terça-feira, 5 de outubro de 2010

O "vagabundo" Madureira merece processo!



Ao lado de Diogo Mainardi, Marcelo Madureira, do Casseta&Planeta, chama Lula de "picareta e vagabundo" em programa da GloboNews. Não dá para ter sangue de barata diante de uma leviandade desta numa concessão pública. O PT deveria entrar com ação na Justiça contra o "falso humorista" da TV Globo e do Instituto Millenium.

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Leonardo Boff e o projeto de Marina

Reproduzo artigo do teólogo Leonardo Boff, publicado no sítio da Adital:

O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros, mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?
É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.

Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as "humilhadas e ofendidas" e consideradas "zeros econômicos" pelo pouco que produzem e consomem.

Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica.

Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.

O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluídos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.

Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB, que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo, pois sempre se atém aos ditames dos países centrais.

José Serra do PSDB representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.

O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora.

Quer forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.

Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões, e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres, nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular, pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida, pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.

Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.

É aqui que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra.

Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental. Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.

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O vermelho e o verde

Reproduzo artigo de Antonio Martins, publicado no sítio Outras Palavras:

Agora, quando o resultado das eleições de 3 de outubro está emergindo em seu conjunto, já é possível fazer balanços mais abrangentes, menos enevoados por manipulações da mídia ou expectativas frustradas. Distinguem-se, no panorama que se abre, duas tendências consolidadas: as “ondas” vermelha e verde. Enxerga-se, além delas, uma oportunidade histórica: a possibilidade de articulá-las – não num acordo eleitoral fugaz, mas num diálogo e possível construção de longo prazo.

A “onda vermelha” veio antes, cronologicamente. Atingiu seu ápice em meados de setembro, recuando em parte nas três semanas anteriores às urnas. Significou um vasto desafio a alguns dos fatores que marcam a submissão social no Brasil, no passado e no presente. Entusiasmadas pelo tímido – porém inédito – movimento de redistribuição de riqueza ensaiado no governo Lula, as maiorias questionaram o poder dos coronéis (locais e regionais); a ditadura da mídia piramidal (inclusive a TV Globo); a influência dos “formadores de opinião” da classe média conservadora; a força dos velhos preconceitos econômicos, segundo os quais investimento público é sinônimo de “gastança”.

Os efeitos deste grande movimento são generalizados. Na disputa presidencial, a diferença entre PT e PSDB – os partidos que expressam, no imaginário popular, democratização e elitismo – alargou-se de 7 pontos percentuais, no primeiro turno de 2006, para 14,3 agora [1]. No plano estadual, o PT obteve vitórias emblemáticas no Rio Grande do Sul e, quase certamente, Distrito Federal. Tanto no Senado quanto na Câmara os partidos que compõem a base de Dilma ultrapassaram os 60% necessários para mudanças constitucionais.

No Senado, aliás, o DEM, melhor expressão da velha direita, viu sua bancada eleita em 2002 reduzir-se de 14 integrantes para apenas dois, agora; enquanto a do PSDB encolheu de 8 para 5. PSOL e PCdoB, que não haviam elegido senadores [2] em 2002, têm agora, respectivamente, dois e um representantes. A casa ficou livre, além disso, de alguns ícones sagrados do conservadorismo, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Marco Maciel (DEM-PE) e Heráclito Fortes (DEM-PI). Na Câmara de Deputados também houve guinada à esquerda, embora menos pronunciada [3].

Já a “onda verde” formou-se na reta final da campanha. Em menos de vinte dias, Marina Silva (PT) passou de cerca de 12% das intenções de voto para 19,3%, no cômputo final. É o triplo do percentual (6,85%) alcançado por Heloísa Helena no primeiro turno de 2006, quando a então candidata do PSOL também representou uma espécie de terceira força. Mas a evolução qualitativa é ainda mais importante que a numérica. Heloísa expressava essencialmente uma frustração e um protesto – contra Lula e o PT. Setores da esquerda e (principalmente) da classe média, que idealizavam um governo mais radical (ou mais puro) que o real, descarregaram sua decepção na figura da senadora, amarga e embrabecida.

Marina é o passo adiante. Ela emociona-se ao descrever a angústia que sentiu, ao separar-se do PT. Reconhece os grandes avanços sociais dos últimos oito anos e o papel democratizador desempenhado pela esquerda histórica. Mas pensa isso não basta. Embora a enxurrada de votos que recebeu nos últimos dias tenha origens diversas e até contraditórias (como se verá adiante), o sentido político e simbólico que deu a sua candidatura é inconteste. Ela sugere que não basta integrar as maiorias nos padrões de produção e consumo do capitalismo, livrando-as da “exclusão”. É possível discutir os sentidos do desenvolvimento.

Afinal, que projetamos como futuro coletivo? O “direito” dos pobres a seguir a classe média e mofar horas enjaulados em seus automóveis, todos os dias? O aumento indefinido da produção de energia, para que o consumo de latinhas de alumínio continue se expandindo? Casas para todos, mesmo que em regiões remotas das metrópoles, onde a natureza foi agredida e a mobilidade é quase nula? O título de maiores exportadores mundiais de alimentos, às custas de nossas florestas e preservando os latifúndios?

Marina não recebeu, é claro, apenas os votos de quem faz estes questionamentos. Ela foi beneficiada pelos eleitores que a mídia, após uma campanha abjeta e prolongada de calúnias, conseguiu tirar de Dilma – mas não foi capaz de transferir a Serra. Em seu colo caíram, também, as adesões por preconceito: gente amedrontada, nos grotões, por ouvir dizer que a candidata de Lula promove o aborto, é ateia, flerta com seitas satânicas.

O PT deveria compreender que são circunstâncias da política institucional. Também ele foi beneficiado, mais de uma vez, por balas perdidas, nas disputas entre seus adversários. Para ficar num único exemplo, basta citar Maria Luíza Fontenelle, primeira prefeita eleita pelo partido numa capital (Fortaleza, 1985). Ela consagrou-se nas urnas também porque o PDS, partido da ditadura que recém-terminara, viu-se incapaz de derrotar Paes de Andrade (do PMDB, inimigo histórico) e preferiu descarregar seus votos na petista.

II

Seria fácil para Dilma, Lula ou os partidos de esquerda que os apoiam, apontar em Marina o bode expiatório a necessidade do segundo turno – mas seria vão. Em contrapartida, um exame mais atento do resultado eleitoral serviria – em especial ao presidente, cuja argúcia política é reconhecida até pelos maiores adversários – para aprofundar e atualizar sua visão sobre a sociedade brasileira.

A emergência tão abrupta da figura política de Marina é mais um sinal de que o Brasil está mudando. Mas ao mesmo tempo em que confirma a potência das políticas de Lula, este fenômeno convida a atualizá-las, para que não se tornem repetitivas e obsoletas. A inclusão social, a criação da “nova classe média”, a “emergência das classes C e D” são reais e benvindas. Mas tende a repetir-se rapidamente, no Brasil, o choque que se deu entre o “welfare state” europeu e seus filhos rebelados de 1968.

Superada a “exclusão”, conquistado um lugar ao sol no pátio do capitalismo, uma nova questão se apresenta. Como continuar reinventando a vida? Certas análises muito recentes, sobre o primeiro turno brasileiro de 2010, tendem a diagnosticar a tendência de parte dos “incluídos” ao conservadorismo. Vencida a condição de miserável, uma parcela se tornaria refratária às propostas que sugerem novas mudanças: ou por temer regressar à condição anterior ou por querer diferenciar-se da massa dos pobres, que votam à esquerda. Esta seria a razão para Dilma ter obtido, no Nordeste e Norte – as regiões mais beneficiadas pelos programas sociais – dianteira inferior à que se previa.

Para testar esta hipótese, será preciso examinar os resultados das eleições em regiões sociais homogêneas, comparando-os com os de pleitos anteriores. Um exame mais profundo do fenômeno talvez revele um bifurcação em Y. Ultrapassadas as condições de desigualdade mais dramáticas, parte da sociedade pode tender, de fato, ao conservadorismo. Mas um outro setor – especialmente entre a juventude, de todos os extratos sociais – passa a reivindicar mudanças ainda mais profundas.

Ele alegra-se com a superação da miséria, mas isso apenas aguça seu desejo de uma vida nova. A simples exaltação das conquistas alcançadas não o anima. E repele (talvez sem realismo, mas certamente com razão…) os “efeitos colaterais” do que foi obtido. Neste grupo, estão os eleitores que se chocam, por exemplo, com a ausência de uma política ambiental avançada; com a devastação contínua (ainda que decrescente) da Amazônia; com a lentidão da reforma agrária e a conivência com o agronegócio predatório; com a construção de grandes obras sem esclarecimento suficiente de seus impactos ambientais; com o envenenamento e congestão das metrópoles; com as alianças com certos coronéis da política.

Marina seduziu, provavelmente, uma parte importante (talvez majoritária…) deste eleitorado. Ele não se confunde com a ultra-esquerda clássica. Por isso, não optou pelo PSOL (embora tenha, certamente, admirado sua participação irreverente e pedagógica de Plínio Sampaio nos debates). Nem presta atenção ao fato de a candidata do PV ter como vice um empresário cotado na lista Forbes dos bilionários globais; de voar a bordo do jatinho mais luxuoso da campanha; de ter, como assessor econômico, alguém mais neoliberal que o próprio Serra; de ter se filiado a um partido cujo passado é marcado pelo fisiologismo. Muito além da causa ambientalista, este eleitorado vê, no Verde de Marina, o símbolo de uma ideia-base: não basta matar a fome, nem incluir a todos na ordem atual; temos um mundo e um país a inventar.

III.

A existência de uma vasta parcela da sociedade que pensa assim é “algo nunca antes visto na história do Brasil”. Não vem ao caso, neste instante, debater os qualidades e limites da candidata, ou as inconsistências e contradições das forças em que seus planos se apoiaram. O importante, no momento, é perceber que Marina ajudou a expressar um fenômeno que Lula, Dilma e a esquerda que os apoia deveriam festejar, em vez de lamentar. Este setor, que se ampliará cada vez mais à medida em que ficar para trás a fase da mera “inclusão”, será contraponto aos “novos conservadores” e a seu peso imobilizante.

Promover o encontro entre o Vermelho e o Verde – ou seja, entre a esquerda histórica e os desejos de pós-capitalismo que emergem – é algo cuja importância vai muito além das eleições. Desta sintonia, difícil e delicada, porém necessária, dependerá a possibilidade de o Brasil continuar a ser, nas próximas décadas, um símbolo de criação política – muito mais que de “inclusão”.

Será excelente se surgirem, já na caminhada para o segundo turno, sinais de que tal confluência é possível. Eles terão de vir na forma de acenos de Lula, Dilma e partidos aliados a Marina e seu eleitorado. Cabe a quem exerce o governo sinalizar que pretende fazê-lo incorporando novas agendas, projetos e métodos – ou seja, revendo parte de sua prática. Não se deve esperar, em contrapartida, o apoio formal de Marina a Dilma.

Se forem fortes e transmitirem sinceridade, estes gestos dialogarão diretamente com a sensibilidade do eleitorado Verde. Também servirão de contraponto a Serra; sua lógica puramente mercantil; seu governo enodoado pelo declínio da educação paulista, repressão permanente aos sem-teto, sequência de incêndios suspeitos em favelas, maltrato aos moradores de rua, atos extremos como inundar a várzea pobre do rio Tietê, para preservar o trânsito de automóveis nas vias marginais.

Lula conhece como poucos a importância e força dos atos simbólicos. Terá diversas oportunidades para promovê-los. Narrada recentemente pelas novas mídias [4], talvez a luta da Costa do Cacau baiana por um novo projeto de desenvolvimento é um dos terrenos em que a nova aliança poderia ser possível. Lá, a sociedade civil já está gestando, num esforço inédito, a sintonia entre o social, o ambiental e o pós-capitalista.

Situada no Sul da Bahia, estendendo-se das margens do oceano ao coração da Serra do Mar, a Costa do Cacau abriga um dos maiores remanescentes da Floresta Atlântica no Brasil. Empobrecida pelo declínio da lavoura cacaueira, parcialmente socorrida pelo Bolsa-Família (em Ilheus, um de seus polos, 47% dos moradores vivem graças a este direito), a região é agora ameaçada por um projeto extrativista-exportador – que tem, até o momento, o apoio dos governos nacional e baiano.

Uma transnacional indiano-casaquistanesa pretende construir, em área de proteção ambiental, um porto para escoar grandes jazidas de ferro descobertas a cerca de 500 quilômetros, no interior. Fala-se ainda no chamado Complexo Porto Sul, que incluiria uma siderúrgica (a ser implantada em parceria entre a Vale sócios chineses), um aeroporto internacional e um segundo terminal portuário, para exportação de grãos.

Dezenas de organizações sociais mobilizam-se para evitar a concretização do projeto. Mas, à diferença do que ocorreu com outras ambientais recentes, elas têm uma alternativa concreta, formulada em detalhes. Não são anti-desenvolvimentistas: querem outro desenvolvimento. Seu projeto prevê transformar a região num polo de produção agrícola agro-industrial (cacau e chocolates) fortemente cooperativada – incentivando-se, em especial, os assentamentos de sem-terra; de difusão de conhecimento e novas tecnologias; de turismo ambiental e histórico.

Inspirada pelo conceito de eco-sócio-desenvolvimento, de Ignacy Sachs, a proposta preserva a natureza – mas gera, na ponta do lápis, ocupações muito mais numerosas e qualificadas que as oferecidas pelas mega-obras. As organizações que assumem a alternativa frisam que o Brasil é rico demais, cultural e ambientalmente, para reduzir-se à condição de exportador primário.

O licenciamento ambiental, ainda não concluído, sairá em breve, se prevalecerem os trâmites atuais. Para quebrar a rotina e sugerir uma mudança de rumos que enriqueceria seu legado, o Presidente poderia, por meio do ministério do Meio Ambiente, determinar a abertura de audiências públicas sobre o caso. Como novidade, bastaria determinar que, ao invés de ter como pauta a mera aprovação ou rejeição do projeto minero-exportador, elas se dedicassem ao exame comparativo das duas propostas.

É um exemplo, entre tantos outros possíveis. Em gestos singelos como este pode estar a chave para que o Vermelho e o Verde estabeleçam, no Brasil, uma sintonia estratégica que, além de mudar a face do país, teria imensa repercussão mundial

Notas

1. Em 2006, Lula teve 48,6%, contra 41,6% de Geraldo Alckmin. Em 2010, Dilma teve 46,9% contra 32,6% de José Serra. Note-se que a ampliação da diferença ocorreu apesar de Lula, com seu enorme carisma e poder de comunicação ter passado de candidato a apoiador.

2. José Nery (PA), atual senador pelo PSOL, foi eleito em 2002 pelo PT, na condição de suplente de Ana Júlia, que assumiu em 2006 o governo do Estado. Heloísa Helena (AL), agora derrotada, também foi eleita (no mesmo ano) pelo PT.

3. PT, PCdoB e PSB, somados, passaram de 113 para 137 deputados; enquanto a bancada do DEM mingou de 84 para 43 e a do PSDB, de 70 para 53.

4. Além de Outras Palavras, dedicaram-se ao tema a revista Fórum e a agência Envolverde

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Consultar Popular: união para barrar Serra

Reproduzo entrevista concedida à jornalista Aline Scarso, da Radioagência NP:

Em entrevista à Radioagência NP, o integrante da coordenação nacional da Consulta Popular, Ricardo Gebrim, discute o cenário do segundo turno para a presidência. De acordo com ele, a campanha entra em uma fase crítica: as forças populares devem buscar unidade pela vitória de Dilma (PT) contra a vitória de José Serra (PSDB) e o retorno da direita ao poder. Gebrim também analisa a votação expressiva de Marina Silva (PV), que conquistou quase 20% dos votos válidos, e diz que houve avanço, ainda insuficiente, na configuração do Congresso Nacional.

O que representa o resultado do 1º turno para as forças populares do Brasil?

Em relação às eleições presidenciais, nós podemos afirmar que não interessou às forças populares a existência de um segundo turno. O melhor desfecho era que Dilma Rousseff fosse eleita no primeiro turno. O segundo turno abre condições e risco para que a direita avance na sua ação ofensiva, com as forças mais reacionárias do último período.

Isso coloca [ao PT e aos movimentos sociais] uma campanha difícil como também irá possibilitar que muitas pressões conservadoras recaiam até mesmo sobre a candidatura Dilma. Então, nesse momento é fundamental que a gente consiga unificar o conjunto dos setores populares, que votaram em outros candidatos, como na Marina, para derrotar o Serra e garantir a vitória na Dilma.

Por que a vitória Dilma é considerada mais promissora para o avanço das forças populares que a vitória do Serra?

Por vários motivos. O primeiro deles é que dá continuidade a um posicionamento geopolítico do Brasil, que não só vem apoiando iniciativas importantes no nosso continente, como possibilitou o apoio em várias situações fundamentais, como no episódio do golpe em Honduras, no apoio das iniciativas continentais que fortaleceram países como a Bolívia, a Venezuela e Equador.

Mas não só no âmbito mundial. A candidatura da Dilma também representa esse leque de força, [que] nesse último período - ainda que não tenha sustentado o programa histórico das transformações - possibilitou que fosse barrado um conjunto de iniciativas ofensiva neoliberal que ficou marcada pelo governo de Fernando Henrique. [Ou seja] as ofensivas das privatizações, a ofensiva contra os direitos trabalhistas. Portanto, nós temos que fazer uma fortíssima campanha para impedir que a direita retome essa condição de força e consiga derrotar esse acúmulo que foi obtido nesses últimos anos.

Como a Consulta avalia a votação obtida pela Marina?

A votação expressiva da Marina é algo que precisa ser melhor compreendida porque a candidatura dela tem vários temas importantes como no papel geopolítico do Brasil, a questão agrária e os direitos trabalhistas. É uma candidatura que se manteve bastante ambígua, para não dizer que em alguns momentos chegou a esboçar várias propostas conservadoras.

Portanto, o voto acumulado pela Marina, embora tenha arrebanhado um conjunto de setores sensíveis ao discurso ambiental e a um processo de desenvolvimento que seja sustentável, também foi um voto que sinalizou um protesto e um descontentamento de uma parcela que se sente frustrada pelo governo Lula não ter avançado e implementado aquelas medidas históricas do programa democrático e popular do PT. O voto da Marina canaliza esse conjunto de eleitores, embora com um discurso bastante ambíguo e incerto.

E qual é a avaliação sobre a composição do Congresso? Nas eleições para o Senado, por exemplo, o PT passou de oito para 14 cadeiras. O DEM tinha 13 e agora tem seis e o PSDB, tinha 14 e agora 11.

Isso sem dúvida é um avanço importante, ainda mais porque o Senado sempre foi o bastião do pólo conservador. Obter um avanço no Senado é um passo importante, mas ainda é um avanço insuficiente, pois ainda existe uma forte presença conservadora na Casa. No quadro geral é uma perspectiva promissora. Também me parece que na Câmara houve certo avanço dos partidos que tem um compromisso histórico das lutas populares.

E qual a expectativa para a campanha presidencial do 2º turno?

Nós estamos ouvindo o conjunto da coordenação nacional e até o momento há uma forte unanimidade de que a gente tenha uma orientação clara e firme de todo esforço militante. Agora é hora de voltarmos à rua, voltarmos com a militância, retomarmos as atividades de campanha e, principalmente, de conseguirmos articular com aqueles setores e aqueles companheiros e companheiras que acabaram votando na Marina ou em outros partidos e propostas não vinculadas à candidatura Serra.

Então é hora de tentar aglutinar esses setores, somar o máximo de energia, porque nós não podemos permitir a vitória do Serra. A vitória do Serra é uma derrota para classe trabalhadora. Por isso que nesse momento temos que procurar esse eleitorado, conversar com ele e demonstrar o perigo de uma vitória da direita. E esse perigo real tem que ser enfrentado de uma forma bastante militante. A campanha nessa fase entra numa fase militante.

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Bispos promovem "manipulação eleitoral"

Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, intitulado "Regional Sul da CNBB trabalhou contra voto ao PT", publicado no jornal Valor:

Incrustado na Zona Sudeste da cidade de São Paulo, o Parque São Lucas esconde a única igreja do Brasil da Congregação do Oratório São Filipe Neri. Fundada pelo padre Aldo Giuseppe Maschi em meados do século passado, a igreja até hoje realiza missas em latim, abolidas mundialmente pelo Concílio Vaticano II, em 1963. Na sexta-feira, o jovem padre Paulo Sampaio Sandes rezou a missa da tarde, de costas para os fieis, com a concessão ao português de três Aves Marias e uma Salve Rainha. O coro, de cinco beatas, também preferiu o latim.

O padre Paulo faz parte de uma congregação tradicional, é contra o aborto, a união civil de homossexuais e a adoção de crianças por casais de homossexuais. Entendeu a recomendação da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como uma ordem: expor, na homilia, no dia da eleição, o suposto veto da Igreja Católica à candidata Dilma Rousseff (PT), estendido a todos os candidatos do Partido dos Trabalhadores, e distribuir, na saída da missa, a carta onde explicitamente a regional descarta o voto católico nos candidatos que defendem o aborto, em especial, e nomeadamente, nos petistas. "No dia das eleições eu vou distribuir a carta lá fora, mas a carta é muito explícita em relação aos candidatos, não vou falar o nome deles na homilia", disse o padre, depois da missa, confessando constrangimento com a determinação da Regional. "O próprio Dom Odilo Scherer diz que não devemos falar de nomes de candidatos".

A recomendação da Regional Sul 1, que abrange as dioceses do Estado de São Paulo, foi uma "trama", segundo o bispo de Jales, Demétrio Valentini, da Regional Sul I da CNBB, urdida de forma a induzir os fiéis paulistas a acreditarem que a CNBB nacional impôs um veto aos candidatos do PT nessas eleições. "Estamos constrangidos, pois a nossa instituição [a Igreja] foi instrumentalizada politicamente com a conivência de alguns bispos".

A regional recomendou às paróquias que distribuíssem o "Apelo aos Brasileiros", uma longa carta em que acusa o PT de, mancomunado com o "imperialismo demográfico" representado por fundações norte-americanas que financiam programas de controle familiar, apoiar o aborto, e pediu aos padres que "alertassem" os fiéis para não votarem na candidata a presidente Dilma Rousseff, nem em qualquer outro petista. "A Presidência e a Comissão Representativa dos bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua reunião ordinária, acolhem e recomendam a ampla difusão do apelo a todos os brasileiros e brasileiras elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1", dizem o site da regional e o site da diocese de Guarulhos.

O presidente da Sul 1 da CNBB, Dom Nelson Westrupp, não respondeu a questões que foram enviadas pelo Valor por e-mail por orientação da sua assistente, Irmã Maurinea. O bispo de Guarulhos, Dom Luis Gonzaga, um dos articuladores do movimento antipetista na Igreja, em julho, no artigo "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", recomendou "aos verdadeiros cristãos católicos" não votarem em candidatos que apoiam o aborto e, em especial, recusarem o apoio a Dilma e ao PT.

Do ponto de vista da hierarquia católica, a recomendação e o documento dos dirigentes da Regional Sul da CNBB não têm validade. No dia 16, a Conferência deixou claro isso, numa nota oficial: "Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País", diz.

O cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, em 20 de agosto, enviou um comunicado a todos os padres de dioceses esclarecendo que os representantes da Igreja não devem se envolver publicamente na campanha partidária, nem "fazer uso instrumental da celebração litúrgica para expressão de convicções político-partidárias". Sugere que orientem os fiéis a votarem em candidatos afinados com os princípios cristãos, "sobretudo no que diz respeito à dignidade da pessoa e da vida, desde a sua concepção até à sua morte natural", mas alerta para que não indiquem nomes.

Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales, foi o bispo que reagiu de forma mais direta e clara ao que chama de "trama" da Regional Sul 1 da CNBB. À sua diocese, tem encaminhado sucessivos artigos contra o documento da regional. "Não é bom para a democracia que alguns decidam pelos outros (...) Mas é pior ainda para a religião, seja qual for, pressionar os seus adeptos para que votem em determinados candidatos, ou proibir que votem em determinados outros em nome de convicções religiosas (...) Portanto, seja quem for, bispo, padre, pastor, ninguém se arrogue o direito de decidir pela consciência do outro, intrometendo-se onde não lhe cabe estar", no artigo "Pela liberdade de consciência", divulgado no dia 19.

A CNBB nacional acabou encerrando sua participação no episódio com a nota em que desautoriza qualquer decisão contrária à da Assembleia Geral, que não vetou candidatos ou partidos. A direção da Conferência está em Roma. Em São Paulo, remanescentes da Igreja progressista estão pasmos. "Nunca houve uma campanha eleitoral com tanta manipulação da religião", lamenta um deles, lembrando que isso aconteceu também, e fortemente, com a Igreja Evangélica.

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Ciro Gomes propõe enfrentar a mídia

Reproduzo entrevista concedida ao jornalista João Peres, publicada na Rede Brasil Atual:

Ciro Gomes está de volta à vida eleitoral? Difícil dizer. O deputado federal assegura que será um cabo eleitoral de Dilma Rousseff na disputa do segundo turno, mas evita entrar em detalhes.

Em se tratando do ex-ministro da Integração Nacional, a única certeza é de que surpresas não são exceção. Em entrevista à Rede Brasil Atual, Gomes garante que não guarda nenhum ressentimento de ter sido preterido pelo presidente Lula na disputa ao Planalto, mas admite ter sentido uma grande tristeza que, garante, já passou.

O deputado, que ficou uma temporada fora do país para curar as mágoas, esteve nesta segunda-feira (4) na reunião que reuniu parte importante da base aliada ao governo na discussão dos rumos da campanha do segundo turno. O ex-ministro mostrou que há uma característica sua que não muda: a língua afiada. Confira a entrevista:

Qual será seu papel no segundo turno na campanha de Dilma?

Sou cabo eleitoral no Ceará.

E no resto do Brasil? O senhor é uma personalidade de projeção nacional.

Estou 100% à disposição para participar desse debate porque o Brasil está acima de tudo. Todo mundo sabe que fiquei muito triste por ver frustrada minha justa intenção de participar desse debate, mas para mim está tudo superado e o mais importante é ajudar o povo brasileiro a ver com serenidade qual o melhor caminho para o país. E estou seguro que o melhor caminho é a Dilma.

Dilma deixou muito marcado o tom de comparação entre os dois governos (FHC e Lula). E que agora é hora de enfatizar essa comparação. É esse o caminho?

Esse é um dos caminhos, mas é preciso também compreender porque 20% dos brasileiros, tudo gente boa, da melhor intenção, tudo gente progressista, trabalhadora, amada, porque não veio conosco no primeiro turno. Por que foi com a Marina? O que a Marina interpretou? Acho que uma certa frouxidão do PSDB acabou sendo replicada por certa frouxidão do PT, e tem uma parte de nós, brasileiros, que não gostamos dessa frouxidão.

Sei disso porque uma parte dessas pessoas já votou comigo em outras ocasiões. É classe média, estudante, jovens, gente preocupada com alguma intransigência. Não é de intolerância que estou falando, mas de intransigência em matéria de comportamento político.

Uma das questões que se tocou aqui é sobre quanto os boatos espalhados na reta final tiraram votos de Dilma. Esses boatos, ao serem disseminados por parte da imprensa, foram importantes nisso?

Perifericamente. Boato só prospera onde há perplexidades, vácuos, vazios. Como essa questão do aborto. É complexa, é delicada. Interagem com esse assunto questões religiosas, questões morais, éticas, sanitárias, emocionais, psicológicas. Questões terríveis.

E os políticos, por regra, detêm um oportunismo muito rasteiro a respeito deste assunto. Acho que esse é o vácuo. Quando você tem um vácuo e não tem clareza, o boato acaba prosperando mais do que devia.

E, claro, há o papel de uma parte da imprensa brasileira. E isso não é novidade, não temos que nos assustar com isso. Quem se enganou foi quem imaginou que haveria essa cordialidade que eu sempre soube que não haveria. Uma parte da imprensa brasileira tem preferência, o que é legítimo.

Apenas deveríamos ajudar o eleitor brasileiro a saber que a Veja é reacionária. É direito do povo brasileiro saber que a Veja é reacionária. A Veja deve existir, deve fazer o que bem entender. Se passar da conta, temos um sistema democrático que garante reparos no Judiciário, mas nada de ir contra a imprensa. A imprensa é sagrada para nós, democratas.

A Veja passou da conta no primeiro turno?

A Veja? A Veja passa da conta. Vive a serviço do que há de mais espúrio na sociedade brasileira. É isso que a gente deve explicar para as pessoas. Que a Veja tenha longa vida, mas que todos fiquem sabendo que a Veja não é uma observadora neutra da vida brasileira: ela está a serviço dos interesses internacionais, da privataria, da escória brasileira. Isso sempre foi. Desde que a turma de melhor nível saiu, virou isso (referindo-se a jornalistas mais antigos). Um instrumento de achaque.

Para a campanha de Dilma, como é melhor lidar com essa contra-informação?

Falar com o povo. Sincera e humildemente. Falar com o povo. Enfrentar. Isso sou eu que estou falando. Essa cordialidade só ajuda àquelas pessoas que têm as ferramentas clandestinas de mentir contra a vontade popular.

Resta algum ressentimento por ter sido preterido nessa disputa?

Não. Não tive ressentimento em momento algum. Tive muita tristeza, que é mais amargo do que ressentimento. Mas já passou.

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Marina... você se pintou?

Reproduzo artigo de Maurício Abdalla, professor de filosofia da UFES, publicado no sítio da Adital:

"Marina, morena Marina, você se pintou" - diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o "grito da Terra e o grito dos pobres", como diz Leonardo Boff.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua.

Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as "famiglias" que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas "os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz". Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. "Azul tucano". Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a "vitória da Marina". Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

"Marina, você faça tudo, mas faça o favor": não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você "tanto faz". Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem "esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele".

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas, Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. "Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu".

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"Os votos de Marina vão se dispersar"

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Conversei ontem com o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas Francisco Fonseca. O assunto: o segundo turno e o fator Marina Silva. Gravei com ele uma entrevista para o “Jornal da Record”. Mas, na TV, ainda mais em matérias rápidas feitas para o mesmo dia, aproveitamos sempre trechos muito pequenos de entrevistas que, muitas vezes, são riquíssimas. Então, descrevo aqui a análise de Francisco sobre a eleição.

1) A votação de Marina não foi assim tão “surpreendente”; segundo ele, só surpreendeu porque jornalistas e analistas, no Brasil, tem o hábito de transformar pesquisa em oráculo; pesquisas, segundo ele, erram muito porque não apreendem movimentos menos aparentes, e não captam a cristalização dos votos que, no Brasil, se dá (em amplos setores) somente 24 horas antes da eleiçãoi.

2) O professor lembra que em países como a França existem restrições à divulgação das pesquisas nos últimos dias da campanha (no Brasil, e aí sou eu que digo, as restrições vem só de candidatos como Richinha, agora eleito, e que barrou várias pesquisas no Paraná).

3) Francisco Fonseca acha que a imprensa está sobrevalorizando o papel de Marina Silva no segundo turno. O eleitorado de Marina é muito heterogêneo: ela teve apoio de jovens ambientalistas, de gente mais à esquerda descepcionada com o PT, e na reta final ganhou também muitos votos conservadores - de quem se deixou levar por esse tema do aborto. Por isso, diz o professor, “os votos de Marina devem se dispersar em três segmentos: uma parte vai para brancos e nulos (é o povo da terceira via, mais jovem, que realmente não quer PT nem PSDB), outra parte vai para o Serra e outra ainda para a Dilma”.

4) “Ainda que esses votos sigam numa proporção maior para Serra, não seriam suficientes para que o candidato tucano virasse a eleição”.

5) Perguntei ao professor se Serra não poderia tirar votos da própria Dilma, ou seja: se a petista não poderia continuar “sangrando”. Ele disse que, historicamente, é muito dificl reduzir os votos de um candidato entre o primeiro e o segundo turno. “O que aconteceu com Alckmin em 2006 foi uma anomalia, e ainda assim ele teve uma redução muito pequena. Serra precisaria ganhar muitos leitores de Dilma, e ainda conquistar três quartos do eleitorado de Marina, acho muito dificil que isso aconteça”.

Bem, essa é a análise do professor Francisco.

Agora, os números.

Dilma ficou a 3,1% da vitoria em primeiro turno. Teve 46,9%. Em números de votos: 47,6 milhões de votos, num total de 101 milhões de votos válidos.

Ela precisa conter a sangria vinda dos boatos religiosos. Se essa contenção for bem sucedida, bastaria a Dilma conquistar mais 3 milhões de votos para vencer.

Pesquisas mostram que o eleitorado de Marina estaria dividido sobre o segundo turno: cerca de 50% preferem Serra (principalmente em São Paulo e no Rio), 20% votariam branco ou nulo porque não topam PT nem PSDB. E 30% preferem Dilma aos tucanos (é o eleitorado mais progressista, que já votou no PT no passado, decepcionou-se, mas não quer a volta dos tucanos).

Ou seja: dos 20 milhões de votos que foram para Marina no primeiro turno, Dilma poderia ter cerca de 6 milhões de votos. Há que se levar em conta ainda 1 milhão de votos dados para a esquerda (Plinio e outros). Esse colchão de 7 milhões de votos levaria Dilma para perto de 54 milhões de votos.

Serra, que teve 33 milhões de votos no primeiro turno, poderia chegar a 43 milhões se consquistasse mesmo metade do eleitorado de Marina. A dúvida é: Serra será capaz de convencer também os marinistas que não querem saber de tucanos e petistas (cerca de 4 milhões, ou 20% do eleitorado de Marina no primeiro turno)? Se conseguir trazer esse votos, ele se aproximaria mais de Dilma, ainda que a candidata do PT siga como favorita.

Na melhor das hipóteses para Serra, o jogo do segundo turno começaria assim:

- Dilma – 54 milhões de votos (cerca de 54% dos validos)

- Serra – 46 milhões de votos (cerca de 46% dos válidos).

As primeiras pesquisas devem mostrar mais ou menos esse quadro, talvez com Serra mais perto dos 40%.

Qual a estratégia possível para Serra? Conquistar 0 máximo que puder dos eleitores de Marina, e ainda sangrar Dilma (especialmente nos setores populares e na classe C – mais suscetível, ao que parece, à boataria religiosa). Como faria isso? Aprofundando o terrorismo religioso, aumentando as dúvidas sobre Dilma.

O problema para Serra é que, se fizer isso, ele pode perder eleitores da classe média urbana – que votou em Marina mas que não apóia o fundamentalismo religioso. Se caminhar muito pra direita, Serra perde o voto de “centro” que votou em Marina, e que poderia virar voto nulo.

A saída para Serra: terceirizar o terrorismo e posar de bonzinho nos debates. Deve ser esse o caminho dele. Pode dar certo? No limite, até pode. Mas é muito difícil.

E Dilma?

Dilma só não pode errar muito. Errar é demorar para captar os boatos e as imagens que se disseminam pela internet e pelas ruas (o comando da campanha não deu atenção devida a esse fator no primeiro turno). Errar é começar o segundo turno cercada de políticos pesos pesados do Brasil inteiro, mas na hora de falar para o público ter à mão um microfone que não funciona. Ninguém entendia o que Dilma falava! Errar, por fim, é dar entrevista para o “JN” mal maquiada, mal ajambrada e cansada – como Dilma fez ontem.

O resumo da ópera é o seguinte: Dilma segue como franca favorita. O bombardeio midiático tirou um pouco de votos, mas isso não foi o importante. O grave foi que a campanha terrorista (e menosprezada pelo comando lulista, apesar do que dizíamos aqui nos blogs) religiosa conseguiu levantar dúvidas sobre o perfil pessoal da candidata. Isso é um fato.

Serra obteve do eleitorado o benefício da dúvida - ainda que usando métodos horríveis, e contando com a ajuda de Marina e com a falta de reação do PT.

Apesar disso tudo, Dilma tem Lula. Lula é a vitória. Lula precisa aparecer mais. A comparação de Lula com FHC é fatal para Serra. E foi pouco usada no primeiro turno. Lula só não pode ser professoral, e dizer ”eu sei o que é melhor pra vocês, votem na Dilma”. Não pode dizer que partido da oposição “precisa ser extirpado”. Não. Ninguém quer oposição extirpada. Dilma e Lula podem (e devem, na opinião desse humilde blogueiro) derrotar a oposição. Mas não extirpá-la.

Lula precisa convencer, com humildade, o eleitorado que tem enorme simpatia por ele. Brasileiro gosta de humildade associada à firmeza; Lula sabe muito bem como fazer isso.

O PT só não pode achar que já ganhou, nem menosprezar adversário – como digo aqui há 3 meses. Isso deu no “Maracanazo” em 1950. Derrota de Dilma nessa eleição só ocorre se houver um Maracanazo” – uma pane geral na campanha.

Tudo conspira a favor de Dilma, apesar dos erros cometidos na reta final do primeiro turno. E não vejo do lado tucano um Giggia avançando pela ponta direita pra marcar 2 a 1.

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Aborto é armadilha da direita

Por Altamiro Borges

Nas manchetes dos jornalões e nos monólogos da televisão, a direita tenta forçar a candidatura Dilma Rousseff a discutir unicamente o tema do aborto. A mídia evita tratar dos grandes temas nacionais, das diferenças abissais de projetos entre os dois concorrentes no segundo turno, e se esforça para impor uma pauta carregada de ignorância, preconceitos e dogmas religiosos.

A armadilha é visível. Na campanha, Dilma tratou o tema como uma questão de saúde pública, evitando visões simplistas. Já o demotucano Serra até poderia ser mais facilmente prejudicado pelos preconceitos. Como ministro da Saúde de FHC, ele liberou o uso da “pílula do dia seguinte”. Em 1998, ele também foi demonizado pela cúpula da Igreja Católica por normatizar a realização do aborto nos casos previstos em lei. Agora, ele simplesmente foi poupado pela direita e sua mídia.

A demonização de Dilma

Entre as baixarias da campanha da direita, muitos avaliam que este tema foi um dos responsáveis pelas surpresas nos últimos dias do primeiro turno – queda de Dilma Rousseff, identificada com as lutas feministas, e crescimento de Marina Silva, evangélica e conservadora. Serra, blindado pela mídia, acabou se beneficiando da polêmica travada entre as duas candidatas mulheres.

O jogo sujo foi pesado. A Regional Sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que contempla São Paulo, divulgou documentonas missas em que “recomenda encarecidamente” que não se vote em Dilma por ser “contra a vida”. Pela internet, um culto da Igreja Batista de Curitiba, visto por quase 3 milhões de pessoas, mostra cenas fortes de fetos mortos e despedaçados e o pastor pedindo que não se vote na petista, que “defende o aborto e o casamento gay”.

Campanha fascista de boataria

O impacto desta boataria foi corrosivo. Marcelo Déda, reeleito em Sergipe, garante que “a queda de Dilma e o crescimento de Marina no final se deveu ao recrudescimento do fundamentalismo religioso. É o efeito do púlpito nas igrejas”. No mesmo rumo, Eduardo Campos, reeleito em Pernambuco, afirma que “nos últimos 15 dias, especialmente, houve uma campanha fascista de boataria”. O senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, lembra que “o pastor pode ter dificuldade para conseguir votos dos fiéis. Para tirar voto, o efeito é inverso”.

Apesar de vários alertas – o blogueiro Rodrigo Vianna foi um dos primeiros a advertir sobre os estragos nas bases católicas e evangélicas –, a comando de campanha de Dilma, sempre muito hermético, não percebeu o efeito nefasto da onda de boatos. Agora, finalmente ele reconhece que subestimou o tema. “Foi uma campanha perversa, com inverdades sobre o que penso, o que digo. Vamos fazer um movimento no sentido de esclarecer com muita tranqüilidade nossas posições... A gente percebeu tarde, mas percebeu”, explica a candidata.

Da cegueira ao exagero

O comando de campanha afirma agora que a reconquista destes votos passou a ser prioridade no segundo turno. Ou seja, de um extremo ao outro – da cegueira ao exagero. De fato, é necessário esclarecer a sociedade, principalmente os setores religiosos mais conservadoras. Mas este não é o principal tema da campanha, nem sequer para os movimentos feministas mais lúcidos. Deve-se evitar a armadilha imposta pela direita. O que está em debate na sucessão é o futuro do Brasil.

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E agora, Marina?

Reproduzo artigo de Mair Pena Neto, publicado no sítio Direto da Redação:

Nas primeiras eleições presidenciais pós-ditadura, em 1989, quando perdeu para Lula o direito de disputar o segundo turno contra Collor, Brizola, apesar do enfrentamento direto que teve com o petista na primeira fase do processo, não hesitou sobre que lado tomar. Foi quando cunhou a frase de que seria fascinante fazer a elite engolir o “sapo barbudo” e apoiou Lula, transferindo alguns dos milhões de votos que teve no primeiro turno.

Em um momento crucial para o país, que elegia seu primeiro presidente após 25 anos de ditadura, não havia meio termo. Ou se estava ao lado da candidatura das forças populares, naquele segundo turno, representadas por Lula, ou se estava com as elites e o “filhote da ditadura”, como Brizola, em mais uma de suas históricas tiradas, classificou Fernando Collor. Em toda a sua trajetória política, Brizola jamais teve dúvidas ideológicas. Principalmente, no momento das grandes decisões para a vida do país.

Agora, o Brasil volta a viver uma situação de encruzilhada. O segundo turno das eleições presidenciais terá o caráter plebiscitário que Lula quis apresentar desde o início. O que estará em jogo são dois projetos antagônicos. Um, representado por Dilma Rousseff, baseado no fortalecimento do Estado e na sua capacidade de promover o crescimento com redução das desigualdades. O outro, personificado por José Serra, pró-mercado, privatista, que entende o Estado apenas como gerente e não vê sentido em programas sociais de grande alcance, como o Bolsa Família.

Novamente, não há meio termo ou terceira via. Ou é um ou é outro. É nesta hora que se pergunta se Marina Silva, responsável por levar a eleição ao segundo turno, terá a grandeza de Brizola, se irá se aproximar da direita, ou, pior ainda, se amiudará politicamente e tomará a posição conveniente e covarde da neutralidade.

Marina também está numa encruzilhada. Sua votação acima do esperado e não captada em sua verdadeira dimensão por nenhum instituto de pesquisa a alçou a um novo patamar político. E nesta nova condição, ela precisa tomar partido na completa acepção do termo.

A partir de sua decisão tomaremos conhecimento de quem é a Marina que sai dessas eleições. Se a seringueira forjada pela luta de Chico Mendes, a ex-militante histórica do PT e ex-ministra do governo Lula, que sempre participou das lutas populares ao lado das forças da esquerda, ou uma evangélica conservadora, apoiada num confuso discurso ambientalista, com mais aceitação no empresariado do que na população.

Marina, não há dúvidas, foi a maior beneficiária da sucessão de “escândalos” midiáticos e da exploração eleitoral nas últimas semanas de campanha da fé das pessoas, através da disseminação em púlpitos e pela internet de temores envolvendo aborto e união de homossexuais, onda que aproveitou sem maiores questionamentos.

Com o segundo turno, tem a oportunidade de mostrar que é bem mais do que isso e se posicionar no espectro político que sempre defendeu, comprometido com um Brasil socialmente mais justo. A neutralidade nesse momento é uma não tomada de posição e será entendida como preocupação exclusiva com um projeto político pessoal, em detrimento do que é melhor para o povo brasileiro.

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Aborto, casamento gay e outras baixarias

Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado em seu blog no sítio da Revista Fórum:

Hoje pela manhã Nice, a pessoa que duas vezes por semana organiza a casa deste jornalista-blogueiro, me disse que muita gente do bairro dela havia mudado o voto porque nos bares, nas igrejas, em vários lugares públicos havia sido pregado um cartaz dizendo que Dilma defendia o aborto, o casamento gay e a maconha e outras coisas.

Disse que sabia que isso tinha acontecido e fui embora tocar a vida na redação da Fórum. Na verdade não sabia que isso havia acontecido. Vejam o cartaz abaixo e depois continuem a ler este post.



Agora há pouco o Alê Porto, que tem um blogue bem legal e está sempre atento nos dados das pesquisas, deu uma tuitada com essa imagem aí de cima. Segundo ele, este panfleto foi colocado em caixas de correio e distribuido de porta em porta em alguns bairros.

O Rodrigo Vianna foi o primeiro blogueiro a alertar para essa campanha que vinha se disseminando pela internet. Aliás, há quem ache que foi isso que o tal indiano esquisito que deu consultoria pro Serra veio fazer aqui. Ele organizou um bom banco de dados pra disseminar boatos virais. Faz todo sentido. Acho que a consultoria que ele veio dar começa a ser entendida.

O site do tucano virou apenas um lugar onde as pessoas se cadastravam. Depois disso iniciaram-se os ataques morais. E a coisa foi ganhando volume até que a campanha ganhasse panfletos como este de cima.

Enquanto isso, a campanha de Dilma na internet ficava tentando organizar onda vermelha no tuiter e postando informações do que acontecia nos comícios. Não quero transformar a campanha de Dilma na net em responsável por essa ida ao segundo turno, mas é importante ressaltar que ela desprezou completamente a blogosfera progressista. Não conheço ninguém que tenha sido procurado para conversar sobre qualquer coisa relativa à campanha da petista. E havia muita gente que poderia colaborar.

Se tivessem, por exemplo, conversado com o Rodrigo Viaana, pudessem ter pensado em algo para segurar essa onda viral que depois chegou nos grotões a partir do boca-a-boca e de panfletos como o daí de cima.

Neste segundo turno o jogo talvez seja ainda mais baixo. Por isso é importante se organizar, mas ao tempo tentar ouvir e envolver o maior número de pessoas para buscar as melhores estratégias em todas as áreas da campanha.

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No mundo em rede, o PT é jurássico

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

Escrevi, muito antes da eleição brasileira, um artigo em que descrevia a campanha eleitoral dos Estados Unidos em 2008 — eu morava em Washington, então.

Lá, a máquina de moer carne republicana fatiou Barack Obama com o objetivo de atender a preconceitos latentes nos eleitores estadunidenses:

1. Barack Obama, o muçulmano (cujo vice era satanista);

2. Barack Obama, que não nasceu nos Estados Unidos (“o búlgaro”);

3. Barack Obama, associado a um pastor “radical” (lutou contra o regime militar);

4. Barack Obama, o terrorista (recebeu em casa, uma vez, Bill Ayers, que havia integrado um grupo que jogou bombas no Pentágono e no Congresso);

5. Barack Hussein Obama, cujo sobrenome denotava submissão a bin Laden.

6. Barack Obama, que estudou em uma madrassa (a escola religiosa islâmica).

Pouco importava, então, se isso tinha ou não relação com a realidade.

O objetivo, como escrevi, era ter um boato, uma ilação, uma suposição para se encaixar em cada um dos preconceitos já existentes no eleitorado.

Não disseram que Obama era gay, mas disseram que ele apoiava o casamento gay.

Como a campanha de Obama enfrentou a onda de boatos, mentiras, ilações e suposições?

Montou um site na internet exclusivamente dedicado a combater os boatos. Quando o internauta desse um Google atrás da informação, tinha um contraponto à máquina republicana de moer carne.

Além disso, Obama montou uma força-tarefa de militantes virtuais e advogados exclusivamente dedicada a combater os boatos, tentar identificar a origem deles e ingressar na Justiça com as medidas cabíveis.

Por que?

Porque vivemos no mundo da informação instantânea. Porque vivemos no mundo em que aqueles que tem acesso às tecnologias da informação se transformaram em produtores e disseminadores de conteúdo, para o bem e para o mal.

Uma mentira disseminada na internet tem o potencial de se replicar N vezes antes que você seja capaz de articular uma resposta.

No dia do primeiro turno, assisti a um debate inócuo e cheio de lugares-comuns na Globonews. O objetivo do debate era óbvio: dizer que a TV era a grande formadora de opinião e que o papel da internet era ínfimo.

Bobagem. A disseminação de boatos a respeito de Dilma Rousseff pode ter tido um papel central no período que precedeu o primeiro turno.

E o PT com isso? E a campanha de Dilma Rousseff com isso?

Nada.

O PT e a campanha de Dilma são jurássicos, quando se trata do uso da rede para combater a boataria.

O PT ainda é refém do ciclo de notícias dos jornais diários.

Aliás, o partido é fiador da mídia que investiu na destruição de seus candidatos.

Na campanha atual, de Dilma Rousseff, concedeu privilégios em três oportunidades a um repórter da TV Globo, que fez o perfil que estrelou o Jornal Nacional da véspera da eleição. O acesso a Dilma deu legitimidade ao perfil de Marina Silva, uma superprodução hollywodiana que estrelou o JN de sábado passado, com objetivos óbvios.

Aliás, no comício de encerramento da campanha de Dilma em Porto Alegre, um repórter da revista Veja teve acesso privilegiado ao palco.

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Uma luta de sentido histórico

Reproduzo editoral do sítio Vermelho:

A eleição presidencial será decidida no segundo turno no dia 31 de outubro. Com alto índice de participação popular, foram computados mais de 111 milhões de votos válidos. Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, obteve 46,91% , José Serra, do PSDB, 32,61% e Marina Silva, do PV, 19,33%. Outros candidatos somados pontuaram pouco mais de 1%.

O resultado não surpreende, porquanto nos últimos dias da campanha foram detectados sinais de leve erosão nas intenções de voto em Dilma e de crescimento de Serra e Marina, sobretudo desta última. E não foge ao padrão das duas eleições anteriores, em que Lula teve que passar pela prova do segundo turno para eleger-se (2002) e reeleger-se (2006).

Obviamente, o resultado contraria as expectativas das forças democráticas e populares, cuja palavra de ordem era vencer já no primeiro turno.

A superioridade de Dilma Rousseff, de mais de 14 pontos percentuais sobre seu adversário, corresponde à ampla base de apoio popular de sua candidatura e é uma clara expressão da existência de uma maioria em favor da continuidade das mudanças iniciadas no Brasil a partir de 2003. Tem plenas condições de no segundo se transformar em maioria absoluta e conferir ao novo governo o necessário apoio à realização de seu programa democrático e patriótico.

As forças progressistas e do movimento popular engajadas na campanha de Dilma vão enfrentar o segundo turno, como disse a candidata, com garra e energia.

Nas próximas semanas será necessário intensificar o debate político e a mobilização popular. Não se ganha eleição antecipadamente, apenas através do monitoramento das pesquisas e do bom manejo das técnicas de “marketing político”. Uma batalha política da envergadura de uma eleição presidencial só pode ser vitoriosa com uma postura política ofensiva. A vitória nas urnas tem que partir das ruas, do corpo a corpo com o eleitor, da discussão franca, simples, direta e profunda com o povo, tocando fundo sua mente e seu coração.

Mais do que nunca é preciso ter a consciência aguda do que está em disputa. Dois projetos diametralmente opostos estão em jogo e é em torno destes que se decidirá o futuro do país. De um lado, está a possibilidade de o Brasil continuar trilhando o caminho do fortalecimento da democracia, da soberania nacional e da afirmação dos direitos do povo. Esta bandeira está nas mãos de Dilma Rousseff e das forças que a apoiam, que podem e devem alargar-se ainda mais no segundo turno. Do outro está a submissão do país ao imperialismo, a restrição da democracia, o ataque aos direitos do povo, a criminalização dos movimentos populares e a degradação das condições de vida de milhões de brasileiros.

É um embate político em campo aberto, uma luta de sentido histórico a que a imensa legião de militantes das forças progressistas e de esquerda não se irá furtar.

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