domingo, 17 de novembro de 2019

As recentes turbulências na América Latina

Por Luiza Dulci, na revista Teoria e Debate:

"Desta vez tudo passou muito rápido. Como se, em apenas uma noite, a América Latina tivesse dormido de direita e acordado de esquerda. Depois da avassaladora vitória de López Obrador no México, em 2018, em apenas um mês, outubro de 2019, as forças progressistas venceram as eleições presidenciais na Bolívia, no Uruguai [ainda haverá o segundo turno] e na Argentina, elegeram um jovem economista de esquerda para o governo de Buenos Aires e ganharam as eleições na Colômbia, para o governo de suas principais cidades, como Bogotá e Medellín. E quase simultaneamente, uma sucessão de revoltas populares derrubou ou colocou de joelhos os governos direitistas de Haiti e Honduras, impondo pesadas derrotas aos presidentes de direita, do Equador e do Chile". Assim começa o artigo do economista e professor José Luís Fiori, “O ‘outubro vermelho’ e a esclerose brasileira”, publicado em 31 de outubro no portal Carta Maior.

Bolívia: Como derrubaram Evo?

Por Pablo Stefanoni e Fernando Molina, no site Carta Maior:

Comecemos pelo final (ou pelo final provisório desta história): nas últimas horas da noite de domingo, o líder cruceño [1] Luis Fernando Camacho desfilou sobre um carro da polícia pelas ruas de La Paz, escoltado por polícias amotinados e aplaudido por setores da população opositores a Evo Morales. Encenava-se assim uma contra-revolução cívico-policial que tirou do poder o presidente boliviano. Morales entrincheirou-se no seu território, a região cocalera de Chapare que o viu nascer para a vida política e onde se refugiou dos riscos revanchistas [2]. É uma parábola – pelo menos transitória – na sua vida política. Deste modo, o que começou como um movimento para exigir uma segunda volta a seguir às polémicas e confusas eleições de 20 de outubro, acabou com o chefe das Forças Armadas “sugerindo” a renúncia do presidente.

A Internacional da extrema-direita

Por Otávio Dias de Souza Ferreira, no site A terra é redonda:

Em 14 de agosto de 2019, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, anunciou em rede social que a cidade de São Paulo seria sede, em cerca de dois meses, da Conservative Political Action Conference (CPAC), segundo ele, o “maior evento conservador do mundo”.

Cumprindo a promessa, o evento realizou-se em um hotel da capital paulista em 11 e 12 de outubro de 2019, contando com a presença de público significativo e com a transmissão simultânea pela rede mundial de computadores. Em que pesem tantas referências pejorativas aos inimigos e governos antecessores e a seu terrível legado, o ambiente predominante foi de otimismo e de euforia, com a perspectiva do futuro do Brasil sob as diretrizes conservadoras.

Chile e Bolívia são logo ali

Por Selvino Heck, no site Sul-21:

“Ha vuelto a entrar la Biblia al Palacio. Nunca más la Pachamama.” A frase é de um dos acompanhantes do empresário golpista boliviano Luiz Fernando Camacho, junto com uma foto ‘entronizando’ a Bíblia no Palacio Quemado, o palácio do governo em La Paz. “Com a Bíblia, o rosário e a carta de renúncia nas mãos, pedimos a Deus uma Bolívia nova e restaurada na democracia. Nossa luta é com armas, é com fé”: Mensagem de Luis Fernando Camacho, presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz. “Sueño com una Bolivia libre de ritos satànicos indígenas. La ciudad no es para los índios. Que se vayan al altiplano o al chaco!!!”, nas inacreditáveis palavras Jeanine Añez Chavez, nova presidente, golpista, da Bolívia.

Racismo vai de mal a pior em São Paulo

Da Rede Brasil Atual:

Sete em cada 10 pessoas acreditam que o racismo se manteve no mesmo patamar ou aumentou nos últimos 10 anos na capital paulista. O dado faz parte de um levantamento feito pelo Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo. A pesquisa mostra que para quase 70% dos entrevistados, shoppings e supermercados são os locais onde mais se percebe a diferença de tratamento para brancos e negros.

A aposentada Jussara de Souza, estudante de Psicologia, já percebeu esse racismo na maneira de atender e de olhar, relata reportagem de Jô Miyagui, da TVT. “Dentro do shopping, se é um menino negro uma menina negra, já tem um olhar diferente. A gente nota isso.”

Ideal republicano em tempos de bolsonarismo

Editorial do site Vermelho:

Os 130 anos de vida republicana no Brasil, assinalados nesta sexta-feira (15), representam as marchas e contramarchas de uma história ao mesmo tempo rica em conquistas e trágica em ações contra as aspirações populares. O ideal proclamado em 15 de novembro de 1889 tem como marco principal a construção nacional, com um Estado laico e representativo da diversidade do povo brasileiro.

A história mostra que a República é vista pela ampla maioria da sociedade como sinônimo de independência nacional. Sua trajetória traz as marcas de choques e confrontos entre dois projetos antagônicos: o de um Brasil soberano, desenvolvido e democrático, e o de um país sem autonomia, autoritário, com desenvolvimento truncado e subalterno. O governo Bolsonaro é a expressão radicalizada desse segundo projeto.

O previsível fracasso do Império

Por Marcelo Zero

A Cúpula do BRICS em Brasília sinalizou uma clara mudança de rumo na recente geopolítica do Brasil.

Em vez das declarações altissonantes olavistas em defesa da Civilização Ocidental e do Messias Trump e contra o “globalismo” e o “marxismo cultural”, o que se viu foi o reconhecimento pragmático das lideranças da China, da Rússia e do próprio BRICS.

Bolsonaro, o enamorado de Trump, teve de curvar-se à realidade e chegou até mesmo a pedir desculpas à China.

Pode tê-lo feito a contragosto, com sentimento de culpa pela traição ao ídolo.

Mas o fez. Melhor: foi obrigado a fazê-lo.

Temer e MBL, o encontro dos golpistas

Reprodução do Facebook
Por Fernando Brito, em seu blog:

Não sei se é mais melancólico para Michel Temer, o homem que deu o golpe e alcançou a Presidência para desaparecer como um inseto, fazer sua rentrée no congresso do decadente MBL ou se, para este, ter Michel Temer como grande convidado é o sinal adequado de seu estado de pré-extinção, depois de ter perdido para Jair Bolsonaro a turba fanática que ajudou a formar durante o impeachment que preparou as trevas atuais.

Seja como for, é um encontro simbólico da decadência de ambos: um perdeu sua máquina, que fazia voto; o outro, perdeu sua boiada, que fazia barulho.

América Latina: a ultradireita contra-ataca

Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:

Última lição do dia: os homens, eles voltam sempre. É preciso estar sempre de olhos abertos… Na peça Os Saltimbancos, recriada por Chico Buarque, o aviso é dado pelo Jumento, personagem de fina inteligência. Os Bichos espantaram os Barões e têm, enfim, onde dormir. Mas ainda não podem descansar em paz, porque prepara-se a revanche. Na América Latina, um Outubro Rebelde abalou os governos neoliberais do Chile e do Equador, destronou Maurício Macri na Argentina e continua a sacudir o Haiti. Novembro, porém, começou em refrega.

Afinal, quem deu o golpe na Bolívia?

Por Eric Nepomuceno

A presidente provisória, que logo deve convocar eleições, se chama Jeanine Árñez.

Como na cerimônia de posse ela teve o senador direitista Álvaro Murillo sussurrando junto ao seu ouvido o que deveria dizer, é fácil entender qual será sua autonomia como presidente interina.

Essa senhora insignificante teria força para chegar onde chegou? Não. Era um zero à esquerda até anteontem, continua sendo hoje e continuará amanhã. Chegou onde chegou graças ao golpe desfechado depois que Evo Morales conquistou mais um mandato ao derrotar no primeiro turno o ex-presidente Carlos Mesa.

Inconformado com o resultado, Mesa fez uma denúncia de fraude. Foi essa denúncia que derrubou Evo Morales?

Não: foi só o primeiro estopim.

Bolsonaro reage com cautela a Lula

Foto: Ricardo Stuckert
Por André Barrocal, na revista CartaCapital:

A soltura do ex-presidente Lula criou a expectativa de que o presidente Jair Bolsonaro se daria bem, ao tirar proveito do antipetismo que o ajudou a eleger-se no ano passado.

As reações iniciais do ex-capitão mostram-no cauteloso, no entanto, apesar de ele ter invocado a Lei de Segurança Nacional contra o petista e de tê-lo chamado de “canalha”.

Após inaugurar casas na Paraíba dia 11, Bolsonaro comentou: “Não vou polemizar com esse cara, que continua condenado”.

Na antevéspera, tinha tuitado que não responderia “a criminosos que por ora estão soltos”. E pedia aos apoiadores para não brigarem entre si nem cometerem erros.

“Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa”, escreveu.