sábado, 16 de outubro de 2010

A santíssima trindade dos homens de bem

Reproduzo artigo de Gilson Caroni Filho, publicado no sítio Carta Maior:

A canalhice eleitoral também pode ser cruel e humilhante, quando adiciona à degradação do corpo político a desordem das idéias. Às vezes, para sorte dos náufragos, o processo é lento, de se medir em anos. Outras vezes, tem a perversão da rapidez e produz em suas vítimas súbita metamorfose. Esta velhice, a mais sofrida para quem dela padece e a mais chocante para quem a vê, abateu-se sobre a candidatura Serra.

A versão global-carismática da desmodernização brasileira parece não conhecer limites. Na disputa política, o “iluminismo tucano" tem levado o candidato do PSDB a ficar muito parecido com tudo que ele, em seu passado como homem de esquerda, rejeitava como lixo. Os dois fenômenos, o da fé mercantilizada e o da política dessecularizada, tornaram-se imbricados, um aprendendo a usar os recursos do outro para alavancar os seus projetos que guardam inequívoca afinidade eletiva. É assim que a oposição fabrica um ”homem de bem".

Se acrescentarmos ao quadro dantesco a Justiça Eleitoral usada como instrumento de poder, veremos o quanto está ameaçada a legitimidade da representação popular, sem a qual não existe democracia. Estaríamos assistindo à implantação no país de uma justiça de gabinete, considerada pelo pensamento jurídico mundial a forma mais infame de prepotência principesca? Este é o projeto demotucano? Oremos todos.

A temperatura da campanha, agitada com os debates entre os candidatos e a demonização do Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH), nos obriga a retroceder no tempo para lembrar ao eleitor de classe média a tessitura do retrocesso em andamento. É interessante retornar a 2001, para aquilatarmos alguns dados e falas esquecidas.

Há nove anos, Márcio Pochmann, fazia uma precisa radiografia do desemprego e da precarização do trabalho, que assolava a economia brasileira (1). O autor apresentava quais os principais elementos que asseguravam a (triste) presença do Brasil no pódio, como um dos campeões do desemprego em escala mundial. Em suas palavras: “Em 1999, por exemplo, o Brasil ocupou o terceiro lugar no mundo em desemprego aberto, representando 5,61% do total do desemprego mundial, apesar de contribuir com 3,12% na PEA global. Em contrapartida, no ano de 1986, a colocação do Brasil no ranking mundial foi a décima terceira, com participação de 2,75% e representação de 1,68% do desempenho mundial".

O economista alertava que o perfil ocupacional do trabalhador brasileiro o deixava exposto aos efeitos deletérios da globalização, decorrentes da liberalização comercial e da desregulamentação do mercado de trabalho, sem constrangimento por parte das políticas macroeconômicas e sociais nacionais. Para quem acredita que Lula nada mais fez senão dar continuidade ao governo FHC, é legítimo indagar sobre as bases em que está assentada esta crença.

O descontentamento com a crise energética influía negativamente na avaliação do governo FHC, de acordo com pesquisa do Instituto Vox Populi, feita em junho de 2001. O percentual de ruim e péssimo saltava de 34 para 42%. A taxa de ótimo/bom refluía de 22% para 17%. Os entrevistados apontavam como piores áreas do governo: a saúde (29%), a energia elétrica (23%) e a segurança (17%). Ou seja, a gestão do “melhor ministro da Saúde que o país já teve", como alardeia a propaganda tucana, era a que apresentava a pior avaliação. Os tempos eram duros para o “homem de bem" dos púlpitos do Opus Dei.

Em 2002, aliados e estrategistas dos principais candidatos à Presidência acreditavam que o fechamento de um acordo com o FMI aliviaria o clima da campanha eleitoral por trazer mais estabilidade à economia e afastar a "argentinização" do Brasil.

O candidato do PSDB, José Serra, pretendia faturar o momento, apresentando-se como o único capaz de repetir o feito de fechar, se necessário, um novo acordo. Seu raciocínio era contestado por outro ”homem de bem". O presidente do PPS, senador Roberto Freire, conhecido como “líder do governo na oposição", reagia com ironia aos prognósticos do tucano.

“Isso é uma besteira, algo risível. Esse acordo está sendo fechado para corrigir os equívocos da equipe econômica, totalmente subordinada ao FMI. Porque reduziram o estrago, agora querem virar os salvadores da pátria". Freire, como se sabe, viria a apoiar Alckmin em 2006 e está na coligação tucana em 2010. Sua trajetória, como político de esquerda, é conhecida. Desde os tempos do velho PCB, o oportunismo açoita-o em direção da direita, em nome de evitar a vitória da direita pior. Sempre aderiu ao blablablá de combater o "inimigo de dentro" - o que, na linguagem cristalina da política, significa descolar uns empreguinhos no governo. E, quem sabe, um dinheirinho para a campanha. Esta sempre foi sua interpretação sobre o conceito gramsciano de "guerra de posição"

O DEM completa a tríade da santidade oposicionista. Nunca foi capaz de matricular-se num curso intensivo sobre como fazer campanhas eleitorais sem recursos do Orçamento da União, que fosse só na base do palanque, aqui entendido como discurso de identificação com a sociedade. Para tal, precisaria arrumar um projeto de país, coisa que jamais passou pela cabeça do seu ex-presidente, Jorge Bornhausen, conhecido pelo apelido de “Alemão", por conta do temperamento gélido e da ascendência genética.

Serra, Freire, Borhausen. Eis a santíssima trindade. Por ela, as redações rezam em editoriais e colunas: “dai-me sempre guarida, tende de mim piedade" O Estado laico não pode dizer amém.

(1) Pochman, Márcio. O Emprego na Globalização. SP, Boitempo, 2001

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Eleições: A velha e boa militância

Reproduzo artigo de Selvino Heck, integrante da coordenação nacional do Movimento Fé e Política, publicado no sítio da Adital:

Domingo de eleição, primeiro turno, vou votar no Instituto de Educação, Bairro Bomfim, quase centro de Porto Alegre. Converso com o fiscal da candidatura Dilma, Eduardo Mancuso, companheiro das antigas. Fala da calma absoluta que é esta eleição. Não há agito, poucas bandeiras na rua, quase nenhuma militância. Até aquele momento, umas nove horas da manhã, sequer fiscal da candidatura Serra tinha aparecido. Muito diferente de outras eleições, diz o Mancuso, quando o barulho era grande, uns acusavam os outros de boca de urna, a mobilização era geral e total.

Chego em Venâncio Aires, minha terra, perto do meio dia. Os apoiadores de Tarso Genro e Dilma andam correndo por todos os lugares, postados em pontos estratégicos, levando a última palavra, bandeira às costas, alegria pela certeza da vitória.

Em outros tempos, especialmente anos oitenta, a militância de partidos de esquerda e de movimentos sociais era um fenômeno temido pela direita, pela garra, pelo entusiasmo, pelo amor à camiseta e à causa, pela disposição de luta. Não tinha hora nem lugar. Porta de fábrica nas madrugadas, caminhadas nos sábados e domingos, ocupações urbanas e rurais, greves e mobilizações: todos tiravam dinheiro do bolso sem qualquer dúvida se ia faltar no dia seguinte ou se alguém iria repor, se o carro ia estragar ou iria ter hora para comer.

Fazia parte do processo, essa palavra quase mágica que passou a freqüentar qualquer discurso. A urgência do tempo era maior que qualquer compromisso pessoal ou necessidade outra imediata. Era tempo de mudança, de transformações estruturais. Quem podia fazê-los era o trabalho de base, a organização popular de baixo para cima, a consciência de que, coletiva e solidariamente, ninguém superava o povo em sua capacidade de determinar o futuro e a democracia.

O neoliberalismo dos anos noventa, junto com o crescimento das organizações e sua conseqüente burocratização, abafou essa militância ruidosa e alegre. São menos os que vão às ruas, os que tiram dinheiro do bolso, os que têm tempo para o sonho e a utopia, com as exceções conhecidas e de sempre. Nas últimas eleições, em especial, os militantes pagos começaram a proliferar em todos os cantos e comitês, o que era apenas prática, condenadíssima, da política conservadora. Muitas vezes mal sabem o que estão fazendo, o que e a quem estão defendendo. Ou, um dia estão com a situação, no dia seguinte com a oposição, dependendo de quem ofereça mais.

Perdeu-se boa parte do encanto e da mística. Frei Betto em "Dez Conselhos a todos os Militantes de Esquerda" escreveu e falava por todo Brasil: "Saiba a diferença entre militante e ‘militonto’. "Militonto’ é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais. O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e projetos comunitários."

Não se trata, hoje, fundamentalmente, de discutir a diferença entre militante e militonto, e sim recuperar o militante e a militância, dar de novo sentido à coragem de se doar, à liberdade generosa de se engajar sem esperar nada em troca, ao sentimento de saber que o novo virá se cada um e cada uma forem capazes de fazer o novo, envolver-se no sonho, construir a utopia com quem está do seu lado e marcha junto. Nenhum direito foi conquistado por nenhum trabalhador deste país sem mobilização e luta.

Há espaço para recuperar a velha e boa militância. A Rede Talher de Educação Cidadã e o Programa Escolas-Irmãs, por exemplo, coordenados a partir do Gabinete Pessoal do Presidente da República, que não são eleitorais mas de vida, com muitos outros atores e protagonistas Brasil afora, estão no esforço, não de ressuscitar o que eventualmente está morto, mas reviver, à luz dos tempos de hoje, o que está vivo, o que anima, o que mexe com corações e mentes, o que faz brilhar os olhos e a alma, o que apaixona e faz extravazar o amor, a coragem, a entrega da vida para os outros e outras, especialmente os mais pobres entre os pobres, a sonhar com um mundo diferente e uma sociedade justa e igualitária, de direitos garantidos para todos e todas.

Pepe Mujica, presidente do Uruguai, ex-tupamaro e militante, falou em um discurso: "Que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e super-mulheres e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu. Vêm entregar a alma por um punhado de sonhos. Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano. Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício. É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".

A vitória de Dilma no segundo turno, a primeira mulher presidenta do Brasil, depende muito do que a velha, a boa e a nova militância será capaz de fazer (re)viver e pulsar no coração de brasileiras e brasileiros.

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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Marilena Chauí: Serra ameaça a democracia









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Resolução do PSOL: "Nenhum voto em Serra"

Reproduzo resolução oficial da executiva nacional do PSOL sobre o segundo turno, aprovada por 13 votos a dois:

"Nenhum voto a Serra"

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) mereceu a confiança de mais de um milhão de brasileiros que votaram nas eleições de 2010. Nossa aguerrida militância foi decisiva ao defender nossas propostas para o país e sobre ela assentou-se um vitorioso resultado.

Nos sentimos honrados por termos tido Plínio de Arruda Sampaio e Hamilton Assis como candidatos à presidência da República e a vice, que de forma digna foram porta vozes de nosso projeto de transformações sociais para o Brasil. Comemoramos a eleição de três deputados federais (Ivan Valente/SP, Chico Alencar/RJ e Jean Wyllys/RJ), quatro deputados estaduais (Marcelo Freixo/RJ, Janira Rocha/RJ, Carlos Giannazi/SP e Edmilson Rodrigues/PA) e dois senadores (Randolfe Rodrigues/AP e Marinor Brito/PA). Lamentamos a não eleição de Heloísa Helena para o Senado em Alagoas e a não reeleição de nossa deputada federal Luciana Genro no Rio Grande do Sul, bem como do companheiro Raul Marcelo, atual deputado estadual do PSOL em São Paulo.

Em 2010 quis o povo novamente um segundo turno entre PSDB e PT. Nossa posição de independência não apoiando nenhuma das duas candidaturas está fundamentada no fato de que não há por parte destas nenhum compromisso com pontos programáticos defendidos pelo PSOL. Sendo assim, independentemente de quem seja o próximo governo, seremos oposição de esquerda e programática, defendendo a seguinte agenda: auditoria da dívida pública, mudança da política econômica, prioridade para saúde e educação, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, defesa do meio ambiente, contra a revisão do código florestal, defesa dos direitos humanos segundo os pressupostos do PNDH3, reforma agrária e urbana ecológica e ampla reforma política – fim do financiamento privado e em favor do financiamento público exclusivo, como forma de combater a corrupção na política.

No entanto, o PSOL se preocupa com a crescente pauta conservadora introduzida pela aliança PSDB-DEM, querendo reduzir o debate a temas religiosos e falsos moralismos, bloqueando assim os grandes temas de interesse do país. Por outro lado, esta pauta leva a candidatura de Dilma a assumir posição ainda mais conservadora, abrindo mão de pontos progressivos de seu programa de governo e reagindo dentro do campo de idéias conservadoras e não contra ele. Para o PSOL, a única forma de combatermos o retrocesso é nos mantermos firmes na defesa de bandeiras que elevem a consciência de nosso povo e o nível do debate político na sociedade brasileira.

As eleições de 2002, ao conferir vitória a Lula, traziam nas urnas um recado do povo em favor de mudanças profundas. Hoje é sabido que Lula não o honrou, não cumpriu suas promessas de campanha e governou para os banqueiros, em aliança com oligarquias reacionárias como Sarney, Collor e Renan Calheiros. Mas aquele sentimento popular por mudanças de 2002 era também o de rejeição às políticas neoliberais com suas conseqüentes privatizações, criminalização dos movimentos sociais – que continuou no governo Lula -, revogação de direitos trabalhistas e sociais.

Por isso, o PSOL reafirma seu compromisso com as reivindicações dos movimentos sociais e as necessidades do povo brasileiro. Somos um partido independente e faremos oposição programática a quem quer que vença. Neste segundo turno, mantemos firme a oposição frontal à candidatura Serra, declarando unitariamente “nenhum voto em Serra”, por considerarmos que ele representa o retrocesso a uma ofensiva neoliberal, de direita e conservadora no País.

Ao mesmo tempo, não aderimos à campanha Dilma, que se recusou sistematicamente ao longo do primeiro turno a assumir os compromissos com as bandeiras defendidas pela candidatura do PSOL e manteve compromissos com os banqueiros e as políticas neoliberais. Diante do voto e na atual conjuntura, duas posições são reconhecidas pela Executiva Nacional de nosso partido como opções legítimas existentes em nossa militância: voto crítico em Dilma e voto nulo/branco. O mais importante, portanto, é nos prepararmos para as lutas que virão no próximo período para defender os direitos dos trabalhadores e do povo oprimido do nosso País.

Executiva Nacional do PSOL – 15 de outubro de 2010.

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Serra é caso de polícia. Cadê a Dra. Cureau?

Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:

Alertado por um comentarista, trago a vocês esta inacreditável matéria do Correio Braziliense, assinada pelo repórte Ulisses Campbell, que dá conta de um esforço articulado da campanha de Serra para, através de telemarketing, espalhar mais mentiras e canalhices sobre Dilma Rousseff.

Não é mais obra de alguns serristas “aloprados”, é um esforço nacional, articulado e caríssimo para interferir nas eleições. É um caso policial, está acontecendo e não existe uma voz neste país que se levante contra este tipo de método. Onde está o Ministério Público Federal? As pessoas que recebem os telefonemas estão identificadas, a origem deles pode ser obtida de imediato.

Não seria preciso ninguém agir, mas a Dra. Sandra Cureau parece estar ocupada demais com as preferências políticas dos jornalistas, preparando ações contra os blogs, e pode não ter lido o jornal que circula na cidade onde trabalha. Então é melhor que os dirigentes do PT parem de dar entrevistas dizendo o que os jornais querem ouvir sobre os problemas da campanha e representem imediatamente à Justiça Eleitoral diante deste fato, que está público e publicado em um grande jornal.

É inacreditável como a campanha de Serra transformou a disputa política em atos de banditismo explícito.


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Abaixo, trechos da matéria da Correio Braziliense:

Telemarketing de Serra insiste que Dilma é a favor do aborto

Ullisses Campbell

São Paulo — O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, decidiu apostar todas as fichas no debate religioso para tentar vencer o segundo turno das eleições. Ontem, em São Paulo, ele disse ser a favor da união civil de casais gays e ressaltou que “casamento” é questão ligada à religião. “A união em torno dos direitos civis já existe, inclusive, na prática, no Judiciário. Outra coisa é o casamento, que tem o componente religioso. Cabe à Igreja decidir sua posição”, ressaltou.

Enquanto fala de religião em todos os eventos que faz nessa etapa da campanha, o telemarketing de Serra opera freneticamente. Em São Paulo e em outros estados, centenas de militantes estão ligando para a casa dos eleitores. A maioria é mulher. Elas ligam em horário comercial no telefone fixo e procuram saber se há eleitor de Marina Silva (PV) na residência. Caso haja, as atendentes insistem na tecla de que a petista é a favor do aborto e que ela hoje se diz contrária apenas para ludibriar o eleitor.

A bancária Maristela Aires, 34 anos, recebeu a ligação em casa, em Osasco, Grande São Paulo, na quarta-feira pela manhã, quando saía de casa para trabalhar. Eleitora de Plínio de Arruda Sampaio (PSol) no primeiro turno, ela estava indecisa até a ligação. “Na verdade, a atendente falou mais com a minha mãe, que me convenceu a votar no Serra”, relata.

A professora Doraci Costa também recebeu uma ligação dos tucanos em Belém do Pará. Eleitora de Marina Silva, ela decidiu votar em Dilma, mesmo reconhecendo a confusão que a petista fez ao se dizer a favor e depois contra a descriminalização do aborto. “Acho que suscitar o debate sobre o tema já é um grande avanço”, diz a professora. Em outra frente de campanha religiosa tucana, os militantes de Serra distribuem santinhos em redutos petistas. No panfleto mais comum, há a seguinte frase ao lado da foto do candidato: “Jesus é a verdade e a justiça”.

Mais abaixo tem a assinatura de Serra e o número de sua candidatura. Na maioria dos panfletos distribuídos em São Paulo e no Rio de Janeiro, as cores do santinho são dois tons de azul e de amarelo, que lembram o partido. No entanto, há uma versão do santinho nas cores verde-claro e verde-escuro, numa alusão à onda verde que Marina Silva instalou no Brasil no primeiro turno, conseguindo arrastar 20 milhões de eleitores. O Correio procurou o comando de campanha de Serra em São Paulo e ninguém quis se manifestar sobre o telemarketing agressivo que enfatiza o aborto nas ligações nem sobre os santinhos com temas religiosos.

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CartaCapital: Quem é Paulo Preto

Reproduo reportagem de Cynara Menezes, publicada na revista CartaCapital:

Na noite do domingo 10, ao fim do primeiro bloco do debate da TV Bandeirantes, o mais acalorado da campanha presidencial até agora, cobrada pelo adversário tucano José Serra sobre as denúncias contra a ex-ministra Erenice Guerra, a petista Dilma Rousseff revidou: “Fico indignada com a questão da Erenice. Agora, acho que você também deveria responder sobre Paulo Vieira de Souza, seu assessor, que fugiu com 4 milhões de reais de sua campanha”. Serra nada disse – ou “tergiversou”, como acusou a adversária durante todo o encontro televisivo –, e o País inteiro ficou à espera de uma resposta: quem é Paulo Vieira de Souza?

Numa eleição em que o jornalismo dito investigativo só atuou contra a candidata do governo, Dilma Rousseff serviu como “pauteira” para a imprensa. O pauteiro é quem indica quais reportagens devem ser feitas – e, se não fosse por causa de Dilma, Vieira de Souza nunca chegaria ao noticiário. Nos dias seguintes ao debate, finalmente jornais e tevês se preocuparam em escarafunchar, mesmo sem o ímpeto habitual quando se trata de denúncias a atingir a candidatura governista, um escândalo que envolvia o tucanato. A acusação contra Vieira de Souza, vulgo “Paulo Preto” ou “Negão”, apareceu pela primeira vez em agosto, na revista IstoÉ.

No texto, que obviamente teve pouquíssima repercussão na época, o engenheiro Paulo Preto era apontado como arrecadador do PSDB e acusado pelos próprios tucanos de sumir com dinheiro da campanha. “Como se trata de dinheiro sem origem declarada, o partido não tem sequer como mover um processo judicial”, dizia a reportagem, segundo a qual o engenheiro possuía relações estreitas com as empreiteiras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS, Mendes Júnior, Carioca e Engevix.

Após a citação feita por Dilma, os jornalistas cuidaram de cercar Serra para tentar extrair a resposta que ele não deu no debate. De saída, o candidato disse não conhecê-lo. “Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês fiquem perguntando”, declarou, na segunda-feira 11.

No dia seguinte, ameaças veladas feitas pelo ex-arrecadador em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo foram capazes de refrescar a memória de Serra. “Não somos amigos, mas ele me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem de responder. Não tem atitude minha que não tenha sido informada a ele”, disse Paulo Preto. “Não se larga um líder ferido na estrada em troca de nada. Não cometam esse erro.”

A partir da insinuação de que o já apelidado “homem-bomba do tucanato” possui fartos segredos a revelar, Serra não só se lembrou do desconhecido como o defendeu e o elogiou. “A acusação contra ele é injusta. Não houve desvio de dinheiro de campanha por parte de ninguém, nem do Paulo Souza”, afirmou o tucano, fazendo questão de dizer que o apelido “Preto” é preconceituoso. “Ele é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de Engenheiro do Ano (em 2009). Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo.”

O último cargo público do engenheiro em governos do PSDB foi como diretor de engenharia da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), cargo do qual foi demitido em abril, poucos dias após Serra se lançar à Presidência. Mas sua folha de serviços prestados ao PSDB é extensa. Há 11 anos ocupava cargos de confiança em governos tucanos e era diretor da Dersa desde 2005, primeiro nas Relações Institucionais e depois na engenharia, nomeado por Serra.

Trabalhou no Palácio do Planalto durante os quatro anos do segundo governo Fernando Henrique Cardoso como assessor especial da Presidência, no programa Brasil Empreendedor Rural. Em São Paulo, foi responsável pela medição de obras e pagamentos a empreiteiras contratadas para construir o trecho sul do Rodoanel, que custou 5 bilhões de reais, a expansão da avenida Jacu-Pêssego e a reforma na Marginal do Tietê, estimada em 1,5 bilhão.

Quem levou Vieira de Souza para o Planalto foi Aloysio Nunes Ferreira, recém-eleito senador pelo PSDB, de quem Paulo Preto se diz amigo há mais de 20 anos. Ferreira dispensa apresentações. Em 3 de outubro foi o candidato ao Senado mais votado do Brasil, depois de ter sido chefe da Casa Civil no governo paulista.

De acordo com a IstoÉ, familiares de Vieira de Souza chegaram a emprestar 300 mil reais para Ferreira, quantia - assumidamente utilizada pelo novo senador para quitar o pagamento do apartamento onde vive, em Higienópolis. O engenheiro mantém, aliás, um padrão de vida elevado, muito acima de quem passou boa parte da carreira em cargos públicos. É dono de um apartamento na Vila Nova Conceição em um edifício duplex com dez vagas na garagem, sauna privê e habitado por banqueiros e socialites. Pela média de preços da região, um apartamento no prédio não custa menos de 9 milhões de reais.

Vieira de Souza foi demitido da Dersa oito dias após aparecer ao lado de tucanos graduados na festa de inauguração do Rodoanel e atribuiu sua saída a diferenças de estilo com o novo governador, Alberto Goldman, que assumiu na qualidade de vice.

Goldman parecia, de fato, incomodado com a desenvoltura, para dizer o mínimo, de Paulo Preto no governo, e deixou esse descontentamento claro em um e-mail enviado a Serra, em novembro do ano passado, no qual acusava o então diretor da Dersa de ser “vaidoso” e “arrogante”, como revelou a Folha de S.Paulo. “Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o Super-Homem”, escreveu o atual governador na mensagem ao antecessor, também encaminhada ao secretário estadual de Transportes, Mauro Arce. Mas Paulo Preto só deixou o governo quando Serra saiu.

Dois meses após sua exoneração, em junho, Vieira de Souza seria preso em São Paulo, acusado de receptação de joia roubada. O ex-diretor da Dersa alega ter comprado de um desconhecido um bracelete de brilhantes da marca Gucci por 18 mil reais. Ao levar a joia a uma loja do Shopping Iguatemi para avaliar se era verdadeira, foi preso em flagrante, após ser constatado pelo gerente que o objeto havia sido furtado ali mesmo no mês anterior. Solto no dia seguinte, passou a responder à acusação em liberdade. Hoje, ele atribui o imbróglio a “uma armação”.

Seu nome aparece ainda na investigação feita pela Polícia Federal que resultou na Operação Castelo de Areia. Na ação, executivos da construtora Camargo Corrêa são acusados de comandar um esquema de propinas em obras públicas. A empresa nega. No relatório da PF há várias referências ao trecho sul do Rodoanel, responsabilidade de Paulo Preto, que teria recebido quatro pagamentos mensais de 416 mil reais da empreiteira. Vieira de Souza também nega. “A mim nunca ninguém entregou absolutamente nada. O lote da Camargo Corrêa na obra era de 700 milhões de reais e a obra foi entregue no prazo, só com 6,52% de acréscimo. É o menor aditivo que já houve em obra pública no Brasil.”

À revista Época, que publicou uma pequena reportagem sobre o caso em maio, Ferreira reconheceu a amizade antiga com Paulo Preto, mas negou ter recebido doações ilegais da construtora. Afirmou ainda que o Rodoanel foi aprovado pelos órgãos fiscalizadores. “O Rodoanel teve apenas um aditivo de 5% de seu valor total, um recorde para os padrões do Brasil”, disse o senador eleito. Atualmente, a operação Castelo de Areia encontra-se paralisada em virtude de uma liminar deferida pelo ministro Cesar Asfor Rocha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), até que seja julgado o pedido da defesa da Camargo Corrêa, que reclama de irregularidades na investigação.

O vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, que teria servido de fonte para a reportagem da IstoÉ, deu entrevista nos últimos dias na qual nega ter afirmado que Paulo Preto arrecadara, por conta própria, “no mínimo” 4 milhões de reais – o próprio engenheiro diz que esse número foi subestimado. Segundo Eduardo Jorge, não existe nenhum esquema de “arrecadação paralela”, o famoso caixa 2, entre os tucanos. Paulo Preto processa EJ, o tesoureiro-adjunto Evandro Losacco e o deputado federal reeleito José Aníbal, chamados por ele de “aloprados” por tê-lo denunciado à revista. Curiosamente, na entrevista à imprensa, Eduardo Jorge faz mistério sobre os nomes dos reais arrecadadores da campanha tucana, a quem chama de “fulano” e “sicrano”.

Na quinta-feira 14, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo entrou com uma representação no Ministério Público Estadual. Solicita uma investigação contra o ex-diretor da Dersa por improbidade administrativa. Além da acusação sobre os 4 milhões de reais arrecadados irregularmente para a campanha tucana, os parlamentares petistas acusam a filha de Paulo Preto, a advogada Priscila Arana de Souza, de tráfico de influência, por representar as empreiteiras que tinham negócios com a empresa pública desde 2006, quando o pai era responsável pelo acompanhamento e fiscalização das principais obras viárias do governo paulista, como o Rodoanel e a Nova Marginal, vitrines da campanha tucana na corrida presidencial.

Documentos do Tribunal de Contas da União revelam que Priscila Souza era uma das advogadas das empreiteiras no processo que analisou as contas da construção do trecho sul do Rodoanel. Ao contrário do que disse o ex-chefe da Casa Civil de Serra, uma auditoria da empresa Fiscobras apontou diversas irregularidades na obra, entre elas um superfaturamento de 32 milhões de reais em relação ao contrato inicial, despesa que teria sido repassada ao Ministério dos Transportes, parceiro no projeto. A filha do engenheiro aparece ainda em uma procuração, datada de maio de 2009, na qual os responsáveis da construtora Andrade Gutierrez autorizam os advogados do escritório Edgard Leite Advogados Associados a representarem a empresa em demandas judiciais.

“Já havíamos encaminhado ao MP uma representação, em maio, pedindo investigação sobre a suposta arrecadação ilegal de dinheiro para a campanha tucana, com base nas denúncias da IstoÉ. Conversei com o procurador-geral, Fernando Grella, e ele me garantiu que a investigação foi aberta, mas corre em sigilo de Justiça, por ter sido anexada aos autos da Operação Castelo de Areia, que está suspensa”, disse o deputado estadual do PT Antonio Mentor.

Para o presidente estadual do PT, Edinho Silva, há indícios suficientes de uma relação “pouco lícita” entre o ex-diretor da Dersa e as construtoras. “Como pode a filha representar as mesmas empresas que são fiscalizadas pelo pai? O poder público não pode se relacionar dessa forma com a iniciativa privada”, afirmou Silva, recém-eleito deputado estadual. “Além disso, é preciso apurar essa história do dinheiro arrecadado ilegalmente pelo engenheiro. Quem denunciou isso não foi a gente, foi o PSDB, que não viu a cor do dinheiro e reclamou à imprensa.”

Por meio de nota, o escritório de -advocacia classificou de “inconsistentes e maldosas” as acusações do PT. “A advogada Priscila Arana de Souza ingressou no escritório em 1º de junho de 2006. O escritório presta, há mais de dez anos, serviços jurídicos a praticamente todas as empresas privadas que compõem os consórcios contratados para a execução do trecho sul do Rodoanel de São Paulo”, registra o texto.

Procurado por CartaCapital, Paulo Preto não foi encontrado. Seus assessores informaram, na quinta-feira 14, que o engenheiro estava viajando. Na entrevista que deu à Folha, o engenheiro insinuou que sua função era a de facilitar as doações de empresas privadas com contratos com o governo de São Paulo ao PSDB. “Ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem (sic) mais recursos politicamente do que eu”, disse. Isso porque, sustentou, cumpriu todos os prazos e pagamentos acertados com as empreiteiras nas obras sob seu comando.

Nos últimos dias, Serra tem se mostrado irritado com as perguntas de jornalistas sobre o tucano honorário Paulo Preto. Em Porto Alegre, na quarta-feira 13, chegou a acusar o jornal Valor Econômico de atuar em favor da campanha de Dilma Rousseff. Perguntado por um repórter do diário, o presidenciável disse que o veículo, pertencente aos grupos Folha e Globo, “faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral gratuito”, evidenciando como se incomoda de provar do próprio remédio. O destempero deu-se minutos depois de o candidato declarar seu apreço pela liberdade de imprensa. Além do mais, a reclamação é estranha: as manchetes de jornais e capas de revistas com críticas e denúncias contra Dilma Rousseff são matéria-prima do programa eleitoral do PSDB.

No domingo 17, Dilma e Serra voltam a se enfrentar no debate promovido pela Rede TV! Ninguém espera que se cumpra o vaticínio frustrado de “paz e amor” dado pelos jornais antes do primeiro confronto. A petista vai, ao que tudo indica, continuar a questionar Serra sobre as privatizações do governo Fernando Henrique e insistirá na comparação dos feitos do governo Lula com aqueles de seu antecessor. Segundo a pesquisa CNT-Sensus divulgada na quinta 14, os entrevistados consideraram Dilma Rousseff a vencedora do debate na Band.

Durante o debate, Serra nem sequer defendeu a própria mulher, Mônica, apontada por Dilma como uma das líderes de uma campanha difamatória de cunho religioso contra o PT, ao declarar a um evangélico no Rio de Janeiro que a candidata governista “gosta de matar criancinhas”. O fez depois, em seu programa eleitoral, ao tentar assumir o papel de vítima (segundo ele, a adversária tinha partido para a baixaria e atacado até a sua família).

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UNE e UBES indicam voto em Dilma

Reproduzo notas oficiais das duas entidades estudantis:

Nota da União Nacional dos Estudantes (UNE):

Derrotar o retrocesso neoliberal: Dilma Presidente

A União Nacional dos Estudantes tem historicamente se pautado na defesa dos interesses dos estudantes brasileiros, da educação oública e da soberania nacional. O faz compreendendo que a autonomia política é fundamental na luta pela construção de um país justo e soberano. Contudo, nos momentos de acirramento da luta política do Brasil, não nos furtamos de tomar posição e somarmos força ao campo mais progressista das forças políticas no país.

Foi assim na experiência da luta contra o nazifacismo na década de 40, na campanha do "Petróleo é nosso" que culminou com a criação da segunda maior petrolífera do mundo, a Petrobras, na campanha das "Reformas de Base" na década de 60, na resistência contra a ditadura e na redemocratização do Brasil, no "Fora Collor" e na passeata de 16 de agosto de 2005 que segurou nas ruas a tentativa de golpe.

Esse ano não é diferente. Depois de um primeiro turno em que o debate não se aprofundou de forma necessária nos projetos de Nação em disputa, nesse segundo turno temos a chance de fazê-lo e interferir ainda mais no debate. Com o cenário de polarização e o assanhamento das forças políticas mais conservadoras do país, aliadas à grande mídia, faz-se necessário o nosso posicionamento.

Durante os anos de governo FHC, com Serra no Planejamento, a lógica do desmonte do Estado e as privatizações imperavam. O desafio vivido cotidianamente pela universidade pública era o de como não desmoronar. Inúmeras IFES não conseguiam custear sequer sua manutenção. A proliferação de faculdades privadas sem qualquer regulamentação que garantisse qualidade e compromisso social por parte destas foi outra marca daquele período. O atual secretário estadual de Educação de São Paulo, Paulo Renato, era o ministro da Educação do Brasil neste período em que a educação era vista pelo governo federal mais como mercadoria, de um lucrativo negócio, do que como um direito social estratégico para o desenvolvimento nacional. Essa lógica persiste com Serra no governo de São Paulo.

É esse projeto que devemos derrotar. O compromisso dos estudantes brasileiros é com o aprofundamento da democracia no nosso país e na defesa do protagonismo do Estado brasileiro, pois somente a partir destes é possível que o povo brasileiro interfira nos rumos das políticas públicas no nosso país. Ainda, reafirmamos o nosso compromisso com o investimento de 10% do PIB na educação, impedindo que o retorno de mecanismos de contingenciamento de verbas sejam novamente utilizados como a Desvinculação das Receitas da União (DRU). Nossa disposição é fazer com que o próximo período sirva para a construção de importantes Reformas Estruturantes no Brasil, que pavimente um profundo ciclo de desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental, mas que também propicie o desenvolvimento humano da sociedade brasileira.

Assim, no ambiente de polarização que se configura na atual quadra política, é fundamental que essa geração tome posição e derrote o setor conservador representado na candidatura de Jose Serra. A Diretoria Plena da União Nacional dos Estudantes, reunida na sede do Sindicato dos Professores de São Paulo - APEOESP - e na presença de lideranças estudantis de todo o país, decide indicar o voto em Dilma Rousseff no segundo turno das eleições para a Presidência da República Federativa do Brasil.

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Nota da União Brasileira de Estudantes Secundarista (UBES):

Contra a volta da direita privatista, a UBES quer Dilma presidente

A democracia brasileira, mais uma vez, se encontra numa encruzilhada histórica. Passados pouco mais de 20 anos do fim da ditadura militar, o povo brasileiro mais uma vez é chamado a decidir o destino de nossa Nação.

As eleições brasileiras em 2010 estão polarizadas entre um projeto privatista, que se manteve no poder por longos anos na década de 90, representando um grande retrocesso para a democracia. Tratava-se de um governo que criminalizou os movimentos sociais, sucateou a educação pública, abrindo espaço para o crescimento de universidades sem nenhum critério de qualidade, inclusive às universidades privadas, além de proibir a construção de novas escolas técnicas e vender o patrimônio nacional por meio de privatizações claramente fraudulentas, a exemplo da venda da Vale do Rio Doce.

É interessante ressaltar que essas políticas não se manifestaram apenas em âmbito federal, por onde passam os governos neoliberais e que deixam sua marca negativa. Em São Paulo, o então governador José Serra não negou suas convicções partidárias: a educação pública foi mais uma vez sucateada, tendo inclusive péssimos materiais didáticos (com erros de informações grotescos), aprovação automática, repressão a qualquer manifestação dos movimentos sociais, como no trato à grave dos professores liderada pela APEOESP que foi reprimida com violência pela polícia. Além de suas posições alinhadas ao imperialismo, como sua estreita relação com os EUA e suas políticas de subjugação da América Latina.

Do outro lado se coloca uma forma de governar inaugurada com o governo do presidente Lula, o primeiro operário a se eleger para esse cargo no Brasil. Foi aberto o diálogo com os movimentos sociais, que foram inúmeras vezes recebidos pelo Presidente, além das mais de sessenta Conferências Temáticas realizadas nos últimos oito anos, que representaram um importante passo na democratização das decisões governamentais. No âmbito educacional respiram-se novos ares. Mais de setecentas mil pessoas ingressaram no ensino superior através do PROUNI. O REUNI representou uma importante iniciativa na reestruturação e democratização das Universidades Federais. Foram criadas 214 novas escolas técnicas nos últimos oito anos, número superior à quantidade criada em toda a história do Brasil.

Para sanar o débito histórico com o com o povo brasileiro, esses números ainda são pequenos. Defendemos o investimento de 10% do PIB e 50% dos recursos do Fundo Social do pré-sal em educação, o fim do vestibular e o livre acesso à universidade, a democratização dos meios de comunicação, a auditoria na dívida pública, o passe livre, a meia-entrada, a redução da jornada de trabalho para 40h semanais, o limite da propriedade fundiária, a descriminalização do aborto e o fim das opressões.

Ainda assim, compreendemos que entre os projetos e candidatos do segundo turno, somente a candidatura de Dilma Rousseff reúne as condições para avançar ainda mais na construção de um país, justo, democrático e soberano, onde os movimentos sociais possam apresentar suas demandas e disputar os rumos desse novo Brasil que está nascendo. E é por isso que a histórica União Brasileira dos Estudantes Secundaristas mais uma vez colocará os caras-pintadas nas ruas para impedir a volta da direita ao poder.

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Marina Silva e o segundo turno

Reproduzo artigo de Frei Betto, publicado no sítio da Adital:

Surpreendeu a votação (quase 20 milhões de votos) recebida por Marina Silva. Votos dados a ela e não ao PV, pois o eleitor vota em pessoas mais que em partidos. Isso coloca algumas questões.

Muitos eleitores de Marina se coligaram pelas redes sociais da internet. Esta funciona, sim, como poderoso palanque virtual. Milhares de pessoas estão permanentemente dialogando através da web. E isso ajuda a formar opinião.

Curioso é constatar que a militância virtual cresce na proporção em que se reduz a do corpo a corpo, do militante que, voluntariamente, saía às ruas, panfletava, pichava muros, distribuía santinhos e vendia brindes para arrecadar fundos de campanha. É lamentável observar a ausência de militância voluntária em eventos eleitorais, substituída por pessoas remuneradas que, por vezes, nada sabem do candidato que propagam.

Ao contrário do que, até agora, supunham PT e PSDB, o tema da preservação ambiental interessa sim ao eleitor. Já não é pauta "apenas dos verdes". A sociedade, como um todo, está preocupada com o aquecimento global, o desmatamento da Amazônia, a construção de hidrelétricas poluidoras.

Marina Silva se afirmou politicamente como representante de importantes demandas da sociedade que ainda não foram devidamente assumidas pelo PT e o PSDB. Parafraseando Shakespeare, há mais coisas entre a esquerda e a direita do que supõem os atuais caciques partidários. Criou-se, assim, uma fissura, quebrando a polarização bipartidária. E, para muitos, abriu-se uma nova janela de esperança.

A candidatura de Marina Silva ajudou a bloquear o suposto caráter plebiscitário do primeiro turno. Agora, Dilma e Serra têm que, obrigatoriamente, debater propostas e programas de governo. O eleitor não quer saber se FHC ou Lula foi melhor presidente. Interessa-lhe o futuro: como promover o desenvolvimento sustentável? Como o Estado pode oferecer mais eficientes segurança pública e sistemas de educação e saúde? Como a Amazônia e as nossas florestas serão preservadas?

Marina é neófita no PV. E assim como Lula é maior que o PT, ela também é maior que o PV. E a história do PV está marcada, como ocorre nos outros partidos, por contradições. Participou do governo Lula (ministério da Cultura) e, em nível estadual, do governo Serra em São Paulo (secretaria do Meio Ambiente) e, no Rio, apoiou César Maia (DEM) candidato a senador.

O PV poderá continuar em cima do muro ou até mesmo deixar-se seduzir pelo canto das sereias e aceitar propostas de cargos no futuro governo federal. Marina não. Ela tem uma história de coerência e testemunho ético. Portanto, a candidata do PV não tem o direito de manter-se neutra no segundo turno.

Em política, neutralidade é omissão. Nenhum aspecto de nossas vidas - da qualidade do café da manhã ao transporte que utilizamos - escapa ao âmbito da política. E Marina não veio de Marte. Veio do Acre, das Comunidades Eclesiais de Base, da escola ambiental de Chico Mendes, do PT pelo qual se elegeu senadora e graças ao qual se tornou ministra do Meio Ambiente em dois mandatos de Lula.

O eleitor espera que Marina se posicione, e o faça em coerência com sua história de militância e seus princípios éticos e ideológicos. Seria uma decepção vê-la em cima do muro para observar melhor os dois lados… Fiel não é apenas quem abraça convicto determinada religião. Há que ter fidelidade também à trajetória que permite a Marina se destacar, hoje, como uma das mais importantes lideranças políticas do Brasil.

O que está em jogo, agora, não é o futuro eleitoral da senadora Marina Silva e seu rico patrimônio político de quase 20 milhões de votos. É o futuro imediato do Brasil. Nos próximos quatro anos, a influência dela pesará nos rumos de nosso país. Por isso, é preciso que, embora adepta do verde, ela amadureça o quanto antes o seu posicionamento entre os dois projetos de Brasil em questão.

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Homenagem do Serra ao "Dia do Professor"



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Paulo Preto será capa da próxima Veja?

Por Altamiro Borges

Em maio passado, a revista Veja publicou reportagem, assinada por Fernando Mello e Marina Dias, sobre "o homem-bomba do tucano Aloysio Nunes". Não foi capa da edição e nem teve desdobramento na apuraçao nas semanas seguintes, com sempre ocorre, com grande estardalhaço, quando a denúncia se refere ao governo Lula. Mesmo assim, foi uma boa reportagem, que até poderia ter sido aproveitada por Dilma Rousseff - mas o seu comando de campanha preferiu seguir a linha marqueteira do "paz e amor".

Agora, porém, com o retorno do assunto ao debate eleitoral, bem que a revista Veja, que ainda engana muita gente com sua falsa neutralidade, poderia voltar ao assunto. No debate da Band, Dilma Rousseff finalmente usou a denúncia da revista. O assunto é relevante. Serra está incomodado. Fica irritadinho quando algum jornalistas menciona o tema. Com algumas atualizações, a reportagem já está pronta e o "homem-bomba" até poderia virar uma chamativa capa da Veja. Será que a famíglia Civita dará esta importante contribuição à verdade, à ética jornalística e à democracia brasileira?

Reproduzo abaixo a reportagem da Veja de 13 de maio de 2010:

O 'homem-bomba' do tucano Aloysio Nunes

Fernando Mello e Marina Dias

Como diretor de Engenharia do Dersa, Paulo Vieira de Souza, também conhecido pelo apelido de Paulo Preto, foi responsável pelas grandes obras viárias do governo de São Paulo nos últimos três anos. Seu trabalho lhe rendeu, em dezembro de 2009, o prêmio de profissional do ano do Instituto de Engenharia de São Paulo. Em 1º de abril deste ano, ele festejou a inauguração do trecho sul do Rodoanel. Oito dias depois, no entanto, foi demitido de seu cargo.

A decisão da cúpula da Dersa foi unânime. A nota no Diário Oficial, publicada no dia 21 de abril, não informa a causa da exoneração – e a assessoria de imprensa da empresa afirma apenas que foi uma "decisão de governo". Mas razões extra-oficiais não faltam. Vieira de Souza aparece em uma série de documentos apreendidos pela Polícia Federal na Operação Castelo de Areia, que investigou a empreiteira Camargo Corrêa entre 2008 e 2009.

Pelo menos quatro desses documentos, obtidos com exclusividade por VEJA.com, trazem indícios de que o engenheiro era destinatário de propinas da construtora. Um dos papéis mostra quatro pagamentos mensais de 416.500 reais, com data inicial de 20 de dezembro de 2007. A Castelo de Areia foi suspensa, em janeiro deste ano, por uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Vieira de Souza, estranhamente, não foi indiciado na primeira fase da operação, e talvez nunca venha a ser. Mas, em ano eleitoral, tornou-se um "homem-bomba".

Ele tem estreitas ligações políticas e pessoais com Aloysio Nunes Ferreira Filho, ex-secretário da Casa Civil de São Paulo e candidato do PSDB-SP ao Senado. Vieira de Souza e Aloysio se conhecem há mais de 20 anos. Quando, no ano passado, o tucano sonhou em ser o candidato de seu partido ao governo de São Paulo, Vieira de Souza foi apresentado como seu "interlocutor" junto ao empresariado.

A proximidade entre os dois é tão grande que a família dele contribuiu para que o ex-secretário comprasse seu apartamento. A filha do engenheiro, a advogada Priscila Arana de Souza, e sua mãe, Ruth de Souza, fizeram um empréstimo de 300.000 reais ao tucano — dos quais a advogada arcou com 250.000 reais, conforme revelou o jornal Folha de S. Paulo em dezembro. "A filha dele me emprestou um dinheiro para eu comprar um imóvel, pois eu queria fechar negócio e não podia esperar sair o financiamento do banco. Paguei à Priscila no ano passado mesmo, em três ou quatro prestações. Tenho meus cheques todos registrados. Está tudo correto e documentado", diz Aloysio.

A assessoria do ex-secretário enviou uma relação de seis cheques de três bancos diferentes, relacionados ao pagamento da dívida. Cinco deles são de 2008: dois no valor de 50.000 reais, um no valor de 60.000 reais, um de 81.000 reais e o último, de 19.000 reais. Há também um cheque de 50.000 reais de maio de 2009.

Na versão de Aloysio, a demissão do amigo Vieira de Souza até parece voluntária. "Ele pretendia deixar o governo após a inauguração do Rodoanel", diz. "Foi inaugurado e ele saiu." Souza é mais duro ao falar do assunto. Atribui a demissão a atritos causados pelo seu estilo de trabalho, de dura cobrança de prazos. "Sempre disse que o Rodoanel tinha dia e hora para acabar. E isso incomoda", afirma. "Mas não importa. O Brasil inteiro sabe que o protagonista do Rodoanel fui eu. Não faz diferença se estou dentro ou fora do governo." O engenheiro rebate a tese de que sua exoneração poderia estar ligada às investigações sobre a Camargo Corrêa. "Não tem nada contra mim na Operação", diz ele.

Vieira de Souza tem razão em relação ao relatório final da PF. Seu nome tem uma única menção breve no documento, e ele não faz parte do rol dos indiciados. No relatório de inteligência, que serviu de base para o inquérito, a história é outra. É lá que estão reproduzidos os papeis que sugerem que ele recebeu propina da construtora. As obras do Rodoanel apareciam nas anotações com a sigla ARO, decifrada com informações retiradas do computador da secretária pessoal de Pietro Bianchi, diretor da Camargo, empresa que cuidou do lote 4 do trecho Sul, orçado em 500 milhões de reais. Esse mesmo relatório de inteligência traz dezenas de menções a políticos dos mais diferentes partidos. Há inclusive uma extensa lista de doações eleitorais registradas como "sem recibo" – uma forma oblíqua de definir o caixa dois.

A Operação Castelo de Areia foi deflagrada em março de 2009. A informação de que a investigação tinha potencial para abalar as carreiras de diversos políticos e administradores públicos veio à tona logo em seguida. A PF afirmou que trataria desses assuntos em um momento posterior. Passaram-se nove meses, nada aconteceu e a operação foi suspensa pela Justiça, quase como num passe de mágica. O fato de que os indícios coletados pela PF não ganhem consequências práticas é pernicioso.

Ao contrário do que Vieira de Souza diz, existe, sim, material contra ele nos arquivos da PF. Material suficiente para que o Ministério Público Federal em São Paulo considerasse necessária uma investigação mais aprofundada sobre ele. Mas a questão não é apenas punir aqueles que merecerem castigo. Quando informações desse tipo ficam no limbo, caso daquelas que constam dos relatórios de inteligência da PF e sem mais nem menos desaparecem dos relatórios finais que embasam a abertura de inquéritos, cria-se espaço para que entrem em campo os fabricadores de dossiês — um tipo de fauna que insiste em reaparecer das trevas em anos eleitorais.


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Marilena Chauí e o "voto verde"

Reproduzo matéria publicada no sítio Carta Maior:

Em ato realizado na última sexta-feira na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, a professora de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Marilena Chauí, apresentou um argumento para a campanha de Dilma Rousseff atrair, neste segundo turno da eleição, os votos de ambientalistas que foram para Marina Silva no primeiro turno: "É preciso mostrar aos ambientalistas que José Serra foi vitorioso em todas as regiões da agroindústria, do latifúndio que ataca o meio ambiente", defendeu.

"O mapa da votação mostra que José Serra foi vitorioso em todas as regiões da agroindústria. Portanto, foi vitorioso nas regiões que, no meu tempo, quando era jovem, chamávamos de latifúndio. Ele foi vitorioso no latifúndio e no latifúndio que ataca o meio ambiente e que impede a reforma agrária".

"Não é pouco. Não é pouco que isso se refira à estrutura da terra criada desde a colonização, que isso seja ligado aos obstáculos contra a reforma agrária que se refira também ao ataque contra o meio ambiente".

"Então, é preciso conversar com os ambientalistas, pelos quais tenho o maior respeito. Ao chegar na minha idade, a questão principal é o futuro das novas gerações. Eu penso nos jovens que estão aqui. Eu penso nos meus netos. É preciso lembrar aos ambientalistas que apoiar José Serra significa apoiar a agroindústria e, portanto, o ataque ao meio ambiente e à possibilidade de reformar a situação da terra no Brasil".

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Como garantir a vitória de Dilma?

Reproduzo artigo de Juarez Guimarães, publicado na revista CartaCapital:

Não se deve nem é preciso confiar nos números da primeira pesquisa do Datafolha no segundo turno para se concluir que o favoritismo de Dilma está sob disputa e que sua vitória depende do que a sua campanha e a de seu adversário fizerem.

É preciso, pois, adquirir e partilhar com os brasileiros e brasileiras a consciência da situação dramática deste segundo turno das eleições presidenciais. O que está longe de significar um desfecho necessariamente infeliz ou trágico. Isto quer dizer simplesmente que todas as conquistas sociais e do trabalho, democráticas e de soberania nacional construídas nestes últimos oito anos estão em risco. Serra só pode vencer se a razão liberal conservadora, cobrindo um arco de interesses e vontades que vão até a intolerância mais brutal, de cores proto-fascistas, triunfar.

Sem esta consciência dramática não se pode vencer. Porque o gesto, a fala, a palavra e o sentimento estarão aquém do necessário, não terão suficiente força e capacidade de persuasão. É preciso, então, que esta consciência dramática se expresse através de uma lucidez apaixonada que faça um diagnóstico realista do desafio e proponha um caminho para vencer.

A disputa de narrativas

A melhor referência analítica destas eleições está no gráfico de curvas de tendências eleitorais, elaborado a partir de pontos médios de pesquisas publicadas ( CNT/Sensus, Vox Populi, Datafolha e Ibope), que vem sendo atualizado desde o início do ano e editado na revista CartaCapital. Elaborada pelo cientista político mais reconhecido na área e professor do Iuperj, Marcos Figueiredo, esse gráfico de curvas de tendências eleitorais apresenta duas grandes virtudes: dilui eventuais manipulações e imprecisões de pesquisas em médias do conjunto de pesquisas; permite acompanhar tendências de evolução, evitando avaliações impressionistas a cada momento.

De acordo com este gráfico de tendências eleitorais, a cena destas eleições pode se dividir em duas até agora: até os inícios de setembro e dos inícios de setembro até aqui. Em síntese, este gráfico nos diz o seguinte: até os inícios de setembro, Dilma Roussef vinha em um crescimento sustentado e amplamente majoritário, com Serra caindo para cerca de ¼ do eleitorado e Marina Silva sempre abaixo de 10%; desde então, Dilma parou de crescer, estacionou durante um tempo, deu indicações de uma queda leve para, na véspera das eleições, perder alguns pontos que a levaram ao segundo turno; neste mesmo período, Serra deixou de cair e começou lentamente a subir até atingir quase um terço dos votos úteis e Marina começou a indicar tendências de crescimento, para, em seguida, disparar até 1/5 dos votos úteis nos dias finais do primeiro turno.

O que ocorreu? O que divide um período do outro? Por que houve uma inflexão no crescimento de Dilma e o contrário ocorreu com Serra e Marina?

Há uma explicação clara para este fenômeno. Até os inícios de setembro, predominou a narrativa da continuidade do governo Lula (“Continuar as mudanças”), que era expressa sobretudo pela transmissão da altíssima popularidade do governo Lula a Dilma, mas também pela queda de Serra e pelo caráter minoritário ou secundário da candidatura Marina. De lá para cá, veio sendo construída pela candidatura Serra, com apoio da mídia empresarial, a narrativa liberal-conservadora anti-petista e centrada em toda sorte de preconceitos e calúnias contra Dilma.

No primeiro período, que vai até inícios de setembro, a candidatura Serra estava politicamente desestabilizada: a linha do marketing político “O Brasil pode mais”, que alternava a crítica e a indiferenciação com o governo Lula, retirava votos de Serra até na sua cidadela paulista. Com caminho livre para sua ascensão, sem encontrar uma barragem de oposição, Dilma pode se alimentar do crescente conhecimento da população, ampliado pelo horário gratuito na TV, do apoio de Lula a ela.

Nos inícios de setembro, a linha dominante na campanha de Serra, então em crise aguda, mudou: ela passou claramente a adotar a estratégia proposta por Fernando Henrique Cardoso desde o início do ano. Isto é, associar, de forma virulenta, o governo Lula, o PT e a candidatura Dilma a uma instrumentalização ilegítima do Estado, à corrupção, e às ameaças à liberdade e aos valores religiosos.

Os meios para se promover esta mudança de agenda foram a forte concentração temática diária da mídia (revistas, jornais diários e principalmente o Jornal Nacional) somado à campanha de Serra e mais uma verdadeira avalanche de calúnias na Internet. A dramatização das ameaças encarnados pelo PT e pela candidatura Dilma criou um diálogo de elevação da figura de Marina, em uma dinâmica aliada para gerar o segundo turno.

Durante todo o mês de setembro, o longo tempo disposto à candidatura Dilma praticamente ignorou esta mudança da agenda da disputa política. Seria ingênuo supor que uma candidatura recentemente apresentada já desfrutasse de uma opção de voto de todo cristalizado e definitivo. Se a denúncia do pseudo-uso inescrupuloso da Receita Federal não parece ter tido impacto imediato, ajudou a criar uma nova agenda para a campanha. Já a denúncia de lobbies dos filhos da ex-ministra Erenice certamente teve mais impacto, abrindo uma brecha que começaria a crescer. O que parece ter ocorrido é que a certeza na vitória no primeiro turno na direção da campanha de Dilma, cada vez mais em risco nas pesquisas internas mas alardeada com força por analistas, criou a insensibilidade para a mudança de agenda e clima de campanha que estava em curso.

A ascensão de Marina aos 20% de voto útil certamente combinou fontes variadas de apoio. Mas o mais importante é compreender que ele só ocorreu em meio a este clima negativo e de suspeição em torno à candidatura Dilma.

Esta nova agenda de campanha não foi capaz de apagar a anterior, a da continuidade ou ruptura com a dinâmica de mudanças do país criada pelo governo Lula, pois Dilma manteve, apesar de tudo, um alto índice de votos no primeiro turno. Mas agiu no sentido de se impor a ela ou neutralizá-la. Se isto for realmente conseguido neste segundo turno, Serra pode vencer as eleições. Seria um erro de interpretação desvincular a “disputa de biografias” proposta por Serra desta nova agenda de campanha: pelo contrário, a sua “biografia” é apresentada, em contraponto inteiramente à de Dilma, como a de um “homem de bem”. Da mesma forma, Dilma não pode ser eficientemente defendida sem lutar pela agenda da disputa política: é a sua representação do projeto do governo Lula que pode levá-la à vitória.

Nenhuma calúnia pode ser ignorada ou deixar de ser respondida mas a capacidade persuasiva da resposta depende da desmontagem da nova agenda de campanha que tem em Serra o seu epicentro.

Por isso, é preciso superar a falsa dicotomia que pode aparecer: ou centrar na “linha política” da campanha ou na “biografia da candidata”. Na verdade, as duas questões são dependentes e configuradas, pois quanto mais capacidade de retomar a linha de campanha, maior potência para construir ou reconstruir a Dilma presidenta do Brasil.

Vamos, então, exercitar as respostas às três questões:

- como retomar no centro das eleições a agenda da continuidade ou retrocesso?

- como obstaculizar o crescimento em curso da candidatura Serra?

- como retomar o crescimento da candidatura Dilma presidenta?

A retomada da agenda da campanha

A soma do acerto no programa de televisão mais a força política da coligação Dilma mais a heróica e voluntariosa militância e cidadania ativa, inclusive na rede virtual, tem capacidade para recentralizar a agenda da campanha e colocar Serra, de novo, na defensiva. Mas, para isto ocorrer, é preciso reconectar, combinar, fazer dialogar já mensagem na TV, a militância ativa e a força política da coalizão. A candidatura Serra chegou no início deste mês de outubro com a força plena de sua estratégia, continuada e expandida após a conquista do segundo turno.

A recentralização da agenda da campanha passa por quatro linhas constitutivas simultâneas. É preciso concentrar nela, repeti-la por todos os ângulos, torná-la o centro da narrativa e sintetizador de todo o discurso e ação. Implica, literalmente, correr atrás do tempo perdido, criando uma dinâmica ofensiva crescente, que pode se manifestar de forma plena ao final do segundo turno.

A primeira linha visa despertar, reforçar e agudizar a consciência dos brasileiros, das classes populares e das classes médias, de que FHC e Serra são duas caras da mesma moeda, são criador e criatura, unha e carne de um mesmo projeto. FHC e Serra escreveram juntos o manifesto neoliberal de fundação do PSDB; Serra foi durante oito anos ministro de FHC e indicado por ele para sucedê-lo; hoje, FHC, escondido ou quase apagado do programa Serra, é de fato quem dirige politicamente a sua campanha. Serra eleito é a turno de FHC de volta ao governo do país.

A segunda linha objetiva despertar, reforçar, agudizar a consciência dos brasileiros, das classes populares e das classes médias, do que poderia ocorrer com volta de Serra/FHC ao governo do país. Não se trata apenas de fazer uma comparação de governos com base em números frios. Quando FHC terminou seu segundo mandato, ele tinha o repúdio (avaliações de ruim e péssimo) de cerca de dois terços dos brasileiros. É preciso documentar, de modo dramático, com fotos e documentos o que foi o Brasil nos anos noventa para o povo e para as classes médias. O eleitor de Serra precisará, cada vez mais, esforço para defender o seu voto e a conquista de novos eleitores será cada vez mais difícil.

A terceira linha buscaria despertar, reforçar, agudizar a consciência do sentido democrático e republicano do governo Lula contraposto aos anos de apartação social e conservadorismo político dos anos FHC. É preciso superar a visada economicista, incorporando aos feitos do governo Lula, em cada área, os valores e princípios que orientaram a sua construção: democracia ativa dos cidadãos e maior pluralismo político; direitos para quem trabalha e novos direitos para os pobres; reconstrução das funções públicas do Estado, inclusive na área ecológica, e combate inédito à corrupção; novos direitos para negros e mulheres; retomada da soberania nacional e novo diálogo internacional, pela paz e contra a pobreza e pelo acordo de sustentabilidade internacional.

A quarta linha é retomar, com uma perspectiva histórica, o novo futuro do Brasil democrático e republicano que será aprofundado com Dilma presidente. Do princípio esperança para a imaginação plena de um Brasil democrático, justo, soberano e sustentável. É com a clarificação deste futuro, com suas metas para cada área, que o trabalho de reconstrução de imagem e programa de Serra pode ser mais desmascarado. É preciso iluminar a grandeza histórica do que encarna a candidatura Dilma: é o melhor caminho para reconstruir a sua imagem pública tão violentamente atacada.

Estas quatro linhas simultâneas de construção do discurso compõe juntas uma narrativa que deveria ser estruturadora dos programas de televisão, combinada com a defesa da imagem pública de Dilma.

Serra para baixo e Dilma presidente

A desconstrução de Serra e a (re) construção da imagem de Dilma são processos simultâneos e combinados.

De modo sereno, mas com a indignação necessária, o movimento de calúnias contra Dilma deve ser publicamente cobrado da campanha de direita de Serra e politicamente caracterizado como incompatível com a democracia. Não pode ser um “homem de bem” quem estimula e tira proveito das calúnias, dos preconceitos contra os pobres, do fanatismo religioso para vencer. Esta estratégia tem a sua origem nos republicanos de direita dos EUA que a usaram contra Obama que foi chamado até de amigo dos terroristas, ofendido por racistas e por pretensos mensageiros da palavra de Deus, fundamentalistas religiosos. Sem esta abordagem política ofensiva, a defesa de Dilma será confundida com um movimento apenas defensivo e até legitimador desta prática da direita.

Elas deveriam ser publicamente refutadas em quatro tipos:

- a que a acusa de ser “bandida”, assaltante de bancos, por isso vetada nos EUA. O que está em jogo aqui é o papel democrático heróico de uma geração contra a ditadura militar, fundamental para a conquista da democracia.

- a que a acusa de ser contra a vida, contra a fé e o respeito às religiões, debochando de Deus ou Cristo. O que está em jogo aqui é o sentimento generoso cristão do projeto de Dilma, o fundamento do seu amor ao próximo, o seu respeito ao valor dos sentimentos de transcendência dos brasileiros.

- a que a acusa de ser sem experiência, corrupta ou conivente com a corrupção: o que está em jogo aqui é o sentido público da vida de Dilma como gestora exemplar e o seu papel no governo que, como pode e deve se demonstrar, mais combateu a corrupção na história do Brasil.

- a que acusa de ser sem palavra ou falsa ou sem valores: o que está em jogo aqui é a coerência e integridade de toda a sua vida, da luta contra o regime militar à construção de um novo Brasil democrático no governo Lula.

Com a disputa pela narrativa de sentido, pela agenda política da polarização, tudo passa a convergir para um centro estruturado de valores, idéias e personagens e realizações, promessas de futuro ou ameaças de crise. É neste centro de disputa, capaz de dialogar com a nova consciência democrática e republicana, das classes populares e das classes médias brasileiras, que Serra será derrotado e Dilma será eleita presidenta do Brasil.

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A psicologia de massa do fascismo

Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro. O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial.

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas como o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

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Serra: entreguismo, repressão e atraso



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Serra mente sobre mínimo de 600 reais

Reproduzo artigo de Brizola Neto, intitulado "O 'mil-caras' promete o que não faz", publicado no blog Tijolaço:

O site do Departamento Intersindical de Assessoria parlamentar, o DIAP, publicou cópia do ofício que, por orientação do então governador José Serra, foi enviado a todos os dirigentes de órgãos públicos paulistas proibindo qualquer reajuste nos salários superior à simples correção inflacionária, pelo índice do IPC, ano passado.

Este índice, em dezembro, era de apenas 3,649%. De ordem do governador, o secretário Aloysio Nunes Ferreira, amigo do ex-desconhecido Paulo Vieira de Souza, também mandou “suprimir, ou alternativamente congelar, as vantagens atribuídas exclusivamente em função do tempo de serviço prestado na entidade, tais como Adicional por Tempo de Serviço, Anuênio, Triênio e outras congêneres”.

Em outro trecho, o ofício também manda “suprimir, ou alternativamente congelar, as vantagens atribuídas exclusivamente em função do tempo de serviço prestado na entidade, tais como Adicional por Tempo de Serviço, Anuênio, Triênio e outras congêneres”.

É assim que governa o Serra que promete na televisão aumentar o salário mínimo para 600 reais e dar reajuste de 10% para os aposentados, cuja remuneração, é óbvio, sai do mesmo dinheiro público que ele, zelosamente, economizou nos vencimentos e salários do Estado de São Paulo, embora tenha gasto como nunca em publicidade: os recursos para anúncios passaram de R$ 40,7 milhões em 2006, ano anterior à posse de Serra, para R$ 293 milhões em 2009, terceiro ano de seu mandato. O crescimento foi de 620%, segundo publicado no site Transparência São Paulo.

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Tucano Serra quer destruir o Brasil



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Paulo Preto: Record mostra, Globo esconde



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Dilma é Lula: cadê o Lula?

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

É hora de jogar as “qualis” fora. As “qualis” são o subproduto da marquetagem. São as pesquisas “qualitativas”. Com base nelas, a campanha de Dilma, na reta final do primeiro turno, achou que estava tudo “tranquilo” e que a eleição estava decidida.

Na internet e nas ruas, duas semanas antes, quem tem faro já percebia que a boataria religiosa e a campanha de calúnias estava a mil.

Ok. Veio o segundo turno. Um amigo me diz que o PT achou melhor deixar Lula de fora da campanha, porque as “qualis” mostram que é preciso reforçar a imagem da Dilma. Ela precisa ganhar luz própria.

Sabe o que eu acho? Joguem as qualis fora e chamem o Lula.

Sejamos objetivos: a Dilma não vai reforçar imagem nenhuma em duas semanas. A Dilma tem uma história respeitável, e pode ser boa administradora. Mas a Dilma, como candidata, só existe por causa do Lula.

Foi Lula quem levou Dilma dos 4% e do quase anonimato, para os 55% que ela chegou a ter em agosto. Agora, os gênios da marquetagem acham que é preciso “guardar o Lula”.

Lula será usado na hora certa, dizem alguns. A hora certa era na volta do segundo turno, quando Dilma sofreu o maior ataque conservador da história brasileira recente. Lula era (e é) o escudo que pode impedir essa campanha caluniosa e nefasta de fazer mais estragos.

Agora, nem é a hora de discutir a opção preferencial pelo marketing e por um tipo de política (adotada por parte do lulismo) que nega a política.

Agora é hora de dizer: tragam o Lula. Lula é a vitória. Guardar o Lula no Palácio é o que Serra quer.

Sobre os números das últimas pesquisas, é preciso dizer o seguinte: podemos desconfar das pesquisas, mas é preciso não brigar com os fatos. Com alguma forçadinha pra um lado ou outro, elas mostram – sim – algumas tendências inequívocas:

- Serra cresceu bastante do primeiro para o segundo turno; teve 33 milhões de votos no dia 3, e agora parece ter conquistado mais 12 milhões (dos 20 milhões de votos) que Marina recebeu no primeiro turno;

- Dilma cresceu pouco; teve 47 milhões de votos dia 3, e parece ter conquisado entre 4 e 5 milhões, no máximo (aí incluídos os poucos eleitores de Marina mais à esquerda, e parte do eleitorado de Plinio).

Dilma teve 47% dos válidos dia 3. E agora tem algo entre 52% e 54%.

Serra teve 33% dos válidos. E agora tem algo entre 44% e 47%.

É muito provável que a quinzena final da eleição traga Dilma e Serra em empate técnico. Para a petista, o que é mais grave não são os números, mas a tendência: Serra está em alta, e ela está praticamente parada.

Isso significa que Dilma caminha inexoravelmente para a derrota? Não.

Lembro da campanha de 89. Collor chegou ao segundo turno com o dobro de votos que Lula. Só que Lula chegou em alta – como Serra agora. Lula foi o beneficiário de uma onda que uniu Brizola, Covas, Miguel Arraes e Luiz Carlos Prestes numa grande frente de centro-esquerda. Lula foi subindo, como foguete. Collor, impávido, não reagia.

Dez dias antes da eleição, uma pesquisa chegou a apontar vantagem no limite da margem de erro: Collor 48% e Lula 44% (algo assim, não tenho os números exatos agora). Aí, Collor reagiu. Levou à TV a bomba atômica: um depoimento nojento de uma ex-namorada de Lula (mãe da filha dele), dizendo que Lula era a favor do aborto. A bomba atômica freou o crescimento de Lula – que parecia caminhar para a vitória certa (apesar de ainda estar atrás nas pesquisas).

Pois bem. Dilma não deve usar os métodos nojentos que Serra utiliza. Mas Dilma tem a bomba.

A bomba é Lula. Serra não segura o confronto com Lula.

Ah, mas o confronto é com a Dilma – ela é que precisa segurar a peteca. Não. Esse é o jogo que Serra quer.

Lula precisa ir pra TV e dizer a verdade: “votar no Serra é jogar fora os avanços dos últimos anos; o PSDB governa para os ricos; vocês querem isso?”

Lula tem mais força do que bispos católicos, Globo, Veja e as difamações. Dilma não segura sozinha. Não há vergonha nenhuma em assumir isso: Dilma é Lula. Lula é Dilma.

O resto é marquetagem.

É hora de jogar a marquetagem fora.

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Centrais sindicais na campanha pró-Dilma

Reproduzo matéria publicada no sítio Vermelho:

As seis maiores centrais sindicais do país dão largada nesta quinta-feira (14) à campanha pela eleição de Dilma Rousseff (PT). Após evento realizado no fim da tarde de sexta-feira na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, filiado à Força Sindical, dirigentes sindicais intensificaram o contato com integrantes do comitê eleitoral de Dilma, definindo dois eixos de atuação: negociar com o governo o reajuste real do salário mínimo no ano que vem e iniciar desde já a defesa da candidatura.

Em reunião realizada ontem no espaço onde funcionara o comitê de campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, representantes das seis entidades e de movimentos sociais acordaram em iniciar hoje uma larga campanha de rua.

A partir desta quinta, duas turmas de sindicalistas se revezarão em São Paulo, das 7h às 14h e daí às 19h, percorrendo pontos públicos como praças e estações de metrô com panfletos e jornais. Na sexta-feira (15), as centrais participarão de comício da campanha de Dilma em São Miguel Paulista (SP) onde entregarão à candidata a "Agenda da classe trabalhadora", documento aprovado em assembleia promovida no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, para cerca de 23 mil sindicalistas presentes.

O documento, originalmente idealizado para ser entregue a todos os candidatos, só chegará a Dilma. Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do país, resume: "Ela é a única capaz de encampar as necessidades da classe trabalhadora, então não faz sentido entregar o documento a quem não fará nada com ele".

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) já anuncia em seu portal: "CTB é Dilma no 2º turno", em nota de convocatória para o comício pró Dilma que acontecerá nesta sexta-feira (15), em São Paulo. O ato ocorrerá na Praça do Forró, em São Miguel Paulista e contará com a presença da candidata Dilma Rousseff, que já confirmou presença.

Campanha de peso

A campanha que as centrais iniciam esta semana em São Paulo contará com arsenal de peso. A área de comunicação da Força Sindical têm pronto um jornal que será disparado para sindicatos e em pontos públicos em que Paulinho, quarto deputado federal mais votado em São Paulo, com 267 mil votos, surge defendendo voto em Dilma.

O jornal, que terá circulação de 5 milhões de exemplares, contará também com textos que "desestimulam o voto" em Serra. O jornal começará a ser impresso hoje. Há dúvidas apenas em relação ao expediente do jornal, isto é, se será algo apenas da Força Sindical ou se as outras centrais assinarão. A CUT também prepara jornal próprio.

"Essas promessas do Serra são pura demagogia. Todo mundo sabe que ele não gosta de trabalhador e nosso papel, agora, é informar a classe trabalhadora disso", diz Paulinho.

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A direitona mostra organização

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

O resultado do segundo turno é uma incógnita. Tudo pode acontecer. O eleitorado já demonstrou, às vésperas do primeiro turno, que é volátil.

Dilma Rousseff chegou a atingir 56% da preferência (no tracking do Vox Populi) faltando duas semanas para a eleição.

Desde então, no entanto, vem caindo. Está claro que o governo, a candidata, os assessores dela e o PT subestimaram a campanha subterrânea movida não somente, mas principalmente através da internet. Uma campanha científica, provavelmente adotada por recomendação do tal consultor indiano, que deixou o Brasil antes que suas digitais fossem parar na Polícia Federal.

As técnicas empregadas pela oposição se parecem muito com as utilizadas pela campanha de John McCain, nos Estados Unidos, contra Barack Obama, como descrevi em artigo de 26 de abril de 2010: objetivam deslocar o eixo do debate do racional para o emocional, estimulando medos, preconceitos e oferecendo um “salvador da pátria”.

Esta campanha continua enquanto você lê este texto. O eixo dela se desloca para assuntos novos, que ainda não foram saturados no bombardeio virtual. De Dilma, a abortista, para a guerrilheira que pede indenização milionária; de Dilma, apoiadora das FARC, para a candidata que é mera figurante de uma profecia segundo a qual ela morre e assume o vice satanista (é a nova, entre os evangélicos).

Esta campanha tem o dom de deslocar o debate das questões que realmente importam para o futuro do Brasil. Tem o dom de afastar o debate das questões econômicas e dos projetos de governo. Como é que José Serra, se eleito, governaria com minoria na Câmara ou no Senado? Que benesses ofereceria para atrair apoio? Seria obrigado a lotear a máquina pública?

Todas estas questões, pertinentes, não figuram no debate eleitoral. O objetivo, que está sendo conseguido pela direitona, é criar no eleitorado um intenso nojo da política e das eleições. De tal forma que as pessoas não discutem, não debatem, nem participam. O cenário ideal para uma midiocracia com leves toques teocráticos.

Nos últimos dias, por conta do feriado, acompanhando mais de perto a moderação dos comentários do blog, pude notar como os trolls da direitona agem de forma coordenada e inteligente. Não me refiro a antigos comentaristas conservadores do Viomundo, como a Orsola Ronzoni ou o Rodrigo Leme. Falo dos que aparecem de vez em quando, utilizando IPs nunca registrados por aqui. Assim que um tema novo é colocado no blog, são os primeiros:

1. Pregando o voto nulo;

2. Desqualificando o autor do texto;

3. Mudando de assunto;

4. Dizendo que votam na Dilma, mas que a eleição está perdida;

5. Oferecendo links que desviam leitores (no caso do Ciro Gomes, apontando para um vídeo no You Tube em que ele discute com um jornalista).

É preciso reconhecer, portanto, que além da campanha sórdida há também uma campanha aparentemente sofisticada e bem gerida.

Ou seja, do ponto-de-vista meramente político (eleição, afinal, se ganha com voto), na internet José Serra fez 2 a 0.

Hoje, três ações aparentemente isoladas me chamaram a atenção.

O Ministério Público Eleitoral, da dra. Cureau, entrou com ação contra Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, por publicar um e-mail de um partidário de Dilma Rousseff.

Está no site do TSE.

A mesma dra. Cureau deu parecer favorável a um pedido da campanha de Serra que acusa a TV Record de ter colocado no ar uma reportagem jornalística pró-Dilma (sobre o padrão de votação em São Paulo, cidade na qual Serra teve maioria no centro mas perdeu na periferia).

Nas campanhas da direitona que testemunhei pessoalmente sempre houve essa conjugação: medo + intimidação.

Desfazer redes, desligar pessoas, desconectar.

E impor uma pauta única, onde não haja espaço para questionar de forma legítima — e jornalística — a imagem santa de um candidato (Paulo Preto quem?)

Ah, sim, quanto à terceira ação, encontra-se num post de um blogueiro da Folha, que pela segunda vez tenta ligar Dilma ao homossexualismo, a partir da pergunta de um repórter não identificado, feita no Piauí.

Acompanhem comigo: o boato nasceu em um blog apócrifo, com uma acusação lançada de forma verrosímil.

Primeiro o boato se espalhou nos subterrâneos das redes sociais, por e-mail e via twitter.

Agora, associado a um grande jornal, ele se cristaliza na superfície e pode ser disseminado com ares de credibilidade. Coloca a candidata na defensiva para os próximos debates.

Até 31 de outubro o objetivo contínuo será: acusar + intimidar + deslocar o debate para o campo do moralismo, de valores subjetivos e emocionais.

Vocês viram o documentário Our Brand is Crisis, sobre a atuação de marqueteiros dos Estados Unidos na campanha que elegeu Gonzalo Sanchez de Losada, com uma base de apoio político frágil, na Bolívia, em 2002?

Está tudo lá:

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