Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Aécio Neves ficou indignado. Para o brasileiro, que desde a derrota do senador tucano, se acostumou com sua máscara de ódio e revanche contra o resultado das urnas, o semblante não mudou. Continua a emanar arrogância. O que mudou foi o alvo de seu destempero. Depois de desafiar os fatos, as verdades e a vontade popular, Aécio agora ataca a imprensa e a justiça, que sempre o embalaram no colo.
Andréa Neves ficou triste, até chorou. Para os mineiros, que se fartaram em acompanhar seu domínio sobre a mídia e seu estilo na fabricação da imagem do irmão mais novo, foi uma revelação de fragilidade que não se esperava dela. Altiva e discreta, nada é mais distante de Andréa que a fraqueza, a humildade e mesmo a exibição de sentimentos. A primeira irmã se viu como marionete num teatro em que costumava manipular os cordões.
O fato que deu origem a comportamentos tão inusitados nos dois personagens foi a reportagem da revista Veja, o mesmo suporte que tantas vezes brandiram de forma ameaçadora contra adversários, ou exibiam com orgulho quando lhes incensava o ego. A publicação trouxe o vazamento de uma delação, que aponta depósitos em contas de um banco em Nova York, relativos à propina, envolvendo os manos. Houve choro e ranger de dentes contra a revista e contra os vazamentos.
As consequências do episódio já são públicas e esperadas. Aécio se dissolveu como sal de frutas na água. Na corrida por protagonismo dentro de casa, conseguiu ser superado até por Dória, um petiz em política e sem pedigree no partido. Mesmo em seu estado natal e terceiro endereço (depois do Leblon e Brasília), vem acompanhando um movimento contínuo e determinado de afastamento de antigos aliados. Ele hoje é figura a ser evitada. O totem de papelão ficou sem serventia: ninguém o procura para tirar uma self.
Como estratégia de autodefesa, ele pode levar o partido para engrossar projetos contra abuso de autoridade, que limitam a ação do Ministério Público e da Polícia Federal. Tem seguidamente interpelado o STF, como se suas petições fossem capazes de mudar a prática da corte, sempre conivente com vazamentos. Ele se derrete no partido, encurta o futuro político e se contradiz a cada dia com suas ações de sobrevivência.
A forte carga política e mesmo policial da questão, que precisa ser apurada com rigor, no entanto, não esconde a dimensão psicológica do caso. Aécio e Andréa são hoje herdeiros de atitudes que sempre estiveram na base de sua relação. Há uma narrativa familiar que parece fazer do irmão uma espécie de ungido ao cargo que o avô não chegou a exercer, mesmo eleito indiretamente. Nessa fábula, a irmã entrou com o condão de imantar a imagem do prometido, criando uma redoma inexpugnável.
Os dois acreditaram um no outro. O candidato era invencível; a protetora era infalível. Aécio foi pego na armadilha criada pela manipulação da mídia a peso de publicidade oficial, ameaças a jornalistas e outras estratégias encobridoras. A blindagem tirou dele a defesa para a divergência e o debate. Ele não argumenta, ataca; não fala, vocifera; não relaciona, contracena. Andréa extirpou dele a saudável vacina do real. Não saber perder é o maior defeito de origem de um político.
Não é preciso ter compaixão com a tristeza dos Neves. Há uma determinação em tudo que fizeram. Atacaram a democracia por rancor, operaram contra a economia, ajudaram a parir o ódio na sociedade, criaram instabilidade nas instituições. Suas mãos estão manchadas por um golpe contra o país.
Possivelmente os irmãos não se reconhecem mais um no outro, como sempre fizeram. O espelho se partiu. No caleidoscópio dos cacos espalhados, a imagem que se forma está mais próxima da realidade. Por isso estão tristes. Não devem estar gostando do que veem.
Aécio Neves ficou indignado. Para o brasileiro, que desde a derrota do senador tucano, se acostumou com sua máscara de ódio e revanche contra o resultado das urnas, o semblante não mudou. Continua a emanar arrogância. O que mudou foi o alvo de seu destempero. Depois de desafiar os fatos, as verdades e a vontade popular, Aécio agora ataca a imprensa e a justiça, que sempre o embalaram no colo.
Andréa Neves ficou triste, até chorou. Para os mineiros, que se fartaram em acompanhar seu domínio sobre a mídia e seu estilo na fabricação da imagem do irmão mais novo, foi uma revelação de fragilidade que não se esperava dela. Altiva e discreta, nada é mais distante de Andréa que a fraqueza, a humildade e mesmo a exibição de sentimentos. A primeira irmã se viu como marionete num teatro em que costumava manipular os cordões.
O fato que deu origem a comportamentos tão inusitados nos dois personagens foi a reportagem da revista Veja, o mesmo suporte que tantas vezes brandiram de forma ameaçadora contra adversários, ou exibiam com orgulho quando lhes incensava o ego. A publicação trouxe o vazamento de uma delação, que aponta depósitos em contas de um banco em Nova York, relativos à propina, envolvendo os manos. Houve choro e ranger de dentes contra a revista e contra os vazamentos.
As consequências do episódio já são públicas e esperadas. Aécio se dissolveu como sal de frutas na água. Na corrida por protagonismo dentro de casa, conseguiu ser superado até por Dória, um petiz em política e sem pedigree no partido. Mesmo em seu estado natal e terceiro endereço (depois do Leblon e Brasília), vem acompanhando um movimento contínuo e determinado de afastamento de antigos aliados. Ele hoje é figura a ser evitada. O totem de papelão ficou sem serventia: ninguém o procura para tirar uma self.
Como estratégia de autodefesa, ele pode levar o partido para engrossar projetos contra abuso de autoridade, que limitam a ação do Ministério Público e da Polícia Federal. Tem seguidamente interpelado o STF, como se suas petições fossem capazes de mudar a prática da corte, sempre conivente com vazamentos. Ele se derrete no partido, encurta o futuro político e se contradiz a cada dia com suas ações de sobrevivência.
A forte carga política e mesmo policial da questão, que precisa ser apurada com rigor, no entanto, não esconde a dimensão psicológica do caso. Aécio e Andréa são hoje herdeiros de atitudes que sempre estiveram na base de sua relação. Há uma narrativa familiar que parece fazer do irmão uma espécie de ungido ao cargo que o avô não chegou a exercer, mesmo eleito indiretamente. Nessa fábula, a irmã entrou com o condão de imantar a imagem do prometido, criando uma redoma inexpugnável.
Os dois acreditaram um no outro. O candidato era invencível; a protetora era infalível. Aécio foi pego na armadilha criada pela manipulação da mídia a peso de publicidade oficial, ameaças a jornalistas e outras estratégias encobridoras. A blindagem tirou dele a defesa para a divergência e o debate. Ele não argumenta, ataca; não fala, vocifera; não relaciona, contracena. Andréa extirpou dele a saudável vacina do real. Não saber perder é o maior defeito de origem de um político.
Não é preciso ter compaixão com a tristeza dos Neves. Há uma determinação em tudo que fizeram. Atacaram a democracia por rancor, operaram contra a economia, ajudaram a parir o ódio na sociedade, criaram instabilidade nas instituições. Suas mãos estão manchadas por um golpe contra o país.
Possivelmente os irmãos não se reconhecem mais um no outro, como sempre fizeram. O espelho se partiu. No caleidoscópio dos cacos espalhados, a imagem que se forma está mais próxima da realidade. Por isso estão tristes. Não devem estar gostando do que veem.
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