Por Roberto Amaral, em seu blog: A afirmação do presidente Lula de que não existem dois Brasis deve ser lida menos como análise da realidade do que como generoso e republicano projeto de reconstrução nacional ao qual dedicará seu governo, por cujo sucesso todos torcemos, porque desafiará sua conhecida capacidade conciliatória, e porá em xeque muitos dos apoios que contribuíram para a escalada eleitoral.
O fato objetivo é que estamos em face de uma sociedade dilacerada povoando diversos Brasis. A clivagem é política, tanto quanto econômica e ideológica, e a polarização que adjetiva o pleito presidencial é seu retrato presente, talvez o mais agudo, embora não encerre todo o drama. Essa clivagem, porém, não é fenômeno de nossos dias: ela apenas exacerba, pondo-os a nu, os vícios de nossa formação histórica e os crimes de nossa organização político-social, cujos sinais de esgarçamento, de velha data, nos recusamos a reconhecer. Para além dos aspectos mais clamorosos, presentes no Brasil de hoje, sua superação será obra de longo prazo na esteira da construção, coletiva, de um projeto nacional de sociedade democrática caminhando para a superação das desigualdades econômicas e sociais.