Reproduzo matéria de André Cintra, publicada no sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:
A um mês de sua realização, o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas começa a agitar a blogosfera brasileira. Até a tarde desta quinta-feira (22/7), 117 pessoas se inscreveram para participar da programação do evento.
Entre os inscritos, há blogueiros de 14 estados, de todas as regiões do país - com destaque para o Sudeste. Só do estado de São Paulo, já são 65 representantes (55%). O encontro ocorre nos dias 21 e 22 de agosto, no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo.
As inscrições para o encontro custam R$ 100. Estudantes têm desconto e pagam apenas R$ 20. Para se inscrever, envie um e-mail para contato@baraodeitarare.org.br, informando nome ou nicknane, e-mail, endereço de blog, Twitter ou outra rede social, telefone, cidade e estado.
O objetivo do encontro é impulsionar a luta pela democratização dos meios de comunicação, com foco na blogosfera progressista. “O que se quer é fortalecer até o mais novo, o menos lido, porém o mais promissor dos blogs”, resumiu Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania.
Segundo Eduardo, “há um trabalho espetacular sendo feito por jovens e politizados blogueiros, por aqueles que ainda nem dominam direito as tecnologias e as técnicas de blogar, mas que têm enorme potencial para fazê-lo se receberem um mínimo de assessoria”.
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sexta-feira, 23 de julho de 2010
A CUT e o encontro dos blogueiros
Reproduzo artigo de Rosane Bertotti, secretária nacional de comunicação da CUT, publicado no sitio da entidade:
Marcado para os dias 21 e 22 de agosto na capital paulista, o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas representa um passo firme na caminhada pela democratização da comunicação, articulando mais do que vozes dissonantes, cérebros pensantes, de gente comprometida com um novo tempo para o país.
Na verdade, em ações como esta se encontra o centro da mudança que necessita ser feita, e para a qual todos estamos convocados a nos mobilizar: ampliar os espaços de participação e a conversação, o questionamento e o envolvimento, o protagonismo individual e coletivo. Para isso, naturalmente, é preciso garantir que meios de comunicação como a rádio e a televisão – que são concessões públicas que dialogam com milhões – em vez de propriedade privada de um emissor, sejam instrumentos da liberdade do pensamento, da mais ampla e fecunda pluralidade das ideias e da diversidade das culturas.
Diante de tamanho desafio, os blogueiros têm sido – e serão cada vez mais – agentes desta mudança, ao questionar o discurso impositivo e autoritário das verdades prontas e acabadas, permitindo uma reflexão crítica sobre os descaminhos de mídias, governos ou empresas, dando a sua contribuição ao processo de debate. Daí o investimento que a CUT está fazendo — e deve continuar fortalecendo, com o imprescindível apoio e envolvimento da sua militância — na articulação com as redes sociais, para, além de desobstruir canais e furar bloqueios, abrir novos caminhos.
O fortalecimento de instrumentos alternativos à ditadura imposta pelos barões da mídia e seus conglomerados é essencial para por em xeque a lógica negocista que, ao transformar a informação em mercadoria, uniformiza, intoxica e empobrece leitores, ouvintes e telespectadores. Sem ter como expor o contraditório, com o eixo da pauta contaminada por estes centros irradiadores de desinfomação/alienação, com o enfoque já predeterminado pela direção ditada pelo capital – bem grande e transnacional – as amplas maiorias ainda se veem reduzidas a serem consumidoras ou vítimas do discurso de legitimação do poder político e econômico.
Apenas para ilustrar, vamos a dois casos recentes que dignificam o papel dos blogs e seus sujeitos, os blogueiros. O candidato de FHC à presidência, José Serra, tentou se fazer passar como o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Seguro Desemprego, mentindo a torto e a direito, confiando na exposição em rádio e televisão, junto com o martelar de seus escribas em jornais e revistas. Para desmenti-lo, foi fundamental a ação da CUT e das demais centrais sindicais em suas páginas pela internet, que contaram com a valorosa contribuição dos blogs progressistas para enterrar de vez a ladainha.
Na semana seguinte, o presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) veio fazer considerações a respeito do presidente Lula e da democracia em nosso país e no continente. Tais análises, altamente preconceituosas e difamatórias, logo mostraram sua razão de ser: o dito cujo é dono de um jornal de Miami que recebe recursos do Departamento de Estado norte-americano para difamar o governo cubano e todo e qualquer governante que não siga o receituário de Washington. Novamente, via blogs e páginas da internet, recebemos as informações rapidamente, desmontando o circo.
Mais do que plantar em pequenos vasos a mudança, é hora de lutar pela primavera, irradiando a todos e todas o colorido da diversidade. Que, imbuídos deste sentimento e com o compromisso de luta pela soberania nacional, pela justiça e pelos direitos, milhares de blogs floresçam.
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Marcado para os dias 21 e 22 de agosto na capital paulista, o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas representa um passo firme na caminhada pela democratização da comunicação, articulando mais do que vozes dissonantes, cérebros pensantes, de gente comprometida com um novo tempo para o país.
Na verdade, em ações como esta se encontra o centro da mudança que necessita ser feita, e para a qual todos estamos convocados a nos mobilizar: ampliar os espaços de participação e a conversação, o questionamento e o envolvimento, o protagonismo individual e coletivo. Para isso, naturalmente, é preciso garantir que meios de comunicação como a rádio e a televisão – que são concessões públicas que dialogam com milhões – em vez de propriedade privada de um emissor, sejam instrumentos da liberdade do pensamento, da mais ampla e fecunda pluralidade das ideias e da diversidade das culturas.
Diante de tamanho desafio, os blogueiros têm sido – e serão cada vez mais – agentes desta mudança, ao questionar o discurso impositivo e autoritário das verdades prontas e acabadas, permitindo uma reflexão crítica sobre os descaminhos de mídias, governos ou empresas, dando a sua contribuição ao processo de debate. Daí o investimento que a CUT está fazendo — e deve continuar fortalecendo, com o imprescindível apoio e envolvimento da sua militância — na articulação com as redes sociais, para, além de desobstruir canais e furar bloqueios, abrir novos caminhos.
O fortalecimento de instrumentos alternativos à ditadura imposta pelos barões da mídia e seus conglomerados é essencial para por em xeque a lógica negocista que, ao transformar a informação em mercadoria, uniformiza, intoxica e empobrece leitores, ouvintes e telespectadores. Sem ter como expor o contraditório, com o eixo da pauta contaminada por estes centros irradiadores de desinfomação/alienação, com o enfoque já predeterminado pela direção ditada pelo capital – bem grande e transnacional – as amplas maiorias ainda se veem reduzidas a serem consumidoras ou vítimas do discurso de legitimação do poder político e econômico.
Apenas para ilustrar, vamos a dois casos recentes que dignificam o papel dos blogs e seus sujeitos, os blogueiros. O candidato de FHC à presidência, José Serra, tentou se fazer passar como o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Seguro Desemprego, mentindo a torto e a direito, confiando na exposição em rádio e televisão, junto com o martelar de seus escribas em jornais e revistas. Para desmenti-lo, foi fundamental a ação da CUT e das demais centrais sindicais em suas páginas pela internet, que contaram com a valorosa contribuição dos blogs progressistas para enterrar de vez a ladainha.
Na semana seguinte, o presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) veio fazer considerações a respeito do presidente Lula e da democracia em nosso país e no continente. Tais análises, altamente preconceituosas e difamatórias, logo mostraram sua razão de ser: o dito cujo é dono de um jornal de Miami que recebe recursos do Departamento de Estado norte-americano para difamar o governo cubano e todo e qualquer governante que não siga o receituário de Washington. Novamente, via blogs e páginas da internet, recebemos as informações rapidamente, desmontando o circo.
Mais do que plantar em pequenos vasos a mudança, é hora de lutar pela primavera, irradiando a todos e todas o colorido da diversidade. Que, imbuídos deste sentimento e com o compromisso de luta pela soberania nacional, pela justiça e pelos direitos, milhares de blogs floresçam.
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A campanha de Dilma na internet
Reproduzo entrevista de Marcelo Branco concedida ao jornal O Estado de S.Paulo:
Responsável até o início deste ano pelo megaevento nerd Campus Party, Marcelo Branco coordena há cerca de três meses a campanha de Dilma à Presidência nas redes sociais. Foi ele o responsável por fazer a candidata twittar pelo @dilmabr – diz ele que por conta própria, num notebook que anda sempre a tiracolo com a petista. Mas é dele também a tarefa de mobilizar os internautas a fazerem campanha espontânea.
Seja para fazerem um vídeo engraçadinho como DilmaBoy ou aproveitarem comunidades no Orkut já existentes, ele já viajou todos os estados do Brasil reunindo-se com blogueiros, twitteiros, orkuteiros, etc. Segundo Branco, uma campanha como a do presidente americano Barack Obama “foi construída pelos apoiadores — não por agências”. É o que Marcelo Branco declara ao jornalista-blogueiro Rodrigo Martins, editor de Mídias Sociais do Estadão.
A campanha está começando agora. Já vemos uma grande movimentação dos candidatos pelo Twitter. Como você vê isso?
Acho que o Twitter é uma ferramenta indispensável para o processo eleitoral. Mas o candidato estar no Twitter é apenas uma pequena parte da campanha no Twitter. O perfil da Dilma é ela mesma quem atualiza. Nossa opção foi que a campanha da Dilma no Twitter fosse o conjunto de pessoas que estão se mobilizando para fazer a campanha dela nas redes sociais. E não somente ela.
Não estamos centrando a campanha e avaliação da campanha dela pelo Twitter a partir só do que ela posta. Inclusive por questões legais, até de postura como candidata, ela tem que ter uma postura diferente que nós apoiadores, dos outros Twitters da campanha, podemos fazer de interação. O resultado tem sido positivo. Todas as medições que a gente fez no Twitter nos últimos dois meses apontam vantagem de citações positivas da Dilma nesta rede social.
Como vocês fazem essas medições?
Temos ferramentas que fazem buscas nas redes sociais, em cima do nome do candidato, palavras chaves. Em março, quando começamos, estávamos muito atrás do Serra, pois ele estava lá há um ano e meio. Mas mudou muito. Nas redes sociais, pelo que medimos, é a campanha que tem a maior presença. Pois fizemos uma opção de não investir apenas nos canais oficiais da campanha.
Optamos por aproveitar os espaços da internet já consolidados, as redes já existentes, como espaço para estimular e aproveitar para a campanha. Há uma comunidade do Orkut, por exemplo, que está há cinco anos na internet, que tem 98 mil pessoas que apóiam a Dilma. Daí a gente pega outra de mil, de 20 mil. No Facebook é a mesma coisa.
As comunidades oficiais da Dilma no Orkut, no Twitter, no Facebook, são espaços institucionais. No entanto, estamos usando outros Twitters, como o @dilmanaweb, @dilmanarede, que são Twitters de mobilização da campanha. A gente não constrói reputação na rede em pouco tempo. Então, não tem como, em dois meses de campanha, quereremos construir uma reputação e uma presença massiva na rede.
Temos hoje 128 blogs cadastrados, que são blogs espontâneos de apoio, muitos com audiência muito próxima à do blog oficial da candidata. A nossa estratégia nas redes sociais é estimular que nossos apoiadores construam conteúdos multimídia. Não vamos deixar de construir na agência (de publicidade). Mas estamos apostando muito nessa idéia de que o apoiador precisa construir o conteúdo.
Como o DilmaBoy?
Sim. Nós nunca tínhamos ouvido falar desse cara. É um webhit. Há dezenas de outros. Nós estamos apostando. Foi assim a campanha do Obama. Essa ideia de que foi a agência que construiu a campanha do Obama nas redes sociais é um erro. Ela foi construída pelos apoiadores. 90% dos vídeos postados foram caseiros. E os de maior audiência foram esses. Estamos apostando nisso. O viral é uma coisa imprevisível. Ninguém constrói um viral. As pessoas tentam, mas na maioria das vezes não conseguem.
O que pega é o imprevisível. As pessoas não compartilham só informação, mas emoções também. Hoje não existe uma ferramenta para medir emoções na rede. Talvez mais adiante se consiga. Até hoje a comunicação, o jornalismo e a publicidade conseguiram construir ferramentas de avaliação em cima de informações. Mas as redes sociais têm outro ingrediente imprevisível, que é a emoção. As redes sociais transmitem informação com emoção. Dependendo do momento da rede, um conteúdo pode bombar ou não. As pessoas replicam dependendo de como estejam.
Como fazer para mobilizar as pessoas então?
O que mais organiza a campanha da Dilma tem sido o Twitter porque todas as pessoas organizadoras, apoiadoras, estão no Twitter. As pessoas estão seguindo o Twitter de mobilização – @dilmanaweb, por exemplo – o que organiza as atividades. E nós construímos a caravana digital, que são reuniões físicas. Viajei o Brasil todo nos últimos 50 dias, capital por capital, e nós estamos fazendo reuniões físicas com centenas de militantes em casa estado.
Nessas reuniões, discutimos as estratégias e as melhores formas de atuar nas redes sociais. Não é curso. Participam blogueiros, twitteiros. Em muitos casos, as pessoas nunca foram políticas, mas estão se envolvendo na campanha pela estratégia que estamos adotando. Reunimos 7 mil pessoas no total, 320 média por local. Queremos preparar e estimular esses militantes a fazer a cobertura multimídia.
Como vocês chamam as pessoas para essas reuniões?
Tudo pelo Twitter. O Twitter é para convocação.
Já há uma resposta objetiva nas pesquisas eleitorais?
A nossa estratégia é usar as redes sociais para construir opinião, argumentos e contra-argumentos para que esses argumentos não sejam usados não só dentro da internet, mas principalmente fora. A nossa visão da internet é como espaço de organização dos apoiadores para fazer o debate offline, para disputar os votos nas ruas, no trabalho, onde a eleição será decidida. Não tenho expectativa de que a gente irá virar milhares de votos de indecisos. Mas a rede irá fortalecer os contra-argumentos para a disputa offline.
Credito que a movimentação nas redes até agora tem ajudado a fortalecer o crescimento da Dilma nas pesquisas. Claro que há muitos outros elementos: o Lula, a postura da candidata que melhora no discurso a cada dia que passa. Mas acho que a internet tem ajudado a mobilizar as pessoas nas ruas.
Nesta campanha, essa mobilização irá além do apoio nos avatares do Orkut e do Twitter?
Claro. No posicionamento de um produto, conta muito quem está bem colocado nos trending topics do Twitter, por exemplo. Quando vai comprar um produto, o cara vai ver se é o mais citado, o mais comentado. Só que uma campanha política é diferente. Nós queremos falar com pessoas verdadeiras. É ótimo saber quantas vezes estivemos nos trending topics, é bom para motivar a campanha.
Mas para mim é mais importante saber quantas pessoas nós estamos envolvendo na internet. Ninguém vai no blog do Serra ou da Dilma indeciso. As redes sociais estão servindo para organizar os apoiadores para as pessoas fazerem campanha fora da internet.
Você pode não ir no blog do candidato se não for apoiador. Mas no Twitter você pode acompanhar coisas que seus amigos twittaram e, daí, decidir seu voto, não?
Claro que em alguns votos pode ocorrer isso. Acho que numa segunda eleição teremos uma melhor medida disso. Hoje, não consigo. Acredito que alguns votos mudem dentro da rede. Que as pessoas vejam que eu sou Marcelo, fiz Campus Party, e decidam seu voto a partir daquilo que eu falar no Twitter. Acho que isso acontece também. Mas é obvio que a maioria dos votos vai virar fora da rede.
Porém, acho que esses que esses votos viram serão muito influenciados pela capacidade de as pessoas se informarem na rede. Como hoje os apoiadores conseguem saber o que falar nas ruas, o que comentar com os indecisos? Não é por uma carta do partido, como era antigamente. Eles se informam pela internet, vão lá na comunidade da Dilma, acompanham as lideranças políticas no Twitter e vão para o mundo offline.
Os candidatos irão debater entre si pelo Twitter?
Não acredito. Acho que não tem sido a estratégia do Serra, da Dilma e da Marina, por exemplo, a Dilma dar uma paulada na Marina, a Marina no Serra e o Serra na Dilma pelo Twitter. Ali é um espaço muito controlado pela assessoria de imprensa clássica. Ali tem todo o marketing que cuida do que se fala no Twitter. Diferentemente do que a gente fala normalmente, correndo riscos. Mas o risco que a gente corre é que vai dar a dinâmica dessas eleições.
Quer dizer que há uma equipe que cuida do que o candidato twitta?
Claro. Mesmo o Serra, que está há mais tempo no Twitter, não faz o que fazia antes. Está todo mundo meio segurando a barra. Diferentemente dos twitters dos apoiadores. Se eu tiver lideranças numa rede social, como comunidade de software livre, dos favelados, etc., a mensagem só vai chegar neles se alguém que já pertence à rede acionar a palavra. Não adianta eu, Marcelo, querer falar com ele, Essa relação que temos com base aliada do PT, dos movimentos sociais organizados que já estão nas redes sociais, é o que nos dá vantagem na internet.
Como você vê a possibilidade de blogs apócrifos, perfis apócrifos?
É normal, acho que já acontece. Mas acho que essas baixarias não dão resultado. Se o cara montar um blog para fazer baixaria contra adversários, quem vai ler esse cara? Como vou criar uma audiência para esse blog? Qual é a credibilidade? Temos dezenas de blogs atacando a Dilma. Optamos em não acionar juridicamente. Se formos acionar, fará o maior barulho e daremos audiência para esse cara.
Você teve de ensinar a Dilma a usar o Twitter?
A Dilma não é uma pessoa totalmente fora da tecnologia. Ele sempre levou notebook no governo. Desde o ano passado, ela tem me falado que queria estar no Twitter, mas não tinha tido essa oportunidade. Há dois meses, estava em Brasília, ela me chama na casa dela às 18h e diz: “Marcelo, estou pronta, agora vou fazer o Twitter”.
Ela escolheu o nome, @dilmabr. Ela entrou no Twitter, fez cinco posts, eu anunciei no meu Twittar que ela estava lá. Em 30 minutos, ela tinha 1,7 mil seguidores. Uma hora depois, 3,2 mil. E não foi mandada uma nota de imprensa. Ela está pouco a pouco aprendendo. Tem ajuda da assessora de comunicação. Ela não usa até agora o dispositivo móvel, usa o notebook. Mas ela mesma faz os twitts dela. Ela me disse: “O que for meu, deixa comigo”.
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Responsável até o início deste ano pelo megaevento nerd Campus Party, Marcelo Branco coordena há cerca de três meses a campanha de Dilma à Presidência nas redes sociais. Foi ele o responsável por fazer a candidata twittar pelo @dilmabr – diz ele que por conta própria, num notebook que anda sempre a tiracolo com a petista. Mas é dele também a tarefa de mobilizar os internautas a fazerem campanha espontânea.
Seja para fazerem um vídeo engraçadinho como DilmaBoy ou aproveitarem comunidades no Orkut já existentes, ele já viajou todos os estados do Brasil reunindo-se com blogueiros, twitteiros, orkuteiros, etc. Segundo Branco, uma campanha como a do presidente americano Barack Obama “foi construída pelos apoiadores — não por agências”. É o que Marcelo Branco declara ao jornalista-blogueiro Rodrigo Martins, editor de Mídias Sociais do Estadão.
A campanha está começando agora. Já vemos uma grande movimentação dos candidatos pelo Twitter. Como você vê isso?
Acho que o Twitter é uma ferramenta indispensável para o processo eleitoral. Mas o candidato estar no Twitter é apenas uma pequena parte da campanha no Twitter. O perfil da Dilma é ela mesma quem atualiza. Nossa opção foi que a campanha da Dilma no Twitter fosse o conjunto de pessoas que estão se mobilizando para fazer a campanha dela nas redes sociais. E não somente ela.
Não estamos centrando a campanha e avaliação da campanha dela pelo Twitter a partir só do que ela posta. Inclusive por questões legais, até de postura como candidata, ela tem que ter uma postura diferente que nós apoiadores, dos outros Twitters da campanha, podemos fazer de interação. O resultado tem sido positivo. Todas as medições que a gente fez no Twitter nos últimos dois meses apontam vantagem de citações positivas da Dilma nesta rede social.
Como vocês fazem essas medições?
Temos ferramentas que fazem buscas nas redes sociais, em cima do nome do candidato, palavras chaves. Em março, quando começamos, estávamos muito atrás do Serra, pois ele estava lá há um ano e meio. Mas mudou muito. Nas redes sociais, pelo que medimos, é a campanha que tem a maior presença. Pois fizemos uma opção de não investir apenas nos canais oficiais da campanha.
Optamos por aproveitar os espaços da internet já consolidados, as redes já existentes, como espaço para estimular e aproveitar para a campanha. Há uma comunidade do Orkut, por exemplo, que está há cinco anos na internet, que tem 98 mil pessoas que apóiam a Dilma. Daí a gente pega outra de mil, de 20 mil. No Facebook é a mesma coisa.
As comunidades oficiais da Dilma no Orkut, no Twitter, no Facebook, são espaços institucionais. No entanto, estamos usando outros Twitters, como o @dilmanaweb, @dilmanarede, que são Twitters de mobilização da campanha. A gente não constrói reputação na rede em pouco tempo. Então, não tem como, em dois meses de campanha, quereremos construir uma reputação e uma presença massiva na rede.
Temos hoje 128 blogs cadastrados, que são blogs espontâneos de apoio, muitos com audiência muito próxima à do blog oficial da candidata. A nossa estratégia nas redes sociais é estimular que nossos apoiadores construam conteúdos multimídia. Não vamos deixar de construir na agência (de publicidade). Mas estamos apostando muito nessa idéia de que o apoiador precisa construir o conteúdo.
Como o DilmaBoy?
Sim. Nós nunca tínhamos ouvido falar desse cara. É um webhit. Há dezenas de outros. Nós estamos apostando. Foi assim a campanha do Obama. Essa ideia de que foi a agência que construiu a campanha do Obama nas redes sociais é um erro. Ela foi construída pelos apoiadores. 90% dos vídeos postados foram caseiros. E os de maior audiência foram esses. Estamos apostando nisso. O viral é uma coisa imprevisível. Ninguém constrói um viral. As pessoas tentam, mas na maioria das vezes não conseguem.
O que pega é o imprevisível. As pessoas não compartilham só informação, mas emoções também. Hoje não existe uma ferramenta para medir emoções na rede. Talvez mais adiante se consiga. Até hoje a comunicação, o jornalismo e a publicidade conseguiram construir ferramentas de avaliação em cima de informações. Mas as redes sociais têm outro ingrediente imprevisível, que é a emoção. As redes sociais transmitem informação com emoção. Dependendo do momento da rede, um conteúdo pode bombar ou não. As pessoas replicam dependendo de como estejam.
Como fazer para mobilizar as pessoas então?
O que mais organiza a campanha da Dilma tem sido o Twitter porque todas as pessoas organizadoras, apoiadoras, estão no Twitter. As pessoas estão seguindo o Twitter de mobilização – @dilmanaweb, por exemplo – o que organiza as atividades. E nós construímos a caravana digital, que são reuniões físicas. Viajei o Brasil todo nos últimos 50 dias, capital por capital, e nós estamos fazendo reuniões físicas com centenas de militantes em casa estado.
Nessas reuniões, discutimos as estratégias e as melhores formas de atuar nas redes sociais. Não é curso. Participam blogueiros, twitteiros. Em muitos casos, as pessoas nunca foram políticas, mas estão se envolvendo na campanha pela estratégia que estamos adotando. Reunimos 7 mil pessoas no total, 320 média por local. Queremos preparar e estimular esses militantes a fazer a cobertura multimídia.
Como vocês chamam as pessoas para essas reuniões?
Tudo pelo Twitter. O Twitter é para convocação.
Já há uma resposta objetiva nas pesquisas eleitorais?
A nossa estratégia é usar as redes sociais para construir opinião, argumentos e contra-argumentos para que esses argumentos não sejam usados não só dentro da internet, mas principalmente fora. A nossa visão da internet é como espaço de organização dos apoiadores para fazer o debate offline, para disputar os votos nas ruas, no trabalho, onde a eleição será decidida. Não tenho expectativa de que a gente irá virar milhares de votos de indecisos. Mas a rede irá fortalecer os contra-argumentos para a disputa offline.
Credito que a movimentação nas redes até agora tem ajudado a fortalecer o crescimento da Dilma nas pesquisas. Claro que há muitos outros elementos: o Lula, a postura da candidata que melhora no discurso a cada dia que passa. Mas acho que a internet tem ajudado a mobilizar as pessoas nas ruas.
Nesta campanha, essa mobilização irá além do apoio nos avatares do Orkut e do Twitter?
Claro. No posicionamento de um produto, conta muito quem está bem colocado nos trending topics do Twitter, por exemplo. Quando vai comprar um produto, o cara vai ver se é o mais citado, o mais comentado. Só que uma campanha política é diferente. Nós queremos falar com pessoas verdadeiras. É ótimo saber quantas vezes estivemos nos trending topics, é bom para motivar a campanha.
Mas para mim é mais importante saber quantas pessoas nós estamos envolvendo na internet. Ninguém vai no blog do Serra ou da Dilma indeciso. As redes sociais estão servindo para organizar os apoiadores para as pessoas fazerem campanha fora da internet.
Você pode não ir no blog do candidato se não for apoiador. Mas no Twitter você pode acompanhar coisas que seus amigos twittaram e, daí, decidir seu voto, não?
Claro que em alguns votos pode ocorrer isso. Acho que numa segunda eleição teremos uma melhor medida disso. Hoje, não consigo. Acredito que alguns votos mudem dentro da rede. Que as pessoas vejam que eu sou Marcelo, fiz Campus Party, e decidam seu voto a partir daquilo que eu falar no Twitter. Acho que isso acontece também. Mas é obvio que a maioria dos votos vai virar fora da rede.
Porém, acho que esses que esses votos viram serão muito influenciados pela capacidade de as pessoas se informarem na rede. Como hoje os apoiadores conseguem saber o que falar nas ruas, o que comentar com os indecisos? Não é por uma carta do partido, como era antigamente. Eles se informam pela internet, vão lá na comunidade da Dilma, acompanham as lideranças políticas no Twitter e vão para o mundo offline.
Os candidatos irão debater entre si pelo Twitter?
Não acredito. Acho que não tem sido a estratégia do Serra, da Dilma e da Marina, por exemplo, a Dilma dar uma paulada na Marina, a Marina no Serra e o Serra na Dilma pelo Twitter. Ali é um espaço muito controlado pela assessoria de imprensa clássica. Ali tem todo o marketing que cuida do que se fala no Twitter. Diferentemente do que a gente fala normalmente, correndo riscos. Mas o risco que a gente corre é que vai dar a dinâmica dessas eleições.
Quer dizer que há uma equipe que cuida do que o candidato twitta?
Claro. Mesmo o Serra, que está há mais tempo no Twitter, não faz o que fazia antes. Está todo mundo meio segurando a barra. Diferentemente dos twitters dos apoiadores. Se eu tiver lideranças numa rede social, como comunidade de software livre, dos favelados, etc., a mensagem só vai chegar neles se alguém que já pertence à rede acionar a palavra. Não adianta eu, Marcelo, querer falar com ele, Essa relação que temos com base aliada do PT, dos movimentos sociais organizados que já estão nas redes sociais, é o que nos dá vantagem na internet.
Como você vê a possibilidade de blogs apócrifos, perfis apócrifos?
É normal, acho que já acontece. Mas acho que essas baixarias não dão resultado. Se o cara montar um blog para fazer baixaria contra adversários, quem vai ler esse cara? Como vou criar uma audiência para esse blog? Qual é a credibilidade? Temos dezenas de blogs atacando a Dilma. Optamos em não acionar juridicamente. Se formos acionar, fará o maior barulho e daremos audiência para esse cara.
Você teve de ensinar a Dilma a usar o Twitter?
A Dilma não é uma pessoa totalmente fora da tecnologia. Ele sempre levou notebook no governo. Desde o ano passado, ela tem me falado que queria estar no Twitter, mas não tinha tido essa oportunidade. Há dois meses, estava em Brasília, ela me chama na casa dela às 18h e diz: “Marcelo, estou pronta, agora vou fazer o Twitter”.
Ela escolheu o nome, @dilmabr. Ela entrou no Twitter, fez cinco posts, eu anunciei no meu Twittar que ela estava lá. Em 30 minutos, ela tinha 1,7 mil seguidores. Uma hora depois, 3,2 mil. E não foi mandada uma nota de imprensa. Ela está pouco a pouco aprendendo. Tem ajuda da assessora de comunicação. Ela não usa até agora o dispositivo móvel, usa o notebook. Mas ela mesma faz os twitts dela. Ela me disse: “O que for meu, deixa comigo”.
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Por que Chávez rompeu com a Colômbia
Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
Nas últimas semanas, o presidente venezuelano Hugo Chávez passou diversos sinais conciliadores para o mandatário eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que tomará posse dia 7 de agosto. O retorno também foi promissor: o novo chefe de Estado colombiano revelou-se disposto a construir uma agenda positiva, que permitisse o pleno reatamento entre os dois países.
Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.
O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.
A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.
O presidente colombiano parece mirar dois objetivos. O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo. O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.
Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.
Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generelizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.
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Nas últimas semanas, o presidente venezuelano Hugo Chávez passou diversos sinais conciliadores para o mandatário eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que tomará posse dia 7 de agosto. O retorno também foi promissor: o novo chefe de Estado colombiano revelou-se disposto a construir uma agenda positiva, que permitisse o pleno reatamento entre os dois países.
Mas a aproximação foi fulminada pela ação de Álvaro Uribe, desconfortável com a autonomia de seu sucessor e o risco de perder espaço na vida política do país. Mesmo sem qualquer incidente que servisse de pretexto, jogou-se nos últimos dias a reativar denúncias sobre supostos vínculos entre as Farc e a administração chavista.
O ápice da performance uribista foi a atual reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se realiza em Washington. Bogotá apresentou provas para lá de duvidosas, que sequer foram corroboradas por seus aliados tradicionais, de que a Venezuela estaria protegendo e acobertando atividades guerrilheiras. A reação de Caracas foi dura e imediata.
A decisão pela ruptura de relações diplomáticas, no entanto, pode ser provisória. O próprio presidente Chávez, nas primeiras declarações a respeito dessa atitude, reafirmou a esperança de que Santos arrume a bagunça armada pelo atual ocupante do Palácio de Nariño. Mas reiterou sua disposição de enfrentar e desqualificar a estratégia de Uribe.
O presidente colombiano parece mirar dois objetivos. O primeiro deles é interno: a reiteração da “linha dura” como política interna facilita sua aposta de manter hegemonia sobre os setores militares e sociais que conseguiu agregar durante seu governo. O segundo, porém, tem alcance internacional. O uribismo é parte da política norte-americana para combater Chávez e outro governos progressistas; mesmo fora do poder, o líder ultradireitista não quer perder protagonismo e se apresenta como avalista para manter Santos na mesma conduta.
Fontes do Palácio de Miraflores não hesitam em afirmar que as provocações de Uribe, além de fixar seu alvo no presidente venezuelano, seriam estranhamente coincidentes com o discurso de José Serra e Indio da Costa no Brasil, retomando a pauta de eventuais relações entre o PT e a guerrilha colombiana. Esses analistas afirmam que o governante de Bogotá deu um lance para se manter em evidência na disputa regional entre os blocos de esquerda e direita.
Autoridades venezuelanas, nos bastidores, se empenham para que haja uma condenação generelizada, dos países latino-americanos, à conduta de Bogotá e ao cúmplice silêncio norte-americano. Não desejam que outras nações sigam o caminho da ruptura, mas Chávez parece convencido que seu colega colombiano não poderá ser detido com meias-palavras ou atos de conciliação.
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