parece que a Folha, nos anos de chumbo, sofreu muito. Ela não sofreu nada. Quando houve mínima pressão, o Sr. Frias afastou o Cláudio Abramo da direção do jornal. Digo que foi a ‘mínima pressão’ porque o Sr. Frias estava envolvido na pior das candidaturas, apoiava o Frota [general Sílvio Frota, ministro do Exército de Geisel].
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Mainardi pedirá a cabeça de Jabor?
Karen Kupfer, da revista de fofocas Quem, da Rede Globo, publicou há poucos dias uma notinha reveladora sobre a relação promíscua entre jornalistas e políticos: “Para comemorar o sucesso do programa Saia Justa, Suzana Villas Boas abriu sua casa no Alto de Pinheiros para uma festança daquelas. A turma de convidados, que também era recebida por Arnaldo Jabor, marido de Suzana, reuniu políticos, artistas e jornalistas. O candidato José Serra, para quem Suzana presta assessoria, foi prestigiá-la. Ficou um pouco e trocou idéias com alguns jornalistas”. Luís Frias, presidente do Grupo Folha, também participou da festança, “que ferveu na pista até o sol raiar”.
No mesmo período, a colunista Hildegard Angel escreveu no Jornal do Brasil outra nota curiosa: “Elmar Moreira, irmão de Edmar Moreira [o deputado dos demos que ficou famoso pelo castelo construído no interior mineiro], é casado com Ana Leitão, irmã de Miriam Leitão” – a jornalista da TV Globo famosa por seus palpites furados sobre economia, pela adoração ao deus-mercado e pela oposição doentia ao governo Lula. O interessante neste caso é que a colunista global, metida a sabe-tudo, nunca descreveu aos seus telespectadores os detalhes do luxuoso castelo demo.
Artista global com Kassab
Para encerrar a série sobre as relações indecentes entre jornalistas e políticos da direita, a sempre atenta Mônica Bergamo, uma das raras exceções do jornal Folha de S.Paulo, revelou no início de fevereiro: “O marido de Ana Maria Braga [estrela da TV Globo e do finado movimento golpista ‘Cansei’] é o mais novo colaborador da administração Gilberto Kassab (DEM-SP). Candidato derrotado à Câmara Municipal, Marcelo Frisoni vai assumir um cargo de ‘coordenação’ na Secretaria de Modernização, Gestão e Desburocratização” da prefeitura paulistana.
Dias antes, Bergamo foi ameaçada pelo marido brigão da artista global, que o irônico José Simão batizou de “Ana Ameba Brega”. Frisoni se irritou com a pergunta sobre o pagamento da pensão alimentícia para os dois filhos do seu casamento anterior: “Publica o que quiser. No dia seguinte, vou à redação dessa bosta de jornal e encho essa Mônica Bergamo de porrada na frente de todo mundo... A única pessoa que tentou ferrar comigo foi o Madrulha [ex-marido da apresentadora da TV Globo] e eu acabei com ele. Hoje ele é secretário de cachorro e não consegue mais nada”.
Cadê o “tribunal macartista” de Mainardi?
Deixando de lado as baixarias dos “famosos”, o que chama a atenção nestas notinhas é a relação obscena entre figurões da TV Globo e políticos da direita demo-tucana do país. Outra estrela da poderosa emissora, o filhinho de papai Diogo Mainardi, criou no início do mandato de Lula o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promoveu abjeta cruzada contra alguns profissionais da imprensa. “A minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou o troglodita na sua coluna de estréia na revista Veja, em dezembro de 2005.
Aos poucos, Mainardi dedurou alguns colunistas mais independentes. “Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha de rua. Paulo Henrique Amorim pertence à outra raça de lulistas. É da raça dos aloprados, dos lulistas bolivarianos. Acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a Veja”, atacou. O caso mais famoso desta cruzada fascista foi o do jornalista Franklin Martins, acusado levianamente de possuir uma “cota de nomeações pessoais no serviço público”. Após longo bate-boca, a TV Globo preferiu apoiar o delator direitista e demitiu Franklin Martins.
Perguntar não ofende: será que Mainardi, “difamador travestido de jornalista”, fará barulho agora contra seus amiguinhos da TV Globo que gozam das intimidades demo-tucanas. Pedirá a cabeça de Arnaldo Jabor, cuja esposa é assessora do presidenciável tucano José Serra, freqüentador de sua mansão? Criticará a “cota de nomeações pessoais no serviço público” da cansada Ana Maria Braga? Pedirá detalhes picantes do castelo dos demos à “ortodoxa” Miriam Porcão – ou melhor, Leitão? Ou todos juntos – Jabor, Leitão, Ana Maria Braga e o macartista Mainardi – fazem parte do esquemão montado pela TV Globo para viabilizar a vitória do tucano José Serra em 2010?
No mesmo período, a colunista Hildegard Angel escreveu no Jornal do Brasil outra nota curiosa: “Elmar Moreira, irmão de Edmar Moreira [o deputado dos demos que ficou famoso pelo castelo construído no interior mineiro], é casado com Ana Leitão, irmã de Miriam Leitão” – a jornalista da TV Globo famosa por seus palpites furados sobre economia, pela adoração ao deus-mercado e pela oposição doentia ao governo Lula. O interessante neste caso é que a colunista global, metida a sabe-tudo, nunca descreveu aos seus telespectadores os detalhes do luxuoso castelo demo.
Artista global com Kassab
Para encerrar a série sobre as relações indecentes entre jornalistas e políticos da direita, a sempre atenta Mônica Bergamo, uma das raras exceções do jornal Folha de S.Paulo, revelou no início de fevereiro: “O marido de Ana Maria Braga [estrela da TV Globo e do finado movimento golpista ‘Cansei’] é o mais novo colaborador da administração Gilberto Kassab (DEM-SP). Candidato derrotado à Câmara Municipal, Marcelo Frisoni vai assumir um cargo de ‘coordenação’ na Secretaria de Modernização, Gestão e Desburocratização” da prefeitura paulistana.
Dias antes, Bergamo foi ameaçada pelo marido brigão da artista global, que o irônico José Simão batizou de “Ana Ameba Brega”. Frisoni se irritou com a pergunta sobre o pagamento da pensão alimentícia para os dois filhos do seu casamento anterior: “Publica o que quiser. No dia seguinte, vou à redação dessa bosta de jornal e encho essa Mônica Bergamo de porrada na frente de todo mundo... A única pessoa que tentou ferrar comigo foi o Madrulha [ex-marido da apresentadora da TV Globo] e eu acabei com ele. Hoje ele é secretário de cachorro e não consegue mais nada”.
Cadê o “tribunal macartista” de Mainardi?
Deixando de lado as baixarias dos “famosos”, o que chama a atenção nestas notinhas é a relação obscena entre figurões da TV Globo e políticos da direita demo-tucana do país. Outra estrela da poderosa emissora, o filhinho de papai Diogo Mainardi, criou no início do mandato de Lula o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promoveu abjeta cruzada contra alguns profissionais da imprensa. “A minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou o troglodita na sua coluna de estréia na revista Veja, em dezembro de 2005.
Aos poucos, Mainardi dedurou alguns colunistas mais independentes. “Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha de rua. Paulo Henrique Amorim pertence à outra raça de lulistas. É da raça dos aloprados, dos lulistas bolivarianos. Acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a Veja”, atacou. O caso mais famoso desta cruzada fascista foi o do jornalista Franklin Martins, acusado levianamente de possuir uma “cota de nomeações pessoais no serviço público”. Após longo bate-boca, a TV Globo preferiu apoiar o delator direitista e demitiu Franklin Martins.
Perguntar não ofende: será que Mainardi, “difamador travestido de jornalista”, fará barulho agora contra seus amiguinhos da TV Globo que gozam das intimidades demo-tucanas. Pedirá a cabeça de Arnaldo Jabor, cuja esposa é assessora do presidenciável tucano José Serra, freqüentador de sua mansão? Criticará a “cota de nomeações pessoais no serviço público” da cansada Ana Maria Braga? Pedirá detalhes picantes do castelo dos demos à “ortodoxa” Miriam Porcão – ou melhor, Leitão? Ou todos juntos – Jabor, Leitão, Ana Maria Braga e o macartista Mainardi – fazem parte do esquemão montado pela TV Globo para viabilizar a vitória do tucano José Serra em 2010?
sábado, 21 de fevereiro de 2009
BBB-9 emburrece a sociedade brasileira
A nona edição do Big Brother Brasil, que estreou em 13 de janeiro, tem causado calafrios aos mercadores de ilusão da poderosa TV Globo. Ela ainda não superou a média de 36 pontos do Ibope, a terceira posição no ranking das piores audiências do BBB nas suas semanas iniciais. A primeira edição, por exemplo, atingiu 49 pontos; a quinta teve 46 pontos. Diante deste resultado, especialistas já prevêem que o reality show, criado pela firma holandesa Endemol, “não decolará no Ibope” e pode ter o seu futuro ameaçado – o que seria bastante saudável para a sociedade.
Segundo Ricardo Feltrin, colunista da UOL, o BBB-9 “exibe um viés de baixa na audiência que se intensifica desde 2004. Nas últimas cinco edições, sua média comparada caiu de 47,5 pontos para 32 – uma redução de 33% no número de telespectadores”. As inovações, como a “casa de vidro”, e os deprimentes paredões ainda não conseguiram reverter a tendência de queda. Mesmo assim, o Big Brother ainda é o líder absoluto de audiência, com o dobro de telespectadores da segunda colocada, a TV Record. Ele também supera o “Domingão do Faustão” e as telenovelas globais, estas sim em acelerado declínio, o que gera uma guerra de bastidores na Rede Globo.
Fábrica de ilusões e de dinheiro
Além disso, o BBB continua sendo uma das principais fontes de lucros da Rede Globo. Segundo o jornalista Daniel Castro, ele nem havia estreado e os seus intervalos comerciais já tinham sido completamente vendidos até o final. Estima-se que o BBB-9 renderá cerca de R$ 110 milhões à emissora – R$ 60 milhões em cotas de patrocínio e outros R$ 50 milhões em merchandising, anúncios extras, espaços vendidos na casa, assinaturas de pacotes na TV paga, etc. Ele hoje seria o produto mais rentável e lucrativo da empresa, superando as receitas com as telenovelas.
Somente com a “Loja do BBB”, a emissora já elevou em 70% os seus lucros em relação a 2008. Segundo Bárbara Sacchiello, “através da divisão Globo Marcas, a grupo mantém, há três anos, a loja hospedada no site do programa. Ao todo, são 30 produtos diferentes, entre roupões, bolsas, utensílios domésticos e até edredons com a marca BBB... A cada edição, novas peças chegam para se juntar ao portfólio do site e atrair fãs”. A novidade neste ano são os dois robôs RoBBB, que trazem imagens e sons em tempo real. Os “olhinhos” robóticos custam R$ 449,90 e R$ 169,90, respectivamente, e a emissora já teve que encomendar mais peças à fornecedora Yellow.
“Espelho fiel da vida amesquinhada”
Diante do sucesso comercial (e o que importa é lucro e não a qualidade do produto), a TV Globo já estuda prorrogar BBB-9 de 24 de março para 7 de abril. Mas o que explica este fenômeno da televisão brasileira e mundial? A psicanalista Maria Rita Kehl, no livro Videologias, escrito em conjunto com Eugênio Bucci, dá importantes pistas. “Os reality shows são a forma mais eficiente de ilusão que a cultura de massas já produziu: eles vendem aos espectadores o espelho fiel de sua vida amesquinhada sob a égide severa das ‘leis do mercado’. Eles vendem a imagem da selva em que a concorrência transforma as relações humanas. Só que elevados ao estatuto de espetáculo”.
Para ela, “o show do BBB é a festa neoliberal do cálculo, o jogo da incansável concorrência com ou sem limites éticos... Os concorrentes ao prêmio final do BBB conspiram, manipulam, traem uns aos outros – esta é a verdadeira dimensão ‘obscena’ do show – até que o mais esperto, que se apresente como o mais amável ao público, ganhe a bolada prometida. A destruição da dimensão pública da vida humana, a privatização do sentido da vida e a consagração do homem subjetivo em lugar do homem político, como o novo paradigma do melhor que nossa sociedade produziu, são os componentes secretos do sucesso desse tipo de programa”.
“Concorrência sem limites éticos”
Noutro texto, ela provoca: “É verdade que os luxuosos ‘cativeiros’ dos reality shows representam uma invasão, ainda que consentida, da privacidade dos cativos. Mas se ela é consentida, digamos que o exibicionismo dos protagonistas ultrapassa o voyeurismo das câmeras. A imprensa que acompanha o desenvolvimento desses shows afirma que a audiência se sustenta sobre o desejo do público de presenciar escândalos, brigas e cenas de sexo ‘reais’. No entanto, os escândalos são escassos, se comparados aos longos períodos em que nada digno de nota acontece”.
“Assistimos a um grupo de jovens geneticamente selecionados a gastar o seu tempo ocioso em conversas bobas, fofocas, cuidados corporais, picuinhas. O que interessa ao espectador fiel é a esperança de que a exibição, pela televisão, da banalidade de um cotidiano parecido com o seu, ponha em evidência migalhas de brilho e dê sentido que sua vida, condenada à domesticidade, não tem... A pobreza dos sonhos de fama dos que se candidatam ao cativeiro de luxo do Big Brother espelha a pobreza dos sonhos do espectador cativo, que espera o espetáculo começar”.
Em síntese, o BBB incentiva os piores instintos humanos e contribui para a idiotização da nossa pobre sociedade. “Conspirações, traições, armadilhas, estratégias descaradas para passar a perna nos companheiros e garantir a própria permanência: este é o tema do BBB”. No afã por lucros, a TV Globo pouco se importa com o conteúdo “sádico” do programa. Para ela, tudo é mercadoria. Como afirma o apresentador Pedro Bial, que renegou seu passado de jornalista sério, “tenho zero de preocupação em dar um aspecto cultural ao programa. Acho que tudo é cultura. Big Brother é tão cultura quanto Guimarães Rosa”. Haja cinismo, uma marca registrada do BBB.
Segundo Ricardo Feltrin, colunista da UOL, o BBB-9 “exibe um viés de baixa na audiência que se intensifica desde 2004. Nas últimas cinco edições, sua média comparada caiu de 47,5 pontos para 32 – uma redução de 33% no número de telespectadores”. As inovações, como a “casa de vidro”, e os deprimentes paredões ainda não conseguiram reverter a tendência de queda. Mesmo assim, o Big Brother ainda é o líder absoluto de audiência, com o dobro de telespectadores da segunda colocada, a TV Record. Ele também supera o “Domingão do Faustão” e as telenovelas globais, estas sim em acelerado declínio, o que gera uma guerra de bastidores na Rede Globo.
Fábrica de ilusões e de dinheiro
Além disso, o BBB continua sendo uma das principais fontes de lucros da Rede Globo. Segundo o jornalista Daniel Castro, ele nem havia estreado e os seus intervalos comerciais já tinham sido completamente vendidos até o final. Estima-se que o BBB-9 renderá cerca de R$ 110 milhões à emissora – R$ 60 milhões em cotas de patrocínio e outros R$ 50 milhões em merchandising, anúncios extras, espaços vendidos na casa, assinaturas de pacotes na TV paga, etc. Ele hoje seria o produto mais rentável e lucrativo da empresa, superando as receitas com as telenovelas.
Somente com a “Loja do BBB”, a emissora já elevou em 70% os seus lucros em relação a 2008. Segundo Bárbara Sacchiello, “através da divisão Globo Marcas, a grupo mantém, há três anos, a loja hospedada no site do programa. Ao todo, são 30 produtos diferentes, entre roupões, bolsas, utensílios domésticos e até edredons com a marca BBB... A cada edição, novas peças chegam para se juntar ao portfólio do site e atrair fãs”. A novidade neste ano são os dois robôs RoBBB, que trazem imagens e sons em tempo real. Os “olhinhos” robóticos custam R$ 449,90 e R$ 169,90, respectivamente, e a emissora já teve que encomendar mais peças à fornecedora Yellow.
“Espelho fiel da vida amesquinhada”
Diante do sucesso comercial (e o que importa é lucro e não a qualidade do produto), a TV Globo já estuda prorrogar BBB-9 de 24 de março para 7 de abril. Mas o que explica este fenômeno da televisão brasileira e mundial? A psicanalista Maria Rita Kehl, no livro Videologias, escrito em conjunto com Eugênio Bucci, dá importantes pistas. “Os reality shows são a forma mais eficiente de ilusão que a cultura de massas já produziu: eles vendem aos espectadores o espelho fiel de sua vida amesquinhada sob a égide severa das ‘leis do mercado’. Eles vendem a imagem da selva em que a concorrência transforma as relações humanas. Só que elevados ao estatuto de espetáculo”.
Para ela, “o show do BBB é a festa neoliberal do cálculo, o jogo da incansável concorrência com ou sem limites éticos... Os concorrentes ao prêmio final do BBB conspiram, manipulam, traem uns aos outros – esta é a verdadeira dimensão ‘obscena’ do show – até que o mais esperto, que se apresente como o mais amável ao público, ganhe a bolada prometida. A destruição da dimensão pública da vida humana, a privatização do sentido da vida e a consagração do homem subjetivo em lugar do homem político, como o novo paradigma do melhor que nossa sociedade produziu, são os componentes secretos do sucesso desse tipo de programa”.
“Concorrência sem limites éticos”
Noutro texto, ela provoca: “É verdade que os luxuosos ‘cativeiros’ dos reality shows representam uma invasão, ainda que consentida, da privacidade dos cativos. Mas se ela é consentida, digamos que o exibicionismo dos protagonistas ultrapassa o voyeurismo das câmeras. A imprensa que acompanha o desenvolvimento desses shows afirma que a audiência se sustenta sobre o desejo do público de presenciar escândalos, brigas e cenas de sexo ‘reais’. No entanto, os escândalos são escassos, se comparados aos longos períodos em que nada digno de nota acontece”.
“Assistimos a um grupo de jovens geneticamente selecionados a gastar o seu tempo ocioso em conversas bobas, fofocas, cuidados corporais, picuinhas. O que interessa ao espectador fiel é a esperança de que a exibição, pela televisão, da banalidade de um cotidiano parecido com o seu, ponha em evidência migalhas de brilho e dê sentido que sua vida, condenada à domesticidade, não tem... A pobreza dos sonhos de fama dos que se candidatam ao cativeiro de luxo do Big Brother espelha a pobreza dos sonhos do espectador cativo, que espera o espetáculo começar”.
Em síntese, o BBB incentiva os piores instintos humanos e contribui para a idiotização da nossa pobre sociedade. “Conspirações, traições, armadilhas, estratégias descaradas para passar a perna nos companheiros e garantir a própria permanência: este é o tema do BBB”. No afã por lucros, a TV Globo pouco se importa com o conteúdo “sádico” do programa. Para ela, tudo é mercadoria. Como afirma o apresentador Pedro Bial, que renegou seu passado de jornalista sério, “tenho zero de preocupação em dar um aspecto cultural ao programa. Acho que tudo é cultura. Big Brother é tão cultura quanto Guimarães Rosa”. Haja cinismo, uma marca registrada do BBB.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Mídia distorce a vitória de Chávez
A mídia brasileira, que mais parece uma sucursal dos neocons dos EUA, não engole o presidente Hugo Chávez. Nos editoriais dos jornalões e na “cobertura” das televisões – com exceção para a reportagem imparcial de Rodrigo Viana na TV Record –, o que se viu foi a tentativa de distorcer o resultado do referendo de domingo último, na qual o líder bolivariano obteve a sua 14º vitória eleitoral em dez anos de governo. Para iludir os ingênuos, ela alardeou que o pleito foi fraudado, que a oposição oligárquica “quase” venceu e que Chávez garantiu “a sua reeleição ilimitada”.
O editorial da Folha foi um dos mais deprimentes: “O rolo compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia”, afirmou – logo ela que clamou pelo golpe de 64 contra o “perigo comunista”, transportou presos políticos para a tortura e agora chama a ditadura militar de “ditabranda”. A vitória de Chávez, segundo sua análise enviesada, decorreu do uso do “dinheiro que fluiu copiosamente para as ações sociais do presidente” – ela quer que o recurso público seja usado no subsídio ao papel para suas gráficas. Animada com “a oposição revigorada e ativa”, a Folha aposta no fim do “conforto de Chávez”.
O falso rótulo de “ditador”
Outros editoriais revelaram o desconforto da mídia com a vitória de Chávez, num tom bem mais realista do que o rei. Até o “império do mal”, agora sob a direção de Barack Obama, procurou suavizar a sua ingerência agressiva, elogiando o processo de consulta democrática. A oposição direitista, que liderou um golpe em abril de 2002, um locaute patronal e várias iniciativas de desestabilização da Venezuela, também reconheceu a derrota. Mas a mídia burguesa, principal “partido do capital”, conforme a definição clássica de Antonio Gramsci, ainda esperneia e faz de tudo para manipular a opinião pública. Derrotada nas suas pretensões, ela não perde a pose.
A distorção mais descarada, estampada nas manchetes dos jornais e nas chamadas da TV, é que Chávez bancou “a sua reeleição ilimitada”. A manipulação visa carimbar no líder bolivariano o rótulo de “ditador”. O referendo, porém, não foi sobre a possibilidade de reeleição do presidente, mas de todos os mandatos. Pela constituição atual, os parlamentares têm direito a duas reeleições – no Brasil não há esta limitação; já os governadores e prefeitos só podem se reeleger uma única vez. A vitória do “si” no referendo garante a possibilidade de reeleição para todos os integrantes do executivo e do legislativo, inclusive os da oposição – e não apenas para Chávez.
Além disso, a emenda constitucional aprovada no referendo não garante a “reeleição ilimitada”, mas sim a possibilidade de disputar novamente o cargo. Caso o governante ou deputado frustre as expectativas da sociedade ele poderá ser rejeitado nas urnas. O povo é soberano. O cargo não é vitalício, como insinuam alguns “colunistas” da mídia. Quanto ao uso da máquina pública e do poder econômico, não dá para criticar apenas um dos lados. Os cinco governadores da oposição, filhotes do antigo bipartidarismo oligárquico do país, são mestres no uso da máquina pública. Já a maior parte dos ricos empresários e a mídia golpista nunca desistiram de derrotar Chávez.
A manipulação dos meios privados
No próprio referendo, o poder manipulador da mídia privada venezuelana ficou patente. Segundo pesquisas do Observatório Mundial de Mídia, encomendadas pelo Conselho Nacional Eleitoral, a campanha contra a emenda obteve 71% da cobertura nos veículos de comunicação. Já o “si” teve 29% dos noticiários. “O desequilíbrio informativo, apontado por órgãos que monitoram a mídia, colocou em desvantagem a campanha do bloco revolucionário, o que desmascara o papel de vítima da oposição”, criticou Jesse Chacón, chefe de comunicação do Comando Simon Bolívar.
Outra pesquisa, feita pela Entorno Inteligente, constatou que “de cada 100 artigos publicados na mídia impressa, 77 foram a favor do ‘no’ e 23 a favor do ‘si’. Quanto às principais cadeias de televisão, o estudo detectou que 73% das matérias foram a favor do ‘no’ e 27% a favor do ‘si’; as emissoras mais equilibradas durante a campanha eleitoral foram a Televen e a Venevisión”. Para Jesse Chacón, estes dados demonstram que “se houve algum setor privilegiado na campanha, foi o favorável ao no”. Ele também criticou a manipulação dos institutos de pesquisa, que apontaram empate técnico no referendo, sendo que a vitória do ‘si’ ficou bem acima da margem de erro.
“Péssima notícia para o império”
Diante destes fatos, por que a mídia burguesa faz tanto escarcéu com o resultado do referendo na Venezuela? Pascoal Serrano, num excelente artigo no sitio Rebelion, mostra que esse alvoroço é despropositado. “Vale lembrar que a reeleição sem limitações é reconhecida por 17 dos 27 países que integram a União Européia, sem que haja gerado polêmicas nem que estes sejam acusados de ditadura ou deterioro democrático. Basta lembrar-se de Tage Fritiof, primeiro ministro da Suécia durante 23 anos contínuos; de Helmut Kohl, chanceler da Alemanha por 16 anos seguidos; ou de Felipe Gonzáles, presidente do governo espanhol durante 14 anos sem interrupção”.
Para o renomado sociólogo argentino Atílio Boron, o motivo deste alarde é que a nova vitória de Chávez é uma “péssima notícia para o império” e a oligarquia local. “A emenda constitucional que o povo venezuelano aprovou evidencia o desespero dos adversários, de dentro e de fora, da revolução bolivariana. Eles estão conscientes de que a consolidação da liderança de Chávez e a continuidade de seu projeto reforçam os espaços da esquerda na balança política regional... Os publicistas do império e da plutocracia venezuelana afirmaram que a aprovação da emenda significaria que Chávez iria governar indefinidamente. Fiéis a sua tradição, tergiversaram sobre o que estava em discussão, procurando enganar a opinião publica”.
Boron lembra ainda que esta mesma imprensa burguesa nada fala sobre o escandaloso processo que garantiu a reeleição de Álvaro Uribe na Colômbia, “mediante ao suborno de deputados que, com o passar do tempo, confessaram o delito... Quanto à nova proposta de re-reeleição de Uribe, os falsos defensores da democracia, que tanto atacam Chávez, não divulgam que ele aprovou seu projeto numa sessão extraordinária, convocada com extrema urgência, à meia noite, diante da quase total ausência da desprevenida oposição. Mas isto é a democracia [para a mídia burguesa]. A de Chávez, que segue todos os passos que manda a legalidade vigente, é ditadura”.
O editorial da Folha foi um dos mais deprimentes: “O rolo compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia”, afirmou – logo ela que clamou pelo golpe de 64 contra o “perigo comunista”, transportou presos políticos para a tortura e agora chama a ditadura militar de “ditabranda”. A vitória de Chávez, segundo sua análise enviesada, decorreu do uso do “dinheiro que fluiu copiosamente para as ações sociais do presidente” – ela quer que o recurso público seja usado no subsídio ao papel para suas gráficas. Animada com “a oposição revigorada e ativa”, a Folha aposta no fim do “conforto de Chávez”.
O falso rótulo de “ditador”
Outros editoriais revelaram o desconforto da mídia com a vitória de Chávez, num tom bem mais realista do que o rei. Até o “império do mal”, agora sob a direção de Barack Obama, procurou suavizar a sua ingerência agressiva, elogiando o processo de consulta democrática. A oposição direitista, que liderou um golpe em abril de 2002, um locaute patronal e várias iniciativas de desestabilização da Venezuela, também reconheceu a derrota. Mas a mídia burguesa, principal “partido do capital”, conforme a definição clássica de Antonio Gramsci, ainda esperneia e faz de tudo para manipular a opinião pública. Derrotada nas suas pretensões, ela não perde a pose.
A distorção mais descarada, estampada nas manchetes dos jornais e nas chamadas da TV, é que Chávez bancou “a sua reeleição ilimitada”. A manipulação visa carimbar no líder bolivariano o rótulo de “ditador”. O referendo, porém, não foi sobre a possibilidade de reeleição do presidente, mas de todos os mandatos. Pela constituição atual, os parlamentares têm direito a duas reeleições – no Brasil não há esta limitação; já os governadores e prefeitos só podem se reeleger uma única vez. A vitória do “si” no referendo garante a possibilidade de reeleição para todos os integrantes do executivo e do legislativo, inclusive os da oposição – e não apenas para Chávez.
Além disso, a emenda constitucional aprovada no referendo não garante a “reeleição ilimitada”, mas sim a possibilidade de disputar novamente o cargo. Caso o governante ou deputado frustre as expectativas da sociedade ele poderá ser rejeitado nas urnas. O povo é soberano. O cargo não é vitalício, como insinuam alguns “colunistas” da mídia. Quanto ao uso da máquina pública e do poder econômico, não dá para criticar apenas um dos lados. Os cinco governadores da oposição, filhotes do antigo bipartidarismo oligárquico do país, são mestres no uso da máquina pública. Já a maior parte dos ricos empresários e a mídia golpista nunca desistiram de derrotar Chávez.
A manipulação dos meios privados
No próprio referendo, o poder manipulador da mídia privada venezuelana ficou patente. Segundo pesquisas do Observatório Mundial de Mídia, encomendadas pelo Conselho Nacional Eleitoral, a campanha contra a emenda obteve 71% da cobertura nos veículos de comunicação. Já o “si” teve 29% dos noticiários. “O desequilíbrio informativo, apontado por órgãos que monitoram a mídia, colocou em desvantagem a campanha do bloco revolucionário, o que desmascara o papel de vítima da oposição”, criticou Jesse Chacón, chefe de comunicação do Comando Simon Bolívar.
Outra pesquisa, feita pela Entorno Inteligente, constatou que “de cada 100 artigos publicados na mídia impressa, 77 foram a favor do ‘no’ e 23 a favor do ‘si’. Quanto às principais cadeias de televisão, o estudo detectou que 73% das matérias foram a favor do ‘no’ e 27% a favor do ‘si’; as emissoras mais equilibradas durante a campanha eleitoral foram a Televen e a Venevisión”. Para Jesse Chacón, estes dados demonstram que “se houve algum setor privilegiado na campanha, foi o favorável ao no”. Ele também criticou a manipulação dos institutos de pesquisa, que apontaram empate técnico no referendo, sendo que a vitória do ‘si’ ficou bem acima da margem de erro.
“Péssima notícia para o império”
Diante destes fatos, por que a mídia burguesa faz tanto escarcéu com o resultado do referendo na Venezuela? Pascoal Serrano, num excelente artigo no sitio Rebelion, mostra que esse alvoroço é despropositado. “Vale lembrar que a reeleição sem limitações é reconhecida por 17 dos 27 países que integram a União Européia, sem que haja gerado polêmicas nem que estes sejam acusados de ditadura ou deterioro democrático. Basta lembrar-se de Tage Fritiof, primeiro ministro da Suécia durante 23 anos contínuos; de Helmut Kohl, chanceler da Alemanha por 16 anos seguidos; ou de Felipe Gonzáles, presidente do governo espanhol durante 14 anos sem interrupção”.
Para o renomado sociólogo argentino Atílio Boron, o motivo deste alarde é que a nova vitória de Chávez é uma “péssima notícia para o império” e a oligarquia local. “A emenda constitucional que o povo venezuelano aprovou evidencia o desespero dos adversários, de dentro e de fora, da revolução bolivariana. Eles estão conscientes de que a consolidação da liderança de Chávez e a continuidade de seu projeto reforçam os espaços da esquerda na balança política regional... Os publicistas do império e da plutocracia venezuelana afirmaram que a aprovação da emenda significaria que Chávez iria governar indefinidamente. Fiéis a sua tradição, tergiversaram sobre o que estava em discussão, procurando enganar a opinião publica”.
Boron lembra ainda que esta mesma imprensa burguesa nada fala sobre o escandaloso processo que garantiu a reeleição de Álvaro Uribe na Colômbia, “mediante ao suborno de deputados que, com o passar do tempo, confessaram o delito... Quanto à nova proposta de re-reeleição de Uribe, os falsos defensores da democracia, que tanto atacam Chávez, não divulgam que ele aprovou seu projeto numa sessão extraordinária, convocada com extrema urgência, à meia noite, diante da quase total ausência da desprevenida oposição. Mas isto é a democracia [para a mídia burguesa]. A de Chávez, que segue todos os passos que manda a legalidade vigente, é ditadura”.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Battisti e o cinismo de Berlusconi
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, tem feito violenta pressão sobre o governo Lula para reverter a decisão – legal, legítima e soberana – de conceder asilo político ao escritor Cesare Battisti. O jogo é sujo, bem ao estilo do neofascista que hoje comanda a Itália. Neste esforço, ele tem o apoio de parte da mídia brasileira, sempre tão servil às potências capitalistas. A pressão é pura bravata. O midiático Berlusconi tenta reviver os piores instintos do período da “guerra fria” para alimentar falsos sentimentos nacionalistas e ofuscar os efeitos da crise econômica no país.
Um amigo ítalo-brasileiro, sempre bem informado, mas que prefere o anonimato, realizou rápida pesquisa que comprova a “dupla moral” de Berlusconi. O primeiro-ministro seria “extremamente seletivo em exercitar pressão política para obter a extradição de réus ou condenados pela justiça italiana que se encontram em outros países”. Há cerca de 50 foragidos italianos com pedidos de extradição em várias partes do mundo, mas o escarcéu nem se compara ao promovido contra o governo Lula. Entre os casos pesquisados, um é bastante revelador do cinismo de Berlusconi:
Advogado dos terroristas de direita
O caso emblemático envolve Delfo Zorzi, 62 anos, ex-líder da seita neofascista “Ordine Nuovo”, que promoveu, nos anos 60 e 70, inúmeros atentados à bomba, “beneficiando-se da proteção do serviço secreto italiano que, por sua vez, tinha ligações com as ‘operações encobertas’ da CIA no país”. A agência dos EUA implantou na Itália, na década de 50, uma rede clandestina chamada “Gládio” para realizar atentados e organizar milícias armadas. Zorzi foi condenado em primeiro grau, e depois absolvido, pelo atentado da Piazza Fontana, em Milão, em 1969, que resultou em 17 mortos e 84 feridos. Atualmente, está sendo processado pelo atentado em Brescia, em 1974, contra uma manifestação sindical antifascista, que causou oito mortes e mais de 90 feridos.
Zorzi vive há anos no Japão, onde se naturalizou e tornou-se um rico empresário do setor têxtil. “O pedido de extradição feito ao Japão jamais foi atendido, nem o governo italiano fez muito para isso. Detalhe: o defensor de Zorzi é o advogado (e deputado do ‘Forza Itália’, partido do governo) Gaetano Pecorrella, que vem a ser também um dos advogados pessoais do próprio Berlusconi. Outro detalhe: vários ex-integrantes do ‘Ordine Nuovo’ são hoje militantes da AN (o partido herdeiro dos neofascistas do Movimento Sociale Italiano – MSI) e da ‘Lega Nord’, um partido xenófobo. NA e Lega são aliados de Berlusconi e integram seu governo”.
Protetor dos agentes da CIA
Num caso mais recente, que também evidência a “dupla moral” do primeiro-ministro, juízes de Milão solicitaram, em 2006, a extradição de 26 agentes da CIA que seqüestraram o egípcio Abu Omar, acusado de ligações com Al Qaeda. Ele foi uma das vítimas da “extraordinary renditions”, as prisões ilegais efetuadas pela CIA durante a “guerra global contra o terror” patrocinada pelo ex-presidente Bush. Omar foi detido ilegalmente na Itália e torturado durante meses em prisões clandestinas. Pela lei italiana, o seqüestro é considerado uma grave violação do código penal do país e da convenção européia dos direitos humanos, que proíbe prisões ilegais e torturas. “Até agora, o governo italiano não moveu uma palha para obter a extradição dos agentes da CIA”.
Berlusconi é realmente seletivo. Não faz qualquer alarde contra os asilados políticos da extrema-direita nem contra os agentes da CIA que invadiram ilegalmente o país. Também evita confusão com os governos europeus, que nem levam a sério este fanfarrão neofascista. O barão da mídia italiana, hoje primeiro-ministro, faz escarcéu contra o Brasil, procurando desqualificar o governo e a justiça brasileira. Ele sabe que conta com o apoio da direita nativa e da mídia, que tudo fazem para atacar o presidente Lula. É puro jogo de cena, que visa reforçar as tendências fascistizantes em curso na Itália. Não é de estranhar a ironia que os romances de Battisti sejam publicados no país pela Editora Einaudi, de propriedade de Berlusconi. Ele é, de fato, um cínico midiático.
Um amigo ítalo-brasileiro, sempre bem informado, mas que prefere o anonimato, realizou rápida pesquisa que comprova a “dupla moral” de Berlusconi. O primeiro-ministro seria “extremamente seletivo em exercitar pressão política para obter a extradição de réus ou condenados pela justiça italiana que se encontram em outros países”. Há cerca de 50 foragidos italianos com pedidos de extradição em várias partes do mundo, mas o escarcéu nem se compara ao promovido contra o governo Lula. Entre os casos pesquisados, um é bastante revelador do cinismo de Berlusconi:
Advogado dos terroristas de direita
O caso emblemático envolve Delfo Zorzi, 62 anos, ex-líder da seita neofascista “Ordine Nuovo”, que promoveu, nos anos 60 e 70, inúmeros atentados à bomba, “beneficiando-se da proteção do serviço secreto italiano que, por sua vez, tinha ligações com as ‘operações encobertas’ da CIA no país”. A agência dos EUA implantou na Itália, na década de 50, uma rede clandestina chamada “Gládio” para realizar atentados e organizar milícias armadas. Zorzi foi condenado em primeiro grau, e depois absolvido, pelo atentado da Piazza Fontana, em Milão, em 1969, que resultou em 17 mortos e 84 feridos. Atualmente, está sendo processado pelo atentado em Brescia, em 1974, contra uma manifestação sindical antifascista, que causou oito mortes e mais de 90 feridos.
Zorzi vive há anos no Japão, onde se naturalizou e tornou-se um rico empresário do setor têxtil. “O pedido de extradição feito ao Japão jamais foi atendido, nem o governo italiano fez muito para isso. Detalhe: o defensor de Zorzi é o advogado (e deputado do ‘Forza Itália’, partido do governo) Gaetano Pecorrella, que vem a ser também um dos advogados pessoais do próprio Berlusconi. Outro detalhe: vários ex-integrantes do ‘Ordine Nuovo’ são hoje militantes da AN (o partido herdeiro dos neofascistas do Movimento Sociale Italiano – MSI) e da ‘Lega Nord’, um partido xenófobo. NA e Lega são aliados de Berlusconi e integram seu governo”.
Protetor dos agentes da CIA
Num caso mais recente, que também evidência a “dupla moral” do primeiro-ministro, juízes de Milão solicitaram, em 2006, a extradição de 26 agentes da CIA que seqüestraram o egípcio Abu Omar, acusado de ligações com Al Qaeda. Ele foi uma das vítimas da “extraordinary renditions”, as prisões ilegais efetuadas pela CIA durante a “guerra global contra o terror” patrocinada pelo ex-presidente Bush. Omar foi detido ilegalmente na Itália e torturado durante meses em prisões clandestinas. Pela lei italiana, o seqüestro é considerado uma grave violação do código penal do país e da convenção européia dos direitos humanos, que proíbe prisões ilegais e torturas. “Até agora, o governo italiano não moveu uma palha para obter a extradição dos agentes da CIA”.
Berlusconi é realmente seletivo. Não faz qualquer alarde contra os asilados políticos da extrema-direita nem contra os agentes da CIA que invadiram ilegalmente o país. Também evita confusão com os governos europeus, que nem levam a sério este fanfarrão neofascista. O barão da mídia italiana, hoje primeiro-ministro, faz escarcéu contra o Brasil, procurando desqualificar o governo e a justiça brasileira. Ele sabe que conta com o apoio da direita nativa e da mídia, que tudo fazem para atacar o presidente Lula. É puro jogo de cena, que visa reforçar as tendências fascistizantes em curso na Itália. Não é de estranhar a ironia que os romances de Battisti sejam publicados no país pela Editora Einaudi, de propriedade de Berlusconi. Ele é, de fato, um cínico midiático.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Salário mínimo continua mísero
Entrou em vigor no início de fevereiro o novo valor do salário mínimo nacional – que subiu de R$ 415 para R$ 465. O reajuste de 12% beneficiará 42,8 milhões de brasileiros que sobrevivem com esta miséria, entre os trabalhadores formais e informais (mais de 25 milhões), aposentados e pensionistas (17,8 milhões). Ele também incidirá sobre o seguro-desemprego, já que o benefício é vinculado desde 1992. Segundo o Ministério do Planejamento, o novo mínimo vai injetar R$ 23,1 bilhões na economia neste ano, sendo um forte fator de estímulo ao mercado interno.
De positivo, é preciso enfatizar que o presidente Lula manteve seu compromisso de campanha de valorização do salário mínimo e tem promovido os maiores reajustes das últimas quatro décadas. Nos seus seis anos de mandato, o aumento real foi de 46,05% - somando a reposição da inflação, ele cresceu 132% no período (era de R$ 200 no final do reinado de FHC). Além disso, o governo tem sustentado, apesar da gritaria do patronato, o reajuste acima da inflação, tendo como base o crescimento do PIB, e antecipa o reajuste mês a mês – cumprido acordo firmado com as centrais.
A gritaria egoísta do capital
De negativo, não dá para esconder que o salário continua mínimo, irrisório. Quando foi criado por Getúlio Vargas, em 1º de maio de 1938, ele tinha como objetivo cobrir todas as necessidades básicas dos trabalhadores. O valor atual está distante deste objetivo. Como afirma o professor da Unicamp Cláudio Dedecca, uma dos maiores especialistas no tema, o atual reajuste de 50 reais é insatisfatório. “O salário mínimo deveria ser, no mínimo, três vezes maior”. Segundo projeções do Dieese, para garantir a cesta básica a um casal com dois filhos, deveria ser de R$ 1.634,73.
Apesar das críticas, Dedecca avalia que o reajuste é uma medida eficaz de combate aos efeitos da crise capitalista. “Não tenho dúvida de que ele contribui para a sustentação do nível de atividade economia em 2009. O salário mínimo é uma medida relevante de combate à crise”. O professor da Unicamp rejeita a gritaria egoísta de parte do patronato, com dos representantes da Fiesp, que criticaram o reajuste. Para ele, o aumento real movimentará a economia e estimulará o comércio interno. “Se um setor tem um gasto maior com o reajuste do mínimo, por outro lado, uma massa maior trabalhadores passa a consumir, como no setor de alimentação, o que estimula o mercado”.
De positivo, é preciso enfatizar que o presidente Lula manteve seu compromisso de campanha de valorização do salário mínimo e tem promovido os maiores reajustes das últimas quatro décadas. Nos seus seis anos de mandato, o aumento real foi de 46,05% - somando a reposição da inflação, ele cresceu 132% no período (era de R$ 200 no final do reinado de FHC). Além disso, o governo tem sustentado, apesar da gritaria do patronato, o reajuste acima da inflação, tendo como base o crescimento do PIB, e antecipa o reajuste mês a mês – cumprido acordo firmado com as centrais.
A gritaria egoísta do capital
De negativo, não dá para esconder que o salário continua mínimo, irrisório. Quando foi criado por Getúlio Vargas, em 1º de maio de 1938, ele tinha como objetivo cobrir todas as necessidades básicas dos trabalhadores. O valor atual está distante deste objetivo. Como afirma o professor da Unicamp Cláudio Dedecca, uma dos maiores especialistas no tema, o atual reajuste de 50 reais é insatisfatório. “O salário mínimo deveria ser, no mínimo, três vezes maior”. Segundo projeções do Dieese, para garantir a cesta básica a um casal com dois filhos, deveria ser de R$ 1.634,73.
Apesar das críticas, Dedecca avalia que o reajuste é uma medida eficaz de combate aos efeitos da crise capitalista. “Não tenho dúvida de que ele contribui para a sustentação do nível de atividade economia em 2009. O salário mínimo é uma medida relevante de combate à crise”. O professor da Unicamp rejeita a gritaria egoísta de parte do patronato, com dos representantes da Fiesp, que criticaram o reajuste. Para ele, o aumento real movimentará a economia e estimulará o comércio interno. “Se um setor tem um gasto maior com o reajuste do mínimo, por outro lado, uma massa maior trabalhadores passa a consumir, como no setor de alimentação, o que estimula o mercado”.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
O castelo do demo e a merenda de Kassab
O DEM, o ex-PFL da ditadura militar, representa o que há de mais direitista e mais fisiológico na política brasileira. É o partido da oligarquia conservadora e patrimonialista, que abraçou as teses neoliberais ao aliar-se com os “modernos” rentistas do PSDB. É o partido do castelo suntuoso do deputado mineiro Edmar Moreira, que atormentou presos políticos no passado e que hoje furta as contribuições previdenciárias de funcionários de suas firmas e sonega impostos para erguer a sua fortuna. É o partido do prefeito Gilberto Kassab, marionete do presidenciável tucano José Serra, que realiza licitações irregulares e serve merendas estragadas às crianças nas escolas municipais.
Na fase recente, esta marca indelével dos demos ficou ofuscada. A mídia venal, principalmente a partir da chamada “crise do mensalão”, detonada em 2005, procurou vender a idéia de que toda a política é suja, espalhando o ceticismo e livrando a cara dos corruptos endêmicos. Ninguém ficou imune. Partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais foram lançados no monturo. Erros foram cometidos, é verdade. Mas nada se compara à ação antiética dos demos. A corrupção está no seu DNA. Agora, porém, a sujeira volta à tona, como a lama das enchentes em São Paulo, que a mídia hegemônica também tenta esconder para blindar a imagem do presidenciável tucano.
A trajetória sinistra dos demos
O caso Edmar Moreira é exemplar da trajetória sinistra dos demos. Como capitão da PM mineira na época da ditadura, ele ficou conhecido pelos óculos ray-ban com que ingressava nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”, segundo recordação do engenheiro ambiental Rogério Teixeira. Na seqüência, mudou-se para São Paulo e fundou sua empresa de segurança – hoje, possui três firmas. Na época, um dossiê entregue à Polícia Federal denunciou o empresário por não pagar o FGTS dos funcionários e por sonegação do Imposto de Renda e do INSS. Edmar ingressou na política pelas mãos dos coronéis do ex-PFL; elegeu-se deputado federal pelo PRN de Collor de Mello; migrou para o PPB de Maluf; e retornou ao PFL, hoje DEM.
Em 1999, a revista Veja denunciou o bizarro enriquecimento do político mineiro – depois, na sua obsessão em atacar o presidente Lula, ela esqueceu o passado dos demos, agora seus aliados na oposição raivosa ao governo. Segundo a reportagem, o deputado “é proprietário de um fabuloso castelo no interior de Minas Gerais. São 7.500 metros quadrados de área construída (maior que o Castelo de Neuschwanstein, nos Alpes da Baviera, que inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney), 32 suítes, dezoito salas, oito torres, 275 janelas, piscina com cascata, fontes e espelhos d’água... Estima-se que, em doze anos de obras, a construção tenha consumido 10 milhões de reais – mais do que o preço de muitos castelos de verdade no interior da França”.
Expulsão e desculpa esfarrapada
Em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (9), o presidente dos demos, Rodrigo Maia, jurou que desconhecia o passado sujo do parlamentar e anunciou sua expulsão do partido. Como leitor assíduo da Veja, a desculpa é esfarrapada. Há muito se sabia da existência do Castelo Mona Lisa, da sonegação dos impostos, da apropriação das contribuições previdenciárias dos funcionários de suas firmas de segurança e de outras maracutaias de Edmar Moreira. O risco desta mentira é que venham a público as fotos dos freqüentadores deste palácio medieval na Zona da Mata de Minas.
Um ex-servente do castelo revelou ao jornal mineiro O Tempo que “o local era freqüentado por muitos políticos e empresários”. Também disse que o castelo servia para jogos ilegais, com caça-níquel, roleta e bilhar. “Tinha um imenso cassino construído perto da torre principal do castelo”. Lembra ainda que, no final dos anos 90, “o que impressionava era a quantidade de dinheiro que os convidados perdiam. Eram notas de R$ 50 e R$ 100. O que também atraia os convidados era a adega. Tinha umas 8 mil garrafas. Uma adega enorme, climatizada. [Edmar Moreira] dizia que o vinho sempre tinha que ficar em temperaturas européias”. Ai se uma foto dessas aparece!
Restos estragados para os trabalhadores
Na mesma semana em que desmoronou o castelo do demo, outra notícia desnudou o verdadeiro caráter desde partido elitista e direitista. O Ministério Público denunciou empresas fornecedoras de merenda escolar à prefeitura da capital paulista por formação de cartel para vencer licitações e pagamento de propinas aos gestores de Gilberto Kassab. A Comercial Milano, uma das empresas envolvidas, possui antigos e estranhos vínculos com o DEM. Em 2006, ela foi alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro por praticar os mesmos crimes na gestão César Maia – pai do atual presidente dos demos. Desgastada na capital carioca, mudou-se para São Paulo.
Reportagem do Jornal da Record revelou que as refeições servidas às crianças paulistas são de péssima qualidade, feitas com alimentos podres e armazenados em áreas sem qualquer higiene. Uma cozinheira entrevistada disse que tudo é feito para reduzir o custo das merendas escolares; ela trabalha com uma máquina de calcular, selecionando os mantimentos de pior qualidade. Este é o mundo perfeito dos demos, por muito tempo ofuscado pela mídia hegemônica: restos para os filhos de trabalhadores na periferia, já que os neoliberais detestam qualquer a “gastança social”, e suntuosos castelos para os políticos corrompidos e os empresários corruptores.
Na fase recente, esta marca indelével dos demos ficou ofuscada. A mídia venal, principalmente a partir da chamada “crise do mensalão”, detonada em 2005, procurou vender a idéia de que toda a política é suja, espalhando o ceticismo e livrando a cara dos corruptos endêmicos. Ninguém ficou imune. Partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais foram lançados no monturo. Erros foram cometidos, é verdade. Mas nada se compara à ação antiética dos demos. A corrupção está no seu DNA. Agora, porém, a sujeira volta à tona, como a lama das enchentes em São Paulo, que a mídia hegemônica também tenta esconder para blindar a imagem do presidenciável tucano.
A trajetória sinistra dos demos
O caso Edmar Moreira é exemplar da trajetória sinistra dos demos. Como capitão da PM mineira na época da ditadura, ele ficou conhecido pelos óculos ray-ban com que ingressava nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”, segundo recordação do engenheiro ambiental Rogério Teixeira. Na seqüência, mudou-se para São Paulo e fundou sua empresa de segurança – hoje, possui três firmas. Na época, um dossiê entregue à Polícia Federal denunciou o empresário por não pagar o FGTS dos funcionários e por sonegação do Imposto de Renda e do INSS. Edmar ingressou na política pelas mãos dos coronéis do ex-PFL; elegeu-se deputado federal pelo PRN de Collor de Mello; migrou para o PPB de Maluf; e retornou ao PFL, hoje DEM.
Em 1999, a revista Veja denunciou o bizarro enriquecimento do político mineiro – depois, na sua obsessão em atacar o presidente Lula, ela esqueceu o passado dos demos, agora seus aliados na oposição raivosa ao governo. Segundo a reportagem, o deputado “é proprietário de um fabuloso castelo no interior de Minas Gerais. São 7.500 metros quadrados de área construída (maior que o Castelo de Neuschwanstein, nos Alpes da Baviera, que inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney), 32 suítes, dezoito salas, oito torres, 275 janelas, piscina com cascata, fontes e espelhos d’água... Estima-se que, em doze anos de obras, a construção tenha consumido 10 milhões de reais – mais do que o preço de muitos castelos de verdade no interior da França”.
Expulsão e desculpa esfarrapada
Em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (9), o presidente dos demos, Rodrigo Maia, jurou que desconhecia o passado sujo do parlamentar e anunciou sua expulsão do partido. Como leitor assíduo da Veja, a desculpa é esfarrapada. Há muito se sabia da existência do Castelo Mona Lisa, da sonegação dos impostos, da apropriação das contribuições previdenciárias dos funcionários de suas firmas de segurança e de outras maracutaias de Edmar Moreira. O risco desta mentira é que venham a público as fotos dos freqüentadores deste palácio medieval na Zona da Mata de Minas.
Um ex-servente do castelo revelou ao jornal mineiro O Tempo que “o local era freqüentado por muitos políticos e empresários”. Também disse que o castelo servia para jogos ilegais, com caça-níquel, roleta e bilhar. “Tinha um imenso cassino construído perto da torre principal do castelo”. Lembra ainda que, no final dos anos 90, “o que impressionava era a quantidade de dinheiro que os convidados perdiam. Eram notas de R$ 50 e R$ 100. O que também atraia os convidados era a adega. Tinha umas 8 mil garrafas. Uma adega enorme, climatizada. [Edmar Moreira] dizia que o vinho sempre tinha que ficar em temperaturas européias”. Ai se uma foto dessas aparece!
Restos estragados para os trabalhadores
Na mesma semana em que desmoronou o castelo do demo, outra notícia desnudou o verdadeiro caráter desde partido elitista e direitista. O Ministério Público denunciou empresas fornecedoras de merenda escolar à prefeitura da capital paulista por formação de cartel para vencer licitações e pagamento de propinas aos gestores de Gilberto Kassab. A Comercial Milano, uma das empresas envolvidas, possui antigos e estranhos vínculos com o DEM. Em 2006, ela foi alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro por praticar os mesmos crimes na gestão César Maia – pai do atual presidente dos demos. Desgastada na capital carioca, mudou-se para São Paulo.
Reportagem do Jornal da Record revelou que as refeições servidas às crianças paulistas são de péssima qualidade, feitas com alimentos podres e armazenados em áreas sem qualquer higiene. Uma cozinheira entrevistada disse que tudo é feito para reduzir o custo das merendas escolares; ela trabalha com uma máquina de calcular, selecionando os mantimentos de pior qualidade. Este é o mundo perfeito dos demos, por muito tempo ofuscado pela mídia hegemônica: restos para os filhos de trabalhadores na periferia, já que os neoliberais detestam qualquer a “gastança social”, e suntuosos castelos para os políticos corrompidos e os empresários corruptores.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
A crise mundial e o fantasma das rebeliões
“Neste momento, apesar de que se fale muito de economia, existe outro fantasma que ronda o mundo e assusta mais os seus dirigentes: o fantasma das rebeliões”. José Luís Fiori.
O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.
“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.
Tensões na América do Sul
“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.
É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.
Desilusão no coração do sistema
Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.
No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.
Desafio às forças de esquerda
A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.
Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.
O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.
“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.
Tensões na América do Sul
“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.
É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.
Desilusão no coração do sistema
Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.
No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.
Desafio às forças de esquerda
A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.
Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
O adeus ao deputado dos sem-terra
“Um homem não vale pela quantidade de discursos que fez ou pelos anos que viveu. Vale pela sua luta. E é isso que o Adão representa. Ele é um símbolo da dignidade humana”. Presidente Lula no enterro do deputado federal Adão Preto, um dos fundadores do MST.
Conheci Adão Preto nas marchas dos sem-terra e nas atividades de formação do MST. Deputado em seis legislaturas pelo PT gaúcho, ele mantinha sua simplicidade e seu jeitão de camponês. Os mandatos não lhe subiram à cabeça. Era um homem totalmente comprometido com as lutas pela reforma agrária. Vítima de pancreatite, sua morte representa sensível perda para os trabalhadores brasileiros. O discurso do presidente Lula, com lagrimas nos olhos, durante seu sepultamento em Porto Alegre, na sexta-feira, expressa bem os valores de Adão Preto, o deputado dos sem-terra.
Ele iniciou sua militância no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miraguaí, influenciado pelas idéias da “teologia da libertação” da Comissão Pastoral da Terra (CPT). No final dos anos 80, ele ajudou a construir o Movimento dos Sem Terra (MST), atuando na ocupação da Fazenda Anoni, em Sarandi (RS). João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, lembra que seu primeiro contato com Adão Preto se deu há mais de 30 anos, quando ele era líder da comunidade e ministro da eucaristia na Diocese de Frederico. Vale registrar as sentidas lembranças de Stedile:
Garra e coerência na militância
“Frei Sergio Gorgen o apresentou fazendo boas referências, de que se tratava de um pequeno agricultor, lutador, honesto, trabalhador, pai de nove filhos. Naqueles tempos de ditadura militar era difícil encontrar pessoas corajosas que se dispusessem a defender o interesse da comunidade. Desde o início o admirei por sua sensibilidade social, sua coerência e franqueza. Nos encontros, ele costumava colocar em versos singelos as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política... O tempo foi passando e, em 1986, organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do Sul, na Fazenda Anoni, com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava Adão Preto”.
“Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado camponês a tomar posse na Assembléia Legislativa. Uma grande vitória do movimento camponês do Rio Grande do Sul. No início, colunistas da imprensa burguesa riram de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio na ação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e dos sem-terra que impactou a sociedade e que lhe deu o Prêmio Springer de melhor deputado. Depois se elegeu deputado federal, defendendo com a mesma coerência e garra os interesses da classe trabalhadora. Adão Preto não era um parlamentar padrão. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais e as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denúncias. Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou”.
“Hábitos simples e idéias refinadas”
A morte de Adão Preto entristece todos os lutadores sociais. Deixa uma grande lacuna. De todas as partes, líderes políticos e populares manifestaram pesar. Em discurso no plenário da Câmara Federal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) lamentou a morte de seu colega de parlamento. “A Câmara perdeu um combatente e o Brasil, um patriota. Homem de hábitos simples, mas de idéias refinadas, ele pautou sua ação pela defesa intransigente da ampliação da democracia em todos os níveis”, afirmou. Para o comunista, Adão Preto se notabilizou pela luta contra “uma das chagas mais renitentes da formação social brasileira, a concentração da posse da terra”.
Conheci Adão Preto nas marchas dos sem-terra e nas atividades de formação do MST. Deputado em seis legislaturas pelo PT gaúcho, ele mantinha sua simplicidade e seu jeitão de camponês. Os mandatos não lhe subiram à cabeça. Era um homem totalmente comprometido com as lutas pela reforma agrária. Vítima de pancreatite, sua morte representa sensível perda para os trabalhadores brasileiros. O discurso do presidente Lula, com lagrimas nos olhos, durante seu sepultamento em Porto Alegre, na sexta-feira, expressa bem os valores de Adão Preto, o deputado dos sem-terra.
Ele iniciou sua militância no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miraguaí, influenciado pelas idéias da “teologia da libertação” da Comissão Pastoral da Terra (CPT). No final dos anos 80, ele ajudou a construir o Movimento dos Sem Terra (MST), atuando na ocupação da Fazenda Anoni, em Sarandi (RS). João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, lembra que seu primeiro contato com Adão Preto se deu há mais de 30 anos, quando ele era líder da comunidade e ministro da eucaristia na Diocese de Frederico. Vale registrar as sentidas lembranças de Stedile:
Garra e coerência na militância
“Frei Sergio Gorgen o apresentou fazendo boas referências, de que se tratava de um pequeno agricultor, lutador, honesto, trabalhador, pai de nove filhos. Naqueles tempos de ditadura militar era difícil encontrar pessoas corajosas que se dispusessem a defender o interesse da comunidade. Desde o início o admirei por sua sensibilidade social, sua coerência e franqueza. Nos encontros, ele costumava colocar em versos singelos as idéias que matutava e as avaliações que fazia da política... O tempo foi passando e, em 1986, organizamos a maior ocupação de terras no Rio Grande do Sul, na Fazenda Anoni, com mais de 2,5 mil famílias. E lá estava Adão Preto”.
“Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado estadual. Seria o primeiro deputado camponês a tomar posse na Assembléia Legislativa. Uma grande vitória do movimento camponês do Rio Grande do Sul. No início, colunistas da imprensa burguesa riram de seu pouco estudo, afinal tinha apenas a terceira série do primário. A resposta veio na ação exemplar em defesa dos pequenos agricultores e dos sem-terra que impactou a sociedade e que lhe deu o Prêmio Springer de melhor deputado. Depois se elegeu deputado federal, defendendo com a mesma coerência e garra os interesses da classe trabalhadora. Adão Preto não era um parlamentar padrão. Não gostava da tribuna. Mas estava presente em todas as lutas sociais e as fazia repercutir no parlamento, na forma de leis ou de denúncias. Sempre o mesmo. Simples. Com uma coerência impressionante. Nunca titubeou”.
“Hábitos simples e idéias refinadas”
A morte de Adão Preto entristece todos os lutadores sociais. Deixa uma grande lacuna. De todas as partes, líderes políticos e populares manifestaram pesar. Em discurso no plenário da Câmara Federal, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) lamentou a morte de seu colega de parlamento. “A Câmara perdeu um combatente e o Brasil, um patriota. Homem de hábitos simples, mas de idéias refinadas, ele pautou sua ação pela defesa intransigente da ampliação da democracia em todos os níveis”, afirmou. Para o comunista, Adão Preto se notabilizou pela luta contra “uma das chagas mais renitentes da formação social brasileira, a concentração da posse da terra”.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Cesare Battisti e a conspiração da CIA
A oposição de direita e sua mídia têm aproveitado o caso Cesare Battisti para atacar o presidente Lula, que num gesto soberano e legítimo deu asilo político ao escritor italiano. Todas as noites, o casal global do Jornal Nacional apimenta as críticas, bem diferente da postura adotada quando do exílio do ditador paraguaio Alfredo Strossner. Já os jornais Folha e Estadão publicaram editoriais insinuando que o ministro da Justiça, Tarso Genro, teria simpatias por “terroristas de esquerda”. Até a revista Carta Capital, um veículo progressista, reforçou estranhamente o coro crítico.
Parlamentares tucanos e demos, estes egressos do partido da ditadura militar brasileira, fizeram questão de se solidarizar com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, o barão da mídia, que numa reação midiática retirou seu embaixador de Brasília. Caraduras, afirmam que a Itália é um exemplo de democracia para justificar o envio do escritor à prisão perpétua neste país. Nada falam sobre a trajetória ultradireitista de Berlusconi, das suas alianças com partidos neofascistas ou da recente medida do seu governo que impede que ele seja julgado por crimes de corrupção.
“Um bode expiatório conveniente”
O caso Cesare Battisti é complexo, mas não justifica a gritaria da direita servil e da mídia venal. França e Japão já deram asilo político aos condenados pela justiça italiana e não houve o mesmo alarde. O bufão Berlusconi e o processo jurídico neste país não são levados muito a sério. Como apontou Maria Inês Nassif, num excelente artigo no jornal Valor, Battisti foi condenado à prisão perpétua sem qualquer direito de defesa. As testemunhas que o acusaram de quatro assassinatos gozam da delação premiada e há indícios de que uma foi torturada. Dois dos citados homicídios foram cometidos no mesmo dia 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distancia um do outro.
“[Battisti] nunca esteve num tribunal para defender-se das acusações e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz”, afirma a colunista no artigo “Um bode expiatório conveniente à Itália”. Para ela, “diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos poucos afeitos à ordem democrática”.
EUA subornam políticos e jornalistas
O livro recém-lançado “Legado de cinzas, uma história da CIA”, do jornalista estadunidense Tim Weiner, vencedor do prêmio Pulitzer, confirma a tese de Maria Inês Nassif de que o período em que Battisti participou da luta armada, nos anos 70, foi um dos mais tumultuados e sombrios da história recente da Itália. O clima era de guerra. Com base em inúmeros documentos oficiais, o autor demonstra que o serviço de espionagem e terrorismo dos EUA teve participação ativa no processo político italiano, financiando partidos da direita e realizando ações de sabotagem.
“A CIA gastou vinte anos e pelos menos US$ 65 milhões comprando influência em Roma, Milão e Nápoles”. McGeorge Bundy, diretor da agência, chamou o programa de ações secretas na Itália de ‘a vergonha anual’. Thomas Fina, cônsul-geral dos EUA em Milão durante o governo Nixon, confessou que a CIA subsidiou o partido democrata-cristão e deu milhões de dólares para bancar “a publicação de livros, o conteúdo de programas de rádio, subsidiando jornais e jornalistas”. Ele se jacta que “tinha recursos financeiros, recursos políticos, amigos e habilidade para chantagear”.
Nutro trecho, Tim Weiner revela que a ingerência ianque se intensificou a partir de 1970. “Com aprovação formal da Casa Branca, houve a distribuição de US$ 25 milhões a democratas cristãos e neofascistas italianos. O dinheiro foi dividido na ‘sala dos fundos’ – o posto da CIA no interior da suntuosa embaixada americana”. Giulio Andreotti “venceu a eleição com injeção de dinheiro da CIA. O financiamento secreto da extrema direita fomentou o fracassado golpe neofascista em 1970. O dinheiro ajudou a financiar as operações secretas da direita – incluindo bombardeios terroristas, que a inteligência italiana atribuiu à extrema esquerda”. Como se nota, não houve inocentes neste período sombrio, nem a mídia corrompida pela CIA.
Parlamentares tucanos e demos, estes egressos do partido da ditadura militar brasileira, fizeram questão de se solidarizar com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, o barão da mídia, que numa reação midiática retirou seu embaixador de Brasília. Caraduras, afirmam que a Itália é um exemplo de democracia para justificar o envio do escritor à prisão perpétua neste país. Nada falam sobre a trajetória ultradireitista de Berlusconi, das suas alianças com partidos neofascistas ou da recente medida do seu governo que impede que ele seja julgado por crimes de corrupção.
“Um bode expiatório conveniente”
O caso Cesare Battisti é complexo, mas não justifica a gritaria da direita servil e da mídia venal. França e Japão já deram asilo político aos condenados pela justiça italiana e não houve o mesmo alarde. O bufão Berlusconi e o processo jurídico neste país não são levados muito a sério. Como apontou Maria Inês Nassif, num excelente artigo no jornal Valor, Battisti foi condenado à prisão perpétua sem qualquer direito de defesa. As testemunhas que o acusaram de quatro assassinatos gozam da delação premiada e há indícios de que uma foi torturada. Dois dos citados homicídios foram cometidos no mesmo dia 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distancia um do outro.
“[Battisti] nunca esteve num tribunal para defender-se das acusações e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz”, afirma a colunista no artigo “Um bode expiatório conveniente à Itália”. Para ela, “diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos poucos afeitos à ordem democrática”.
EUA subornam políticos e jornalistas
O livro recém-lançado “Legado de cinzas, uma história da CIA”, do jornalista estadunidense Tim Weiner, vencedor do prêmio Pulitzer, confirma a tese de Maria Inês Nassif de que o período em que Battisti participou da luta armada, nos anos 70, foi um dos mais tumultuados e sombrios da história recente da Itália. O clima era de guerra. Com base em inúmeros documentos oficiais, o autor demonstra que o serviço de espionagem e terrorismo dos EUA teve participação ativa no processo político italiano, financiando partidos da direita e realizando ações de sabotagem.
“A CIA gastou vinte anos e pelos menos US$ 65 milhões comprando influência em Roma, Milão e Nápoles”. McGeorge Bundy, diretor da agência, chamou o programa de ações secretas na Itália de ‘a vergonha anual’. Thomas Fina, cônsul-geral dos EUA em Milão durante o governo Nixon, confessou que a CIA subsidiou o partido democrata-cristão e deu milhões de dólares para bancar “a publicação de livros, o conteúdo de programas de rádio, subsidiando jornais e jornalistas”. Ele se jacta que “tinha recursos financeiros, recursos políticos, amigos e habilidade para chantagear”.
Nutro trecho, Tim Weiner revela que a ingerência ianque se intensificou a partir de 1970. “Com aprovação formal da Casa Branca, houve a distribuição de US$ 25 milhões a democratas cristãos e neofascistas italianos. O dinheiro foi dividido na ‘sala dos fundos’ – o posto da CIA no interior da suntuosa embaixada americana”. Giulio Andreotti “venceu a eleição com injeção de dinheiro da CIA. O financiamento secreto da extrema direita fomentou o fracassado golpe neofascista em 1970. O dinheiro ajudou a financiar as operações secretas da direita – incluindo bombardeios terroristas, que a inteligência italiana atribuiu à extrema esquerda”. Como se nota, não houve inocentes neste período sombrio, nem a mídia corrompida pela CIA.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Roberto Freire vira aspone de Kassab
Até Ricardo Noblat, colunista do jornal O Globo, registrou a fato curioso no seu blog, replicando um artigo de José Dirceu intitulado “Roberto Freire recebe jetons da prefeitura”. Ele informa que o “presidente nacional do PPS, que posa e gosta de se apresentar como paladino da moralidade no país, recebe jetons no valor de R$ 12 mil mensais da prefeitura de São Paulo pela participação em dois conselhos municipais – Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) e SP-Turismo... O conselheiro assina atas de reuniões a que não comparece, com o agravante de que é integrante da turma do falso moralismo, da turma dos gigolôs da ética alheia”.
A denúncia apareceu primeiro no Jornal da Tarde, no final de janeiro, num texto de Fábio Leite. Ele revelou que Roberto Freire é uma das 58 pessoas beneficiadas pela política de contratação de “conselheiros”, implantada em 2005 na gestão do José Serra, atual governador e o presidenciável preferido das elites. Reeleito, o demo Gilberto Kassab, pau-mandado do tucano, manteve o jetom do chefão do PPS. O texto do JT afirma que esta “bondade administrativa” visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais. Apesar da gravidade da denúncia, que lembra o tal “mensalão”, as emissoras de televisão e os jornalões não fizeram qualquer alarde, outra prova de que a mídia está totalmente engajada no retorno do bloco liberal-conservador ao poder.
A formalidade da fusão PPS-PSDB
O ex-deputado federal e atual presidente do PPS tem sido muito paparicado por tucanos e demos. Desde o final dos anos 80, quando da desintegração do bloco soviético, ele acelerou sua guinada à direita, convertendo-se num apologista do capitalismo. Após implodir o antigo “partidão”, ele virou líder do governo neoliberal de FHC e um expoente do projeto de privatização e desmonte do Estado. No governo Lula, tornou-se um raivoso opositor, posando de vestal da ética. Chegou a defender o impeachment do presidente, acusando-o de estar metido no escândalo do mensalão – logo ele que, ironicamente, recebe jetons da prefeitura paulistana e reside em Pernambuco.
Essa conversão direitista desidratou o PPS, partido que Roberto Freire comanda como um velho coronel. Nas eleições de 2006, este agrupamento híbrido sofreu as maiores baixas, perdendo 188 prefeituras e milhares de vereadores. Diante do baque, ele passou a defender a extinção do PPS e o seu ingresso no PSDB, vestindo de vez a roupagem tucana. Em novembro passado, José Serra fez o convite formal para a adesão, num jantar em Brasília oferecido à cúpula “socialista”. Ficou acertado que os dois partidos deverão se fundir até o final do primeiro semestre deste ano. “O PPS conversa há muito tempo com o PSDB. Precisamos montar um agrupamento político forte para a era pós-Lula”, relatou, na ocasião, o deputado Nelson Proença, seguidor de Freire.
Escândalo e indignação nas bases
Segundo Pedro Venceslau, num artigo para revista Fórum intitulado “tucanos de bico vermelho”, a fusão não terá maior impacto no mundo político. “Na prática, não passa de mera formalidade. Desde a eleição de Lula, os dois partidos mantêm relação para lá de carnal. Indignam-se juntos e assinam notas, manifestos e repúdios, em geral ao lado do DEM, sempre que surge um gancho contra o governo federal”. Mas, com base nas sondagens do jornalista, a fusão deverá produzir abalos no interior do PPS. Setores que ainda se identificam com a esquerda estão muito inquietos com a perda total de autonomia da legenda que ainda conserva o “socialismo” no nome.
A ex-candidata à prefeita do partido, Sonia Francine, já havia sido cooptada por Gilberto Kassab para a subprefeitura da Cidade Tiradentes. Agora, é o próprio Roberto Freire que vira aspone do prefeito demo. Se a mídia fosse isenta, o escândalo seria devastador. Afinal, os 58 “conselheiros” causam um rombo de R$ 4,17 milhões aos cofres públicos. Os jetons elevam, de forma ilegal, os salários de 15 secretários municipais e bancam aliados políticos que nem sequer moram em São Paulo. Diante destas maracutaias, será difícil manter o falso discurso da ética. Os militantes mais sadios do PPS devem, realmente, ficar indignados. Do contrário, jogarão o seu passado no lixo.
A denúncia apareceu primeiro no Jornal da Tarde, no final de janeiro, num texto de Fábio Leite. Ele revelou que Roberto Freire é uma das 58 pessoas beneficiadas pela política de contratação de “conselheiros”, implantada em 2005 na gestão do José Serra, atual governador e o presidenciável preferido das elites. Reeleito, o demo Gilberto Kassab, pau-mandado do tucano, manteve o jetom do chefão do PPS. O texto do JT afirma que esta “bondade administrativa” visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais. Apesar da gravidade da denúncia, que lembra o tal “mensalão”, as emissoras de televisão e os jornalões não fizeram qualquer alarde, outra prova de que a mídia está totalmente engajada no retorno do bloco liberal-conservador ao poder.
A formalidade da fusão PPS-PSDB
O ex-deputado federal e atual presidente do PPS tem sido muito paparicado por tucanos e demos. Desde o final dos anos 80, quando da desintegração do bloco soviético, ele acelerou sua guinada à direita, convertendo-se num apologista do capitalismo. Após implodir o antigo “partidão”, ele virou líder do governo neoliberal de FHC e um expoente do projeto de privatização e desmonte do Estado. No governo Lula, tornou-se um raivoso opositor, posando de vestal da ética. Chegou a defender o impeachment do presidente, acusando-o de estar metido no escândalo do mensalão – logo ele que, ironicamente, recebe jetons da prefeitura paulistana e reside em Pernambuco.
Essa conversão direitista desidratou o PPS, partido que Roberto Freire comanda como um velho coronel. Nas eleições de 2006, este agrupamento híbrido sofreu as maiores baixas, perdendo 188 prefeituras e milhares de vereadores. Diante do baque, ele passou a defender a extinção do PPS e o seu ingresso no PSDB, vestindo de vez a roupagem tucana. Em novembro passado, José Serra fez o convite formal para a adesão, num jantar em Brasília oferecido à cúpula “socialista”. Ficou acertado que os dois partidos deverão se fundir até o final do primeiro semestre deste ano. “O PPS conversa há muito tempo com o PSDB. Precisamos montar um agrupamento político forte para a era pós-Lula”, relatou, na ocasião, o deputado Nelson Proença, seguidor de Freire.
Escândalo e indignação nas bases
Segundo Pedro Venceslau, num artigo para revista Fórum intitulado “tucanos de bico vermelho”, a fusão não terá maior impacto no mundo político. “Na prática, não passa de mera formalidade. Desde a eleição de Lula, os dois partidos mantêm relação para lá de carnal. Indignam-se juntos e assinam notas, manifestos e repúdios, em geral ao lado do DEM, sempre que surge um gancho contra o governo federal”. Mas, com base nas sondagens do jornalista, a fusão deverá produzir abalos no interior do PPS. Setores que ainda se identificam com a esquerda estão muito inquietos com a perda total de autonomia da legenda que ainda conserva o “socialismo” no nome.
A ex-candidata à prefeita do partido, Sonia Francine, já havia sido cooptada por Gilberto Kassab para a subprefeitura da Cidade Tiradentes. Agora, é o próprio Roberto Freire que vira aspone do prefeito demo. Se a mídia fosse isenta, o escândalo seria devastador. Afinal, os 58 “conselheiros” causam um rombo de R$ 4,17 milhões aos cofres públicos. Os jetons elevam, de forma ilegal, os salários de 15 secretários municipais e bancam aliados políticos que nem sequer moram em São Paulo. Diante destas maracutaias, será difícil manter o falso discurso da ética. Os militantes mais sadios do PPS devem, realmente, ficar indignados. Do contrário, jogarão o seu passado no lixo.
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