Cinquenta anos de Guerra Fria e o fato de a chanceler Angela Merkel ter crescido na então Alemanha Oriental podem possivelmente explicar a curiosa influência política que os Estados Unidos exercem sobre a Europa.
Depois de uma reunião bilateral entre Merkel e o presidente estadunidense, Barack Obama, durante a cúpula do Grupo dos Sete (G-7) países mais ricos, na localidade alemã de Elmau, em 7 e 8 de junho, soube-se que houve uma solução de compromisso. A governante alemã aceitou que a União Europeia (UE) continue aplicando sanções à Rússia, o que induziu os demais países a segui-la. Em troca, Obama mudou a posição de Washington a respeito da ajuda econômica à Grécia.
Essa postura havia sido expressa de maneira inequívoca dias antes, aos líderes europeus, pelo secretário do Tesouro estadunidense, Jack Lew, que sustentou ser necessário resolver o problema grego para evitar um impacto global de consequências imprevisíveis. Sua fala acelerou repentinamente as negociações, gerando a esperança de que o impasse entre UE e Grécia se resolveria antes da cúpula do G-7.
Mas a Grécia não aceitou o plano que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apresentou, porque era, de modo suspeito, muito próximo às posições do Fundo Monetário Internacional (FMI) a favor de mais cortes orçamentários e mais “austeridade”.
Na cúpula, Obama endureceu a posição dos Estados Unidos com relação à Grécia, e disse inclusive que “Atenas deve executar as reformas necessárias”.
Depois de uma reunião bilateral entre Merkel e o presidente estadunidense, Barack Obama, durante a cúpula do Grupo dos Sete (G-7) países mais ricos, na localidade alemã de Elmau, em 7 e 8 de junho, soube-se que houve uma solução de compromisso. A governante alemã aceitou que a União Europeia (UE) continue aplicando sanções à Rússia, o que induziu os demais países a segui-la. Em troca, Obama mudou a posição de Washington a respeito da ajuda econômica à Grécia.
Essa postura havia sido expressa de maneira inequívoca dias antes, aos líderes europeus, pelo secretário do Tesouro estadunidense, Jack Lew, que sustentou ser necessário resolver o problema grego para evitar um impacto global de consequências imprevisíveis. Sua fala acelerou repentinamente as negociações, gerando a esperança de que o impasse entre UE e Grécia se resolveria antes da cúpula do G-7.
Mas a Grécia não aceitou o plano que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apresentou, porque era, de modo suspeito, muito próximo às posições do Fundo Monetário Internacional (FMI) a favor de mais cortes orçamentários e mais “austeridade”.
Na cúpula, Obama endureceu a posição dos Estados Unidos com relação à Grécia, e disse inclusive que “Atenas deve executar as reformas necessárias”.
A queda de braço entre a Grécia e seus parceiros europeus arrasta-se há cinco anos. A crise grega foi produzida pelos gastos excessivos dos governos precedentes ao governo atual de Alexis Tsipras, que incorreram no aumento em grande escala do emprego público e num sistema de aposentadorias extremamente custoso.
Em 2009, o Movimento Socialista Panhelênico (Pasok) venceu as eleições e se descobriu que os números que Atenas vinha enviando a Bruxelas eram falsos. O déficit anual real era várias vezes superior ao declarado, de quase 12,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Tratou-se de uma confirmação daquilo que a UE e seus organismos suspeitavam há muito tempo, sem nada fazer.
Sem entrar em detalhes sobre as angustiantes negociações anteriores entre a Grécia e a UE, chega-se às eleições de janeiro deste ano, vencidas pelo partido progressista a que pertence Alexis Tsipras, o Syriza. Seu programa era claro: deter o plano de austeridade da Troika – FMI, UE e Banco Central Europeu – imposto em nome dos países europeus liderados por Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia.
A Grécia está de joelhos. Em números oficiais, o desemprego passou de 11,9% em 2010 a 25,5%; na realidade, fica em torno de 30%. Entre os jovens, a desocupação está chegando a 60%. O PIB caiu 25%, os cidadãos gregos perderam em torno de 30% de seus rendimentos e o gasto público foi reduzido de tal maneira que os hospitais têm grandes dificuldades de funcionamento.
Contudo, a exigência da Troika é simples: cortem e sigam cortando, até a eliminação do déficit. As aposentadorias, por exemplo, as já sofreram duas reduções e se pede uma terceira. Com isso, seriam obtidos apenas uns 100 milhões de euros, causando um enorme dano aos pensionistas que vivem com 685 euros por mês, ou ainda menos.
Quando assumiu a presidência da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, Jean-Claude Juncker anunciou um grandioso Plano Marshall para a Europa. O projeto desapareceu totalmente de cena. A “austeridade” é o fosso que divide as opções dos EUA e da UE. Os Estados Unidos empreenderam o caminho inverso, o do crescimento – apesar da pressão do opositor Partido Republicano a favor da “austeridade”. A economia está crescendo de novo. Ao invés disso, a UE é dirigida pela Alemanha e os alemães estão convencidos de que o que fizeram em seu país é universalmente válido.
Há um consenso generalizado de que a crise da Grécia, que representa só 2% do PIB da UE, poderia ter sido solucionada quando começou, com um empréstimo de 50 a 60 bilhões de euros (56,6 a 67,8 bilhões de dólares). Mas desde que Tsipras converteu-se em primeiro ministro e se negou, com o respaldo do apoio popular, a aceitar em bloco o plano dos credores, a Grécia converteu-se em tema de enorme importância.
Fala-se agora de uma “Grexit”, ou saída da Grécia da zona do euro e da UE. Isso teria um efeito cascata e presumiria o fim do sonho comum de uma Europa baseada na solidariedade e no sentido de comunidade.
No G-7, Obama insistiu nos investimentos e no estímulo à demanda como maneira de sair da crise. Merkel reiterou mais uma vez que a Europa não precisa de estímulos financiados pelo endividamento, mas de incentivos procedentes da reforma das economias ineficientes. O espetáculo lembra uma frase do prestigioso jornalista de Sri Lanka Tarzie Vittachi: “tudo é sempre sobre outra coisa”.
É interessante observar que um dos argumentos usados para uma posição tão dura com o Syriza é que os cidadãos da Espanha, Portugal e Irlanda — os primeiros que engoliram a amarga pílula da “austeridade” — ficariam indignados se for adotado um caminho diferente para a Grécia. Coincidentemente, esses três países têm governos conservadores.
Todo o sistema político europeu estremeceu quando Syriza ganhou as eleições, e novamente há alguns dias com a vitória do Podemos, o partido de esquerda contrário à “austeridade”, nas eleições municipais na Espanha.
Por alguma razão, o governo extremamente autoritário e conservador húngaro de Viktor Orbán, a recente vitória do muito conservador Andrzej Duda como presidente da Polônia, assim como a ascensão na Itália de Matteo Salvini, da antieuropeísta e xenófoba Liga Norte, não criam o mesmo pânico. Isso ocorre porque é nas notícias sobre a Grécia que se esconde o verdadeiro adversário do “status quo”. Trata-se de punir uma figura antissistema como Tsipras e demonstrar que a esquerda radical não pode dirigir um país europeu. Por que? Alguém realmente crê que as massas de Madri, Lisboa ou Dublin tomariam as ruas para protestar se a Europa desse um salto mortal de solidariedade e idealismo e decidisse aliviar suas exigências draconianas à Grécia?
Em 2009, o Movimento Socialista Panhelênico (Pasok) venceu as eleições e se descobriu que os números que Atenas vinha enviando a Bruxelas eram falsos. O déficit anual real era várias vezes superior ao declarado, de quase 12,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Tratou-se de uma confirmação daquilo que a UE e seus organismos suspeitavam há muito tempo, sem nada fazer.
Sem entrar em detalhes sobre as angustiantes negociações anteriores entre a Grécia e a UE, chega-se às eleições de janeiro deste ano, vencidas pelo partido progressista a que pertence Alexis Tsipras, o Syriza. Seu programa era claro: deter o plano de austeridade da Troika – FMI, UE e Banco Central Europeu – imposto em nome dos países europeus liderados por Alemanha, Holanda, Áustria e Finlândia.
A Grécia está de joelhos. Em números oficiais, o desemprego passou de 11,9% em 2010 a 25,5%; na realidade, fica em torno de 30%. Entre os jovens, a desocupação está chegando a 60%. O PIB caiu 25%, os cidadãos gregos perderam em torno de 30% de seus rendimentos e o gasto público foi reduzido de tal maneira que os hospitais têm grandes dificuldades de funcionamento.
Contudo, a exigência da Troika é simples: cortem e sigam cortando, até a eliminação do déficit. As aposentadorias, por exemplo, as já sofreram duas reduções e se pede uma terceira. Com isso, seriam obtidos apenas uns 100 milhões de euros, causando um enorme dano aos pensionistas que vivem com 685 euros por mês, ou ainda menos.
Quando assumiu a presidência da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, Jean-Claude Juncker anunciou um grandioso Plano Marshall para a Europa. O projeto desapareceu totalmente de cena. A “austeridade” é o fosso que divide as opções dos EUA e da UE. Os Estados Unidos empreenderam o caminho inverso, o do crescimento – apesar da pressão do opositor Partido Republicano a favor da “austeridade”. A economia está crescendo de novo. Ao invés disso, a UE é dirigida pela Alemanha e os alemães estão convencidos de que o que fizeram em seu país é universalmente válido.
Há um consenso generalizado de que a crise da Grécia, que representa só 2% do PIB da UE, poderia ter sido solucionada quando começou, com um empréstimo de 50 a 60 bilhões de euros (56,6 a 67,8 bilhões de dólares). Mas desde que Tsipras converteu-se em primeiro ministro e se negou, com o respaldo do apoio popular, a aceitar em bloco o plano dos credores, a Grécia converteu-se em tema de enorme importância.
Fala-se agora de uma “Grexit”, ou saída da Grécia da zona do euro e da UE. Isso teria um efeito cascata e presumiria o fim do sonho comum de uma Europa baseada na solidariedade e no sentido de comunidade.
No G-7, Obama insistiu nos investimentos e no estímulo à demanda como maneira de sair da crise. Merkel reiterou mais uma vez que a Europa não precisa de estímulos financiados pelo endividamento, mas de incentivos procedentes da reforma das economias ineficientes. O espetáculo lembra uma frase do prestigioso jornalista de Sri Lanka Tarzie Vittachi: “tudo é sempre sobre outra coisa”.
É interessante observar que um dos argumentos usados para uma posição tão dura com o Syriza é que os cidadãos da Espanha, Portugal e Irlanda — os primeiros que engoliram a amarga pílula da “austeridade” — ficariam indignados se for adotado um caminho diferente para a Grécia. Coincidentemente, esses três países têm governos conservadores.
Todo o sistema político europeu estremeceu quando Syriza ganhou as eleições, e novamente há alguns dias com a vitória do Podemos, o partido de esquerda contrário à “austeridade”, nas eleições municipais na Espanha.
Por alguma razão, o governo extremamente autoritário e conservador húngaro de Viktor Orbán, a recente vitória do muito conservador Andrzej Duda como presidente da Polônia, assim como a ascensão na Itália de Matteo Salvini, da antieuropeísta e xenófoba Liga Norte, não criam o mesmo pânico. Isso ocorre porque é nas notícias sobre a Grécia que se esconde o verdadeiro adversário do “status quo”. Trata-se de punir uma figura antissistema como Tsipras e demonstrar que a esquerda radical não pode dirigir um país europeu. Por que? Alguém realmente crê que as massas de Madri, Lisboa ou Dublin tomariam as ruas para protestar se a Europa desse um salto mortal de solidariedade e idealismo e decidisse aliviar suas exigências draconianas à Grécia?
* Tradução de Inês Castilho.
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