Reproduzo artigo de Bia Barbosa, publicado no sítio Carta Maior:
Desde 2009, quando o tema da regulação e controle social da mídia ganhou espaço no debate público nacional com a realização da I Conferência Nacional de Comunicação, os grandes meios têm dedicado espaço considerável em suas páginas ou telejornais para bradar, sem cessar, que a liberdade de expressão está ameaçada no país. Foi esta a tônica da cobertura das resoluções da I Confecom; tem sido este um dos motivos para os ataques da imprensa ao Programa Nacional de Direitos Humanos; e foi este o discurso professado sem constrangimentos pelas entidades apoiadoras do Instituto Millenium, que recentemente realizou um seminário em São Paulo onde os donos da mídia garantiram que há censura estatal no Brasil.
No entanto, em um outro seminário, também realizado em São Paulo, esta semana, desta vez no Memorial da América Latina, o debate sobre liberdade de expressão ganhou outros contornos. E deixou claro que os limites e supostas ameaças a este direito fundamental em nosso país são de outra ordem e têm raízes muito mais profundas do que querem nos fazer crer os grandes empresários da comunicação.
Numa palestra elucidadora, o pesquisador e ex-professor da Universidade de Brasília, Venício Lima, apontou o sistema de concessões e renovação das outorgas de rádio e televisão como um lócus privilegiado para a manutenção de interesses privados – disfarçados de públicos –, que na prática caracteriza uma das maiores ameaças à liberdade de expressão no país. Segundo Lima, o funcionamento das concessões de radiodifusão no Brasil gerou um fenômeno agora conhecido por “coronelismo eletrônico”, só que em vez do controle da terra, como acontecia na República Velha, hoje é o controle dos meios de comunicação de massa que leva seus proprietários ao controle político de diferentes regiões do país.
“Não é novidade que os políticos locais tenham vínculos com a mídia, não apenas no nordeste. São governadores, deputados estaduais, senadores, que formam verdadeiras oligarquias regionais. Os nomes também são conhecidos: Sarney, Garibaldi, Collor, Magalhães, Jereissati etc”, conta Venício Lima. “A moeda de troca continua sendo o voto, mas agora com base no controle da informação e na influência da opinião pública. A recompensa é antecipada aos coronéis pelas outorgas de rádio e TV, que depois são renovadas automaticamente”, explica.
Segundo o pesquisador, há uma série de normas e procedimentos legais das concessões que têm permitido e perpetuado essa situação, ameaçadora para a liberdade de expressão do conjunto da população brasileira. Uma delas, prevista na Constituição Federal, cria assimetrias em relação aos demais concessionários de serviços públicos. Ao contrário de outras áreas, onde o poder concedente pode cancelar contratos de concessão caso o serviço não esteja sendo cumprido a contento, na radiodifusão, para uma concessão não ser renovada são necessários dois quintos de votos nominais, ou seja, abertos, do Congresso Nacional.
“Diante do poder da mídia, é improvável que um processo de não renovação chegue a ser votado. Menos provável ainda que uma concessão não seja renovada por quem depende da televisão para sua sobrevivência política. Não há na história do Brasil um projeto de não renovação que tenha sido sequer apresentado no Congresso”, afirma. “Já o cancelamento de uma concessão durante sua vigência só ocorre com decisão judicial”, acrescenta.
Os critérios para definição dos concessionários de rádio e televisão também não têm relação com o que a legislação brasileira estabelece para o serviço de radiodifusão. Os princípios que devem orientar a programação das emissoras, por exemplo, previstos no Art.221 da Constituição, não são usados como critério. Tão pouco o respeito à complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal de comunicação e à regra que proíbe o monopólio da mídia.
“Sem falar dos casos em que os próprios representantes do coronelismo eletrônico votam em benefício próprio. Como a Constituição compartilha entre o Executivo e o Congresso Nacional o poder de outorga, há casos de senadores e deputados votando na renovação de suas próprias concessões”, critica Venício Lima. “O resultado é a formação de um sistema de radiodifusão protagonizado pela concentração privada, e onde há uma clara assimetria na disputa eleitoral entre aqueles que usam as concessões em benefício próprio e aqueles que não têm acesso a este serviço público”, completa.
Independência editorial
Se por um lado o sistema de outorgas de rádio de TV historicamente tem contribuído para limitar a liberdade de expressão no país, o seminário no Memorial chamou a atenção para uma nova ferramenta que, de forma indireta, pode trazer conseqüências na linha editorial dos veículos, sobretudo dos impressos: a publicidade governamental.
Para o jornalista Eugênio Bucci, professor da Universidade de São Paulo e articulista do jornal O Estado de S.Paulo, a influência do poder político no funcionamento dos meios de comunicação através da publicidade oficial tem crescido nos últimos anos.
Levantamento do Grupo de Mídia São Paulo, que faz uma avaliação anual do tamanho do mercado anunciante no Brasil, mostrou que em 2008 foram gastos R$ 23 bilhões em publicidade no país. O maior anunciante são das Casas Bahia, com R$ 3 bilhões. Somados, todos os governos municipais, estaduais e federal totalizaram R$ 2,7 bilhões. Somente o governo de São Paulo saltou de R$ 59 milhões de publicidade oficial em 2007 para R$ 158 milhões em 2008. Os Ministérios da Educação, do Turismo e da Saúde, juntos, gastaram R$ 628 milhões no mesmo ano.
“Por meio da verba governamental, interesses dos governos adquirem uma entrada privilegiada nas redações dos jornais, influenciando na pauta e minando a liberdade de imprensa. Tenho dúvidas sobre a necessidade e pertinência do Poder Executivo ser um anunciante tão grande”, questiona Bucci. “Na prática, os anúncios são a continuação da propaganda eleitoral fora do período de campanha. Não é à toa que são feitas pelas mesmas equipes, com a mesma linguagem”, acredita.
Com este tipo de política, na opinião do jornalista, abre-se espaço para um tipo de pressão do governo sobre jornais de porte médio ou pequeno, onde a presença do anúncio público pode representar a diferença entre a viabilidade econômica e a falência. “A força de pressão que o controlador da verba pública tem sobre essas publicações é imensa. Direta ou indiretamente as oligarquias que controlam as verbas públicas acabam interferindo na pauta desses jornais”, afirma.
Bucci admite que há uma chantagem mútua neste processo, onde muitos veículos também podem pressionar governos por mais anúncios em troca de uma cobertura favorável ou não às administrações públicas. “É um ecossistema. Este tipo de pressão existe de um lado e de outro e setores do mercado e do Estado se associam nesta simbiose”, diz.
Um caminho apontado no seminário para garantir a independência editorial dos veículos de pequeno e médio porte foi a criação de linhas de financiamento e fomento público para órgãos de comunicação, prática bastante difundida nos países europeus e também nos Estados Unidos e que ainda não se tornou realidade no Brasil.
A convidada internacional do seminário, a jornalista Liza Shepard, ombudsman da Rádio Pública Nacional (NPR) dos Estados Unidos, concordou. Com a crise econômica que atravessa o país e a queda nas vendas dos jornais impressos diante do boom da internet, pela primeira vez algumas empresas americanas privadas de comunicação começam a pensar em ajuda governamental.
“Vivemos um tempo de instabilidade e revolução na mídia. Se o governo ajuda a indústria bélica, automobilística, porque não pode fazer o mesmo com a indústria de notícias? É algo que ainda está em discussão”, conta.
Hoje, no entanto, a independência editorial da NPR é garantida em parte por sua forma de financiamento. Somente 2% dos 150 milhões de dólares de seu orçamento anual vêm do governo dos Estados Unidos. A NPR não é uma emissora, e sim uma produtora de conteúdo para rádios públicas que tira a maior parte de seu sustento da venda de programação para 900 emissoras em todo o país. Sua programação atinge 34 milhões de pessoas, das quais 10%, todos os anos, doam recursos para a sustentação das rádios.
“Pode o governo fazer parte do financiamento e não controlar nada editorialmente? Sim. É assim que funciona nos EUA. A NPR é um exemplo positivo de como uma mídia pública pode operar de forma independente de um governo”, conclui Liza.
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domingo, 11 de abril de 2010
Paixão conservadora pelo obscurantismo
Reproduzo artigo do escritor Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:
Jornais e revistas de grande circulação, redes de TV e rádio com os maiores índices de audiência continuam se alinhando com as forças do atraso, mesmo em seu momento de maior refluxo. Em um tempo em que o mercado demonstra ser incapaz de prover solução aos graves problemas que afligem a maior parte da população, esses veículos parecem inteiramente desnorteados ao ver seu prestígio, poder de influência e capacidade de influenciar opiniões em franco declínio.
Se há dez ou quinze anos um escândalo tinha sempre sobrevida para freqüentar as capas das revistas semanais, primeiras páginas dos jornalões e lugar de destaque na escalada dos maiores telejornais da noite, hoje os escândalos têm vida curta, começam como pequenas ondas e, como elas, terminam sem nunca alcançarem o apogeu. Acontece que escândalos fabricados nascem com prazo de validade vencido. E se conseguem repercutir por três dias, uma ou duas semanas, já é um feito e tanto. O expediente, de tão usado, perdeu o impacto; as pessoas comuns torcem a boca, esboçam sorriso maroto e nem se dão mais ao trabalho de acompanhar a história.
Tema vital
O conservadorismo mostra sua cara quando insiste em menosprezar a legitimidade de, por exemplo, o Bolsa Família. E o rotula como Bolsa Esmola, Bolsa Mendicância e Bolsa Vagabundagem. E apresenta-se de corpo inteiro quando rechaça políticas de ação afirmativa como a de garantir aos afrodescendentes, aos índios, aos ciganos, facilidades para o acesso à educação universitária.
Como muitos medicamentos, o conservadorismo tem como princípio ativo o olhar de soberba, de cima para baixo, a não aceitação que o pessoal do andar de baixo tem os mesmos direitos que os do andar de cima, que a lei é soberana para todos e que a esta todos devem se submeter. O conservadorismo chega a ser um estilo de vida, uma forma de lutar contra qualquer forma de inclusão, seja social, cultural, digital.
A mídia potencializa o conservadorismo quando criminaliza movimentos sociais e interdita o debate sobre liberdade de expressão criando cortinas de fumaça em torno do que deseja, realmente, preservar. E o que ela anseia com todas as suas forças e meios nada mais é que perpetuar a concentração da propriedade dos meios de comunicação, mantendo como cláusula pétrea de sua atividade a compreensão de que, ao contrário do que reza a Constituição federal, não compete ao Estado lançar seus olhos sobre os meios de comunicação que atuam no segmento do rádio e da televisão.
Em outras palavras, pode-se afirmar que qualquer mudança no modus operandi do Estado em relação a este tema vital para a sociedade seria visto como crime de lesa-pátria. Há que se manter aquele conceito de propriedade vigente por tanto tempo à época do Brasil Colônia – o das sesmarias.
Interesses ocultos
Não podemos esquecer que a grande mídia sente uma atração fatal pelas forças do atraso, pelo endeusamento do mercado, pela negligência dos direitos dos oprimidos. No caso do Brasil, estou bem convencido que a grande mídia brasileira é...
* ... a mesma mídia que foi contra o governo de Getúlio Vargas e seu projeto nacionalista e popular, levando-o ao suicídio;
* ... a mesma mídia que se posicionou fortemente contra o governo de Juscelino Kubitschek;
* ... a mesma mídia que apoiou o golpe militar de 1964;
* ... a mesma mídia que apoiou a ditadura (e hoje tenta reescrever a história dizendo que foi contra a ditadura ou ocultando que lhe foi favorável);
* ... a mesma mídia que abafou a inspiradora campanha das "Diretas já!", engolfando o Brasil de norte a sul;
* ... a mesma mídia que na eleição de 1989 tentou convencer a população que o Lula e o PT eram responsáveis pelo seqüestro do empresário Abílio Diniz;
* ... a mesma mídia que apoiou Fernando Collor e editou o debate final naquela eleição em favor dele;
* ... a mesma mídia que abafou a crise econômica e o fato de que o Brasil estava quebrado durante a eleição de 1998, favorecendo decisivamente a reeleição do presidente;
* ... a mesma mídia que publicou ficha apócrifa de Dilma Rousseff como se fosse original dos arquivos da ditadura;
* ... a mesma mídia que assacou de forma impiedosa contra a honra e os valores morais do presidente da República no sórdido episódio protagonizado por Cesar Benjamin;
* ... a mesma mídia que boicotou solenemente (e desmereceu) a 1ª Conferência Nacional da Comunicação, e que apoiou de maneira irrestrita e apaixonada o 1º Fórum Democracia & Liberdade de Expressão, patrocinado por seu Instituto Millenium;
* ... a mesma mídia que se aproveita da liberdade democrática para servir a interesses ocultos, geralmente manipulando as informações e o conhecimento, visando produzir apenas indivíduos dotados de opiniões, não de conhecimento, nem de sabedoria.
Estrago irremediável
O debate que interessa às massas da humanidade mudou de eixo há mais de 20 anos. Enquanto corpos editoriais foram conservados no formol do falso intelectualismo, o mundo girou e a Lusitana – aquela famosa empresa carioca de mudanças – rodou muito. Só a mídia não viu. Ou não quis ver. Ou se fez de rogada.
O leitor escolhe a situação. A grande imprensa divulgou o momento mesmo em que foi derrubado o muro de Berlim, mas não captou o evento em sua inteireza, em sua magnitude. Com a queda do reboco do infausto muro o mundo se libertou da opressão ideológica e mesmo que o capitalismo tenha se autodeclarado vencedor, a verdade é que não houve vencedores, apenas vencidos. Há muito que o capitalismo deixou de prover soluções duradouras para a manutenção da paz no mundo, há muito que o sistema renunciou à missão de saciar a fome que aprisiona 2/3 da espécie humana, há muito que se esvaziou o papel da Organização das Nações Unidas como símbolo de equilíbrio da ordem mundial.
Nada disso foi manchete porque nada disso foi notícia para um jornalismo ávido por sensação e alheio a percepções; para uma mídia ciosa por manter seu próprio muro de Berlim, tão bem simbolizado por seu extremo partidarismo, por sua cruel parcialidade na hora de decidir o que pode e o que não pode ser tratado como notícia.
Essa mídia, que tantas vezes avocou para si a missão de tribunal plenipotenciário e que deveria ter por obrigação informar a população, assume a missão de julgar e condenar desafetos políticos, lançando na fogueira da cobertura jornalística precária e tendenciosa pessoas que deram o melhor de si para construir um país mais justo. Do mesmo jeito como atuaram no escabroso caso da Escola de Base, em São Paulo. Ali tudo teve início, é bom recordar, para não esquecermos do quão abusiva pode ser a mídia, quando "duas mães de alunos dessa escola deram queixa na delegacia de que seus filhos de quatro e cinco anos estariam sendo molestados sexualmente na escola, e talvez, levados numa Kombi para orgias num motel, onde seriam fotografados e filmados". O delegado de plantão, não apenas acolheu a denúncia como teve a iniciativa de alardear junto à imprensa o teor da denúncia demolidora, antecipando uma condenação dos donos da Escola Base, Maria Aparecida Shimada e seu marido, Icushiro Shimada.
Resumo da história: só no final do inquérito, dez anos depois, os proprietários foram declarados inocentes.
Neste caso específico com exceção do jornal Diário Popular, fizeram parte da onda acusatória contra os proprietários e funcionários da Escola Base a Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, SBT, TV Globo, Veja, TV Record, Rádio e TV Bandeirantes e IstoÉ. Escrevendo sobre o caso, o psicanalista Raimundo de Lima destacou que "as indenizações obtidas por danos psicológicos, morais e materiais não conseguirão reverter o que eles perderam de saúde, de dignidade, de imagem pessoal e profissional limpa perante a sociedade. Não conseguirão reaproximar casais, pais e filhos e amigos, todos afastados pela contaminação do veneno da delação e da acusação vazia".
Lições de Reich
A execração pública dos proprietários da Escola Base foi um dos episódios mais perversos protagonizados pela grande imprensa brasileira. O caso mostrou à larga quão insidiosa pode ser a imprensa quando descuida de seu dever básico – a busca da verdade. Guardando-se as proporções, o sofrimento causado aos donos da Escola Base guarda paralelos com aquele sofrido pelo capitão Alfred Dreyffus, na França, no limiar do século 19. Neste episódio as honras da justiça foram feitas por um cidadão extraordinário, o escritor Émile Zola. A ele, tão somente, coube a missão de reconstruir os pilares da justiça e seu libelo "J´Accuse!" (Eu acuso!) é uma das mais instigantes peças jamais escritas em defesa da justiça e da liberdade humana. Conta-se que, ao insurgir-se contra a imprensa francesa e contra as forças armadas da França, Zola dedicou o melhor dos seus talentos, seu tempo, suas finanças, sua saúde. E é fato que enquanto na fria madrugada parisiense uma luz bruxuleava (sempre quis usar esta palavra!) no andar térreo da casa do notável escritor, isso era sinal de que a consciência da França estava acesa.
Deixemos São Paulo e Paris de lado e voltemos ao tema. Pois bem, não se trata de ser de direita ou de esquerda porque essa discussão há muito passou a se assemelhar àquelas infindáveis discussões para saber qual era o sexo dos anjos. O debate atual – e aquele que realmente importa – é o existente entre os que têm (educação superior, cargos, títulos, riqueza) e os que não têm (saneamento básico, educação formal, emprego). Neste debate o papel da imprensa é crucial. Porque precisamos tratar mais do mundo que queremos do que do mundo que temos. Pensar hoje nas gerações futuras. Mas como fazer isso se, lamentavelmente, sabemos quão conservadora é a nossa grande imprensa, quão imediatista, quão dissociada da defesa dos valores humanos ela vem se mostrando?
O austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), considerado gênio por alguns e louco por outros, foi o maior revolucionário da Psicologia do século 20. Pioneiro da revolução sexual, precursor dos movimentos ecológicos e da psiquiatria biossocial, Reich desenvolveu também artefatos usados na cura do câncer e na diminuição dos efeitos negativos da energia nuclear. É dele uma frase que tem me incendiado a imaginação sempre que me ponho a pensar sobre a mídia que temos e aquela que gostaríamos de ter. Eis a frase:
"Cada ato mesquinho nosso faz retroceder mil passos qualquer esperança que possa restar quanto ao nosso futuro".
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Jornais e revistas de grande circulação, redes de TV e rádio com os maiores índices de audiência continuam se alinhando com as forças do atraso, mesmo em seu momento de maior refluxo. Em um tempo em que o mercado demonstra ser incapaz de prover solução aos graves problemas que afligem a maior parte da população, esses veículos parecem inteiramente desnorteados ao ver seu prestígio, poder de influência e capacidade de influenciar opiniões em franco declínio.
Se há dez ou quinze anos um escândalo tinha sempre sobrevida para freqüentar as capas das revistas semanais, primeiras páginas dos jornalões e lugar de destaque na escalada dos maiores telejornais da noite, hoje os escândalos têm vida curta, começam como pequenas ondas e, como elas, terminam sem nunca alcançarem o apogeu. Acontece que escândalos fabricados nascem com prazo de validade vencido. E se conseguem repercutir por três dias, uma ou duas semanas, já é um feito e tanto. O expediente, de tão usado, perdeu o impacto; as pessoas comuns torcem a boca, esboçam sorriso maroto e nem se dão mais ao trabalho de acompanhar a história.
Tema vital
O conservadorismo mostra sua cara quando insiste em menosprezar a legitimidade de, por exemplo, o Bolsa Família. E o rotula como Bolsa Esmola, Bolsa Mendicância e Bolsa Vagabundagem. E apresenta-se de corpo inteiro quando rechaça políticas de ação afirmativa como a de garantir aos afrodescendentes, aos índios, aos ciganos, facilidades para o acesso à educação universitária.
Como muitos medicamentos, o conservadorismo tem como princípio ativo o olhar de soberba, de cima para baixo, a não aceitação que o pessoal do andar de baixo tem os mesmos direitos que os do andar de cima, que a lei é soberana para todos e que a esta todos devem se submeter. O conservadorismo chega a ser um estilo de vida, uma forma de lutar contra qualquer forma de inclusão, seja social, cultural, digital.
A mídia potencializa o conservadorismo quando criminaliza movimentos sociais e interdita o debate sobre liberdade de expressão criando cortinas de fumaça em torno do que deseja, realmente, preservar. E o que ela anseia com todas as suas forças e meios nada mais é que perpetuar a concentração da propriedade dos meios de comunicação, mantendo como cláusula pétrea de sua atividade a compreensão de que, ao contrário do que reza a Constituição federal, não compete ao Estado lançar seus olhos sobre os meios de comunicação que atuam no segmento do rádio e da televisão.
Em outras palavras, pode-se afirmar que qualquer mudança no modus operandi do Estado em relação a este tema vital para a sociedade seria visto como crime de lesa-pátria. Há que se manter aquele conceito de propriedade vigente por tanto tempo à época do Brasil Colônia – o das sesmarias.
Interesses ocultos
Não podemos esquecer que a grande mídia sente uma atração fatal pelas forças do atraso, pelo endeusamento do mercado, pela negligência dos direitos dos oprimidos. No caso do Brasil, estou bem convencido que a grande mídia brasileira é...
* ... a mesma mídia que foi contra o governo de Getúlio Vargas e seu projeto nacionalista e popular, levando-o ao suicídio;
* ... a mesma mídia que se posicionou fortemente contra o governo de Juscelino Kubitschek;
* ... a mesma mídia que apoiou o golpe militar de 1964;
* ... a mesma mídia que apoiou a ditadura (e hoje tenta reescrever a história dizendo que foi contra a ditadura ou ocultando que lhe foi favorável);
* ... a mesma mídia que abafou a inspiradora campanha das "Diretas já!", engolfando o Brasil de norte a sul;
* ... a mesma mídia que na eleição de 1989 tentou convencer a população que o Lula e o PT eram responsáveis pelo seqüestro do empresário Abílio Diniz;
* ... a mesma mídia que apoiou Fernando Collor e editou o debate final naquela eleição em favor dele;
* ... a mesma mídia que abafou a crise econômica e o fato de que o Brasil estava quebrado durante a eleição de 1998, favorecendo decisivamente a reeleição do presidente;
* ... a mesma mídia que publicou ficha apócrifa de Dilma Rousseff como se fosse original dos arquivos da ditadura;
* ... a mesma mídia que assacou de forma impiedosa contra a honra e os valores morais do presidente da República no sórdido episódio protagonizado por Cesar Benjamin;
* ... a mesma mídia que boicotou solenemente (e desmereceu) a 1ª Conferência Nacional da Comunicação, e que apoiou de maneira irrestrita e apaixonada o 1º Fórum Democracia & Liberdade de Expressão, patrocinado por seu Instituto Millenium;
* ... a mesma mídia que se aproveita da liberdade democrática para servir a interesses ocultos, geralmente manipulando as informações e o conhecimento, visando produzir apenas indivíduos dotados de opiniões, não de conhecimento, nem de sabedoria.
Estrago irremediável
O debate que interessa às massas da humanidade mudou de eixo há mais de 20 anos. Enquanto corpos editoriais foram conservados no formol do falso intelectualismo, o mundo girou e a Lusitana – aquela famosa empresa carioca de mudanças – rodou muito. Só a mídia não viu. Ou não quis ver. Ou se fez de rogada.
O leitor escolhe a situação. A grande imprensa divulgou o momento mesmo em que foi derrubado o muro de Berlim, mas não captou o evento em sua inteireza, em sua magnitude. Com a queda do reboco do infausto muro o mundo se libertou da opressão ideológica e mesmo que o capitalismo tenha se autodeclarado vencedor, a verdade é que não houve vencedores, apenas vencidos. Há muito que o capitalismo deixou de prover soluções duradouras para a manutenção da paz no mundo, há muito que o sistema renunciou à missão de saciar a fome que aprisiona 2/3 da espécie humana, há muito que se esvaziou o papel da Organização das Nações Unidas como símbolo de equilíbrio da ordem mundial.
Nada disso foi manchete porque nada disso foi notícia para um jornalismo ávido por sensação e alheio a percepções; para uma mídia ciosa por manter seu próprio muro de Berlim, tão bem simbolizado por seu extremo partidarismo, por sua cruel parcialidade na hora de decidir o que pode e o que não pode ser tratado como notícia.
Essa mídia, que tantas vezes avocou para si a missão de tribunal plenipotenciário e que deveria ter por obrigação informar a população, assume a missão de julgar e condenar desafetos políticos, lançando na fogueira da cobertura jornalística precária e tendenciosa pessoas que deram o melhor de si para construir um país mais justo. Do mesmo jeito como atuaram no escabroso caso da Escola de Base, em São Paulo. Ali tudo teve início, é bom recordar, para não esquecermos do quão abusiva pode ser a mídia, quando "duas mães de alunos dessa escola deram queixa na delegacia de que seus filhos de quatro e cinco anos estariam sendo molestados sexualmente na escola, e talvez, levados numa Kombi para orgias num motel, onde seriam fotografados e filmados". O delegado de plantão, não apenas acolheu a denúncia como teve a iniciativa de alardear junto à imprensa o teor da denúncia demolidora, antecipando uma condenação dos donos da Escola Base, Maria Aparecida Shimada e seu marido, Icushiro Shimada.
Resumo da história: só no final do inquérito, dez anos depois, os proprietários foram declarados inocentes.
Neste caso específico com exceção do jornal Diário Popular, fizeram parte da onda acusatória contra os proprietários e funcionários da Escola Base a Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, SBT, TV Globo, Veja, TV Record, Rádio e TV Bandeirantes e IstoÉ. Escrevendo sobre o caso, o psicanalista Raimundo de Lima destacou que "as indenizações obtidas por danos psicológicos, morais e materiais não conseguirão reverter o que eles perderam de saúde, de dignidade, de imagem pessoal e profissional limpa perante a sociedade. Não conseguirão reaproximar casais, pais e filhos e amigos, todos afastados pela contaminação do veneno da delação e da acusação vazia".
Lições de Reich
A execração pública dos proprietários da Escola Base foi um dos episódios mais perversos protagonizados pela grande imprensa brasileira. O caso mostrou à larga quão insidiosa pode ser a imprensa quando descuida de seu dever básico – a busca da verdade. Guardando-se as proporções, o sofrimento causado aos donos da Escola Base guarda paralelos com aquele sofrido pelo capitão Alfred Dreyffus, na França, no limiar do século 19. Neste episódio as honras da justiça foram feitas por um cidadão extraordinário, o escritor Émile Zola. A ele, tão somente, coube a missão de reconstruir os pilares da justiça e seu libelo "J´Accuse!" (Eu acuso!) é uma das mais instigantes peças jamais escritas em defesa da justiça e da liberdade humana. Conta-se que, ao insurgir-se contra a imprensa francesa e contra as forças armadas da França, Zola dedicou o melhor dos seus talentos, seu tempo, suas finanças, sua saúde. E é fato que enquanto na fria madrugada parisiense uma luz bruxuleava (sempre quis usar esta palavra!) no andar térreo da casa do notável escritor, isso era sinal de que a consciência da França estava acesa.
Deixemos São Paulo e Paris de lado e voltemos ao tema. Pois bem, não se trata de ser de direita ou de esquerda porque essa discussão há muito passou a se assemelhar àquelas infindáveis discussões para saber qual era o sexo dos anjos. O debate atual – e aquele que realmente importa – é o existente entre os que têm (educação superior, cargos, títulos, riqueza) e os que não têm (saneamento básico, educação formal, emprego). Neste debate o papel da imprensa é crucial. Porque precisamos tratar mais do mundo que queremos do que do mundo que temos. Pensar hoje nas gerações futuras. Mas como fazer isso se, lamentavelmente, sabemos quão conservadora é a nossa grande imprensa, quão imediatista, quão dissociada da defesa dos valores humanos ela vem se mostrando?
O austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), considerado gênio por alguns e louco por outros, foi o maior revolucionário da Psicologia do século 20. Pioneiro da revolução sexual, precursor dos movimentos ecológicos e da psiquiatria biossocial, Reich desenvolveu também artefatos usados na cura do câncer e na diminuição dos efeitos negativos da energia nuclear. É dele uma frase que tem me incendiado a imaginação sempre que me ponho a pensar sobre a mídia que temos e aquela que gostaríamos de ter. Eis a frase:
"Cada ato mesquinho nosso faz retroceder mil passos qualquer esperança que possa restar quanto ao nosso futuro".
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sábado, 10 de abril de 2010
A propaganda com medo da lei
Reproduzo artigo do professor Laurindo Lalo Leal Filho, publicado no sítio Carta Maior:
Anúncio de página inteira publicado nos jornalões brasileiros, no dia 6/4, exalta os supostos benefícios da propaganda. Assinado por entidades de anunciantes e de agências de publicidade, ele tenta reagir às iniciativas em favor da existência de um controle público sobre a propaganda. Trata-se de uma vitória dos movimentos sociais e das entidades empenhadas na luta por uma regulação mais rígida sobre essa atividade. Mostra, pelo menos, que elas começam a incomodar quem se julgava intocável.
Não fossem ações como as do Instituto Alana, com o seu projeto “Criança e Consumo”, por exemplo, e os publicitários jamais deixariam de lado o atendimento de suas ricas contas para preparar e publicar um texto incrivelmente enganoso, aliás como muitas de suas peças publicitárias.
Depois de exaltarem a importância da propaganda na disputa pelo mercado chegam a uma conclusão inédita: “a grande maioria das pessoas gosta de propaganda”. Não dizem de onde tiraram tal conclusão. De que pesquisa saíram os dados para sustentar afirmativa tão cabal. É só mais um slogan, tão a gosto do meio.
Mas não ficam por aí. No final do texto está a resposta ao Instituto Alana e aos parlamentares comprometidos com uma legislação mais moderna para o setor. Diz o anúncio: “E quando alguém não gosta (da propaganda), faz o óbvio: muda de canal na hora do intervalo, troca a estação de rádio, deixa de ler o anúncio publicado no jornal”. Simples, não? Ou simplista demais?
Claro que quem escreveu esse texto sabe que isso não é verdade. Eles mesmos produzem os merchandisings que campeiam à solta nas novelas, programas de auditório, transmissões esportivas e são veiculados de forma a impossibilitar a tal mudança de canal na hora do anúncio. Sabem também que ninguém vai girar o botão do rádio quando começa um comercial que o ouvinte, obviamente, nem sabe ainda do que se trata. E é difícil fechar os olhos para uma página inteira de jornal como essa publicada sob o patrocínio das entidades das agências de propaganda e dos anunciantes.
Afinal a missão desses profissionais é fazer de tudo para que o telespectador, o ouvinte e o leitor não desgrudem da mensagem e introjetem o seu conteúdo. É um contra-senso pedir para que eles fujam de algo embalado pelos publicitários para conquistá-los. Em novela recente, em meio à fantasia, a madame entra no carro novo sob o olhar de cobiça da empregada e ressalta, entre as várias qualidades do veículo, o fato de ele ter o piso alto, ficando imune às enchentes. Focalizava-se com destaque a marca do carro e passava-se a mensagem de que, com ele, o problema social das enchentes estaria resolvido. Individualmente, para quem pudesse comprar o tal carro. Aos demais a lama ou o afogamento.
Mas voltando ao anúncio publicado nos jornais. A frase final, referindo-se a possibilidade de mudar de canal, de emissora ou de página, é primorosa: “É impressão nossa ou isso é o direito de escolha levado a sério?”. Direito de escolha? Escolher entre o que? Entre emissoras que transmitem programas iguais, veiculam os mesmos anúncios e não dão nenhuma alternativa aos hábitos consumistas, individualistas e anti-sociais? E mais, que violam a lei sem cerimônia ao ultrapassar o limite máximo de 25% da programação permitidos para propaganda no rádio e na TV. Com a conivência silenciosa de agências e anunciantes.
Quando dirigida às crianças, os efeitos da publicidade tornam-se ainda mais perversos. A presidente do Instituto Alana, Ana Lucia Vilela, conta que até em áreas carentes de cidades como São Paulo já é possível perceber esse fenômeno. A partir de um projeto social desenvolvido pela instituição na zona leste da cidade constatou-se que “crianças cujas famílias dependem de cestas básicas não saem de casa sem passar batom. Que acham que a maior felicidade do mundo é ter cabelos longos e loiros iguais aos da Barbie. Meninas que vestem micro-saias e ficam grávidas na adolescência. Meninos que insultam mulheres e tomam cerveja. Mães que, depois de muito choro e muita insistência dos filhos, gastam todo seu dinheiro para comprar um boneco Power Ranger. Filhos que depois de ganhar um Power Ranger, brincam dois dias, abandonam o boneco e começam a pedir a próxima novidade anunciada na televisão. Ou ainda garotos que falam que agora sim os pais podem comprar tudo o que querem porque determinado banco oferece crédito acompanhado de alguns bonequinhos de brinde. Crianças e adolescentes brasileiros repetindo diariamente o nome de inúmeras marcas, que algumas vezes estão entre as dez primeiras palavras de seu recém-formado vocabulário”.
Diz ainda que “do Rio Grande do Sul ao Amapá, das periferias dos grandes centros urbanos ao interior da Bahia, eles querem se vestir e comer da mesma forma. Querem marcas – usar o tênis Nike, comer Fandangos e ter a mochila da Hello Kitty. Preferem não ir à praia ou ao campo porque sabem que lá não encontrarão tevê ou videogame. Trocam o suco de mexerica por Coca-Cola, e arroz, feijão e couve, por Big Mac com batata frita”.
Para Ana Lucia “os pais não são os únicos responsáveis pelos filhos que não param de pedir produtos vistos na tevê, que são obesos, sexualmente precoces ou com comportamentos violentos. A responsabilidade maior está nas empresas e agências de publicidade que apostam no mercado infantil, procurando a vulnerabilidade de cada faixa etária da infância e adolescência para criar consumidores fiéis: as crianças de consumo”.
O anúncio dos publicitários e dos anunciantes publicado nos grandes jornais é uma reação à denúncias como essa, aos projetos de lei tramitando no Congresso para por limites nessa farra e ao aumento das pesquisas científicas mostrando os males da propaganda. Reação de quem se acha acuado e percebe que o tempo dos privilégios está acabando.
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Anúncio de página inteira publicado nos jornalões brasileiros, no dia 6/4, exalta os supostos benefícios da propaganda. Assinado por entidades de anunciantes e de agências de publicidade, ele tenta reagir às iniciativas em favor da existência de um controle público sobre a propaganda. Trata-se de uma vitória dos movimentos sociais e das entidades empenhadas na luta por uma regulação mais rígida sobre essa atividade. Mostra, pelo menos, que elas começam a incomodar quem se julgava intocável.
Não fossem ações como as do Instituto Alana, com o seu projeto “Criança e Consumo”, por exemplo, e os publicitários jamais deixariam de lado o atendimento de suas ricas contas para preparar e publicar um texto incrivelmente enganoso, aliás como muitas de suas peças publicitárias.
Depois de exaltarem a importância da propaganda na disputa pelo mercado chegam a uma conclusão inédita: “a grande maioria das pessoas gosta de propaganda”. Não dizem de onde tiraram tal conclusão. De que pesquisa saíram os dados para sustentar afirmativa tão cabal. É só mais um slogan, tão a gosto do meio.
Mas não ficam por aí. No final do texto está a resposta ao Instituto Alana e aos parlamentares comprometidos com uma legislação mais moderna para o setor. Diz o anúncio: “E quando alguém não gosta (da propaganda), faz o óbvio: muda de canal na hora do intervalo, troca a estação de rádio, deixa de ler o anúncio publicado no jornal”. Simples, não? Ou simplista demais?
Claro que quem escreveu esse texto sabe que isso não é verdade. Eles mesmos produzem os merchandisings que campeiam à solta nas novelas, programas de auditório, transmissões esportivas e são veiculados de forma a impossibilitar a tal mudança de canal na hora do anúncio. Sabem também que ninguém vai girar o botão do rádio quando começa um comercial que o ouvinte, obviamente, nem sabe ainda do que se trata. E é difícil fechar os olhos para uma página inteira de jornal como essa publicada sob o patrocínio das entidades das agências de propaganda e dos anunciantes.
Afinal a missão desses profissionais é fazer de tudo para que o telespectador, o ouvinte e o leitor não desgrudem da mensagem e introjetem o seu conteúdo. É um contra-senso pedir para que eles fujam de algo embalado pelos publicitários para conquistá-los. Em novela recente, em meio à fantasia, a madame entra no carro novo sob o olhar de cobiça da empregada e ressalta, entre as várias qualidades do veículo, o fato de ele ter o piso alto, ficando imune às enchentes. Focalizava-se com destaque a marca do carro e passava-se a mensagem de que, com ele, o problema social das enchentes estaria resolvido. Individualmente, para quem pudesse comprar o tal carro. Aos demais a lama ou o afogamento.
Mas voltando ao anúncio publicado nos jornais. A frase final, referindo-se a possibilidade de mudar de canal, de emissora ou de página, é primorosa: “É impressão nossa ou isso é o direito de escolha levado a sério?”. Direito de escolha? Escolher entre o que? Entre emissoras que transmitem programas iguais, veiculam os mesmos anúncios e não dão nenhuma alternativa aos hábitos consumistas, individualistas e anti-sociais? E mais, que violam a lei sem cerimônia ao ultrapassar o limite máximo de 25% da programação permitidos para propaganda no rádio e na TV. Com a conivência silenciosa de agências e anunciantes.
Quando dirigida às crianças, os efeitos da publicidade tornam-se ainda mais perversos. A presidente do Instituto Alana, Ana Lucia Vilela, conta que até em áreas carentes de cidades como São Paulo já é possível perceber esse fenômeno. A partir de um projeto social desenvolvido pela instituição na zona leste da cidade constatou-se que “crianças cujas famílias dependem de cestas básicas não saem de casa sem passar batom. Que acham que a maior felicidade do mundo é ter cabelos longos e loiros iguais aos da Barbie. Meninas que vestem micro-saias e ficam grávidas na adolescência. Meninos que insultam mulheres e tomam cerveja. Mães que, depois de muito choro e muita insistência dos filhos, gastam todo seu dinheiro para comprar um boneco Power Ranger. Filhos que depois de ganhar um Power Ranger, brincam dois dias, abandonam o boneco e começam a pedir a próxima novidade anunciada na televisão. Ou ainda garotos que falam que agora sim os pais podem comprar tudo o que querem porque determinado banco oferece crédito acompanhado de alguns bonequinhos de brinde. Crianças e adolescentes brasileiros repetindo diariamente o nome de inúmeras marcas, que algumas vezes estão entre as dez primeiras palavras de seu recém-formado vocabulário”.
Diz ainda que “do Rio Grande do Sul ao Amapá, das periferias dos grandes centros urbanos ao interior da Bahia, eles querem se vestir e comer da mesma forma. Querem marcas – usar o tênis Nike, comer Fandangos e ter a mochila da Hello Kitty. Preferem não ir à praia ou ao campo porque sabem que lá não encontrarão tevê ou videogame. Trocam o suco de mexerica por Coca-Cola, e arroz, feijão e couve, por Big Mac com batata frita”.
Para Ana Lucia “os pais não são os únicos responsáveis pelos filhos que não param de pedir produtos vistos na tevê, que são obesos, sexualmente precoces ou com comportamentos violentos. A responsabilidade maior está nas empresas e agências de publicidade que apostam no mercado infantil, procurando a vulnerabilidade de cada faixa etária da infância e adolescência para criar consumidores fiéis: as crianças de consumo”.
O anúncio dos publicitários e dos anunciantes publicado nos grandes jornais é uma reação à denúncias como essa, aos projetos de lei tramitando no Congresso para por limites nessa farra e ao aumento das pesquisas científicas mostrando os males da propaganda. Reação de quem se acha acuado e percebe que o tempo dos privilégios está acabando.
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A mídia e o prêmio "O Corvo do Ano"
Reproduzo artigo do professor Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
Carlos Lacerda foi o fundador do PIG. Ex-comunista – como convém a um extremista de direita – publicou um livro denunciando o Partido Comunista. Passou a ser o principal líder golpista, renomado por ser dos que literalmente batia nas portas dos quartéis (chamados de “vivandeiras de quartel”), insuflando o golpe nos seus inflamados golpes e discursos no Congresso.
Pró norteamericano militante, anti-nacionalista, anti-getulista, frontalmente contra o movimento sindical e todos os movimentos populares, adepto militante da SIP (Sociedade Interamericana de Prensa, vetusto lugar de coordenação da imprensa mais reacionária, pró-EUA e golpista do continente, até hoje) – Lacerda tinha todo o perfil do reacionário de carteirinha.
Entre outras sandices antidemocráticas, disse: “Getúlio não dever ser candidato à presidência, se for, deve ser derrotado; se ganhar, não deve tomar posse, se tomar posse, deve ser derrubado por um golpe”. Chamava JK de “ladrão” e outras coisas mais dessa ordem, típicas de uma revista semanal, herdeira atual do Lacerda.
Foi chamado de “corvo”, pelo cheiro de carniça de tudo o que tinha a ver com ele – golpe, ditadura, massacre de mendigos no Rio, imprensa de direita, denuncismo dos “subversivos”. Acreditava que o golpe – que ele tanto pregou – tinha sido feito para tirar seus maiores adversários nas eleições programadas para 1965, JK e Brizola, deixando o campo livre para que fosse eleito ou praticamente nomeado pelos militares.
Enganou-se e terminou a vida penosamente: quando seus ideais se realizavam, com um governo em que seu companheiro de partido, a UDN, Juracy Magalhaes, primeiro ministro de Relações Exteriores da ditadura afirmava “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” (sic), um governo que escancarou a entrada de capitais externos, prendeu, torturou, fuzilou, desapareceu os que considerava “subversivos”, o corvo não tinha lugar. Morreu sem pena nem glória, como um “corvo”.
Hoje vários jornais e jornalistas se candidatam a ser os corvos dos tempos atuais. Vamos fazer a lista dos candidatos e no fim do ano decidiremos quem merece o prêmio, numa batalha que, desde já, sabemos que será muito dura, tantos e tão medíocres são os candidatos.
Arrisco um primeiro candidato: Otávio Frias Filho, pela “ditabranda”, pelas acusações falsas, pelo silêncio sobre o que não lhe agrada.
Indiquem vocês os outros candidatos, controlemos seus desempenhos – frenéticos em ano de campanha eleitoral – e no fim do ano decidiremos quem merece o prêmio “O corvo do ano” 2010.
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Carlos Lacerda foi o fundador do PIG. Ex-comunista – como convém a um extremista de direita – publicou um livro denunciando o Partido Comunista. Passou a ser o principal líder golpista, renomado por ser dos que literalmente batia nas portas dos quartéis (chamados de “vivandeiras de quartel”), insuflando o golpe nos seus inflamados golpes e discursos no Congresso.
Pró norteamericano militante, anti-nacionalista, anti-getulista, frontalmente contra o movimento sindical e todos os movimentos populares, adepto militante da SIP (Sociedade Interamericana de Prensa, vetusto lugar de coordenação da imprensa mais reacionária, pró-EUA e golpista do continente, até hoje) – Lacerda tinha todo o perfil do reacionário de carteirinha.
Entre outras sandices antidemocráticas, disse: “Getúlio não dever ser candidato à presidência, se for, deve ser derrotado; se ganhar, não deve tomar posse, se tomar posse, deve ser derrubado por um golpe”. Chamava JK de “ladrão” e outras coisas mais dessa ordem, típicas de uma revista semanal, herdeira atual do Lacerda.
Foi chamado de “corvo”, pelo cheiro de carniça de tudo o que tinha a ver com ele – golpe, ditadura, massacre de mendigos no Rio, imprensa de direita, denuncismo dos “subversivos”. Acreditava que o golpe – que ele tanto pregou – tinha sido feito para tirar seus maiores adversários nas eleições programadas para 1965, JK e Brizola, deixando o campo livre para que fosse eleito ou praticamente nomeado pelos militares.
Enganou-se e terminou a vida penosamente: quando seus ideais se realizavam, com um governo em que seu companheiro de partido, a UDN, Juracy Magalhaes, primeiro ministro de Relações Exteriores da ditadura afirmava “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” (sic), um governo que escancarou a entrada de capitais externos, prendeu, torturou, fuzilou, desapareceu os que considerava “subversivos”, o corvo não tinha lugar. Morreu sem pena nem glória, como um “corvo”.
Hoje vários jornais e jornalistas se candidatam a ser os corvos dos tempos atuais. Vamos fazer a lista dos candidatos e no fim do ano decidiremos quem merece o prêmio, numa batalha que, desde já, sabemos que será muito dura, tantos e tão medíocres são os candidatos.
Arrisco um primeiro candidato: Otávio Frias Filho, pela “ditabranda”, pelas acusações falsas, pelo silêncio sobre o que não lhe agrada.
Indiquem vocês os outros candidatos, controlemos seus desempenhos – frenéticos em ano de campanha eleitoral – e no fim do ano decidiremos quem merece o prêmio “O corvo do ano” 2010.
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A imagem do Congresso e a mídia
Reproduzo artigo do professor Venício A. de Lima, publicado no Observatório da Imprensa com o título “A imagem do Congresso: o que a mídia tem a ver com isso”:
Pesquisa Datafolha recentemente divulgada dá conta de que 33% dos entrevistados consideram o desempenho de deputados e de senadores ruim ou péssimo. Uma pequena melhora em relação a resultados apurados um mês antes, quando o percentual era de 39%. O articulista da Folha de S.Paulo usa a conhecida adversativa e afirma: "Mas não se pode afirmar que há uma tendência de melhora da imagem do Congresso". A matéria informa ainda que, nos últimos dez anos, a rejeição de deputados e de senadores flutuou na faixa de 30% a 40% e que, desde 2004, a taxa de aprovação varia entre 11% e 19%, estando hoje em 16%.
Quatro dias depois, a mesma Folha, publica matéria informando que "prestigiados senadores e deputados desistem de concorrer à reeleição este ano". A desistência de cerca de 12% dos atuais senadores e deputados de disputar a reeleição nas próximas eleições tem sido objeto de comentários na grande mídia já há algum tempo.
O que chama a atenção do observador, no entanto, é que não se estabelece qualquer relação entre a primeira notícia – a má avaliação pública do Congresso Nacional – e a segunda – a desistência de políticos importantes de disputar a reeleição. E mais: não se estabelece qualquer relação entre o tipo de cobertura que a grande mídia vem fazendo das atividades do Congresso Nacional, ao longo de todos esses anos, e os fatos noticiados. O tema não é novo, mas sua importância nos leva a tratá-lo aqui ainda mais uma vez.
Cobertura negativa
Repito o que já escrevi: não há dúvida de que a grande mídia tem sido instrumento importante na revelação pública de ilícitos graves envolvendo representantes eleitos e, também, de altos funcionários do Congresso Nacional. Deputados e senadores têm estado envolvidos em atividades criminosas e/ou eticamente condenáveis. Procedimentos de investigação ou processos legais contra parlamentares correm tanto nas comissões de ética do próprio Congresso como nas instâncias competentes do judiciário.
Tudo isso é verdade.
No entanto, é inegável que a cobertura política que a grande mídia oferece das atividades diárias de 513 deputados, 81 senadores e milhares de funcionários do Congresso Nacional se reduz, quase que exclusivamente, a aspectos negativos. Ignora-se, na maioria das vezes, o trabalho sério e honesto realizado nas comissões permanentes e transitórias, nos debates em plenário, na aprovação de legislação e no cumprimento das diversas outras atribuições constitucionais das Casas Legislativas. Ignora-se, sobretudo, o papel fundamental – e insubstituível – que o Parlamento exerce no equilíbrio entre os poderes republicanos e, por óbvio, no funcionamento da democracia.
Faz todo sentido lembrar, uma vez mais, a constatação que a professora Maria do Carmo Campello de Souza (já falecida) fez sobre a cultura política brasileira ainda ao tempo da transição para a democracia, no final da década de 1980. Dizia ela:
"O teor exclusivamente denunciatório de grande parte das informações (dos meios de comunicação) acaba por estabelecer junto à sociedade (...) uma ligação direta e extremamente nefasta entre a desmoralização da atual conjuntura e a substância mesma dos regimes democráticos. (...) A despeito da evidente responsabilidade que cabe à imensa maioria da classe política pelo desenrolar sombrio do processo político brasileiro, os meios de comunicação a apresentam de modo homogeneizado e, em comparação com os dardos de sua crítica, poupam outros setores (...). Tem-se muitas vezes a impressão de que corrupção, cinismo e desmandos são monopólio dos políticos, dos partidos ou do Congresso". ("A Nova República brasileira: sob a espada de Dâmocles", in Alfred Stepan, organizador, Democratizando o Brasil, Paz e Terra, 1988].
Responsabilidades da grande mídia
As recentes constatações, relativas à persistente má avaliação do Congresso Nacional por parte significativa da população brasileira e a desistência de políticos importantes de buscarem a reeleição nas próximas eleições, não seriam uma boa ocasião para que a grande mídia fizesse uma avaliação de sua cobertura política e de suas responsabilidades sociais?
A insistência em mostrar apenas o que é negativo em relação à atividade parlamentar não levaria a "uma ligação direta e extremamente nefasta entre a desmoralização da atual conjuntura e a substância mesma dos regimes democráticos"?
Afinal, não é mais possível "fazer de conta" que a grande mídia apenas "reflete" o que acontece na sociedade e não tem qualquer responsabilidade na construção e manutenção da agenda pública de debates – e, mais importante, na imagem pública dos políticos e da política.
Sem abdicar do papel que se auto-atribui de fiscalizadora do poder – público e/ou privado – a grande mídia, até por coerência com as bandeiras que sustenta, deveria estar preocupada com sua responsabilidade na consolidação e manutenção da democracia. Ou não é esse seu compromisso fundamental?
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Pesquisa Datafolha recentemente divulgada dá conta de que 33% dos entrevistados consideram o desempenho de deputados e de senadores ruim ou péssimo. Uma pequena melhora em relação a resultados apurados um mês antes, quando o percentual era de 39%. O articulista da Folha de S.Paulo usa a conhecida adversativa e afirma: "Mas não se pode afirmar que há uma tendência de melhora da imagem do Congresso". A matéria informa ainda que, nos últimos dez anos, a rejeição de deputados e de senadores flutuou na faixa de 30% a 40% e que, desde 2004, a taxa de aprovação varia entre 11% e 19%, estando hoje em 16%.
Quatro dias depois, a mesma Folha, publica matéria informando que "prestigiados senadores e deputados desistem de concorrer à reeleição este ano". A desistência de cerca de 12% dos atuais senadores e deputados de disputar a reeleição nas próximas eleições tem sido objeto de comentários na grande mídia já há algum tempo.
O que chama a atenção do observador, no entanto, é que não se estabelece qualquer relação entre a primeira notícia – a má avaliação pública do Congresso Nacional – e a segunda – a desistência de políticos importantes de disputar a reeleição. E mais: não se estabelece qualquer relação entre o tipo de cobertura que a grande mídia vem fazendo das atividades do Congresso Nacional, ao longo de todos esses anos, e os fatos noticiados. O tema não é novo, mas sua importância nos leva a tratá-lo aqui ainda mais uma vez.
Cobertura negativa
Repito o que já escrevi: não há dúvida de que a grande mídia tem sido instrumento importante na revelação pública de ilícitos graves envolvendo representantes eleitos e, também, de altos funcionários do Congresso Nacional. Deputados e senadores têm estado envolvidos em atividades criminosas e/ou eticamente condenáveis. Procedimentos de investigação ou processos legais contra parlamentares correm tanto nas comissões de ética do próprio Congresso como nas instâncias competentes do judiciário.
Tudo isso é verdade.
No entanto, é inegável que a cobertura política que a grande mídia oferece das atividades diárias de 513 deputados, 81 senadores e milhares de funcionários do Congresso Nacional se reduz, quase que exclusivamente, a aspectos negativos. Ignora-se, na maioria das vezes, o trabalho sério e honesto realizado nas comissões permanentes e transitórias, nos debates em plenário, na aprovação de legislação e no cumprimento das diversas outras atribuições constitucionais das Casas Legislativas. Ignora-se, sobretudo, o papel fundamental – e insubstituível – que o Parlamento exerce no equilíbrio entre os poderes republicanos e, por óbvio, no funcionamento da democracia.
Faz todo sentido lembrar, uma vez mais, a constatação que a professora Maria do Carmo Campello de Souza (já falecida) fez sobre a cultura política brasileira ainda ao tempo da transição para a democracia, no final da década de 1980. Dizia ela:
"O teor exclusivamente denunciatório de grande parte das informações (dos meios de comunicação) acaba por estabelecer junto à sociedade (...) uma ligação direta e extremamente nefasta entre a desmoralização da atual conjuntura e a substância mesma dos regimes democráticos. (...) A despeito da evidente responsabilidade que cabe à imensa maioria da classe política pelo desenrolar sombrio do processo político brasileiro, os meios de comunicação a apresentam de modo homogeneizado e, em comparação com os dardos de sua crítica, poupam outros setores (...). Tem-se muitas vezes a impressão de que corrupção, cinismo e desmandos são monopólio dos políticos, dos partidos ou do Congresso". ("A Nova República brasileira: sob a espada de Dâmocles", in Alfred Stepan, organizador, Democratizando o Brasil, Paz e Terra, 1988].
Responsabilidades da grande mídia
As recentes constatações, relativas à persistente má avaliação do Congresso Nacional por parte significativa da população brasileira e a desistência de políticos importantes de buscarem a reeleição nas próximas eleições, não seriam uma boa ocasião para que a grande mídia fizesse uma avaliação de sua cobertura política e de suas responsabilidades sociais?
A insistência em mostrar apenas o que é negativo em relação à atividade parlamentar não levaria a "uma ligação direta e extremamente nefasta entre a desmoralização da atual conjuntura e a substância mesma dos regimes democráticos"?
Afinal, não é mais possível "fazer de conta" que a grande mídia apenas "reflete" o que acontece na sociedade e não tem qualquer responsabilidade na construção e manutenção da agenda pública de debates – e, mais importante, na imagem pública dos políticos e da política.
Sem abdicar do papel que se auto-atribui de fiscalizadora do poder – público e/ou privado – a grande mídia, até por coerência com as bandeiras que sustenta, deveria estar preocupada com sua responsabilidade na consolidação e manutenção da democracia. Ou não é esse seu compromisso fundamental?
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sexta-feira, 9 de abril de 2010
Mirando as armas e combatendo a pobreza
Reproduzo release enviado pelo amigo Vinicius Souza:
Todos os anos, mais de 500 mil pessoas morrem vítimas de armas de fogo no mundo. Muitas outras são feridas ou ficam com seqüelas permanentes. Além das incontáveis tragédias familiares, a violência armada também afeta diretamente o desenvolvimento dos países – em especial países pobres - que sofrem com sérias limitações ao seu crescimento econômico e social. Por outro lado, governos continuam investindo grandes montantes de dinheiro na compra de novas armas - que frequentemente acabam nas mãos dos criminosos - ao invés de investir em áreas importantes como educação e saúde.
Não há, atualmente, nenhuma lei que regule o mercado internacional de armas e munições. A ausência de um Tratado que estabeleça regras válidas para todos os países muitas vezes permite que as armas e munições que circulam pelas fronteiras acabem em mãos erradas – mãos que usam estas armas para matar, espalhar insegurança e conflito, violar os direitos humanos e destruir a esperança e a oportunidade de superar a pobreza.
Para estimular a discussão sobre este assunto tão crítico nos países em desenvolvimento, a Oxfam Internacional, em parceria com o Instituto Sou da Paz e o Viva Rio, está lançando no Brasil o concurso Mirando as armas e combatendo a pobreza. O concurso é aberto para todos os países, mas o foco é o Brasil, a África do Sul e a Índia.
Todos podem participar: basta inscrever uma proposta de argumento para um documentário de 5 a 15 minutos sobre este tema. O argumento deve ser encaminhado no formulário próprio em português para o e-mail: shootingpoverty@drop.io até o dia 01 de junho de 2010. As três melhores propostas serão selecionadas por um júri internacional e receberão todos os recursos para a produção, incluindo uma semana inteira de gravação com equipamento profissional e produtor exclusivo. Os documentários serão apresentados por seus diretores na sede da ONU em Nova Iorque. O diretor do filme mais votado pelo público através do site www.shootingpoverty.org ganhará uma câmera Sony EX1R com equipamento de iluminação e captação de som portáteis.
Mais informações em português, orientações para escrever seu argumento, exemplos e dicas de uma diretora vencedora do Oscar, além dos prazos e do regulamento completo do concurso estão no site http://shootingpoverty.org/pt-br/ que pode também ser acessado pelos links em http://www.soudapaz.org/ e http://www.vivario.org.br .
Contatos
Sobre o concurso:
Vinicius Souza - vgpsouza@uol.com.br
(11) 9631-0666/ 5093-2855/ 8279-9997
Natasha Leite - natasha@vivario.org.br
(21) 2555-3771
Sobre o Instituto Sou da Paz:
Daniela Caldeirinha – daniela@soudapaz.org (11) 3812-1333
http://www.soudapaz.org/
Sobre o Viva Rio:
Graciela Bittencourt - graciela@vivario.org.br (21) 2555-3750
http://www.vivario.org.br
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Todos os anos, mais de 500 mil pessoas morrem vítimas de armas de fogo no mundo. Muitas outras são feridas ou ficam com seqüelas permanentes. Além das incontáveis tragédias familiares, a violência armada também afeta diretamente o desenvolvimento dos países – em especial países pobres - que sofrem com sérias limitações ao seu crescimento econômico e social. Por outro lado, governos continuam investindo grandes montantes de dinheiro na compra de novas armas - que frequentemente acabam nas mãos dos criminosos - ao invés de investir em áreas importantes como educação e saúde.
Não há, atualmente, nenhuma lei que regule o mercado internacional de armas e munições. A ausência de um Tratado que estabeleça regras válidas para todos os países muitas vezes permite que as armas e munições que circulam pelas fronteiras acabem em mãos erradas – mãos que usam estas armas para matar, espalhar insegurança e conflito, violar os direitos humanos e destruir a esperança e a oportunidade de superar a pobreza.
Para estimular a discussão sobre este assunto tão crítico nos países em desenvolvimento, a Oxfam Internacional, em parceria com o Instituto Sou da Paz e o Viva Rio, está lançando no Brasil o concurso Mirando as armas e combatendo a pobreza. O concurso é aberto para todos os países, mas o foco é o Brasil, a África do Sul e a Índia.
Todos podem participar: basta inscrever uma proposta de argumento para um documentário de 5 a 15 minutos sobre este tema. O argumento deve ser encaminhado no formulário próprio em português para o e-mail: shootingpoverty@drop.io até o dia 01 de junho de 2010. As três melhores propostas serão selecionadas por um júri internacional e receberão todos os recursos para a produção, incluindo uma semana inteira de gravação com equipamento profissional e produtor exclusivo. Os documentários serão apresentados por seus diretores na sede da ONU em Nova Iorque. O diretor do filme mais votado pelo público através do site www.shootingpoverty.org ganhará uma câmera Sony EX1R com equipamento de iluminação e captação de som portáteis.
Mais informações em português, orientações para escrever seu argumento, exemplos e dicas de uma diretora vencedora do Oscar, além dos prazos e do regulamento completo do concurso estão no site http://shootingpoverty.org/pt-br/ que pode também ser acessado pelos links em http://www.soudapaz.org/ e http://www.vivario.org.br .
Contatos
Sobre o concurso:
Vinicius Souza - vgpsouza@uol.com.br
(11) 9631-0666/ 5093-2855/ 8279-9997
Natasha Leite - natasha@vivario.org.br
(21) 2555-3771
Sobre o Instituto Sou da Paz:
Daniela Caldeirinha – daniela@soudapaz.org (11) 3812-1333
http://www.soudapaz.org/
Sobre o Viva Rio:
Graciela Bittencourt - graciela@vivario.org.br (21) 2555-3750
http://www.vivario.org.br
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Assembléia de fundação da Altercom
Reproduzo abaixo o release de convocação da assembléia constituinte da Altercom:
A Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) realiza neste sábado, dia 10 de abril, sua Assembléia Constituinte, que deverá aprovar a carta de princípios e o estatuto da entidade. O encontro ocorrerá das 8h30min às 17h, no auditório do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (rua Genebra, 25, São Paulo). A pauta da assembléia é a seguinte:
8h30 às 9h – Encontro para debates preliminares;
9h às 10h –Discussão e aprovação da Carta de Princípios da Altercom;
10h às 12h –Discussão e aprovação do Estatuto da Altercom;
12h às 13 h – Inscrição das chapas para Diretoria (I. Assembléia Geral; II. Presidência; III. Conselho Fiscal; IV. Diretoria Executiva; V. Secretarias Técnicas; VI. Conselho Consultivo);
13h às 14h30h – Almoço;
15h – Eleição e escrutínio;
16h – Ato político de posse da diretoria eleita com a presença do senador Renato Casagrande (PSB) dos Deputados Paulo Teixeira (PT), Luiza Erundina (PSB), Manuela D’Ávila (PCdoB), Brizola Neto (PDT)e Rui Falcão (PT), para a formação de uma frente parlamentar de apoio à Altercom.
A Altercom contará com um grupo de conselheiros que participarão das atividades e debates propostos pela entidade. Estão confirmados os nomes de : Luis Fernando Veríssimo, Ricardo Musse, José Luis Fiori, Ladislau Dowbor, Laurindo Leal Filho, Venício Lima, Emir Sader, Moacyr Scliar, Luiz Gonzaga Belluzzo, Ermínia Maricato, Carlos Alberto de Almeida, Emiliano José e Maria Victória de Mesquita Benevides.
O que é a Altercom
Empresários, empreendedores individuais, estudantes, professores e ativistas da área da comunicação criaram a Altercom no dia 27 de fevereiro deste ano, durante encontro realizado em São Paulo. A entidade terá como objetivo central defender os interesses políticos e econômicos das empresas e empreendedores de comunicação comprometidos com os princípios da democratização do acesso à comunicação, da pluralidade e da liberdade de expressão. Não a liberdade apenas para uns poucos grandes grupos midiáticos, como ocorre hoje, mas sim para a maioria da população que não tem respeitado hoje o direito à uma informação de qualidade.
Quanto mais proprietários e empreendimentos de comunicação houver no país, maior será a liberdade de expressão. Essa é uma das idéias que anima a criação da nova entidade: a garantia da expressão coletiva, a universalização do direito à liberdade de expressão. Por meio de uma intervenção coletiva organizada e articulada em todo o país, a Altercom pretende propor e disputar políticas públicas, além de regulamentações que democratizem o acesso aos meios e aos recursos de comunicação no Brasil. Outro objetivo da entidade é dar visibilidade às novas experiências midiáticas e comunicacionais que vêm se expandindo pelo país.
A idéia de criar a nova entidade surgiu no processo de debates preparatórios para a I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro, em Brasília. De lá para cá ocorreram uma série de reuniões preparatórias, em São Paulo e em Porto Alegre, que culminaram no encontro de 27 de fevereiro. No terreno econômico, a associação defenderá, entre outras coisas, uma regulamentação mais justa e clara das verbas públicas de publicidade, de modo a estimular a diversidade de opiniões existente na sociedade brasileira. Além disso, procurará articular pequenos e médios empresários e empreendedores do setor para disputar também parte da verba dos anunciantes privados. A Altercom pretende ainda abrir espaço para centenas de empreendedores individuais – a maioria deles blogueiros – que surgiram nos últimos anos no Brasil.
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A Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) realiza neste sábado, dia 10 de abril, sua Assembléia Constituinte, que deverá aprovar a carta de princípios e o estatuto da entidade. O encontro ocorrerá das 8h30min às 17h, no auditório do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (rua Genebra, 25, São Paulo). A pauta da assembléia é a seguinte:
8h30 às 9h – Encontro para debates preliminares;
9h às 10h –Discussão e aprovação da Carta de Princípios da Altercom;
10h às 12h –Discussão e aprovação do Estatuto da Altercom;
12h às 13 h – Inscrição das chapas para Diretoria (I. Assembléia Geral; II. Presidência; III. Conselho Fiscal; IV. Diretoria Executiva; V. Secretarias Técnicas; VI. Conselho Consultivo);
13h às 14h30h – Almoço;
15h – Eleição e escrutínio;
16h – Ato político de posse da diretoria eleita com a presença do senador Renato Casagrande (PSB) dos Deputados Paulo Teixeira (PT), Luiza Erundina (PSB), Manuela D’Ávila (PCdoB), Brizola Neto (PDT)e Rui Falcão (PT), para a formação de uma frente parlamentar de apoio à Altercom.
A Altercom contará com um grupo de conselheiros que participarão das atividades e debates propostos pela entidade. Estão confirmados os nomes de : Luis Fernando Veríssimo, Ricardo Musse, José Luis Fiori, Ladislau Dowbor, Laurindo Leal Filho, Venício Lima, Emir Sader, Moacyr Scliar, Luiz Gonzaga Belluzzo, Ermínia Maricato, Carlos Alberto de Almeida, Emiliano José e Maria Victória de Mesquita Benevides.
O que é a Altercom
Empresários, empreendedores individuais, estudantes, professores e ativistas da área da comunicação criaram a Altercom no dia 27 de fevereiro deste ano, durante encontro realizado em São Paulo. A entidade terá como objetivo central defender os interesses políticos e econômicos das empresas e empreendedores de comunicação comprometidos com os princípios da democratização do acesso à comunicação, da pluralidade e da liberdade de expressão. Não a liberdade apenas para uns poucos grandes grupos midiáticos, como ocorre hoje, mas sim para a maioria da população que não tem respeitado hoje o direito à uma informação de qualidade.
Quanto mais proprietários e empreendimentos de comunicação houver no país, maior será a liberdade de expressão. Essa é uma das idéias que anima a criação da nova entidade: a garantia da expressão coletiva, a universalização do direito à liberdade de expressão. Por meio de uma intervenção coletiva organizada e articulada em todo o país, a Altercom pretende propor e disputar políticas públicas, além de regulamentações que democratizem o acesso aos meios e aos recursos de comunicação no Brasil. Outro objetivo da entidade é dar visibilidade às novas experiências midiáticas e comunicacionais que vêm se expandindo pelo país.
A idéia de criar a nova entidade surgiu no processo de debates preparatórios para a I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro, em Brasília. De lá para cá ocorreram uma série de reuniões preparatórias, em São Paulo e em Porto Alegre, que culminaram no encontro de 27 de fevereiro. No terreno econômico, a associação defenderá, entre outras coisas, uma regulamentação mais justa e clara das verbas públicas de publicidade, de modo a estimular a diversidade de opiniões existente na sociedade brasileira. Além disso, procurará articular pequenos e médios empresários e empreendedores do setor para disputar também parte da verba dos anunciantes privados. A Altercom pretende ainda abrir espaço para centenas de empreendedores individuais – a maioria deles blogueiros – que surgiram nos últimos anos no Brasil.
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TV Globo manda no futebol e no Kassab
Como já era esperado, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) vetou ao projeto de lei 564/06, que restringia o horário do término dos jogos de futebol nos estádios da capital paulista até as 23h15. Numa nota lacônica, o demo alegou que “a limitação não parece razoável”. O projeto, de autoria dos vereadores Antonio Goulart (PMDB) e Agnaldo Timóteo (PR), foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo em 10 de março. Mas, novamente, o prefeito cedeu à TV Globo.
Com mais esta decisão antipopular, o demo revela todo o seu servilismo diante da Rede Globo e prejudica os amantes do futebol, impondo horários inviáveis aos paulistanos que gostam de ir aos estádios. Já a poderosa emissora, que se coloca acima dos anseios da sociedade na defesa de seus lucrativos negócios, demonstra todo o seu desrespeito aos torcedores e ao futebol brasileiro – que é encarado como mais uma mercadoria e não como um entretenimento popular.
“Televisão não pode regulamentar a vida”
Durante os intensos e tensos debates na Câmara de Vereadores, a prepotente a TV Globo sequer enviou seus representantes para discutir o tema. Apostou suas fichas no medo dos parlamentares e, como último recurso, no veto do prefeito. Mas, pressionados por vários setores da sociedade, os vereadores surpreenderam a emissora ao aprovar o projeto. Além da crítica dos torcedores, os vereadores sentiram a pressão de outros setores descontentes com o horário de transmissão das partidas. A Rádio Jovem Pan, por exemplo, fez campanha explícita pela aprovação do projeto.
Em editorial veiculado diariamente, ela atacou a TV Globo pela “forma primária e leviana como se pretendeu manipular a opinião pública e a consciência dos nossos vereadores e deputados”. Ainda segundo o editorial, “a grade de uma televisão não pode regulamentar a vida, a ponto de prejudicar a paz, o sono e a segurança dos cidadãos, o descanso de todos, de quem vai ao estádio e de quem assiste TV em casa. Essa não é uma briga do bem contra o mal. É um movimento que coloca o apelo popular, as pessoas pedindo o fim dos jogos às 10 da noite, o bom senso, enfim”.
Rebelião das outras emissoras
A pressão, porém, não foi suficiente. A Rede Globo contou com a fidelidade do prefeito Kassab, que deve favores à emissora por sua projeção política. Na prática, ela continuará mandando no futebol brasileiro, impondo horários absurdos para os jogos. Ela detém o direito de transmissão do campeonato nacional e de vários torneios estaduais, o que já provoca distorções, obrigando os torcedores de determinados estados a assistirem partidas de outras localidades. Este monopólio também prejudica outras emissoras de televisão, que se submetem à grade da TV Globo.
Antonio Carlos Teixeira, em artigo no Observatório da Imprensa, chega a fazer um apelo para que as outras redes de televisão se rebelem. “Essa postura, que revela a crueldade do monopólio da transmissão esportiva, tem passado dos limites. Por isso, a necessidade das demais emissoras se unirem para tentar quebrar o monopólio do TV Globo. O torcedor não tem mais opção aos domingos e às quartas-feiras. Engole-se aquilo que lhe enfia goela abaixo. No seco. Sem choro”.
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Com mais esta decisão antipopular, o demo revela todo o seu servilismo diante da Rede Globo e prejudica os amantes do futebol, impondo horários inviáveis aos paulistanos que gostam de ir aos estádios. Já a poderosa emissora, que se coloca acima dos anseios da sociedade na defesa de seus lucrativos negócios, demonstra todo o seu desrespeito aos torcedores e ao futebol brasileiro – que é encarado como mais uma mercadoria e não como um entretenimento popular.
“Televisão não pode regulamentar a vida”
Durante os intensos e tensos debates na Câmara de Vereadores, a prepotente a TV Globo sequer enviou seus representantes para discutir o tema. Apostou suas fichas no medo dos parlamentares e, como último recurso, no veto do prefeito. Mas, pressionados por vários setores da sociedade, os vereadores surpreenderam a emissora ao aprovar o projeto. Além da crítica dos torcedores, os vereadores sentiram a pressão de outros setores descontentes com o horário de transmissão das partidas. A Rádio Jovem Pan, por exemplo, fez campanha explícita pela aprovação do projeto.
Em editorial veiculado diariamente, ela atacou a TV Globo pela “forma primária e leviana como se pretendeu manipular a opinião pública e a consciência dos nossos vereadores e deputados”. Ainda segundo o editorial, “a grade de uma televisão não pode regulamentar a vida, a ponto de prejudicar a paz, o sono e a segurança dos cidadãos, o descanso de todos, de quem vai ao estádio e de quem assiste TV em casa. Essa não é uma briga do bem contra o mal. É um movimento que coloca o apelo popular, as pessoas pedindo o fim dos jogos às 10 da noite, o bom senso, enfim”.
Rebelião das outras emissoras
A pressão, porém, não foi suficiente. A Rede Globo contou com a fidelidade do prefeito Kassab, que deve favores à emissora por sua projeção política. Na prática, ela continuará mandando no futebol brasileiro, impondo horários absurdos para os jogos. Ela detém o direito de transmissão do campeonato nacional e de vários torneios estaduais, o que já provoca distorções, obrigando os torcedores de determinados estados a assistirem partidas de outras localidades. Este monopólio também prejudica outras emissoras de televisão, que se submetem à grade da TV Globo.
Antonio Carlos Teixeira, em artigo no Observatório da Imprensa, chega a fazer um apelo para que as outras redes de televisão se rebelem. “Essa postura, que revela a crueldade do monopólio da transmissão esportiva, tem passado dos limites. Por isso, a necessidade das demais emissoras se unirem para tentar quebrar o monopólio do TV Globo. O torcedor não tem mais opção aos domingos e às quartas-feiras. Engole-se aquilo que lhe enfia goela abaixo. No seco. Sem choro”.
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quinta-feira, 8 de abril de 2010
O acelerado declínio da mídia golpista
O jornal Valor publicou recentemente matéria que deve ter irritado os filhos de Otávio Frias – os donos da Folha, do Datafolha e do próprio Valor – em parceria com as Organizações Globo. Ela informa que, de 1996 a 2009, a Folha perdeu 43% de seus leitores. No mesmo período, O Globo, dos filhos do Marinho, teve queda de 36%; e o Estadão caiu 23%. Os herdeiros estão afundando os impérios dos seus pais, que tiveram a sua fase áurea nos tempos da ditadura militar no Brasil.
O artigo é até razoavelmente honesto e consistente. Ele tenta apontar as causas da decadência dos jornais impressos. Mostra que a internet causou a migração de milhões de leitores; que a recente crise capitalista afetou as empresas tradicionais, que cortaram gastos e pioraram a qualidade dos conteúdos; e que, na contracorrente, há um crescimento dos jornais populares e gratuitos. Estas causas são reais e geram fortes abalos na mídia impressa do mundo todo.
A crise mundial da indústria de jornal
Há poucos dias foi divulgado o relatório “Estado da Imprensa”, publicado anualmente pelo Pew Project for Excellence in Journalism. Ele comprova que a situação da mídia impressa mundial é dramática. Como apontou Carlos Castilho, num artigo no Observatório da Imprensa, “o relatório de 2010 está carregado de pessimismo, a ponto de prever que os jornais norte-americanos têm um prazo até 2013 para achar um novo modelo de negócios”. O risco é de se tornaram inúteis!
Já o Instituto Poynter, da Flórida, estima que a indústria de jornal perdeu 30% de sua capacidade produtiva, avaliada em US$ 1,6 bilhão, desde 2000. E a firma Veronis Suhler Stevenson calcula que, em 2013, a mídia dos EUA deve faturar 43% a menos do que em 2006. “É uma queda assustadora e que fica ainda mais preocupante quando se leva em conta que a tiragem média dos jornais norte-americanos caiu 25,6% desde o ano 2000 e que aproximadamente 14 mil jornalistas ficaram desempregados desde 2007”, conclui Castilho.
A perda de credibilidade dos jornais
Neste sentido, a grave crise da mídia impressa tem fortes razões objetivas. Mas o artigo do Valor peca ao não tratar também das causas subjetivas. Ele isenta os barões da mídia de qualquer culpa pelo vertiginoso declínio. Nem daria para esperar outra atitude do jornalista, que poderia colocar o seu emprego em risco. Vários estudos, porém, têm demonstrado que há uma sensível perda de credibilidade dos jornais tradicionais. O próprio êxodo para a internet deriva da queda dos meios unidirecionais, com os leitores procurando fontes alternativas de informação e entretenimento.
Pascual Serrano, um dos criadores do sítio Rebelión, não vacila em afirmar que a atual declínio decorre de quatro fatores essenciais: “crise de identidade” (o público já não confia nos veículos, tendo constatado que eles mentem e ocultam a realidade); “crise de objetividade” (o mito da neutralidade sucumbe e a confiança no jornalismo despenca); “crise de autoridade” (a internet revela a capacidade das mídias alternativas de enfrentar o poder das corporações); e “crise de informação” (a dinâmica mercantilista provoca a perda de qualidade da atividade jornalística).
O PIG não presta, é um lixo
No mesmo rumo, Emir Sader conclui que “a crise da imprensa é da perda de credibilidade, é uma crise ética, de sua transformação num instrumento de publicidade, do ponto de vista econômico, e da sua constituição em mentor político e ideológico da direita. Os dados demonstram que todos os grandes jornais brasileiros perdem leitores e, sobretudo, perdem influência. Embora todos os maiores jornais e quase todas as revistas semanais – à exceção da Carta Capital – sejam de férrea oposição ao governo, este mantém 83% de apoio e eles conseguem apenas 5% de rejeição ao governo. Temos aí a uma idéia da baixíssima produtividade desses órgãos de oposição”.
Mais escrachado, o blogueiro Paulo Henrique Amorim festejou os dados recém-divulgados pelo Valor. Para ele, a reportagem só cometeu um erro. “Esqueceu-se da principal causa da acelerada decadência do PIG (Partido da Imprensa Golpista). O PIG não presta... O PIG é um lixo”.
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O artigo é até razoavelmente honesto e consistente. Ele tenta apontar as causas da decadência dos jornais impressos. Mostra que a internet causou a migração de milhões de leitores; que a recente crise capitalista afetou as empresas tradicionais, que cortaram gastos e pioraram a qualidade dos conteúdos; e que, na contracorrente, há um crescimento dos jornais populares e gratuitos. Estas causas são reais e geram fortes abalos na mídia impressa do mundo todo.
A crise mundial da indústria de jornal
Há poucos dias foi divulgado o relatório “Estado da Imprensa”, publicado anualmente pelo Pew Project for Excellence in Journalism. Ele comprova que a situação da mídia impressa mundial é dramática. Como apontou Carlos Castilho, num artigo no Observatório da Imprensa, “o relatório de 2010 está carregado de pessimismo, a ponto de prever que os jornais norte-americanos têm um prazo até 2013 para achar um novo modelo de negócios”. O risco é de se tornaram inúteis!
Já o Instituto Poynter, da Flórida, estima que a indústria de jornal perdeu 30% de sua capacidade produtiva, avaliada em US$ 1,6 bilhão, desde 2000. E a firma Veronis Suhler Stevenson calcula que, em 2013, a mídia dos EUA deve faturar 43% a menos do que em 2006. “É uma queda assustadora e que fica ainda mais preocupante quando se leva em conta que a tiragem média dos jornais norte-americanos caiu 25,6% desde o ano 2000 e que aproximadamente 14 mil jornalistas ficaram desempregados desde 2007”, conclui Castilho.
A perda de credibilidade dos jornais
Neste sentido, a grave crise da mídia impressa tem fortes razões objetivas. Mas o artigo do Valor peca ao não tratar também das causas subjetivas. Ele isenta os barões da mídia de qualquer culpa pelo vertiginoso declínio. Nem daria para esperar outra atitude do jornalista, que poderia colocar o seu emprego em risco. Vários estudos, porém, têm demonstrado que há uma sensível perda de credibilidade dos jornais tradicionais. O próprio êxodo para a internet deriva da queda dos meios unidirecionais, com os leitores procurando fontes alternativas de informação e entretenimento.
Pascual Serrano, um dos criadores do sítio Rebelión, não vacila em afirmar que a atual declínio decorre de quatro fatores essenciais: “crise de identidade” (o público já não confia nos veículos, tendo constatado que eles mentem e ocultam a realidade); “crise de objetividade” (o mito da neutralidade sucumbe e a confiança no jornalismo despenca); “crise de autoridade” (a internet revela a capacidade das mídias alternativas de enfrentar o poder das corporações); e “crise de informação” (a dinâmica mercantilista provoca a perda de qualidade da atividade jornalística).
O PIG não presta, é um lixo
No mesmo rumo, Emir Sader conclui que “a crise da imprensa é da perda de credibilidade, é uma crise ética, de sua transformação num instrumento de publicidade, do ponto de vista econômico, e da sua constituição em mentor político e ideológico da direita. Os dados demonstram que todos os grandes jornais brasileiros perdem leitores e, sobretudo, perdem influência. Embora todos os maiores jornais e quase todas as revistas semanais – à exceção da Carta Capital – sejam de férrea oposição ao governo, este mantém 83% de apoio e eles conseguem apenas 5% de rejeição ao governo. Temos aí a uma idéia da baixíssima produtividade desses órgãos de oposição”.
Mais escrachado, o blogueiro Paulo Henrique Amorim festejou os dados recém-divulgados pelo Valor. Para ele, a reportagem só cometeu um erro. “Esqueceu-se da principal causa da acelerada decadência do PIG (Partido da Imprensa Golpista). O PIG não presta... O PIG é um lixo”.
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quarta-feira, 7 de abril de 2010
Imagens da ditadura de José Serra
Foto 1- Repressão à greve dos funcionários da Universidade de São Paulo (USP);
Foto 2- Repressão à greve dos policiais civis; cenas de guerra na capital paulista;
Foto 3- Repressão à greve dos professores diante do Palácio dos Bandeirantes;
Foto 4- Repressão às vítimas das enchentes na zona leste da capital paulista.
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O Globo investe contra as 40 horas
No editorial desta terça-feira (6), O Globo voltou a atacar os avanços nos direitos trabalhistas com um discurso que lembra muito o dos escravocratas na época da abolição. No final do século 19, usando uma retórica terrorista, os senhores de escravos garantiram que o fim da escravidão levaria o país ao caos, inviabilizaria o seu desenvolvimento econômico e geraria mais miséria e depravações sociais. O Brasil foi o último das Américas a extinguir a escravidão e o presságio da Casa Grande não se confirmou; o país cresceu e se desenvolveu – ainda que de forma injusta.
Hoje, com o mesmo tom apocalíptico, a famíglia Marinho investe contra dois projetos em debate no parlamento. O editorial é taxativo: “Há prejuízos decorrentes de alguns destes projetos que são indiretos, mas nem por isso são menos deletérios. Caso das propostas de redução da jornada de trabalho de 44 horas semanais para 40 e a da ampliação da licença-maternidade compulsória de quatro para seis meses. São aparentes generosidades que elevam o custo de pessoal para os empregadores e, por isso, como bumerangue, voltam na forma de menos empregos formais”.
Mentalidade escravocrata do capital
O jornal carioca, que não esconde a sua torcida pela candidatura neoliberal do tucano José Serra, também aproveita a discussão sobre os projetos de lei para fustigar a “generosidade” do governo Lula. O alvo escolhido é o ministro Carlos Lupi. “Seu ministério, o do Trabalho, funciona com uma usina demagógica de elaboração dessas propostas – e faz questão de dar um tom de ‘vitória a qualquer preço’ em defesa da candidatura de Dilma Rousseff”.
Os ataques do jornal O Globo não são gratuitos; expressam a visão retrógrada do empresariado. Num artigo recente na Folha, Benjamin Steinbruch, chefão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), que nunca reclamou da “generosidade” do governo na privataria do setor siderúrgico, também condenou a redução da jornada. Para ele, a aprovação deste projeto “seria certamente uma irresponsabilidade... O custo final dessa alteração, feita no embalo do ano eleitoral, poderia ser muito alto para o país”.
Redução estimula o desenvolvimento
Os argumentos escravocratas do jornal O Globo não têm qualquer consistência. Vários estudos demonstram que a redução da jornada, além de gerar mais vagas e permitir uma vida bem mais decente para os que já estão empregados, serviria também para impulsionar o desenvolvimento econômico do país. A medida estimularia o mercado interno ao gerar mais emprego e renda, o que eleva consumo e, conseqüentemente, a produção e a própria produtividade do trabalho. A redução da jornada não resulta em caos, mas sim em progresso econômico e social.
O Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas calcula que a medida abriria, em curto prazo, 2,3 milhões de vagas. Recente nota técnica do Dieese aponta que “num contexto de crescente demanda por mão-de-obra qualificada, a redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários, poderia contribuir positivamente para este desafio, na medida em que sobrariam mais horas para o trabalhador freqüentar cursos de qualificação... Ela também tornará possível, ao trabalhador, dedicar mais tempo ao convívio familiar, estudo, lazer e descanso”.
Nada de “demagogia” ou “generosidade”
“Esses fatores desencadeados pela redução da jornada sem a redução de salários poderiam criar um círculo virtuoso na economia, combinando a ampliação do emprego, o aumento do consumo, a elevação dos níveis da produtividade do trabalho, a melhoria da competitividade do setor produtivo, a redução dos acidentes e doenças do trabalho, a maior qualificação do trabalhador, a elevação da arrecadação tributária, enfim um maior crescimento econômico com melhoria da distribuição de renda”, conclui o Dieese, desbancado as teses patronais e o editorial de O Globo.
A adoção das 40 horas também não seria nenhuma “medida demagógica” ou “generosidade”. O custo da força de trabalho no país é um dos mais baixos do mundo e a jornada encontra-se entre as mais altas. Com o crescimento da economia brasileira, as empresas têm auferido lucros recordes nos últimos anos. A elite burguesa está nadando em dinheiro e não tem do que reclamar. A sua ofensiva contra o projeto da redução da jornada, que está para ver votado no Congresso, expressa apenas a mentalidade escravocrata do empresariado e da sua mídia de aluguel.
Custo horário da mão-de-obra manufatureira em 2007:
Países US$
Noruega 48,50
Alemanha 37,66
Bélgica 35,45
Austrália 30,17
Reino Unido 29,73
Canadá 28,91
França 28,57
Itália 28,23
Estados Unidos 24,59
Espanha 20,98
Japão 19,75
Coréia 16,02
Singapura 8,35
Portugal 8,27
Taiwan 6,58
Brasil 5,96
Jornada média de trabalho (2006)
Países Horas semanais
Japão 43,5
Brasil 43,0
Chile 43,0
Suíça 41,2
EUA 41,1
Reino Unido 40,7
Canadá 39,6
Alemanha 37,6
Espanha 35,3
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Hoje, com o mesmo tom apocalíptico, a famíglia Marinho investe contra dois projetos em debate no parlamento. O editorial é taxativo: “Há prejuízos decorrentes de alguns destes projetos que são indiretos, mas nem por isso são menos deletérios. Caso das propostas de redução da jornada de trabalho de 44 horas semanais para 40 e a da ampliação da licença-maternidade compulsória de quatro para seis meses. São aparentes generosidades que elevam o custo de pessoal para os empregadores e, por isso, como bumerangue, voltam na forma de menos empregos formais”.
Mentalidade escravocrata do capital
O jornal carioca, que não esconde a sua torcida pela candidatura neoliberal do tucano José Serra, também aproveita a discussão sobre os projetos de lei para fustigar a “generosidade” do governo Lula. O alvo escolhido é o ministro Carlos Lupi. “Seu ministério, o do Trabalho, funciona com uma usina demagógica de elaboração dessas propostas – e faz questão de dar um tom de ‘vitória a qualquer preço’ em defesa da candidatura de Dilma Rousseff”.
Os ataques do jornal O Globo não são gratuitos; expressam a visão retrógrada do empresariado. Num artigo recente na Folha, Benjamin Steinbruch, chefão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), que nunca reclamou da “generosidade” do governo na privataria do setor siderúrgico, também condenou a redução da jornada. Para ele, a aprovação deste projeto “seria certamente uma irresponsabilidade... O custo final dessa alteração, feita no embalo do ano eleitoral, poderia ser muito alto para o país”.
Redução estimula o desenvolvimento
Os argumentos escravocratas do jornal O Globo não têm qualquer consistência. Vários estudos demonstram que a redução da jornada, além de gerar mais vagas e permitir uma vida bem mais decente para os que já estão empregados, serviria também para impulsionar o desenvolvimento econômico do país. A medida estimularia o mercado interno ao gerar mais emprego e renda, o que eleva consumo e, conseqüentemente, a produção e a própria produtividade do trabalho. A redução da jornada não resulta em caos, mas sim em progresso econômico e social.
O Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas calcula que a medida abriria, em curto prazo, 2,3 milhões de vagas. Recente nota técnica do Dieese aponta que “num contexto de crescente demanda por mão-de-obra qualificada, a redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários, poderia contribuir positivamente para este desafio, na medida em que sobrariam mais horas para o trabalhador freqüentar cursos de qualificação... Ela também tornará possível, ao trabalhador, dedicar mais tempo ao convívio familiar, estudo, lazer e descanso”.
Nada de “demagogia” ou “generosidade”
“Esses fatores desencadeados pela redução da jornada sem a redução de salários poderiam criar um círculo virtuoso na economia, combinando a ampliação do emprego, o aumento do consumo, a elevação dos níveis da produtividade do trabalho, a melhoria da competitividade do setor produtivo, a redução dos acidentes e doenças do trabalho, a maior qualificação do trabalhador, a elevação da arrecadação tributária, enfim um maior crescimento econômico com melhoria da distribuição de renda”, conclui o Dieese, desbancado as teses patronais e o editorial de O Globo.
A adoção das 40 horas também não seria nenhuma “medida demagógica” ou “generosidade”. O custo da força de trabalho no país é um dos mais baixos do mundo e a jornada encontra-se entre as mais altas. Com o crescimento da economia brasileira, as empresas têm auferido lucros recordes nos últimos anos. A elite burguesa está nadando em dinheiro e não tem do que reclamar. A sua ofensiva contra o projeto da redução da jornada, que está para ver votado no Congresso, expressa apenas a mentalidade escravocrata do empresariado e da sua mídia de aluguel.
Custo horário da mão-de-obra manufatureira em 2007:
Países US$
Noruega 48,50
Alemanha 37,66
Bélgica 35,45
Austrália 30,17
Reino Unido 29,73
Canadá 28,91
França 28,57
Itália 28,23
Estados Unidos 24,59
Espanha 20,98
Japão 19,75
Coréia 16,02
Singapura 8,35
Portugal 8,27
Taiwan 6,58
Brasil 5,96
Jornada média de trabalho (2006)
Países Horas semanais
Japão 43,5
Brasil 43,0
Chile 43,0
Suíça 41,2
EUA 41,1
Reino Unido 40,7
Canadá 39,6
Alemanha 37,6
Espanha 35,3
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Cinco jornalistas executados em Honduras
Somente no mês passado, cinco jornalistas foram assassinados em Honduras por esquadrões da morte. Em 26 de março, Ballardo Mairena e Manuel Juarez, que viajavam de carro para a cidade de Juticalpa, foram rendidos e executados. Os corpos foram encontrados com 13 perfurações de bala cada um, denunciou a TeleSur, a única emissora de televisão que acompanha a resistência popular aos golpistas de junho passado. Antes deles, foram mortos os jornalistas Joseph Ocho, na capital Tegucigalpa; David Montesinos, em La Ceiba; e Nahún Palacios, em Tocoa.
Segundo denuncia o presidente da Associação de Imprensa Hondurenha, Carlos Ortiz, o governo fascista de Porfírio Lobo, bancado pelos EUA, “atenta contra a liberdade de imprensa e o direito que tem o povo de ser informado. Não é possível que se continue assassinando jornalistas e nada seja feito”. O megaempresário Porfírio Lobo foi “eleito” em novembro passado numa eleição de fachada, feita sob os auspícios dos golpistas que depuseram o presidente eleito Manuel Zelaya.
Barbárie e resistência popular
Quando do golpe cívico-militar, em junho de 2009, a repressão se abateu violentamente contra as forças legalistas. A Rádio Globo (que não tem qualquer relação com a golpista brasileira) teve os equipamentos destruídos e vários radialistas detidos. Emissoras independentes de televisão foram fechadas e a censura virou regra. Lideranças sindicais e populares foram presas e, de acordo com vários relatos, muitas foram assassinadas por esquadrões formados por policiais mercenários. As execuções sumárias prosseguem até hoje e Porfírio Lobo garante a impunidade aos criminosos.
Apesar da violência, a resistência hondurenha persiste. No final de março, milhares de pessoas marcharam na capital para exigir a volta da democracia e a revogação das medidas neoliberais do governo. A passeata terminou na Universidade Nacional Autônoma, que se encontra ocupada por professores e estudantes. Juan Bara-hona, coordenador da Frente de Resistência ao Golpe, exigiu a libertação de 15 sindicalistas presos sob a acusação de “usurpação das funções”. Dias antes, o professor José Manuel Flores, dirigente da frente, foi assassinado por homens encapuzados.
O silêncio cúmplice da mídia
A dramática situação de Honduras, que retoma a tradição dos sangrentos golpes contra governos democraticamente eleitos, exige a solidariedade militante das forças progressistas do continente. Os EUA, apesar da falsa retórica de Barack Obama, mantêm a pressão pelo reconhecimento da ditadura de Porfírio Lobo. Qualquer vacilo pode levar à consolidação deste regime fascistóide e incentivar outras ações golpistas na região, em especial no sofrida América Central.
Neste esforço de solidariedade também é preciso denunciar o silêncio cúmplice da mídia privada. Ela que torceu pelos golpistas, tratando-os como “governo de fato”, e que atacou o governo Lula por dar abrigo ao presidente Manuel Zelaya, agora nada fala sobre a ditadura hondurenha. Até o cínico discurso sobre a “liberdade de expressão” já foi arquivado. Os barões da mídia brasileira, teleguiados pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), braço da CIA na América Latina, hoje evitam criticar a censura, as perseguições e os assassinados de jornalistas em Honduras.
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Segundo denuncia o presidente da Associação de Imprensa Hondurenha, Carlos Ortiz, o governo fascista de Porfírio Lobo, bancado pelos EUA, “atenta contra a liberdade de imprensa e o direito que tem o povo de ser informado. Não é possível que se continue assassinando jornalistas e nada seja feito”. O megaempresário Porfírio Lobo foi “eleito” em novembro passado numa eleição de fachada, feita sob os auspícios dos golpistas que depuseram o presidente eleito Manuel Zelaya.
Barbárie e resistência popular
Quando do golpe cívico-militar, em junho de 2009, a repressão se abateu violentamente contra as forças legalistas. A Rádio Globo (que não tem qualquer relação com a golpista brasileira) teve os equipamentos destruídos e vários radialistas detidos. Emissoras independentes de televisão foram fechadas e a censura virou regra. Lideranças sindicais e populares foram presas e, de acordo com vários relatos, muitas foram assassinadas por esquadrões formados por policiais mercenários. As execuções sumárias prosseguem até hoje e Porfírio Lobo garante a impunidade aos criminosos.
Apesar da violência, a resistência hondurenha persiste. No final de março, milhares de pessoas marcharam na capital para exigir a volta da democracia e a revogação das medidas neoliberais do governo. A passeata terminou na Universidade Nacional Autônoma, que se encontra ocupada por professores e estudantes. Juan Bara-hona, coordenador da Frente de Resistência ao Golpe, exigiu a libertação de 15 sindicalistas presos sob a acusação de “usurpação das funções”. Dias antes, o professor José Manuel Flores, dirigente da frente, foi assassinado por homens encapuzados.
O silêncio cúmplice da mídia
A dramática situação de Honduras, que retoma a tradição dos sangrentos golpes contra governos democraticamente eleitos, exige a solidariedade militante das forças progressistas do continente. Os EUA, apesar da falsa retórica de Barack Obama, mantêm a pressão pelo reconhecimento da ditadura de Porfírio Lobo. Qualquer vacilo pode levar à consolidação deste regime fascistóide e incentivar outras ações golpistas na região, em especial no sofrida América Central.
Neste esforço de solidariedade também é preciso denunciar o silêncio cúmplice da mídia privada. Ela que torceu pelos golpistas, tratando-os como “governo de fato”, e que atacou o governo Lula por dar abrigo ao presidente Manuel Zelaya, agora nada fala sobre a ditadura hondurenha. Até o cínico discurso sobre a “liberdade de expressão” já foi arquivado. Os barões da mídia brasileira, teleguiados pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), braço da CIA na América Latina, hoje evitam criticar a censura, as perseguições e os assassinados de jornalistas em Honduras.
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terça-feira, 6 de abril de 2010
O trololó do coadjuvante FHC
O ex-presidente FHC está magoado e não consegue mais conter sua língua. Neste fim de semana, ele publicou mais um artigo rancoroso contra Lula e a candidata Dilma Rousseff. Até colunistas da mídia demotucana notaram sua dor. Josias de Souza, da Folha, registrou: “Fernando Henrique Cardoso não parece disposto a cumprir o papel de coadjuvante que o seu partido, o PSDB, lhe atribuiu na eleição de 2010”. Já Dora Kramer, do Estadão, tomou as dores do amigo e espinafrou o “tucanatinho” que trata o pobre FHC como “um cunhado que vive dando vexame”.
É muita maldade! O ex-presidente não foi convidado para a festança de despedida de José Serra do Palácio dos Bandeirantes e foi excluído do convite oficial de lançamento da candidatura. “O tucanatinho acha que ele não fica bem na fotografia do vigoroso partido onde vicejam próceres cuja capacidade de distinguir credibilidade de popularidade é nenhuma... Acha que isso os autoriza a jogar no lixo o respeito devido a quem permitiu que o partido iniciasse sua trajetória de vida pela rampa do Palácio do Planalto”, lamentou Dora Kramer, a bajuladora de FHC.
O autoritário fala em democracia
Magoado, o sociólogo da nobreza neoliberal escreveu seu terceiro artigo raivoso em curto espaço de tempo. No anterior, ele cometera a deselegância de rotular Dilma Rousseff de “boneca de ventríloquo”. No deste domingo, ele aproveitou a onda anticomunista para comparar o governo brasileiro ao da China, que combinaria desenvolvimento econômico com partido único. Em tom terrorista, o rejeitado FHC adverte as elites que a eleição de outubro colocará em jogo “a própria concepção do que seja democracia”. Dilma seria a expressão do mais perigoso autoritarismo!
O cínico FHC – que rasgou a Constituição e comprou deputados para garantir sua reeleição, que acionou o Exército contra a greve dos petroleiros, que demonizou o MST e que desqualificou as críticas ao seu governo como “nhenhenhém” – garante que Lula conduz o país a “um modelo de sociedade” autoritário, de “pensamento único”. Para ele, a candidatura Dilma Rousseff seria o ápice desta orientação, “que se descola da tradição democrática brasileira, para dizer o mínimo”.
O neoliberal ataca o desenvolvimento
O neoliberal – que desmontou o Estado, a nação e o trabalho, paralisando a economia e causando recordes de desemprego – ainda condena a política desenvolvimentista do atual governo. Feroz inimigo de Getúlio Vargas, FHC agora descarrega seu ódio contra Lula, que estaria patrocinando “uma forma de capitalismo na qual o governo e as grandes corporações, especialmente públicas, unem-se sob a tutela de uma burocracia permeada por interesses corporativos e partidários”. Ele parece incomodado com os índices de crescimento econômico e de geração de emprego e renda.
Oportunista, FHC também dispara bravatas. Ele critica “as alianças feitas sem preocupação com a coerência político-ideológica”. Será que está se referindo a aliança entre tucanos e demos, entre os neoliberais “modernos” e a oligarquia conservadora, criada na estufa da ditadura militar? Ele ataca ainda a “leniência com a corrupção”, talvez numa autocrítica atrasada sobre os seus rasgados elogios ao governador José Roberto Arruda, o “vice-careca” de Serra que permanece preso. Mais sujo do que pau de galinheiro, o ex-presidente insiste em vender a imagem de paladino da ética.
Enterrado em vida pelos seus
Como ironiza o sociólogo Emir Sader, o ex-presidente não vai parar com o seu “trololó” – para usar expressão recente do tucano José Serra num acesso de raiva contra os professores em greve. “O tamanho da vaidade de FHC parece ser o maior adversário de seus correligionários de partido e ex-colegas de governo... Ele não agüenta ver o seu governo atacado e não contar com ninguém que o defenda – como aconteceu no segundo turno de 2006... Eles se deram conta que aceitar a comparação entre os dois governos – o de Lula e o de FHC – é o caminho seguro da derrota”.
“Triste figura a do FHC. Rejeitado por seus correligionários, pela rejeição que sofre do povo brasileiro, funciona como clown, como personagem folclórica, lembrança de um passado que o governo luta para terminar de superar e a oposição para tentar esquecer e apagar da recordação dos brasileiros. Escondido pelos seus, repudiado pelos seus adversários, enterrado em vida pelos seus, tomado como anti-exemplo por seus adversários”, conclui Emir Sader.
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É muita maldade! O ex-presidente não foi convidado para a festança de despedida de José Serra do Palácio dos Bandeirantes e foi excluído do convite oficial de lançamento da candidatura. “O tucanatinho acha que ele não fica bem na fotografia do vigoroso partido onde vicejam próceres cuja capacidade de distinguir credibilidade de popularidade é nenhuma... Acha que isso os autoriza a jogar no lixo o respeito devido a quem permitiu que o partido iniciasse sua trajetória de vida pela rampa do Palácio do Planalto”, lamentou Dora Kramer, a bajuladora de FHC.
O autoritário fala em democracia
Magoado, o sociólogo da nobreza neoliberal escreveu seu terceiro artigo raivoso em curto espaço de tempo. No anterior, ele cometera a deselegância de rotular Dilma Rousseff de “boneca de ventríloquo”. No deste domingo, ele aproveitou a onda anticomunista para comparar o governo brasileiro ao da China, que combinaria desenvolvimento econômico com partido único. Em tom terrorista, o rejeitado FHC adverte as elites que a eleição de outubro colocará em jogo “a própria concepção do que seja democracia”. Dilma seria a expressão do mais perigoso autoritarismo!
O cínico FHC – que rasgou a Constituição e comprou deputados para garantir sua reeleição, que acionou o Exército contra a greve dos petroleiros, que demonizou o MST e que desqualificou as críticas ao seu governo como “nhenhenhém” – garante que Lula conduz o país a “um modelo de sociedade” autoritário, de “pensamento único”. Para ele, a candidatura Dilma Rousseff seria o ápice desta orientação, “que se descola da tradição democrática brasileira, para dizer o mínimo”.
O neoliberal ataca o desenvolvimento
O neoliberal – que desmontou o Estado, a nação e o trabalho, paralisando a economia e causando recordes de desemprego – ainda condena a política desenvolvimentista do atual governo. Feroz inimigo de Getúlio Vargas, FHC agora descarrega seu ódio contra Lula, que estaria patrocinando “uma forma de capitalismo na qual o governo e as grandes corporações, especialmente públicas, unem-se sob a tutela de uma burocracia permeada por interesses corporativos e partidários”. Ele parece incomodado com os índices de crescimento econômico e de geração de emprego e renda.
Oportunista, FHC também dispara bravatas. Ele critica “as alianças feitas sem preocupação com a coerência político-ideológica”. Será que está se referindo a aliança entre tucanos e demos, entre os neoliberais “modernos” e a oligarquia conservadora, criada na estufa da ditadura militar? Ele ataca ainda a “leniência com a corrupção”, talvez numa autocrítica atrasada sobre os seus rasgados elogios ao governador José Roberto Arruda, o “vice-careca” de Serra que permanece preso. Mais sujo do que pau de galinheiro, o ex-presidente insiste em vender a imagem de paladino da ética.
Enterrado em vida pelos seus
Como ironiza o sociólogo Emir Sader, o ex-presidente não vai parar com o seu “trololó” – para usar expressão recente do tucano José Serra num acesso de raiva contra os professores em greve. “O tamanho da vaidade de FHC parece ser o maior adversário de seus correligionários de partido e ex-colegas de governo... Ele não agüenta ver o seu governo atacado e não contar com ninguém que o defenda – como aconteceu no segundo turno de 2006... Eles se deram conta que aceitar a comparação entre os dois governos – o de Lula e o de FHC – é o caminho seguro da derrota”.
“Triste figura a do FHC. Rejeitado por seus correligionários, pela rejeição que sofre do povo brasileiro, funciona como clown, como personagem folclórica, lembrança de um passado que o governo luta para terminar de superar e a oposição para tentar esquecer e apagar da recordação dos brasileiros. Escondido pelos seus, repudiado pelos seus adversários, enterrado em vida pelos seus, tomado como anti-exemplo por seus adversários”, conclui Emir Sader.
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EUA metralham crianças no Iraque
O sítio WikiLeaks, especializado na divulgação de documentos classificados, postou um vídeo em preto e branco, gravado do interior de um helicóptero Apache dos EUA, que mostra o chacina de 12 pessoas, todas civis – inclusive duas crianças no interior de uma van –, em julho de 2007, num bairro de Bagdá. Entre os mortos, dois jornalistas da Reuters. Na época, diante da pressão da agência de notícias, o governo dos EUA argumentou que o helicóptero tinha sido atacado. Pura mentira. O vídeo é impressionante, revoltante, e mostra o grau de selvageria do imperialismo estadunidense.
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segunda-feira, 5 de abril de 2010
O time da pesada da campanha de Serra
Com o título “Serra chama para a campanha o mesmo grupo que o ajudou quatro anos atrás”, a Folha de S.Paulo noticiou neste domingo que o pré-candidato tucano já começou a montar a sua equipe para a corrida presidencial. Os nomes mencionados pela repórter Catia Seabra confirmam a opção do ex-governador paulista por uma forte marca neoliberal e autoritária na sua campanha, no rumo da polarização programática – o que será bastante positivo para o debate sucessório.
Segundo a Folha, o time de José Serra será composto, entre outros, por Sérgio Guerra, presidente do PSDB e coordenador-geral da campanha; Xico Graziano, indicado para elaborar o programa de governo; Andrea Matarazzo e Márcio Fortes, ambos responsáveis pela “interlocução com o empresariado – seja para quebrar resistências ao candidato ou na busca de apoio financeiro”. O time é da pesada. Todos são trogloditas de carteirinha, que não irão amaciar na campanha.
“Nós vamos acabar com ele [PAC]”
O senador Sérgio Guerra, pecuarista, criador de cavalos de raça e rico empresário pernambucano, atua de acordo com o vento (por falta de oportunidade, não faltam oportunistas), já tendo passado por quatro partidos, mas virou um inimigo feroz do presidente Lula. Detesta a política externa do atual governo, critica a "gastança" com os programas sociais, exigi maior repressão aos movimentos sociais. Ele gosta de posar de ético, mas ficou famoso pelo envolvimento no escândalo dos “anões do orçamento”, em 1993.
Destemperado, ele cria constrangimentos no seu próprio partido. Numa entrevista à revista Veja, em janeiro último, ele bombardeou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e concluiu: “Nós vamos acabar com ele”. A confissão irritou o PSDB e Sérgio Guerra teve que engolir suas besteiras. Na semana passada, ele voltou a rosnar num artigo na Folha, no qual afirmou que Lula é “contra a liberdade de imprensa” e disparou mentiras grosseiras contra Cuba e Venezuela.
Inimigo da reforma agrária e do MST
Já Xico Graziano é sempre acionado para o trabalho sujo nas eleições. Ajudou nas campanhas de José Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006. Foi assessor especial do ex-presidente FHC e se projetou na presidência do Incra ao defender a concentração fundiária – “a reforma agrária é um atraso” – e ao criminalizar o MST, tratado como “banditismo rural”, cujo seus líderes “botam medo no Estado” e são “justiceiros, que invocam cânones divinos e arrebentam cercas”.
Como coordenador do programa, é de se esperar uma plataforma direitista bem nítida. Graziano não esconde suas idéias fascistóides. Num artigo escrito às vésperas da eleição de 2006, atacou: “Ao lado do MST, você tem um setor muito atrasado da Igreja Católica, aglutinado na Comissão Pastoral da Terra, cujo expoente é Tomás Balduíno. À esquerda atrasada da Igreja, soma-se a esquerda atrasada petista... E o governo Lula não tem coragem de assumir a modernidade”. Na prática, há muito ele se converteu à tese oligárquica de que “a luta social é caso de polícia”.
Os “operadores” de campanha
Os empresários Andrea Matarazzo e Márcio Fortes serão os pivôs de arrecadação da campanha. O primeiro, sobrinho-neto do “conde” Francesco Matarazzo, é uma peça chave nos esquemas de José Serra. Neoliberal convicto, ele comandou vários programas de privatização em São Paulo. Quando o grão-tucano foi eleito governador, ele permaneceu na prefeitura da capital, ocupando a secretaria de coordenação das subprefeituras, mas logo saiu devido aos atritos com o demo Gilberto Kassab. Ficou famoso por sua política de “higienização”, contra os moradores de rua.
A indicação de Andrea Matarazzo pode causar dores de cabeça para Serra. Recentemente, com a eclosão dos escândalos de suborno da multinacional Alstom, o nome do “operador” de campanha do grão-tucano voltou à berlinda. Ele seria uma dos responsáveis pela montagem do caixa-2 dos tucanos, que teria a empresa francesa como uma das principais financiadoras ilegais. Tanto que ele já foi batizado, na Assembléia Legislativa de São Paulo, de “Andrea Alstom Matarazzo”.
“Acima de qualquer suspeita?”
O empresário carioca Marcio Fortes, outro “operador” de José Serra, também está envolvido em várias denúncias. De forma estranha, ele foi transferido para São Paulo e ocupa a presidência da Emplasa (Empresa de Planejamento Paulista). Na época da ditadura militar, ele foi assessor do Ministério da Fazenda e até ocupou interinamente o cargo. Mas ele ficou “famoso” no próspero período das privatizações da era FHC, que rendeu bilhões de dólares aos “cofres públicos”.
Como ex-tesoureiro nacional do PSDB, ele foi acionado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por emitir notas fiscais da sua própria empresa para justificar gastos da campanha de 2002. Na época, ele chiou à Folha: “Eu me considerava acima de qualquer suspeita”. Na sua gestão, as contas tucanas foram alvo de várias investigações. Estes são os empresários “acima de qualquer suspeita” que novamente comandarão a arrecadação financeira da campanha de José Serra.
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Segundo a Folha, o time de José Serra será composto, entre outros, por Sérgio Guerra, presidente do PSDB e coordenador-geral da campanha; Xico Graziano, indicado para elaborar o programa de governo; Andrea Matarazzo e Márcio Fortes, ambos responsáveis pela “interlocução com o empresariado – seja para quebrar resistências ao candidato ou na busca de apoio financeiro”. O time é da pesada. Todos são trogloditas de carteirinha, que não irão amaciar na campanha.
“Nós vamos acabar com ele [PAC]”
O senador Sérgio Guerra, pecuarista, criador de cavalos de raça e rico empresário pernambucano, atua de acordo com o vento (por falta de oportunidade, não faltam oportunistas), já tendo passado por quatro partidos, mas virou um inimigo feroz do presidente Lula. Detesta a política externa do atual governo, critica a "gastança" com os programas sociais, exigi maior repressão aos movimentos sociais. Ele gosta de posar de ético, mas ficou famoso pelo envolvimento no escândalo dos “anões do orçamento”, em 1993.
Destemperado, ele cria constrangimentos no seu próprio partido. Numa entrevista à revista Veja, em janeiro último, ele bombardeou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e concluiu: “Nós vamos acabar com ele”. A confissão irritou o PSDB e Sérgio Guerra teve que engolir suas besteiras. Na semana passada, ele voltou a rosnar num artigo na Folha, no qual afirmou que Lula é “contra a liberdade de imprensa” e disparou mentiras grosseiras contra Cuba e Venezuela.
Inimigo da reforma agrária e do MST
Já Xico Graziano é sempre acionado para o trabalho sujo nas eleições. Ajudou nas campanhas de José Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006. Foi assessor especial do ex-presidente FHC e se projetou na presidência do Incra ao defender a concentração fundiária – “a reforma agrária é um atraso” – e ao criminalizar o MST, tratado como “banditismo rural”, cujo seus líderes “botam medo no Estado” e são “justiceiros, que invocam cânones divinos e arrebentam cercas”.
Como coordenador do programa, é de se esperar uma plataforma direitista bem nítida. Graziano não esconde suas idéias fascistóides. Num artigo escrito às vésperas da eleição de 2006, atacou: “Ao lado do MST, você tem um setor muito atrasado da Igreja Católica, aglutinado na Comissão Pastoral da Terra, cujo expoente é Tomás Balduíno. À esquerda atrasada da Igreja, soma-se a esquerda atrasada petista... E o governo Lula não tem coragem de assumir a modernidade”. Na prática, há muito ele se converteu à tese oligárquica de que “a luta social é caso de polícia”.
Os “operadores” de campanha
Os empresários Andrea Matarazzo e Márcio Fortes serão os pivôs de arrecadação da campanha. O primeiro, sobrinho-neto do “conde” Francesco Matarazzo, é uma peça chave nos esquemas de José Serra. Neoliberal convicto, ele comandou vários programas de privatização em São Paulo. Quando o grão-tucano foi eleito governador, ele permaneceu na prefeitura da capital, ocupando a secretaria de coordenação das subprefeituras, mas logo saiu devido aos atritos com o demo Gilberto Kassab. Ficou famoso por sua política de “higienização”, contra os moradores de rua.
A indicação de Andrea Matarazzo pode causar dores de cabeça para Serra. Recentemente, com a eclosão dos escândalos de suborno da multinacional Alstom, o nome do “operador” de campanha do grão-tucano voltou à berlinda. Ele seria uma dos responsáveis pela montagem do caixa-2 dos tucanos, que teria a empresa francesa como uma das principais financiadoras ilegais. Tanto que ele já foi batizado, na Assembléia Legislativa de São Paulo, de “Andrea Alstom Matarazzo”.
“Acima de qualquer suspeita?”
O empresário carioca Marcio Fortes, outro “operador” de José Serra, também está envolvido em várias denúncias. De forma estranha, ele foi transferido para São Paulo e ocupa a presidência da Emplasa (Empresa de Planejamento Paulista). Na época da ditadura militar, ele foi assessor do Ministério da Fazenda e até ocupou interinamente o cargo. Mas ele ficou “famoso” no próspero período das privatizações da era FHC, que rendeu bilhões de dólares aos “cofres públicos”.
Como ex-tesoureiro nacional do PSDB, ele foi acionado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por emitir notas fiscais da sua própria empresa para justificar gastos da campanha de 2002. Na época, ele chiou à Folha: “Eu me considerava acima de qualquer suspeita”. Na sua gestão, as contas tucanas foram alvo de várias investigações. Estes são os empresários “acima de qualquer suspeita” que novamente comandarão a arrecadação financeira da campanha de José Serra.
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domingo, 4 de abril de 2010
Datafolha e os escribas de Kafka
Reproduzo artigo de Gilson Caroni, publicado no sítio Carta Maior:
Picles não combinam com morangos, mas o jornalismo brasileiro, em anos eleitorais, é a cozinha das combinações intragáveis. Se for do agrado do paladar do patrão, titulares de carteirinha de jornalista se esmeram em preparar saladas que levam o agridoce ao paroxismo. Como já observou Alberto Dines, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, "ampliam-se as insignificâncias, criam-se pseudofatos (os famosos factóides), e até confere-se relevância política às matérias produzidas pelos marqueteiros nos seus comerciais. É a inversão total de simples preceitos jornalísticos".
Ao ocultar os dados da mais recente pesquisa Vox Populi que, demonstrando um consistente crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, desmente as últimas projeções do Datafolha, O Globo e Folha de S.Paulo deixam claro que, dependendo do resultado, sondagens de opinião servem para tudo. Ou para nada, de acordo com a preferência da clientela.
Se o resultado é conveniente para os candidatos das corporações, números teoricamente transitórios são utilizados como tendência definitiva. Se ocorrer o contrário, trata-se de “um retrato do momento” com alta probabilidade de ser modificado até o dia do pleito. Não peçam análise séria em exercícios de imaginação militante.
Pelos caminhos da ficção, Franz Kafka atingiu a realidade da incoerência e da solidão humana. Pelos caminhos da redação partidarizada, se chega com facilidade a uma literatura ridícula, inversamente hilária à verdade factual que pretende distorcer. É uma experiência humorística que não pode ser ignorada, sob pena de perdermos excelente oportunidade de divertimento. Vejamos dois casos recentes. São excelentes exemplos de genuflexão permanente.
Ainda no sábado (3/4), a jornalista Renata Lo Prete, editora da coluna Painel, da Folha de S.Paulo, ciente de números que só seriam divulgados à noite pela TV Bandeirantes, lançou dúvidas sobre a metodologia da sondagem que desmontava o resultado obtido pelo instituto de pesquisa da família Frias:
"Chama a atenção, no questionário de pesquisa Vox Populi sobre a sucessão presidencial com campo em 30 e 31 de março, a inclusão de pergunta relativa aos cargos que os candidatos já ocuparam, quebrando o fluxo das respostas espontânea e estimulada sobre intenção de voto. Esse tipo de procedimento é conhecido por distorcer resultados".
É questionável se a ordem da apresentação dos temas (menção espontânea, conhecimento dos candidatos, menção estimulada) pode ou não influenciar nas respostas ao último quesito. Justamente por isso é leviano insinuar, como faz a colunista, que tal procedimento tenha produzido qualquer distorção na pesquisa do Vox Populi.
Consultar especialistas não faria mal algum se Lo Prete não soubesse o que querem seus senhores. Seria interessante lembrar que a lisura do processo eleitoral compreende principalmente a lisura da imprensa que o acompanha. E nesse ponto não resta dúvida que, para patrões e seus escribas, eleições ainda são um jogo que não pressupõe qualquer relação com amadurecimento democrático e cidadania ampliada.
Outro exemplo do burlesco travestido de análise pode ser encontrado no jornal O Globo. Em sua coluna de sexta-feira, 2/04, Merval Pereira oferece trechos memoráveis que merecem ser destacados. O servilismo, esteja ou não a serviço de fanfarras eleitorais, oferece imagens que nem de longe configuram um desenho ético ou qualquer propósito respeitável.
Tentando demonstrar traços de subalternidade na postura da ex-ministra Dilma Rousseff, o colunista não titubeia: "Ela chegou a usar 28 vezes o tratamento de ' senhor' ao se referir ao presidente Lula no seu discurso de despedida, o que é um sinal de subserviência não candidata com o papel de candidata à Presidência da República"
É compreensível o espanto de Merval. Afinal, trabalha em uma organização que obriga jornalista a chamar patrão de colega. Mas, tirando a força do hábito, qual seria o tratamento adequado a ser dispensado a um presidente? Para responder, bastava uma consulta aos acadêmicos que sistematizam suas reflexões diárias. Mas o tempo das manobras não permite perda de tempo com esse tipo de questão.
Em seguida, misturando números, épocas e fatos, o sincero partícipe das convicções de quem lhe paga o sal, entra em transe e soçobra diante da falta de senso lógico que ilumina os seus escritos: “Lula não tem se mostrado tão bom de voto quanto sua popularidade atual indica. Perdeu duas vezes no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, o que certamente é sua maior frustração, e venceu duas vezes no segundo turno".
Impressionante! A popularidade de 2010 não foi capaz de eleger Lula em 1994 e 1998! Se Franz Kafka estivesse entre nós certamente abriria um largo sorriso ao ler o que vai na alma do jornalista global.Repetindo Odradeck, personagem de um breve conto seu, diria que "o conjunto se apresenta sem sentido, mas no seu gênero é completo"
Renata Lo Prete, Merval Pereira e Datafolha não ganhariam apenas sentido. A semelhança alucinante entre as receitas aventadas por eles e os detalhes que deformam os homens na literatura kafkaniana ganharia contorno definitivo.
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Picles não combinam com morangos, mas o jornalismo brasileiro, em anos eleitorais, é a cozinha das combinações intragáveis. Se for do agrado do paladar do patrão, titulares de carteirinha de jornalista se esmeram em preparar saladas que levam o agridoce ao paroxismo. Como já observou Alberto Dines, em artigo publicado no Observatório da Imprensa, "ampliam-se as insignificâncias, criam-se pseudofatos (os famosos factóides), e até confere-se relevância política às matérias produzidas pelos marqueteiros nos seus comerciais. É a inversão total de simples preceitos jornalísticos".
Ao ocultar os dados da mais recente pesquisa Vox Populi que, demonstrando um consistente crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, desmente as últimas projeções do Datafolha, O Globo e Folha de S.Paulo deixam claro que, dependendo do resultado, sondagens de opinião servem para tudo. Ou para nada, de acordo com a preferência da clientela.
Se o resultado é conveniente para os candidatos das corporações, números teoricamente transitórios são utilizados como tendência definitiva. Se ocorrer o contrário, trata-se de “um retrato do momento” com alta probabilidade de ser modificado até o dia do pleito. Não peçam análise séria em exercícios de imaginação militante.
Pelos caminhos da ficção, Franz Kafka atingiu a realidade da incoerência e da solidão humana. Pelos caminhos da redação partidarizada, se chega com facilidade a uma literatura ridícula, inversamente hilária à verdade factual que pretende distorcer. É uma experiência humorística que não pode ser ignorada, sob pena de perdermos excelente oportunidade de divertimento. Vejamos dois casos recentes. São excelentes exemplos de genuflexão permanente.
Ainda no sábado (3/4), a jornalista Renata Lo Prete, editora da coluna Painel, da Folha de S.Paulo, ciente de números que só seriam divulgados à noite pela TV Bandeirantes, lançou dúvidas sobre a metodologia da sondagem que desmontava o resultado obtido pelo instituto de pesquisa da família Frias:
"Chama a atenção, no questionário de pesquisa Vox Populi sobre a sucessão presidencial com campo em 30 e 31 de março, a inclusão de pergunta relativa aos cargos que os candidatos já ocuparam, quebrando o fluxo das respostas espontânea e estimulada sobre intenção de voto. Esse tipo de procedimento é conhecido por distorcer resultados".
É questionável se a ordem da apresentação dos temas (menção espontânea, conhecimento dos candidatos, menção estimulada) pode ou não influenciar nas respostas ao último quesito. Justamente por isso é leviano insinuar, como faz a colunista, que tal procedimento tenha produzido qualquer distorção na pesquisa do Vox Populi.
Consultar especialistas não faria mal algum se Lo Prete não soubesse o que querem seus senhores. Seria interessante lembrar que a lisura do processo eleitoral compreende principalmente a lisura da imprensa que o acompanha. E nesse ponto não resta dúvida que, para patrões e seus escribas, eleições ainda são um jogo que não pressupõe qualquer relação com amadurecimento democrático e cidadania ampliada.
Outro exemplo do burlesco travestido de análise pode ser encontrado no jornal O Globo. Em sua coluna de sexta-feira, 2/04, Merval Pereira oferece trechos memoráveis que merecem ser destacados. O servilismo, esteja ou não a serviço de fanfarras eleitorais, oferece imagens que nem de longe configuram um desenho ético ou qualquer propósito respeitável.
Tentando demonstrar traços de subalternidade na postura da ex-ministra Dilma Rousseff, o colunista não titubeia: "Ela chegou a usar 28 vezes o tratamento de ' senhor' ao se referir ao presidente Lula no seu discurso de despedida, o que é um sinal de subserviência não candidata com o papel de candidata à Presidência da República"
É compreensível o espanto de Merval. Afinal, trabalha em uma organização que obriga jornalista a chamar patrão de colega. Mas, tirando a força do hábito, qual seria o tratamento adequado a ser dispensado a um presidente? Para responder, bastava uma consulta aos acadêmicos que sistematizam suas reflexões diárias. Mas o tempo das manobras não permite perda de tempo com esse tipo de questão.
Em seguida, misturando números, épocas e fatos, o sincero partícipe das convicções de quem lhe paga o sal, entra em transe e soçobra diante da falta de senso lógico que ilumina os seus escritos: “Lula não tem se mostrado tão bom de voto quanto sua popularidade atual indica. Perdeu duas vezes no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, o que certamente é sua maior frustração, e venceu duas vezes no segundo turno".
Impressionante! A popularidade de 2010 não foi capaz de eleger Lula em 1994 e 1998! Se Franz Kafka estivesse entre nós certamente abriria um largo sorriso ao ler o que vai na alma do jornalista global.Repetindo Odradeck, personagem de um breve conto seu, diria que "o conjunto se apresenta sem sentido, mas no seu gênero é completo"
Renata Lo Prete, Merval Pereira e Datafolha não ganhariam apenas sentido. A semelhança alucinante entre as receitas aventadas por eles e os detalhes que deformam os homens na literatura kafkaniana ganharia contorno definitivo.
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Samir Amin e os modelos de desenvolvimento
Em recente entrevista ao jornal italiano Il Manifesto, o economista egípcio Samir Amin, um dos maiores intelectuais da atualidade, falou do seu novo livro “A life looking forward” – ainda não traduzido no Brasil. A entrevista é instigante e polêmica. Reproduzo-a abaixo:
Com a crise econômico-financeira, interrogamo-nos novamente sobre os limites da globalização neoliberal e, mais em geral, sobre os limites do capitalismo. Pode nos explicar em que sentido, como o senhor escreve em "The World We Wish to See", "o desenvolvimento mundial do capitalismo sempre foi polarizante", e o imperialismo representa não "uma fase do capitalismo, mas sim a característica permanente da sua expansão global"?
No início, adotei a tese de Lenin, segundo a qual o capitalismo dos monopólios constitui uma nova fase na história do capitalismo, anunciada no fim do século XIX, e o capitalismo se tornou uma forma de imperialismo apenas a partir daquela data. Em seguida, porém, acabei elaborando a ideia do caráter originariamente polarizante – portanto, de algum modo imperialista – do capitalismo desde as suas origens.
Considero, de fato, que a acumulação em escala mundial sempre existiu, de modo não exclusivo, mas prevalente, uma acumulação por expropriação. Uma expropriação que não se refere apenas à "acumulação primitiva" analisada por Marx e referida nas origens do capitalismo, mas que é sim um traço permanente na história do capitalismo realmente existente, a partir da época mercantilista. Aquele longo período de transição em que o papel central na mundialização, organizada em torno à conquista das Américas e à obtenção de escravos, assume a forma evidente e indiscutível da acumulação por expropriação. Essa acumulação se estende depois ao longo de todo o século XIX e se radicaliza com a formação dos monopólios, que favorecem a exportação de capital em uma escala muito mais ampla, "instalando" segmentos do sistema capitalista mundializado nas colônias "de além mar", nas semicolônias, nas colônias da América Latina.
De outro lado, o fato de a polarização ser imanente ao desenvolvimento mundializado do capitalismo, acompanhando-o desde as origens, é demonstrado por um simples dado: até aproximadamente 1820, o PIB per capita da China era superior ao PIB médio da Europa avançada. Entre 1820 e 1900, passa-se ao invés de uma relação 1-1 a uma relação 1-20, e, de 1900 ao ano 2000, de 1-20 a 1-50.
Ainda em "Oltre il capitalismo senile", o senhor escrevia que, justamente por causa do seu "calcanhar de Aquiles" – a dimensão financeira –, o sistema capitalista estaria preparando "uma iminente catástrofe financeira". Ora, a iminência é realidade: o que o senhor entende quando defende que a crise atual é "a crise do capitalismo imperialista dos oligopólios", organicamente ligados à financeirização do sistema?
Prosseguindo na direção da pesquisa inaugurada pelo livro de Sweezy e Baran de 1966, "Monopoly Capital" – a primeira formulação coerente da transformação qualitativa do capitalismo ocorrida no final do século XIX com a instituição dos monopólios – localizei o impacto de duas grandes ondas no processo de monopolização: a primeira, tem início no final do século XIX e se estende até 1945, a segunda começa nos anos 60 do século passado e, portanto, não coincide de fato com a crise financeira de 2008.
Nessa segunda onda, o grau de monopolização assume um relevo sem comparações, o que me leva a considerar que o capitalismo contemporâneo é um capitalismo dos oligopólios generalizados, mundializados e financeirizados. Oligopólios generalizados porque controlam a economia no seu conjunto (além do âmbito político e cultural), até aqueles setores não diretamente monopolizados. E mundializados também por efeito das políticas liberais e neoliberais dos anos 80, 90 e 2000.
Agora, no que se refere à financeirização, também da "esquerda", boa parte das análises sobre o sistema financeiro tendem a separar a financeirização, artificial e negativa, do bom capitalismo produtivo. Não é assim: os dois aspectos vão lado a lado. Os oligopólios são financeirizados justamente no sentido de que não há de um lado um setor financeirizado, o dos bancos, dos seguros, dos fundos de pensão, e de outro um setor produtivo sadio. Pelo contrário, são os próprios oligopólios que são proprietários das grandes empresas produtivas e, ao mesmo tempo, das grandes instituições financeiras. E, por sua vez, esses oligopólios têm necessidade da expansão financeira para assegurarem o domínio sobre a economia e sobre a sociedade inteira.
A "sobreposição", como Baran já defendia, é total. E tem razíes em um sistema que leva por si mesmo à estagnação relativa, particularmente marcada a partir de 1970, quando nos países da Tríade imperialista (EUA, Europa e Japão) verificou-se uma drástica redução das taxas de lucro, de crescimento e de investimento. É essa estagnação – um excesso de superávit com relação à possibilidade de expansão do capital para ampliar e incrementar os investimentos produtivos – que alimenta as bolhas financeiras, que não são o produto de derivações ou desregulamentações, mas sim uma exigência imanente do sistema capitalista contemporâneo: a financeirização é a única maneira à disposição dos capitalistas dos oligopólios generalizados e mundializados para superar a tendência profunda e intrínseca à estagnação.
Por isso, estou convencido de que só nos resta, como alternativa, sair desse capitalismo em crise. Ou, mais modestamente, começar a se dirigir à saída, rumo a outro modelo de desenvolvimento, cuja fisionomia ainda não está clara e para cuja definição serão necessários 50, 100 anos.
Em um recente artigo, o senhor afirma que uma mundialização negociada passa pelo "desengajamento" para a construção de uma economia nacional autocentrada, mas não autárquica. Uma economia que – o senhor escreve em "A Life Looking Forward" – "encontraria sérios obstáculos se não fosse reforçada por formas de integração regional capazes de aumentar seu efeito positivo". Como combinar estratégias de desengajamento do sistema global com a construção de blocos regionais?
Não existem alternativas praticáveis ao desenvolvimento autocentrado, que subordinem as relações externas às exigências de transformação interna, as mais progressistas possíveis. Não se trata de simples autarquia, mas da subversão da lógica atual: em vez de se adequar, em vez de se curvar às tendências dominantes em escala mundial, é preciso agir para que sejam essas tendências se adequem às exigências internas. Esse é o sentido que eu atribuo às iniciativas independentes por parte dos países do Sul do mundo. As razões para fazer isso são evidentes na maior parte dos casos. Talvez não para os três novos gigantes econômicos: China, Índia e Brasil, que, cada um por si, podem contar com um peso equivalente ao de uma grande região, e que por isso pareceria que não têm necessidade de se confiar a acordos sub-regionais e inter-regionais.
Porém, esses países também acusam déficits, basta pensar na escassez dos recursos naturais, energéticos em primeiro lugar, dos quais têm necessidade. E isso vale com maior razão para as outras regiões, para os países do sudeste asiático, do mundo árabe, da África subsaariana, da América Latina espanhola. Em todos esses casos, os acordos sub-regionais servem para instituir, por via negociada, formas de complementariedade, que se articulem em mais planos.
Por exemplo, o das tecnologias: hoje, os países do Sul são capazes – nem todos da mesma forma – de desenvolver capacidade tecnológica sem ter que necessariamente submeter-se ao protecionismo do direito industrial promovido pela Organização Mundial do Comércio. O mesmo deveria ocorrer com as infraestruturas, para a localização de estratégias de complementariedade industrial, a partir das indústrias de base, obviamente, mas também para as indústrias do grande consumo, para o acesso aos recursos naturais.
A propósito dos recursos naturais: o senhor defende que, "longe de estar resolvida, a 'questão agrária' está mais do que nunca no centro dos desafios que a humanidade deverá enfrentar no século XX". Por que o senhor considera que o capitalismo, "pela sua própria natureza, é incapaz de resolvê-la" e por que acredita que ele sabe apenas oferecer a perspectiva de um planeta de favelas?
A acumulação por expropriação que caracteriza o capitalismo histórico, o que, no início do século XIX foi se cristalizando em torno ao triângulo Londres-Amsterdã-Paris, não se refere apenas aos povos das Américas, mas também aos agricultores europeus. O modelo é o das "enclosures" da Grã-Bretanha, a expropriação dos agricultores ingleses e irlandeses, que sofreram, os primeiros da Europa, uma forma de apropriação privada da terra, depois generalizada ao continente europeu.
Esse modelo histórico teria tido consequências explosivas se não fosse acompanhado por aquele enorme "aparato de segurança" e "válvula de escape" constituída pelo sistema das migrações às Américas: os processos migratórios permitiram que a Europa construísse em outro lugar uma outra Europa, senão mais importante em termos de população do que a do continente.
Mas se considerarmos os outros continentes, a Ásia, a África, a América Latina, onde hoje vivem 75% da população mundial, da qual metade é agrícola, nos damos conta de que esse sistema é inaceitável e ineficaz. Como demonstra o recente nascimento de um planeta de favelas: os agricultores expulsos das terras não podem ser "absorvidos" pelos mecanismos da moderna industrialização e não podem recorrer de modo maciço às migrações. A solução à questão agrária proposta pelo modelo capitalista requereria que se concedesse à Ásia, à África e à América Latina pelo menos outras quatro Américas.
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Com a crise econômico-financeira, interrogamo-nos novamente sobre os limites da globalização neoliberal e, mais em geral, sobre os limites do capitalismo. Pode nos explicar em que sentido, como o senhor escreve em "The World We Wish to See", "o desenvolvimento mundial do capitalismo sempre foi polarizante", e o imperialismo representa não "uma fase do capitalismo, mas sim a característica permanente da sua expansão global"?
No início, adotei a tese de Lenin, segundo a qual o capitalismo dos monopólios constitui uma nova fase na história do capitalismo, anunciada no fim do século XIX, e o capitalismo se tornou uma forma de imperialismo apenas a partir daquela data. Em seguida, porém, acabei elaborando a ideia do caráter originariamente polarizante – portanto, de algum modo imperialista – do capitalismo desde as suas origens.
Considero, de fato, que a acumulação em escala mundial sempre existiu, de modo não exclusivo, mas prevalente, uma acumulação por expropriação. Uma expropriação que não se refere apenas à "acumulação primitiva" analisada por Marx e referida nas origens do capitalismo, mas que é sim um traço permanente na história do capitalismo realmente existente, a partir da época mercantilista. Aquele longo período de transição em que o papel central na mundialização, organizada em torno à conquista das Américas e à obtenção de escravos, assume a forma evidente e indiscutível da acumulação por expropriação. Essa acumulação se estende depois ao longo de todo o século XIX e se radicaliza com a formação dos monopólios, que favorecem a exportação de capital em uma escala muito mais ampla, "instalando" segmentos do sistema capitalista mundializado nas colônias "de além mar", nas semicolônias, nas colônias da América Latina.
De outro lado, o fato de a polarização ser imanente ao desenvolvimento mundializado do capitalismo, acompanhando-o desde as origens, é demonstrado por um simples dado: até aproximadamente 1820, o PIB per capita da China era superior ao PIB médio da Europa avançada. Entre 1820 e 1900, passa-se ao invés de uma relação 1-1 a uma relação 1-20, e, de 1900 ao ano 2000, de 1-20 a 1-50.
Ainda em "Oltre il capitalismo senile", o senhor escrevia que, justamente por causa do seu "calcanhar de Aquiles" – a dimensão financeira –, o sistema capitalista estaria preparando "uma iminente catástrofe financeira". Ora, a iminência é realidade: o que o senhor entende quando defende que a crise atual é "a crise do capitalismo imperialista dos oligopólios", organicamente ligados à financeirização do sistema?
Prosseguindo na direção da pesquisa inaugurada pelo livro de Sweezy e Baran de 1966, "Monopoly Capital" – a primeira formulação coerente da transformação qualitativa do capitalismo ocorrida no final do século XIX com a instituição dos monopólios – localizei o impacto de duas grandes ondas no processo de monopolização: a primeira, tem início no final do século XIX e se estende até 1945, a segunda começa nos anos 60 do século passado e, portanto, não coincide de fato com a crise financeira de 2008.
Nessa segunda onda, o grau de monopolização assume um relevo sem comparações, o que me leva a considerar que o capitalismo contemporâneo é um capitalismo dos oligopólios generalizados, mundializados e financeirizados. Oligopólios generalizados porque controlam a economia no seu conjunto (além do âmbito político e cultural), até aqueles setores não diretamente monopolizados. E mundializados também por efeito das políticas liberais e neoliberais dos anos 80, 90 e 2000.
Agora, no que se refere à financeirização, também da "esquerda", boa parte das análises sobre o sistema financeiro tendem a separar a financeirização, artificial e negativa, do bom capitalismo produtivo. Não é assim: os dois aspectos vão lado a lado. Os oligopólios são financeirizados justamente no sentido de que não há de um lado um setor financeirizado, o dos bancos, dos seguros, dos fundos de pensão, e de outro um setor produtivo sadio. Pelo contrário, são os próprios oligopólios que são proprietários das grandes empresas produtivas e, ao mesmo tempo, das grandes instituições financeiras. E, por sua vez, esses oligopólios têm necessidade da expansão financeira para assegurarem o domínio sobre a economia e sobre a sociedade inteira.
A "sobreposição", como Baran já defendia, é total. E tem razíes em um sistema que leva por si mesmo à estagnação relativa, particularmente marcada a partir de 1970, quando nos países da Tríade imperialista (EUA, Europa e Japão) verificou-se uma drástica redução das taxas de lucro, de crescimento e de investimento. É essa estagnação – um excesso de superávit com relação à possibilidade de expansão do capital para ampliar e incrementar os investimentos produtivos – que alimenta as bolhas financeiras, que não são o produto de derivações ou desregulamentações, mas sim uma exigência imanente do sistema capitalista contemporâneo: a financeirização é a única maneira à disposição dos capitalistas dos oligopólios generalizados e mundializados para superar a tendência profunda e intrínseca à estagnação.
Por isso, estou convencido de que só nos resta, como alternativa, sair desse capitalismo em crise. Ou, mais modestamente, começar a se dirigir à saída, rumo a outro modelo de desenvolvimento, cuja fisionomia ainda não está clara e para cuja definição serão necessários 50, 100 anos.
Em um recente artigo, o senhor afirma que uma mundialização negociada passa pelo "desengajamento" para a construção de uma economia nacional autocentrada, mas não autárquica. Uma economia que – o senhor escreve em "A Life Looking Forward" – "encontraria sérios obstáculos se não fosse reforçada por formas de integração regional capazes de aumentar seu efeito positivo". Como combinar estratégias de desengajamento do sistema global com a construção de blocos regionais?
Não existem alternativas praticáveis ao desenvolvimento autocentrado, que subordinem as relações externas às exigências de transformação interna, as mais progressistas possíveis. Não se trata de simples autarquia, mas da subversão da lógica atual: em vez de se adequar, em vez de se curvar às tendências dominantes em escala mundial, é preciso agir para que sejam essas tendências se adequem às exigências internas. Esse é o sentido que eu atribuo às iniciativas independentes por parte dos países do Sul do mundo. As razões para fazer isso são evidentes na maior parte dos casos. Talvez não para os três novos gigantes econômicos: China, Índia e Brasil, que, cada um por si, podem contar com um peso equivalente ao de uma grande região, e que por isso pareceria que não têm necessidade de se confiar a acordos sub-regionais e inter-regionais.
Porém, esses países também acusam déficits, basta pensar na escassez dos recursos naturais, energéticos em primeiro lugar, dos quais têm necessidade. E isso vale com maior razão para as outras regiões, para os países do sudeste asiático, do mundo árabe, da África subsaariana, da América Latina espanhola. Em todos esses casos, os acordos sub-regionais servem para instituir, por via negociada, formas de complementariedade, que se articulem em mais planos.
Por exemplo, o das tecnologias: hoje, os países do Sul são capazes – nem todos da mesma forma – de desenvolver capacidade tecnológica sem ter que necessariamente submeter-se ao protecionismo do direito industrial promovido pela Organização Mundial do Comércio. O mesmo deveria ocorrer com as infraestruturas, para a localização de estratégias de complementariedade industrial, a partir das indústrias de base, obviamente, mas também para as indústrias do grande consumo, para o acesso aos recursos naturais.
A propósito dos recursos naturais: o senhor defende que, "longe de estar resolvida, a 'questão agrária' está mais do que nunca no centro dos desafios que a humanidade deverá enfrentar no século XX". Por que o senhor considera que o capitalismo, "pela sua própria natureza, é incapaz de resolvê-la" e por que acredita que ele sabe apenas oferecer a perspectiva de um planeta de favelas?
A acumulação por expropriação que caracteriza o capitalismo histórico, o que, no início do século XIX foi se cristalizando em torno ao triângulo Londres-Amsterdã-Paris, não se refere apenas aos povos das Américas, mas também aos agricultores europeus. O modelo é o das "enclosures" da Grã-Bretanha, a expropriação dos agricultores ingleses e irlandeses, que sofreram, os primeiros da Europa, uma forma de apropriação privada da terra, depois generalizada ao continente europeu.
Esse modelo histórico teria tido consequências explosivas se não fosse acompanhado por aquele enorme "aparato de segurança" e "válvula de escape" constituída pelo sistema das migrações às Américas: os processos migratórios permitiram que a Europa construísse em outro lugar uma outra Europa, senão mais importante em termos de população do que a do continente.
Mas se considerarmos os outros continentes, a Ásia, a África, a América Latina, onde hoje vivem 75% da população mundial, da qual metade é agrícola, nos damos conta de que esse sistema é inaceitável e ineficaz. Como demonstra o recente nascimento de um planeta de favelas: os agricultores expulsos das terras não podem ser "absorvidos" pelos mecanismos da moderna industrialização e não podem recorrer de modo maciço às migrações. A solução à questão agrária proposta pelo modelo capitalista requereria que se concedesse à Ásia, à África e à América Latina pelo menos outras quatro Américas.
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Merval Pereira, o Freud de O Globo
Reproduzo o irônico artigo de Brizola Neto, publicado no seu excelente blog:
O Conselho Nacional de Psicologia devia dar um título honorário – ou uma queixa por exercício ilegal da profissão – ao colunista Merval Pereira, por sua coluna deste sábado em O Globo.
Eu, que não sou psicólogo e também não sou aspirante a lorde inglês, dei foi boas risadas.
Vejam que pérolas do “jornalismo”:
“Ela (Dilma) chegou a usar 28 vezes o tratamento de “senhor” ao se referir ao presidente Lula em seu discurso de despedida do ministério, o que é um sinal de subserviência não com o papel de candidata à presidência da República”.
Como é que se trata o presidente da República numa cerimônia oficial e pública? “Aí, xará“? “Mano“? “Cara“? “Ô, psit“?
Ou ela deveria chamá-lo de “Doutor”, como Merval e outros chamavam Roberto Marinho, que era tão diplomado quanto Lula?
Mas tem mais:
“Pois ele (Lula) não está escondendo a dificuldade com que está lidando com a perspectiva do fim do poder”.
Aí, xará, senti firmeza…Dignóstico legal, profundo, resultado de horas de análise. Qual seria o dignóstico do Dr. Sigmund Merval sobre os arreganhos de Fernando Henrique que, para desespero de José Serra, tenta ser uma voz de oposição – reconheça-se a sua honestidade – a Lula? Merval – não posso chamar de senhor Merval para não ser submisso – deveria ler sobre a “Síndrome do Ninho Vazio”, que acomete pais quando os filhos criam asas e se vão, tucaninhos donos de seus próprios bicos.
Mas você pensa que acabou?
“Encarar a alternância de poder como uma derrota é uma maneira de querer continuar no poder eternamente (…)”
Uai, um presidente, um governador, um prefeito é vitorioso se a oposição ganha a eleição? Não é derrota? Pode não ser o fim do mundo, pode não ser o desastre que, neste caso, é… Mas que é derrota, é! Nada a ver com não aceitar o resultado, a manifestação do eleitor. Mas achar que perder eleição é vitória e não derrota, é caso de ir pro divã ou, então, para o palanque do adversário.
"O presidente Lula está parecendo até aqueles funcionários que não querem se aposentar, mesmo que a lei os obrigue a isso"
Pronto, aí está a terapêutica mervalina para o futuro ex-presidente: ir jogar truco em São Bernardo. Mas não vai dar certo, truco é jogo gritado, se passa a mão no queixo para marcar o Rei barbudo e se manda o Zap (quatro de paus, obrigado) na testa…
Melhor não, Dr. Merval. O senhor, como psicólogo, deveria saber que a ociosidade é má conselheira. Lula vai ter muito trabalho ajudando Dilma a enfrentar os colunistas que querem descartar o Lula, porque acham que a Dama é fraca no truco e perderá para os valetes de Serra.
“Se Dilma vencer, vai querer tutelá-la. Se vencer Serra, Lula vai comandar uma oposição ferrenha contra aquele que o tirou do poder.”
Ué, “aquele que o tirou do poder”? Não era aposentadoria, não era “vitória da alternância de poder”?
Lula não vai comandar “uma oposição ferrenha”. Nem vai exercer tutela. Isso é vício de quem só enxerga as relações humanas como de “chefe” e subordinado. Coisa de quem não tem causa, da qual todos somos servos, e não há posição de maior altivez do que ser servo de idéias. Fica quilômetros acima da de ser lorde na corte dos poderosos.
Mas é natural que se pense assim. Quem se formou no ambiente da subserviência ao poder não consegue ver senão a ambição como motor do comportamento humano.
Freud, o verdadeiro, explica.
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O Conselho Nacional de Psicologia devia dar um título honorário – ou uma queixa por exercício ilegal da profissão – ao colunista Merval Pereira, por sua coluna deste sábado em O Globo.
Eu, que não sou psicólogo e também não sou aspirante a lorde inglês, dei foi boas risadas.
Vejam que pérolas do “jornalismo”:
“Ela (Dilma) chegou a usar 28 vezes o tratamento de “senhor” ao se referir ao presidente Lula em seu discurso de despedida do ministério, o que é um sinal de subserviência não com o papel de candidata à presidência da República”.
Como é que se trata o presidente da República numa cerimônia oficial e pública? “Aí, xará“? “Mano“? “Cara“? “Ô, psit“?
Ou ela deveria chamá-lo de “Doutor”, como Merval e outros chamavam Roberto Marinho, que era tão diplomado quanto Lula?
Mas tem mais:
“Pois ele (Lula) não está escondendo a dificuldade com que está lidando com a perspectiva do fim do poder”.
Aí, xará, senti firmeza…Dignóstico legal, profundo, resultado de horas de análise. Qual seria o dignóstico do Dr. Sigmund Merval sobre os arreganhos de Fernando Henrique que, para desespero de José Serra, tenta ser uma voz de oposição – reconheça-se a sua honestidade – a Lula? Merval – não posso chamar de senhor Merval para não ser submisso – deveria ler sobre a “Síndrome do Ninho Vazio”, que acomete pais quando os filhos criam asas e se vão, tucaninhos donos de seus próprios bicos.
Mas você pensa que acabou?
“Encarar a alternância de poder como uma derrota é uma maneira de querer continuar no poder eternamente (…)”
Uai, um presidente, um governador, um prefeito é vitorioso se a oposição ganha a eleição? Não é derrota? Pode não ser o fim do mundo, pode não ser o desastre que, neste caso, é… Mas que é derrota, é! Nada a ver com não aceitar o resultado, a manifestação do eleitor. Mas achar que perder eleição é vitória e não derrota, é caso de ir pro divã ou, então, para o palanque do adversário.
"O presidente Lula está parecendo até aqueles funcionários que não querem se aposentar, mesmo que a lei os obrigue a isso"
Pronto, aí está a terapêutica mervalina para o futuro ex-presidente: ir jogar truco em São Bernardo. Mas não vai dar certo, truco é jogo gritado, se passa a mão no queixo para marcar o Rei barbudo e se manda o Zap (quatro de paus, obrigado) na testa…
Melhor não, Dr. Merval. O senhor, como psicólogo, deveria saber que a ociosidade é má conselheira. Lula vai ter muito trabalho ajudando Dilma a enfrentar os colunistas que querem descartar o Lula, porque acham que a Dama é fraca no truco e perderá para os valetes de Serra.
“Se Dilma vencer, vai querer tutelá-la. Se vencer Serra, Lula vai comandar uma oposição ferrenha contra aquele que o tirou do poder.”
Ué, “aquele que o tirou do poder”? Não era aposentadoria, não era “vitória da alternância de poder”?
Lula não vai comandar “uma oposição ferrenha”. Nem vai exercer tutela. Isso é vício de quem só enxerga as relações humanas como de “chefe” e subordinado. Coisa de quem não tem causa, da qual todos somos servos, e não há posição de maior altivez do que ser servo de idéias. Fica quilômetros acima da de ser lorde na corte dos poderosos.
Mas é natural que se pense assim. Quem se formou no ambiente da subserviência ao poder não consegue ver senão a ambição como motor do comportamento humano.
Freud, o verdadeiro, explica.
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A antiga imprensa, enfim, assume partido
Reproduzo artigo de Jorge Furtado, publicado em seu blog:
Quem estava prestando atenção já percebeu faz tempo: a antiga imprensa brasileira virou um partido político, incorporando as sessões paulistas do PSDB (Serra) e do PMDB (Quércia), e o DEM (ex-PFL, ex-Arena).
A boa novidade é que finalmente eles admitiram ser o que são, através das palavras sinceras de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva do jornal Folha de S. Paulo, em declaração ao jornal O Globo:
“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”
A presidente da Associação Nacional dos Jornais constata, como ela mesma assinala, o óbvio: seus associados “estão fazendo de fato a posição oposicionista (sic) deste país”. Por que agem assim? Porque “a oposição está profundamente fragilizada”.
A presidente da associação/partido não esclarece porque a oposição “deste país” estaria “profundamente fragilizada”, apesar de ter, como ela mesma reconhece, o irrestrito apoio dos seus associados (os jornais).
A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo. Também não questiona o fato de serem a oposição ao governo “deste país” mas não aos governos do seu estado (São Paulo).
Propriedades privadas, gozando de muitas isenções de impostos para que possam melhor prestar um serviço público fundamental, o de informar a sociedade com a liberdade e o equilíbrio que o bom jornalismo exige, os jornais proclamam-se um partido, isto é, uma “organização social que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos e sociais comuns e que se propõe alcançar o poder”.
O partido da imprensa se propõe a alcançar o poder com o seu candidato, José Serra. Trata-se, na verdade, de uma retomada: Serra, FHC e seu partido, a imprensa, estiveram no poder por oito anos. Deixaram o governo com desemprego, juros, dívida pública, inflação e carga tributária em alta, crescimento econômico pífio e índices muito baixos de aprovação popular. No governo do partido da imprensa, a criminosa desigualdade social brasileira permaneceu inalterada e os índices de criminalidade (homicídios) tiveram forte crescimento.
O partido da imprensa assumiu a “posição oposicionista” a um governo que hoje conta com enorme aprovação popular. A comparação de desempenho entre os governos do Partido dos Trabalhadores (Lula, Dilma) e do partido da imprensa (FHC, Serra) é extraordinariamente favorável ao primeiro: não há um único índice social ou econômico em que o governo Lula (Dilma) não seja muito superior ao governo FHC (Serra), a lista desta comparação chega a ser enfadonha.
Serra é, portanto, o candidato do partido da imprensa, que reúne os interesses da direita brasileira e faz oposição ao governo Lula. Dilma é a candidata da situação, da esquerda, representando vários partidos, defendendo a continuidade do governo Lula.
Agora que tudo ficou bem claro, você pode continuar (ou não) lendo seu jornal, sabendo que ele trabalha explicitamente a favor de uma candidatura e de um partido que, como todo partido, almeja o poder.
*****
Annita Dunn, diretora de Comunicações da Casa Branca, à rede de televisão CNN e aos repórteres do The New York Times:
“A rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano" (...) "não precisamos fingir que [a Fox] seria empresa comercial de comunicações do mesmo tipo que a CNN. A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico. Quando o presidente [Barack Obama] fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição”.
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Quem estava prestando atenção já percebeu faz tempo: a antiga imprensa brasileira virou um partido político, incorporando as sessões paulistas do PSDB (Serra) e do PMDB (Quércia), e o DEM (ex-PFL, ex-Arena).
A boa novidade é que finalmente eles admitiram ser o que são, através das palavras sinceras de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva do jornal Folha de S. Paulo, em declaração ao jornal O Globo:
“Obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”
A presidente da Associação Nacional dos Jornais constata, como ela mesma assinala, o óbvio: seus associados “estão fazendo de fato a posição oposicionista (sic) deste país”. Por que agem assim? Porque “a oposição está profundamente fragilizada”.
A presidente da associação/partido não esclarece porque a oposição “deste país” estaria “profundamente fragilizada”, apesar de ter, como ela mesma reconhece, o irrestrito apoio dos seus associados (os jornais).
A presidente da associação/partido não questiona a moralidade de seus filiados assumirem a “posição oposicionista deste país” enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo. Também não questiona o fato de serem a oposição ao governo “deste país” mas não aos governos do seu estado (São Paulo).
Propriedades privadas, gozando de muitas isenções de impostos para que possam melhor prestar um serviço público fundamental, o de informar a sociedade com a liberdade e o equilíbrio que o bom jornalismo exige, os jornais proclamam-se um partido, isto é, uma “organização social que se fundamenta numa concepção política ou em interesses políticos e sociais comuns e que se propõe alcançar o poder”.
O partido da imprensa se propõe a alcançar o poder com o seu candidato, José Serra. Trata-se, na verdade, de uma retomada: Serra, FHC e seu partido, a imprensa, estiveram no poder por oito anos. Deixaram o governo com desemprego, juros, dívida pública, inflação e carga tributária em alta, crescimento econômico pífio e índices muito baixos de aprovação popular. No governo do partido da imprensa, a criminosa desigualdade social brasileira permaneceu inalterada e os índices de criminalidade (homicídios) tiveram forte crescimento.
O partido da imprensa assumiu a “posição oposicionista” a um governo que hoje conta com enorme aprovação popular. A comparação de desempenho entre os governos do Partido dos Trabalhadores (Lula, Dilma) e do partido da imprensa (FHC, Serra) é extraordinariamente favorável ao primeiro: não há um único índice social ou econômico em que o governo Lula (Dilma) não seja muito superior ao governo FHC (Serra), a lista desta comparação chega a ser enfadonha.
Serra é, portanto, o candidato do partido da imprensa, que reúne os interesses da direita brasileira e faz oposição ao governo Lula. Dilma é a candidata da situação, da esquerda, representando vários partidos, defendendo a continuidade do governo Lula.
Agora que tudo ficou bem claro, você pode continuar (ou não) lendo seu jornal, sabendo que ele trabalha explicitamente a favor de uma candidatura e de um partido que, como todo partido, almeja o poder.
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Annita Dunn, diretora de Comunicações da Casa Branca, à rede de televisão CNN e aos repórteres do The New York Times:
“A rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano" (...) "não precisamos fingir que [a Fox] seria empresa comercial de comunicações do mesmo tipo que a CNN. A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico. Quando o presidente [Barack Obama] fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição”.
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A Globo e a ditadura, segundo Walter Clark
Reproduzo artigo de Argemiro Ferreira, publicado em seu indispensável blog:
Ainda que não tivesse sido esse o objetivo de sua autobiografia, na qual relatou há 19 anos a incrível trajetória que o transformara no todo-poderoso senhor, por mais de uma década, da quarta rede comercial de televisão do mundo, Walter Clark acabou por oferecer no livro - “O Campeão de Audiência”, tendo o jornalista Gabriel Priolli como co-autor, Editora Best Seller, 1991 - uma contribuição importante para a compreensão das relações muito especiais entre a TV Globo e o regime militar à sombra do qual floresceu.
Além de rejeitar a conhecida imagem da emissora como uma espécie de porta-voz do “Brasil Grande” do ditador Médici, ele garantia nunca ter visto Roberto Marinho "se humilhar diante de quem quer que fosse, milico ou não, presidente da República ou não. Ao contrário, é uma altivez que fica sempre no limite da arrogância."
Clark referia-se à suposta independência do dono da Globo por "manter em torno de si homens de esquerda em cargos importantes" (citava Franklin de Oliveira, Evandro Carlos de Andrade e Henrique Caban) - inclusive depois que o SNI ampliou a pressão contra os dois últimos, com acusações contidas numa fita de vídeo que o dono da Globo fora convocado a assistir em companhia de Clark e Armando Nogueira. Explicitamente, admitia apenas que o regime "incomodava" a Globo, que enfrentou "o mesmo gosto amargo da censura, das intimidações, das impossibilidades que todo mundo sentiu: imprensa, rádio, televisão, as artes, a universidade, a cultura".
Claramente na defensiva, o autor mostrava-se ressentido com os que o culpavam - na própria Globo, e mais até do que Marinho - pela submissão ao regime militar. Mas ao passar das opiniões subjetivas aos fatos concretos, acabava por confirmar o que pretendia desmentir: a docilidade das emissoras de televisão, em parte resultante do caráter precário das concessões de canais pelo governo, tinha uma longa história e já o atropelara antes, na TV Rio.
Essa emissora, na qual também foi autoridade máxima (com o título nominal de "diretor comercial"), Clark submeteu-se, sem reação, ao assalto dos lacerdistas - liderados pelo empresário Abrahão Medina, fazendo valer a condição de patrocinador de programas - no episódio da tomada do Forte de Copacabana, em 1964. Posteriormente, conseguiu o prodígio de entregar-se tanto ao governo estadual como ao federal, até mesmo depois do desafio do governador Carlos Lacerda ao presidente Castello Branco. Clark confessou ter retirado do ar programas de Carlos Heitor Cony e Roberto Campos para satisfazer o coronel Gustavo Borges, chefe de Polícia do Rio, que o chantageava com a ameaça de mudar o horário da novela “O Direito de Nascer”, líder de audiência.
Não por acaso, a experiência da Globo acabaria por extremar a tendência à acomodação, a ponto de Clark contratar um ex-diretor da Censura ("o Otati") para "ler tudo que ia para o ar" e, pior ainda, uma "assessoria especial" para cortejar o poder, formada pelo general Paiva Chaves, pelo civil linha dura Edgardo Manoel Erickson ("pelego dos milicos", conforme disse) e mais "uns cinco ou seis funcionários". O episódio que aparentemente o convenceu a ir tão longe chegava a ser cômico: um certo coronel Lourenço, do Dentel, tinha tirado a estação do ar em 1969, convocando Clark ao ministério da Guerra, porque Ibrahim Sued, na esperança de agradar ao Planalto, divulgara uma intriga plantada pelo grupo do general Jaime Portela, então na conspiração do "governo paralelo" juntamente com d. Yolanda Costa e Silva. Ibrahim foi preso e Clark aprendeu a lição depois de levar pito de um certo coronel Athos, "homem de Sílvio Frota".
Além da suposta altivez de Marinho, impressionaram Clark a "integridade", a "honestidade" e o "patriotismo" do general Garrastazu Médici, que depois de 1974 passara a frequentar seu gabinete na Globo para ver futebol aos domingos. Muita gente apanhava e morria nos cárceres da ditadura, mas para ele isso não podia, de forma alguma, ser coisa de Médici: "Tenho a impressão de que ele não se envolveu com nenhum excesso, nenhuma violência do regime". De quem era, então, a responsabilidade? "Foi coisa dos caras da Segunda Seção do Exército, do SNI, do Cenimar, do Cisa, a turma da segurança. E era tudo na faixa de major, tenente-coronel".
Pronto a absolver os poderosos, frequentadores de seu gabinete (até mesmo o general Ednardo D'Ávila‚ chamado no livro de "figura agradável"), e a condenar apenas o guarda da esquina, obscuro, Clark comete o disparate de afirmar que "a censura e as pressões não eram feitas pelos generais", mas por "gente como o Augusto", beque do Vasco que virou agente do DOPS. Mas se era assim, por que submeter-se a eles?
O autor recorreu ainda a outra desculpa para justificar o adesismo e o ufanismo tão escancarados na ocasião pela rede dos Marinho: "A Globo não fazia diferente dos outros". E mais: "Se o Estadão não conseguia enfrentar o regime, se a “Veja” não conseguia, como é que a Globo, sendo uma concessão do Estado, conseguiria resistir à censura, às pressões?" O problema, para os críticos de Clark dentro da própria emissora, é que ela, como ele, parecia preferir aquela filosofia de que se o estupro é inevitável a solução é relaxar e aproveitar.
Daí os comerciais da AERP (Clark alega que foram feitos para evitar uma "Voz do Brasil" na televisão, projeto de um certo coronel Aguiar), as coberturas patrióticas de eventos militares (Olimpíadas do Exército e o resto), as baboseiras ufanistas de Amaral Neto. "Era o preço que pagávamos para fazer outras coisas", alegou. Não se deu ao trabalhar de explicar que coisas eram essas. E ele mesmo admitiu na autobiografia que o apregoado Padrão Globo de Qualidade "acabou passando por vitrine de um regime com o qual os profissionais da TV Globo jamais concordaram"?
A Globo devia ao regime, como ficou claro no relato de Clark, até mesmo a introdução da TV a cores - imposta pelo ministro das Comunicações, coronel Higino Corsetti, sabe Deus para atender a que lobby multinacional. Mas a intimidade promíscua com o regime foi mais longe, a ponto de compartilhar com o SNI os serviços clandestinos do "despachante" encarregado de liberar contrabandos na Alfândega: para a empresa, equipamentos de TV; para os militares da espionagem oficial, sofisticados aparelhos de escuta ilegal. Graças a isso, Clark podia desfrutar estranhas sessões de lazer como a conversa com um tal general Antônio Marques, pressuroso em exibir foto tirada no escuro de um cinema (com equipamento infravermelho) e identificar o personagem em cena comprometedora como Dom Ivo Lorsheiter, progressista odiado pela linha dura militar.
O autor defendeu no livro tudo o que fez para "afagar o regime" (expressão dele) e investiu contra os que o acusavam de "puxar o saco dos militares" (também expressão dele). Para fazer autocensura, revelou, tinha importantes aliados internos, com destaque especial para o papel do diretor de jornalismo, Armando Nogueira. Por "questão de realismo", por exemplo, Armando e ele tomavam "muito cuidado" para não trombar "com o regime e nem com Roberto Marinho".
Mas o leitor tropeça nas contradições da narrativa, entre elas a ambiguidade em relação ao ex-amigo J. B. (Boni) de Oliveira Sobrinho - acusado de fazer vista grossa quando Dias Gomes e outros enfiavam "coisas nos textos que certamente iam dar problemas", mas também de cumplicidade com os militares para destruir o próprio Clark ("lá por 1976, Laís, a mulher do Boni, foi me denunciar para o pessoal do SNI, que ela conhecia, dizendo que eu era um toxicômano perigoso").
Não é preciso inteligência privilegiada para perceber que o jogo de cumplicidade com o regime confundia-se com a luta interna pelo poder dentro da Globo, arbitrada por Marinho e envolvendo não apenas Clark e Boni, mas também o segundo escalão - Joe Wallach, Arce (José Ulisses Alvarez Arce) e, em especial, o diretor de jornalismo Armando Nogueira, pintado no livro como incompetente, preguiçoso e traiçoeiro. Em meio à guerra, as reuniões do conselho de direção nas manhãs de segunda-feira tornaram-se um inferno, em generalizado clima de intriga e discórdia, com todo mundo brigando com todo mundo.
O dinheiro farto que todos ganhavam, contou Clark, "era como veneno, especialmente nas mãos das mulheres". Munidas de talões de cheque, elas estrelavam "um festival de nouveau-richismo, pretensão e falta de educação". Acusado de consumir drogas, Clark defendeu-se generalizando a prática: "a cocaína era chique nas festas intelecto-sociais, e o seu consumo, bastante disseminado", mas "resolveram me transformar em drogado".
Quando Marinho decidiu tomar "o brinquedo de volta" - ou seja, recuperar a Globo, que "tinha emprestado para uns garotos mais moços brincarem" - uma das mãos firmemente agarradas ao tapete de Clark, segundo o livro, foi a do ministro da Justiça, Armando Falcão, "tipo deletério, que adorava fazer intrigas, dizer que éramos todos comunistas, drogados, os piores elementos". No relato aparece um Roberto Marinho bem mais coerente na aliança com o regime do que o autor chega a reconhecer explicitamente - tanto que o episódio no qual Clark é afinal defenestrado mistura, de forma reveladora, a disputa pelo poder no regime militar com aquela que se processava na Globo, escancarando as relações perigosas entre o governo e a rede de televisão consolidada à sombra do autoritarismo.
O autor nega que o motivo de sua saída tenha sido, ao contrário do que se propalou na época, seu comportamento pouco ortodoxo - em razão de excessos alcoólicos - numa festinha com poderosos de Brasília. O livro atribuiu a demissão a queda de braço com o regime, que exigia a expulsão pela Rede Globo da afiliada paranaense de Paulo Pimentel, político que rompera com o antigo protetor, ministro Ney Braga, e ainda era desafeto do chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, já a caminho da presidência.
Se assim foi, faltou a Clark reconhecer ter sido demitido na primeira vez em que ousou contrariar o regime. "Eu argumentava - escreveu ele - que o governo tinha o poder concedente dos canais de rádio e TV e, se quisesse atingir o Paulo (Pimentel), que cassasse sua concessão e enfrentasse o desgaste político". Mas Marinho, pragmático, pensava diferente - talvez sintonizado, naquele sombrio ano de 1977, com o clima gerado por mais uma demonstração de força do regime, o Pacote de Abril.
Clark nem sequer notou a semelhança desse episódio com tantos outros que marcaram a aliança promíscua da Globo com o poder - e nos quais ela se limitara a acatar a vontade do regime. Alguns de tais episódios, envolvendo a TV e autoridades militares, desfilaram ao longo de “Campeão de Audiência”: o ataque do general Muricy a um documentário da CBS (para ele, “subversivo”) sobre o Vietnã (ironicamente, comprado pelo americano Wallach, representante do grupo Time-Life); o Jornal Nacional, no seu terceiro dia de sua existência, proibido por um coronel (Manoel Tavares) do gabinete do general Lira Tavares (membro da Junta que tomara o poder) de noticiar o sequestro do embaixador dos EUA e a doença de Costa e Silva, os dois principais assuntos; o aviso do general Sizeno Sarmento de que as músicas “Caminhando” e “América, América” estavam proibidas de ganhar o Festival Internacional da Canção; a ordem do general Orlando Geisel para as patriotadas de Amaral Neto serem incluídas no horário nobre; a prisão do próprio Clark pelo DOPS no dia do Ato 5, por ordem do coronel Luís França e em represália por ter ele discutido com o motorista do militar num incidente de trânsito.
Enfim, a especialidade da Globo parecia ser a de acomodar-se a qualquer situação. A acomodação prevaleceu também no dia da queda de Clark. E ele aceitou sem discutir o prêmio de consolação (US$ 2 milhões) oferecido por Marinho. Limitou-se a encomendar a carta de demissão (“em alto estilo...literário”) ao amigo Otto Lara Resende, suficientemente versátil para também escrever em seguida a resposta na qual o dono da Globo agradeceu os serviços prestados pelo demissionário (cinco anos depois Otto aceitaria ainda outra missão: o prefácio de “Campeão de Audiência”).
A demissão é uma espécie de anticlímax da autobiografia, na qual o autor assumiu compulsivamente a responsabilidade pelas iniciativas bem sucedidas da Globo, declarou-se partidário de programas de qualidade (mas o salto de audiência veio com os popularescos de baixo nível, apresentados por Raul Longras, Dercy Gonçalves, Chacrinha, etc, não muito distantes da atual pornografia BBB) e atribuiu o mal feito a outros - entre eles, os que mantiveram o faturamento milionário e a liderança absoluta de audiência nos anos seguintes, enquanto o próprio Clark, que na Globo tinha o maior salário do mundo e frequentava presidentes e ministros, descia ao fundo do poço, de fracasso em fracasso (como diretor de duas TVs, logo demitido, e produtor de dois filmes nos quais não se reconheceu sua contribuição, além de um espetáculo teatral altamente deficitário).
"Em 14 anos, depois de minha saída, o que houve de realmente novo?" - perguntou o autor naquele ano de 1991, referindo-se à Globo. Pouca coisa, talvez. Hoje, com a perda crescente de audiência para os concorrentes e sem os privilégios garantidos em 20 anos de ditadura militar, ela está condenada a conformar-se com as regras da democracia e da competição. E passa a valer para a Globo a amarga reflexão pessoal de Clark no livro: “Não se deve cultivar excessivamente o poder, pendurar-se emocionalmente nele, porque um belo dia o poder acaba, e o dia seguinte é terrível".
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