Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Não deve ser fácil ser Aécio Neves. Aos 52 anos, ele parece desconfortável com o papel que lhe coube na política nacional: de herdeiro do avô Tancredo e a grande esperança branca do PSDB. Aécio é presidenciável, seja lá o que isso quer dizer, mas foge do protocolo sempre que pode, num impulso irresistível para por em prática seu bordão favorito: “a alegria é a coisa mais séria da vida” (a frase foi emprestada do pintor e escritor português Almada Negreiros). A última do mineiro mais carioca do mundo é o vídeo em que ele aparece cambaleante num boteco do Rio dando uma gorjeta de 100 reais ao rapaz que o atendeu. As imagens não têm nada, mas, como no episódio das fotos da balada do príncipe Harry, se alastraram feito rastilho de pólvora na internet.
Em 2010, ele foi um dos Homens do Ano da revista Alfa, que eu dirigia. Quem o entrevistou foi o excelente repórter Lucas Figueiredo, mineiro também, conhecedor do personagem. Foi uma negociação longa. Queríamos humanizar Aécio, abordando aspectos pouco conhecidos de sua vida pessoal. Mas, até publicarmos, tivemos de lidar com a turma de Aécio, que não sabe muito bem como lidar com Aécio.
Simpático, prosador, ele apareceu no estúdio de JR Duran, na Vila Madalena, em São Paulo, para fazer as fotos. Topou a ideia do fotógrafo de posar no papel de “candidato”: com uma criança no colo; dando uma entrevista coletiva; colocando os pés numa salmoura após uma caminhada de campanha. Fez piadas sobre José Serra, seu arquiinimigo, mandou um abraço para a avó da editora de moda, que também era de Minas. Enfim: um político.
Lucas conversou com cientistas políticos, com a ex-namorada Maitê Proença, com amigos, gente do governo etc. Encontrou Aécio em seu apartamento em Belo Horizonte. Aécio indagou se ele gostava de cachaça (o alambique da família produz a marca Matusalém). Relembrou suas aventuras na estrada. Queria percorrer o litoral brasileiro de moto. Já tinha feito 2600 quilômetros, certa vez, passando pelos Lençois Maranhenses e as praias de Santa Catarina. Disse o que gostava de comer, suas bebidas prediletas (“uísque, no geral. Na fazenda, cachaça”), seu perfume (Issey Miyake). Falou da filha. Até que Lucas lhe perguntou sobre o uso de drogas. Aécio deu a resposta: “Todo mundo teve 18 anos… Ah, experimentou um baseado com 18 anos? Sim. E ponto-final”. A entrevista acabou ali.
Lucas entregou o perfil e nós decidimos que iríamos publicá-lo no final do ano. Meses depois de terminado o trabalho, Lucas ingressaria na campanha de Hélio Costa, adversário do candidato de Aécio, Anastasia (que acabou eleito). A assessora de imprensa de Aécio começou a me ligar. Insinuava que havia uma armação para prejudicá-lo, que estava preocupada. A matéria, a rigor, mostrava Aécio sendo Aécio. Nenhuma fofoca, nenhum dossiê, nenhum escândalo. Mas não havia meios de tranquilizá-la. A pressão continuava. Por fim, falaram com Roberto Civita, editor e dono da Editora Abril, que publica Alfa. Civita me telefonou na redação e pediu, gentilmente, para ler o texto. Mandei para ele, que leu e me devolveu na seqüência, afirmando que não via problema nenhum.
A figura central na vida de Aécio é Andrea Neves, sua irmã. Ex-presidente do Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social), ela é responsável pela coordenação de comunicação dele. Tenta cuidar de sua imagem e controlar tudo o que o cerca. Reservada, assertiva, de personalidade forte, Andrea é a antítese e o complemento do irmão mais novo. Em seu blog, ela se define candidamente: “Tenho péssima memória, mas acredito na força das lembranças. E do destino. Tenho ido a São João Del Rei menos do que gostaria. E, como Olavo Bilac, acredito que – de vez em quando – é possível ouvir estrelas”.
Demos o perfil em dezembro. Aécio era o nosso “político do ano”. Na foto da capa, ele está lá, todo pimpão, segurando um bebê. Como eu disse, era o perfil de um homem, com boas histórias contadas, sobretudo, por ele mesmo. Em abril de 2011, Aécio foi parado numa blitz carioca e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Alguns jornais se lembraram do que ele contou para Alfa a respeito das bebidas de que mais gostava. Como no caso do vídeo que caiu na internet, Aécio estava sendo Aécio. Isso, aparentemente, é um enorme empecilho – não apenas para ele, mas, eventualmente, para as pessoas que enxergam em Aécio Neves algo que Aécio Neves, talvez, não saiba ou não queira ser.
Não deve ser fácil ser Aécio Neves. Aos 52 anos, ele parece desconfortável com o papel que lhe coube na política nacional: de herdeiro do avô Tancredo e a grande esperança branca do PSDB. Aécio é presidenciável, seja lá o que isso quer dizer, mas foge do protocolo sempre que pode, num impulso irresistível para por em prática seu bordão favorito: “a alegria é a coisa mais séria da vida” (a frase foi emprestada do pintor e escritor português Almada Negreiros). A última do mineiro mais carioca do mundo é o vídeo em que ele aparece cambaleante num boteco do Rio dando uma gorjeta de 100 reais ao rapaz que o atendeu. As imagens não têm nada, mas, como no episódio das fotos da balada do príncipe Harry, se alastraram feito rastilho de pólvora na internet.
Em 2010, ele foi um dos Homens do Ano da revista Alfa, que eu dirigia. Quem o entrevistou foi o excelente repórter Lucas Figueiredo, mineiro também, conhecedor do personagem. Foi uma negociação longa. Queríamos humanizar Aécio, abordando aspectos pouco conhecidos de sua vida pessoal. Mas, até publicarmos, tivemos de lidar com a turma de Aécio, que não sabe muito bem como lidar com Aécio.
Simpático, prosador, ele apareceu no estúdio de JR Duran, na Vila Madalena, em São Paulo, para fazer as fotos. Topou a ideia do fotógrafo de posar no papel de “candidato”: com uma criança no colo; dando uma entrevista coletiva; colocando os pés numa salmoura após uma caminhada de campanha. Fez piadas sobre José Serra, seu arquiinimigo, mandou um abraço para a avó da editora de moda, que também era de Minas. Enfim: um político.
Lucas conversou com cientistas políticos, com a ex-namorada Maitê Proença, com amigos, gente do governo etc. Encontrou Aécio em seu apartamento em Belo Horizonte. Aécio indagou se ele gostava de cachaça (o alambique da família produz a marca Matusalém). Relembrou suas aventuras na estrada. Queria percorrer o litoral brasileiro de moto. Já tinha feito 2600 quilômetros, certa vez, passando pelos Lençois Maranhenses e as praias de Santa Catarina. Disse o que gostava de comer, suas bebidas prediletas (“uísque, no geral. Na fazenda, cachaça”), seu perfume (Issey Miyake). Falou da filha. Até que Lucas lhe perguntou sobre o uso de drogas. Aécio deu a resposta: “Todo mundo teve 18 anos… Ah, experimentou um baseado com 18 anos? Sim. E ponto-final”. A entrevista acabou ali.
Lucas entregou o perfil e nós decidimos que iríamos publicá-lo no final do ano. Meses depois de terminado o trabalho, Lucas ingressaria na campanha de Hélio Costa, adversário do candidato de Aécio, Anastasia (que acabou eleito). A assessora de imprensa de Aécio começou a me ligar. Insinuava que havia uma armação para prejudicá-lo, que estava preocupada. A matéria, a rigor, mostrava Aécio sendo Aécio. Nenhuma fofoca, nenhum dossiê, nenhum escândalo. Mas não havia meios de tranquilizá-la. A pressão continuava. Por fim, falaram com Roberto Civita, editor e dono da Editora Abril, que publica Alfa. Civita me telefonou na redação e pediu, gentilmente, para ler o texto. Mandei para ele, que leu e me devolveu na seqüência, afirmando que não via problema nenhum.
A figura central na vida de Aécio é Andrea Neves, sua irmã. Ex-presidente do Servas (Serviço Voluntário de Assistência Social), ela é responsável pela coordenação de comunicação dele. Tenta cuidar de sua imagem e controlar tudo o que o cerca. Reservada, assertiva, de personalidade forte, Andrea é a antítese e o complemento do irmão mais novo. Em seu blog, ela se define candidamente: “Tenho péssima memória, mas acredito na força das lembranças. E do destino. Tenho ido a São João Del Rei menos do que gostaria. E, como Olavo Bilac, acredito que – de vez em quando – é possível ouvir estrelas”.
Demos o perfil em dezembro. Aécio era o nosso “político do ano”. Na foto da capa, ele está lá, todo pimpão, segurando um bebê. Como eu disse, era o perfil de um homem, com boas histórias contadas, sobretudo, por ele mesmo. Em abril de 2011, Aécio foi parado numa blitz carioca e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Alguns jornais se lembraram do que ele contou para Alfa a respeito das bebidas de que mais gostava. Como no caso do vídeo que caiu na internet, Aécio estava sendo Aécio. Isso, aparentemente, é um enorme empecilho – não apenas para ele, mas, eventualmente, para as pessoas que enxergam em Aécio Neves algo que Aécio Neves, talvez, não saiba ou não queira ser.
2 comentários:
Qual é a sua, mané? Que papo furado, Aécio, Abril, Civita, que bosta.
Esclarecedor o post do Paulo, talvez mais funciona a imprensa.
Qual era o interesse jornalístico na entrevista com o AN?
A interferência de Civita, que Paulo diz não ter mexido no texto, Será?, e o cuidado do próprio jornalista, Paulo, em retratar o político.
Jornalista não deveria ter o cuidado de fazer político parecer isto ou aquilo.
E a irmã de Aécio parece não controlar tudo no entorno dele, haja vistas as escapadas citadas do próprio post. Tentam transformar homens em super homens, mas a natureza é mais forte. Somos apenas humanos.
Estas letrinhas para confirmar o comentário, objetivam fazer o comentarista desistir.
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