Encerra-se a primeira das três semanas cruciais para a imprensa brasileira. Nesta sexta-feira (10/10), as manchetes dos diários de papel são uma reprodução fiel do Jornal Nacional apresentado pela TV Globo na véspera: ali está aberta a agenda que a mídia oposicionista quer ver cumprida até o dia 26. Depois disso, seja qual for o resultado das urnas, será preciso fazer a meia volta e procurar o reencontro com o jornalismo.
Se for reeleita a presidente Dilma Rousseff, as principais empresas de comunicação precisarão repensar sua estratégia, pois terão perdido mais uma oportunidade de conduzir a Brasília um partido que lhe seja fiel. Se for eleito o candidato da oposição, bastará cobrar o cumprimento do acordo tácito que amadurece a cada disputa eleitoral. Nesse caso, o que veremos será a cessação imediata do catastrofismo e sua substituição pela estratégia da esperança em um novo/velho modelo de política econômica.
O rascunho pode ser analisado pelos telespectadores que acompanharam com atenção o debate entre o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, na GloboNews. Presenteado com amplo espaço na mídia desde que foi anunciado como provável ministro em um eventual governo de Aécio Neves, Fraga repetiu o mantra que outros, mais ou menos qualificados, declamam diariamente em suas colunas de jornais: “O Brasil precisa crescer, o Brasil precisa crescer”.
E como cresceria o Brasil, na opinião do economista? A receita é a mesma que aparece nos editoriais e nos artigos de jornalistas bem afinados com a doutrina dominante na imprensa: reduzir o papel do Estado, afastar os bancos públicos da concorrência com a banca privada pela oferta de crédito e, principalmente, deixar que o mercado defina o valor dos salários, retirando todos os estímulos oficiais que têm mantido em alta o rendimento do trabalho.
O modelo vem sendo imposto aos países em desenvolvimento, pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, desde os anos 1990. O núcleo da ideologia é a “flexibilização das leis trabalhistas”, neologismo criado pelo Banco Mundial para definir o controle do valor do trabalho versus a mais ampla liberdade para o capital.
A fala mansa do mercado
Não é por acaso que o noticiário econômico de sexta-feira (10) destaca uma declaração da diretora-gerente do FMI, Cristine Lagarde, na qual ela repete as críticas que a imprensa faz ao modelo brasileiro de desenvolvimento. Se a presidente Dilma Rousseff for reeleita e o Brasil superar suas atuais dificuldades, voltando a crescer sem abrir mão de proteger a renda dos trabalhadores, a receita tradicional do FMI, que consiste em primeiro aumentar o bolo para depois distribuir suas fatias, poderá ser globalmente desmoralizada.
Esse é, basicamente, o ponto central das discórdias entre o governo do PT e a oposição. No mais, os dois grupos políticos se assemelham muito no modo como formam suas alianças, nas trapaças com que se financiam, no uso do poder em benefício próprio. A diferença básica fica por conta da imprensa, que demoniza o governo petista e preserva – no limite da cumplicidade criminosa – seus aliados do outro lado do espectro político.
E a “nova política”?
A julgar pelo açodamento com que a maioria de seus dirigentes se encaixou na campanha de Aécio Neves, o PSB se revela mais uma sigla oportunista a usar o “S” de Socialismo para dissimular sua verdadeira opção ideológica. A demora da ex-ministra Marina Silva em tomar uma posição na disputa do segundo turno, que já provoca críticas da imprensa, não se deve a uma tentativa de ganhar mais espaço na nova aliança. Ela realmente não tem alternativa: para se engajar no grupo que agrega a nata do conservadorismo e da política reacionária, Marina terá que obter pelo menos uma concordância formal com os princípios que diz defender.
E Marina sabe que os princípios da sustentabilidade e da correção com que pavimentou sua carreira não sobrevivem no ambiente cáustico onde teria que conviver com defensores da indústria de armas, líderes do agronegócio mais predador e inimigos das políticas de defesa dos direitos humanos.
O escândalo no Jornal Nacional, que usou parte das declarações de um delator para colocar a presidente da República na defensiva, é manobra rotineira nas campanhas eleitorais. A verdadeira agenda da disputa está resumida na fala mansa de Armínio Fraga.
Se for reeleita a presidente Dilma Rousseff, as principais empresas de comunicação precisarão repensar sua estratégia, pois terão perdido mais uma oportunidade de conduzir a Brasília um partido que lhe seja fiel. Se for eleito o candidato da oposição, bastará cobrar o cumprimento do acordo tácito que amadurece a cada disputa eleitoral. Nesse caso, o que veremos será a cessação imediata do catastrofismo e sua substituição pela estratégia da esperança em um novo/velho modelo de política econômica.
O rascunho pode ser analisado pelos telespectadores que acompanharam com atenção o debate entre o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, na GloboNews. Presenteado com amplo espaço na mídia desde que foi anunciado como provável ministro em um eventual governo de Aécio Neves, Fraga repetiu o mantra que outros, mais ou menos qualificados, declamam diariamente em suas colunas de jornais: “O Brasil precisa crescer, o Brasil precisa crescer”.
E como cresceria o Brasil, na opinião do economista? A receita é a mesma que aparece nos editoriais e nos artigos de jornalistas bem afinados com a doutrina dominante na imprensa: reduzir o papel do Estado, afastar os bancos públicos da concorrência com a banca privada pela oferta de crédito e, principalmente, deixar que o mercado defina o valor dos salários, retirando todos os estímulos oficiais que têm mantido em alta o rendimento do trabalho.
O modelo vem sendo imposto aos países em desenvolvimento, pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, desde os anos 1990. O núcleo da ideologia é a “flexibilização das leis trabalhistas”, neologismo criado pelo Banco Mundial para definir o controle do valor do trabalho versus a mais ampla liberdade para o capital.
A fala mansa do mercado
Não é por acaso que o noticiário econômico de sexta-feira (10) destaca uma declaração da diretora-gerente do FMI, Cristine Lagarde, na qual ela repete as críticas que a imprensa faz ao modelo brasileiro de desenvolvimento. Se a presidente Dilma Rousseff for reeleita e o Brasil superar suas atuais dificuldades, voltando a crescer sem abrir mão de proteger a renda dos trabalhadores, a receita tradicional do FMI, que consiste em primeiro aumentar o bolo para depois distribuir suas fatias, poderá ser globalmente desmoralizada.
Esse é, basicamente, o ponto central das discórdias entre o governo do PT e a oposição. No mais, os dois grupos políticos se assemelham muito no modo como formam suas alianças, nas trapaças com que se financiam, no uso do poder em benefício próprio. A diferença básica fica por conta da imprensa, que demoniza o governo petista e preserva – no limite da cumplicidade criminosa – seus aliados do outro lado do espectro político.
E a “nova política”?
A julgar pelo açodamento com que a maioria de seus dirigentes se encaixou na campanha de Aécio Neves, o PSB se revela mais uma sigla oportunista a usar o “S” de Socialismo para dissimular sua verdadeira opção ideológica. A demora da ex-ministra Marina Silva em tomar uma posição na disputa do segundo turno, que já provoca críticas da imprensa, não se deve a uma tentativa de ganhar mais espaço na nova aliança. Ela realmente não tem alternativa: para se engajar no grupo que agrega a nata do conservadorismo e da política reacionária, Marina terá que obter pelo menos uma concordância formal com os princípios que diz defender.
E Marina sabe que os princípios da sustentabilidade e da correção com que pavimentou sua carreira não sobrevivem no ambiente cáustico onde teria que conviver com defensores da indústria de armas, líderes do agronegócio mais predador e inimigos das políticas de defesa dos direitos humanos.
O escândalo no Jornal Nacional, que usou parte das declarações de um delator para colocar a presidente da República na defensiva, é manobra rotineira nas campanhas eleitorais. A verdadeira agenda da disputa está resumida na fala mansa de Armínio Fraga.
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