Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Quando faltam duas semanas para o primeiro turno da eleição presidencial, Fernando Henrique Cardoso entra em cena para tentar embaralhar a sucessão brasileira.
Agora que a repulsa a candidatura de Jair Bolsonaro se torna um dado essencial do momento político, e permite antecipar uma vitória de Fernando Haddad na sucessão presidencial, FHC escreve uma Carta a Eleitoras e Eleitores onde fala na necessidade de encontrar um "candidato que não aposte em soluções extremas". É preciso ter cautela nesta argumentação.
Sabemos que a violência e o ódio da campanha tem nome e endereço: Jair Bolsonaro e, na ausência deste, o vice Mourão.
Incluir Haddad no pacote do radicalismo é mais do que um erro primário de diagnóstico político. É desonestidade, sob medida para tentar dar um balão de oxigênio a nova linha da campanha de Alckmin - que agora denuncia Bolsonaro e o PT como imitadores, à direita e à esquerda, da Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
A questão aqui é outra. Quando Haddad exibe chances realistas de vitória em segundo turno, abrindo a hipótese de uma quinta vitória do Partido dos Trabalhadores em eleições presidenciais, FHC resolveu preocupar-se com a "perigosa radicalização" da campanha.
Não é preciso ter a metade de seus títulos acadêmicos para reconhecer que a dianteira de um candidato de traços fascistas nas pesquisas foi um presente do céu ofertado pela Lava Jato, que privou uma massa imensa de brasileiros do direito de votar no mais popular presidente da história republicana. Tanto os aliados de Lula como seus adversários sabiam das consequências nefastas desta decisão para o conjunto das instituições democráticas. Também sabiam dos erros jurídicos envolvidos, da ausência de provas.
Certo como 2 + 2= 4. "A justiça foi feita", disse Fernando Henrique, na época. Na carta, empregando uma linguagem que lembra Gustavo Corção, um dois mais reacionários colunistas políticos da imprensa brasileira no golpe de 64, ele escreve que o fato de Bolsonaro "ter como principal opositor quem representar um líder preso por acusação de corrupção mostra o ponto a que chegamos". Ou seja: até a presença de um candidato-substituto é tratado como motivo de escândalo.
Na realidade, o temor de FHC é a vitória de um candidato que representa a resistência da população e não queira impor novos sacrifícios aos trabalhadores e aos mais pobres. No texto, é bem específico a respeito. Chega a lembrar o discurso do primeiro ministro inglês Winston Churchill, na Segunda Guerra Mundial, quando prometeu "sangue, suor e lágrimas" para sustentar que a prioridade do governo a ser eleito em 2018 deve ser um novo arrocho, numa "definição de rumo, a começar pelo compromisso com o ajuste inadiável das contas públicas". Diz que a "primeira dessas medidas é uma lei da Previdência".
Quem conhece o debate político-econômico elementar da campanha sabe quem é o alvo de FHC. Bolsonaro é favorável a uma reforma da Previdência à moda da ditadura Pinochet no Chile. Seu guru Paulo Guedes defende a venda imediata de estatais e um ajuste radical dos gastos públicos. Ainda que economistas habituados a fazer contas tenham questionado seus números, ele deslumbrou o plenário de jornalistas da GloboNews quando anunciou que seria capaz de levantar R$ 1 trilhão em leilões do patrimônio público. Disse que Bolsonaro irá fazer, na economia, aquilo que "Temer vem fazendo, só que mais rápido. "Ninguém achou rum.
Numa hora realmente grave para o país, a melhor inspiração para o PSDB permanece a autocrítica Tasso Jereissati sobre a atuação do partido após a reeleição de Dilma. Nunca é demais repetir:
"O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer."
Vamos sublinhar: "o PSDB contrariou "princípios básicos nossos (...) só para ser contra o PT".
O ponto é esse. Capaz de reconhecer que Bolsonaro representa uma ameaça inédita a nossas instituições democráticas, FHC não só evita assumir as responsabilidades pelo que ocorreu no país a partir do golpe de 2016, mas pelo que pode ocorrer no futuro.
Não há dúvida de que, nos poucos dias que faltam para o primeiro turno, Fernando Haddad tornou-se a candidatura em melhores condições de defender a democracia.
Pela cultura e pela experiência, Fernando Henrique Cardoso sabe muito bem o que é certo fazer nesta circunstância. Prefere fazer o errado.
Alguma dúvida?
Quando faltam duas semanas para o primeiro turno da eleição presidencial, Fernando Henrique Cardoso entra em cena para tentar embaralhar a sucessão brasileira.
Agora que a repulsa a candidatura de Jair Bolsonaro se torna um dado essencial do momento político, e permite antecipar uma vitória de Fernando Haddad na sucessão presidencial, FHC escreve uma Carta a Eleitoras e Eleitores onde fala na necessidade de encontrar um "candidato que não aposte em soluções extremas". É preciso ter cautela nesta argumentação.
Sabemos que a violência e o ódio da campanha tem nome e endereço: Jair Bolsonaro e, na ausência deste, o vice Mourão.
Incluir Haddad no pacote do radicalismo é mais do que um erro primário de diagnóstico político. É desonestidade, sob medida para tentar dar um balão de oxigênio a nova linha da campanha de Alckmin - que agora denuncia Bolsonaro e o PT como imitadores, à direita e à esquerda, da Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
A questão aqui é outra. Quando Haddad exibe chances realistas de vitória em segundo turno, abrindo a hipótese de uma quinta vitória do Partido dos Trabalhadores em eleições presidenciais, FHC resolveu preocupar-se com a "perigosa radicalização" da campanha.
Não é preciso ter a metade de seus títulos acadêmicos para reconhecer que a dianteira de um candidato de traços fascistas nas pesquisas foi um presente do céu ofertado pela Lava Jato, que privou uma massa imensa de brasileiros do direito de votar no mais popular presidente da história republicana. Tanto os aliados de Lula como seus adversários sabiam das consequências nefastas desta decisão para o conjunto das instituições democráticas. Também sabiam dos erros jurídicos envolvidos, da ausência de provas.
Certo como 2 + 2= 4. "A justiça foi feita", disse Fernando Henrique, na época. Na carta, empregando uma linguagem que lembra Gustavo Corção, um dois mais reacionários colunistas políticos da imprensa brasileira no golpe de 64, ele escreve que o fato de Bolsonaro "ter como principal opositor quem representar um líder preso por acusação de corrupção mostra o ponto a que chegamos". Ou seja: até a presença de um candidato-substituto é tratado como motivo de escândalo.
Na realidade, o temor de FHC é a vitória de um candidato que representa a resistência da população e não queira impor novos sacrifícios aos trabalhadores e aos mais pobres. No texto, é bem específico a respeito. Chega a lembrar o discurso do primeiro ministro inglês Winston Churchill, na Segunda Guerra Mundial, quando prometeu "sangue, suor e lágrimas" para sustentar que a prioridade do governo a ser eleito em 2018 deve ser um novo arrocho, numa "definição de rumo, a começar pelo compromisso com o ajuste inadiável das contas públicas". Diz que a "primeira dessas medidas é uma lei da Previdência".
Quem conhece o debate político-econômico elementar da campanha sabe quem é o alvo de FHC. Bolsonaro é favorável a uma reforma da Previdência à moda da ditadura Pinochet no Chile. Seu guru Paulo Guedes defende a venda imediata de estatais e um ajuste radical dos gastos públicos. Ainda que economistas habituados a fazer contas tenham questionado seus números, ele deslumbrou o plenário de jornalistas da GloboNews quando anunciou que seria capaz de levantar R$ 1 trilhão em leilões do patrimônio público. Disse que Bolsonaro irá fazer, na economia, aquilo que "Temer vem fazendo, só que mais rápido. "Ninguém achou rum.
Numa hora realmente grave para o país, a melhor inspiração para o PSDB permanece a autocrítica Tasso Jereissati sobre a atuação do partido após a reeleição de Dilma. Nunca é demais repetir:
"O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer."
Vamos sublinhar: "o PSDB contrariou "princípios básicos nossos (...) só para ser contra o PT".
O ponto é esse. Capaz de reconhecer que Bolsonaro representa uma ameaça inédita a nossas instituições democráticas, FHC não só evita assumir as responsabilidades pelo que ocorreu no país a partir do golpe de 2016, mas pelo que pode ocorrer no futuro.
Não há dúvida de que, nos poucos dias que faltam para o primeiro turno, Fernando Haddad tornou-se a candidatura em melhores condições de defender a democracia.
Pela cultura e pela experiência, Fernando Henrique Cardoso sabe muito bem o que é certo fazer nesta circunstância. Prefere fazer o errado.
Alguma dúvida?
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