Reproduzo artigo de Sônia Corrêa, publicado no blog Coisas da Soninha:
Desde o meu primeiro post neste blog, fiz questão de deixar claro que este não seria um espaço destinado a este ou aquele tema especificamente. O tema central do meu blog seriam os temas centrais da minha vida.
Logo, aqui eu falo de futebol, de música, de minhas alegrias e angústias, dos valores que possuo e, também, com muita ênfase, falo de política. Não de política partidária, apesar de eu ser filiada a um Partido há mais de 26 anos. Defendo minhas convicções políticas, sou socialista e, posso dizer hoje que sou uma militante da democratização da comunicação. Por isso, este tema também passeia por aqui.
Entendo que a verdadeira revolução da informação democrática promovida pela internet tem produzido um debate extremamente contundente, com resultados favoráveis às forças progressistas. A batalha de ideias ganhou um poderoso espaço que nos permite falar a milhares. É a comunicação e o debate de ideias caminhando juntos, através de um instrumento (ainda) acessível a uma imensa gama de formadores de opinião.
É neste espectro que a blogosfera vai ganhando corpo e jogando papel de destaque. Gostaria de sublinhar este protagonismo que os blog’s vão assumindo em nosso país, marcado pela gigantesca influência da chamada grande mídia, que, até então, falava sozinha e sem contraponto para toda nossa sociedade.
Estes novos canais comunicacionais, designados de blog’s, passam a integrar o espaço de informação, apresentando fatos em versões multilaterais, integrando e agregando à notícia, o olhar das forças populares, antes tão escondidos que chegavam a inexistir.
As recentes eleições ocorridas no Brasil constituem um divisor de águas. Aliás, foi isso mesmo que a blogosfera promoveu. Fez água nos planos daqueles que antes eram os únicos a falar ao povo brasileiro. Tuiteiros e blogueiros formaram um verdadeiro exército virtual que militou com muita firmeza no desmonte da boataria, baixarias e mentiras surgidas durante a campanha.
Quem, como eu, militou em 1989 e presenciou – como caxiense – a farsa montada num comício naquele município, ou ainda no seqüestro de Abílio Diniz, entre outros “fact’s”, é capaz de compreender a importância da existência dos blog’s e twitter’s no combate a boataria. Durante a campanha, José Serra, apoiado na grande mídia, atacou com ferocidade a blogosfera e, em um de seus discursos acusou os "blogs sujos" que fizeram, via rede, o contraponto da sua campanha. E, como todos sabem, ninguém chuta cachorro morto.
Na semana que passou (24/11) o Brasil assistiu, ao vivo, um momento histórico, onde o Presidente Lula, que tantas vezes serviu de alvo impetuoso e tortuoso da mídia oligárquica no país e, consciente do papel desempenhado pela blogosfera, concedeu uma entrevista inédita aos blogueiros progressistas. Lula, que aliás, durante a campanha, chegou a produzir um vídeo conclamando a blogosfera a se somar na luta de ideias através de seus instrumentos da internet.
Participaram da entrevista com o Presidente Lula, os blogueiros Altamiro Borges, do Blog do Miro, Renato Rovai, do Blog do Rovai, Leandro Fortes, do Blog Brasília, eu vi, José Augusto Duarte, do Blog Os Amigos do Presidente Lula, Túlio Viana, do Blog do Túlio Viana, Pierre Lucena, do Blog Acerto de Contas, William Barros, do Blog Cloaca News, Altino Machado, do Blog Altino Machado, Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, Rodrigo Vianna, do Blog Escrevinhador e Conceição Oliveira, do Blog Maria Frô.
Com base neste entendimento, entre 20 e 22 de agosto passado tive a honra de participar do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas.
Agora, com muito orgulho, componho a comissão que está organizando o 1º Encontro de Blogueiros do Rio Grande do Sul, que acontecerá nos dias 01, 02 e 03 de abril de 2011- e a mesa de abertura já está confirmada: será com Altamiro Borges, do Blog do Miro, que é o presidente do Centro de Mídia Barão do Itararé com o tema “Panorama da blosgosfera brasileira: histórico e desafios”.
Todos estão chamados a participar e contribuir. A blogosfera não tem dono, não tem chefe, não tem patrão. Nossa organização visa constituir um espaço de troca, de compartilhamento, de ideias e de tecnologias.
.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
BBB-11 e o fracasso da ética
Reproduzo artigo de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:
Mais algumas semanas e a TV Globo estará colocando no ar seu programa de maior audiência no verão brasileiro: Big Brother Brasil 11. Sucesso de público, sucesso de marketing, sucesso financeiro, sempre na casa dos milhões de reais. Fracasso ético, fracasso de cidadania, fracasso de respeito aos direitos humanos fundamentais.
A data já foi confirmada: 11 de janeiro, uma terça-feira. O prêmio será de R$ 1,5 milhão para o vencedor. O segundo e terceiro lugares levam, respectivamente, R$ 150 mil e R$ 50 mil. As inscrições para a próxima edição do BBB já estão encerradas. Ao todo, nas dez edições, foram 140 participantes. E já foram entregues mais de R$ 8,5 milhões em prêmios. Balanço raquítico, tanto numérico quanto financeiro para seus participantes, para um programa que se especializou em degradar a condição humana.
Aos 11 anos de existência, roubando sempre 25% do ano (janeiro a março) e agora entrando na puberdade como se humano fosse, o BBB começa anunciando que passará por mudanças na edição 2011. Se você pensou que as mudanças seriam para melhorar o que não tem como ser melhorado se enganou redondamente. O formato será sempre o mesmo, consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos contra negros, pobres, analfabetos funcionais.
Após dez anos seguidos, sabemos que a receita do reality show inclui em sua base de sustentação as antivirtudes da mentira, da deslealdade, dos conluios e... da cafajestagem. Aos poucos, todos irão se despir de sua condição humana tão logo um deles diga que "isto aqui é um jogo". Outros ensaiarão frases pretensamente fincadas na moral: "Mas nem tudo vou fazer para ganhar esse jogo."
Como miquinhos amestrados, os participantes estarão ali para serem desrespeitados, não poucas vezes humilhados e muitas vezes objeto de escárnio e lições filosóficas extraídas de diferentes placas de caminhões e compartilhadas quase diariamente pelo jornalista Pedro Bial, ao que parece, senhor absoluto do reality show. Não faltarão "provas" grotescas, como colocar uma participante para botar ovo a cada trinta minutos; outra para latir ou miar a cada hora cheia; algum outro para passar 24 horas de sua vida fantasiado de bailarina ou para pular e coaxar como sapo sempre que for ativado determinado sinal acústico. O domador, que terá como chicote sua lábia de ocasião ou nalgumas vezes sua língua afiada, continuará sendo Pedro Bial que, a meu ver, representa um claro sinal de como as engrenagens que movem a televisão guardam estreita semelhança com aqueles velhos moedores de carne.
O último a sair da jaula
É inegável que Bial é talentoso. É inegável que passou parte de sua vida tendo páginas de livros ao alcance das mãos e dos olhos. É inegável também que parece inconsciente dos prejuízos éticos e morais que haverá de carregar vida afora. Isto porque a cada nova edição do reality mais se plasmam os nomes BBB e Pedro Bial. E será difícil ao ouvir um não lembrar imediatamente o outro. Porque lançamos aqui nosso nome, que poderá ter vida fugaz de cigarra ou ecoará pela eternidade. Imagino, daqui a uns 25 anos, em 2035, quando um descendente deste Pedro for reconhecido como bisneto daquele homem engraçado que fazia o Big Brother no Brasil. E os milhares de vídeos armazenados virtualmente no YouTube darão conta de ilustrar as gerações do porvir.
E, no entanto, essas quase duas dezenas de jovens estarão ali para ganhar fama instantânea, como se estivessem acondicionados naqueles pacotinhos de sopa da marca Miojo. Imagino cada um deles a envergar letreiro imaginário a nos dizer com a tristeza possível que "Coloco à venda meu corpo sem alma, meu coração quebrado e minha inteligência esgotada; vendo tudo isso muito barato porque vejo que há muita oferta no mercado". E teremos aquele interminável desfile de senso comum. Afinal, serão 90 dias de vida desperdiçada, ou melhor, de vida em que a principal atividade humana será jogar conversa fora. O que dá no mesmo. E não será o senso comum exatamente aquele conjunto de preconceitos adquiridos antes de completarmos 15 anos de vida?
Friederich Nietzsche (1844-1900) parecia ter o dom da premonição. É que o filósofo alemão se antecipava muito quando se tratava de projetar ideias sobre a condição humana. É dele esta percepção: "O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele". Isto porque Nietzsche foi poupado de atrações quase sérias e semi-circenses, como o BBB. No picadeiro, o macaco é aplaudido por sua imitação do humano: se equilibra e passeia de triciclo e de bicicleta, se veste de gente, com casaca e gravata, sabe usar vaso sanitário, descasca alimentos. No picadeiro do BBB, os seres humanos são aplaudidos por se mostrarem intolerantes uns com os outros, se vestem de papagaios, ladram, miam, coaxam, zumbem – e tudo como se animais fossem. Chegam a botar ovo em momento predeterminado. Se vestem de esponja e se encharcam de detergente a limpar pratos descomunais noite afora.
Em sua imitação de animal, o humano que se sobressai no BBB é aquele que consegue ficar engaiolado – digo, literalmente engaiolado – junto com outros bípedes não emplumados – por grande quantidade de horas. E sem poder satisfazer as necessidades humanas básicas, muitas vezes tendo que ficar em uma mesma posição, como seriemas destreinadas. E são os únicos animais que demonstram imensa felicidade em permanecer por mais tempo na gaiola. Não lhes jogam bananas nem pipocas, mas quem for o último a sair da jaula semi-humana ganha uma prenda. Pode ser um passeio de helicóptero, pode ser um carro, pode ser uma noite na Marquês de Sapucaí.
Heidegger reconheceria
O leitor atento deve ter percebido que em algum momento deste texto mencionei que o BBB 11 terá mudanças. Nem vou me dar ao trabalho de editar. Eis o que copiei do site G1:
"Boninho, diretor do BBB, falou em seu Twitter nesta quarta-feira, 24/11, sobre a nova edição do programa, a 11ª, que estreará em janeiro de 2011. E ele adianta que, desta vez, as coisas vão mudar. ‘Esse ano tudo vai ser diferente... Nada é proibido no BBB, pode fazer o que quiser’, postou Boninho em seu microblog. Questionado sobre o que estaria liberado no confinamento que não estava em edições anteriores, ele respondeu: ‘Esse ano... liberado! Vai valer tudo, até porrada’. Boninho também comentou sobre as bebidas no reality show: ‘Acabou o ice no BBB... Vai ser power... chega de bebida de criança’, escreveu."
Não terá chegado a hora de o portentoso império Globo de comunicação negociar com o governo italiano a cessão do Coliseu romano para parte das locações, ao menos aquelas em que murros e safanões, sob efeito de álcool ou não, certamente ocorrerão? E como nada compreendo de Heidegger, só me resta dizer que ao longo de toda sua vida madura Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de haver um sentido básico do verbo "ser" que estaria por trás de sua variedade de usos. E são recorrentes suas concepções quanto ao que existe, o estudo do que é, do que existe: a questão do Ser (i.e. uma Ontologia) dependente dos filósofos antes de Sócrates, da filosofia de Platão e de Aristóteles e dos Gnósticos.
Quem sabe tivesse assistido uma única noite do BBB – caso o formato da Endemol estivesse em cena antes de 1976 –, o filósofo, por muitos cultuado, não apenas teria uma confirmação segura de que não valia mesmo a pena publicar o segundo volume de sua obra principal, O Ser e o Tempo, como também haveria de reconhecer a inexistência de algo anterior ao ser. Mas, com certeza, se fartaria com a miríade de usos dados ao verbo "ser".
.
Mais algumas semanas e a TV Globo estará colocando no ar seu programa de maior audiência no verão brasileiro: Big Brother Brasil 11. Sucesso de público, sucesso de marketing, sucesso financeiro, sempre na casa dos milhões de reais. Fracasso ético, fracasso de cidadania, fracasso de respeito aos direitos humanos fundamentais.
A data já foi confirmada: 11 de janeiro, uma terça-feira. O prêmio será de R$ 1,5 milhão para o vencedor. O segundo e terceiro lugares levam, respectivamente, R$ 150 mil e R$ 50 mil. As inscrições para a próxima edição do BBB já estão encerradas. Ao todo, nas dez edições, foram 140 participantes. E já foram entregues mais de R$ 8,5 milhões em prêmios. Balanço raquítico, tanto numérico quanto financeiro para seus participantes, para um programa que se especializou em degradar a condição humana.
Aos 11 anos de existência, roubando sempre 25% do ano (janeiro a março) e agora entrando na puberdade como se humano fosse, o BBB começa anunciando que passará por mudanças na edição 2011. Se você pensou que as mudanças seriam para melhorar o que não tem como ser melhorado se enganou redondamente. O formato será sempre o mesmo, consagrado pelo público e pelos anunciantes: invasão de privacidade com a venda de corpos quase sempre sarados, bronzeados e bem torneados e com a exposição de mentes vazias a abrigar ideias que trafegam entre a futilidade e a galeria de preconceitos contra negros, pobres, analfabetos funcionais.
Após dez anos seguidos, sabemos que a receita do reality show inclui em sua base de sustentação as antivirtudes da mentira, da deslealdade, dos conluios e... da cafajestagem. Aos poucos, todos irão se despir de sua condição humana tão logo um deles diga que "isto aqui é um jogo". Outros ensaiarão frases pretensamente fincadas na moral: "Mas nem tudo vou fazer para ganhar esse jogo."
Como miquinhos amestrados, os participantes estarão ali para serem desrespeitados, não poucas vezes humilhados e muitas vezes objeto de escárnio e lições filosóficas extraídas de diferentes placas de caminhões e compartilhadas quase diariamente pelo jornalista Pedro Bial, ao que parece, senhor absoluto do reality show. Não faltarão "provas" grotescas, como colocar uma participante para botar ovo a cada trinta minutos; outra para latir ou miar a cada hora cheia; algum outro para passar 24 horas de sua vida fantasiado de bailarina ou para pular e coaxar como sapo sempre que for ativado determinado sinal acústico. O domador, que terá como chicote sua lábia de ocasião ou nalgumas vezes sua língua afiada, continuará sendo Pedro Bial que, a meu ver, representa um claro sinal de como as engrenagens que movem a televisão guardam estreita semelhança com aqueles velhos moedores de carne.
O último a sair da jaula
É inegável que Bial é talentoso. É inegável que passou parte de sua vida tendo páginas de livros ao alcance das mãos e dos olhos. É inegável também que parece inconsciente dos prejuízos éticos e morais que haverá de carregar vida afora. Isto porque a cada nova edição do reality mais se plasmam os nomes BBB e Pedro Bial. E será difícil ao ouvir um não lembrar imediatamente o outro. Porque lançamos aqui nosso nome, que poderá ter vida fugaz de cigarra ou ecoará pela eternidade. Imagino, daqui a uns 25 anos, em 2035, quando um descendente deste Pedro for reconhecido como bisneto daquele homem engraçado que fazia o Big Brother no Brasil. E os milhares de vídeos armazenados virtualmente no YouTube darão conta de ilustrar as gerações do porvir.
E, no entanto, essas quase duas dezenas de jovens estarão ali para ganhar fama instantânea, como se estivessem acondicionados naqueles pacotinhos de sopa da marca Miojo. Imagino cada um deles a envergar letreiro imaginário a nos dizer com a tristeza possível que "Coloco à venda meu corpo sem alma, meu coração quebrado e minha inteligência esgotada; vendo tudo isso muito barato porque vejo que há muita oferta no mercado". E teremos aquele interminável desfile de senso comum. Afinal, serão 90 dias de vida desperdiçada, ou melhor, de vida em que a principal atividade humana será jogar conversa fora. O que dá no mesmo. E não será o senso comum exatamente aquele conjunto de preconceitos adquiridos antes de completarmos 15 anos de vida?
Friederich Nietzsche (1844-1900) parecia ter o dom da premonição. É que o filósofo alemão se antecipava muito quando se tratava de projetar ideias sobre a condição humana. É dele esta percepção: "O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele". Isto porque Nietzsche foi poupado de atrações quase sérias e semi-circenses, como o BBB. No picadeiro, o macaco é aplaudido por sua imitação do humano: se equilibra e passeia de triciclo e de bicicleta, se veste de gente, com casaca e gravata, sabe usar vaso sanitário, descasca alimentos. No picadeiro do BBB, os seres humanos são aplaudidos por se mostrarem intolerantes uns com os outros, se vestem de papagaios, ladram, miam, coaxam, zumbem – e tudo como se animais fossem. Chegam a botar ovo em momento predeterminado. Se vestem de esponja e se encharcam de detergente a limpar pratos descomunais noite afora.
Em sua imitação de animal, o humano que se sobressai no BBB é aquele que consegue ficar engaiolado – digo, literalmente engaiolado – junto com outros bípedes não emplumados – por grande quantidade de horas. E sem poder satisfazer as necessidades humanas básicas, muitas vezes tendo que ficar em uma mesma posição, como seriemas destreinadas. E são os únicos animais que demonstram imensa felicidade em permanecer por mais tempo na gaiola. Não lhes jogam bananas nem pipocas, mas quem for o último a sair da jaula semi-humana ganha uma prenda. Pode ser um passeio de helicóptero, pode ser um carro, pode ser uma noite na Marquês de Sapucaí.
Heidegger reconheceria
O leitor atento deve ter percebido que em algum momento deste texto mencionei que o BBB 11 terá mudanças. Nem vou me dar ao trabalho de editar. Eis o que copiei do site G1:
"Boninho, diretor do BBB, falou em seu Twitter nesta quarta-feira, 24/11, sobre a nova edição do programa, a 11ª, que estreará em janeiro de 2011. E ele adianta que, desta vez, as coisas vão mudar. ‘Esse ano tudo vai ser diferente... Nada é proibido no BBB, pode fazer o que quiser’, postou Boninho em seu microblog. Questionado sobre o que estaria liberado no confinamento que não estava em edições anteriores, ele respondeu: ‘Esse ano... liberado! Vai valer tudo, até porrada’. Boninho também comentou sobre as bebidas no reality show: ‘Acabou o ice no BBB... Vai ser power... chega de bebida de criança’, escreveu."
Não terá chegado a hora de o portentoso império Globo de comunicação negociar com o governo italiano a cessão do Coliseu romano para parte das locações, ao menos aquelas em que murros e safanões, sob efeito de álcool ou não, certamente ocorrerão? E como nada compreendo de Heidegger, só me resta dizer que ao longo de toda sua vida madura Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de haver um sentido básico do verbo "ser" que estaria por trás de sua variedade de usos. E são recorrentes suas concepções quanto ao que existe, o estudo do que é, do que existe: a questão do Ser (i.e. uma Ontologia) dependente dos filósofos antes de Sócrates, da filosofia de Platão e de Aristóteles e dos Gnósticos.
Quem sabe tivesse assistido uma única noite do BBB – caso o formato da Endemol estivesse em cena antes de 1976 –, o filósofo, por muitos cultuado, não apenas teria uma confirmação segura de que não valia mesmo a pena publicar o segundo volume de sua obra principal, O Ser e o Tempo, como também haveria de reconhecer a inexistência de algo anterior ao ser. Mas, com certeza, se fartaria com a miríade de usos dados ao verbo "ser".
.
A premiação do MST e as vaias da Folha
Reproduzo matéria publicada no Blog da Reforma Agrária:
“João Stédile, fundador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), recebe homenagem na Câmara dos Deputados; ao ser anunciado, ouviu vaias”, afirma nota na Folha de S. Paulo.
Não poderia ser diferente.
No Brasil, existe um número grande de parlamentares que são donos de grandes propriedades que não cumprem a sua função social.
Ou seja, proprietários de áreas que são improdutivas, desmatam o meio ambiente ou desrespeitam a legislação trabalhista.
E lá na Câmara dos Deputados está parada desde 2004 a PEC do Trabalho Escravo, que obriga a expropriação de terras de quem explora trabalho escravo.
Essa máfia de deputados ruralistas tem nome e sobrenome: bancada ruralista.
De acordo com o Instituto de Estudos Socioeconômicos ( Inesc), há 117 deputados na atual legislatura.
Esses parlamentares vaiaram João Pedro Stedile, assim como vaiaram aquele que indicou o militante do MST, Brizola Neto, assim como vão vaiar qualquer lutador do povo que questione as bases da desigualdade social do Brasil.
Ou seja, a nota da Folha poderia constatar também a existência da gravidade.
Essa foi a conclusão, mais do que óbvia, que chegou o jornal Estado de Minas, em nota da coluna de Baptista Chagas de Almeida: “Líder e fundador do Movimento dos Trabalhadores Sem terra (MST), João Pedro Stedile foi homenageado na Câmara dos Deputados. Ficou entre vaias e aplausos. Nenhuma surpresa numa casa que tem a bancada ruralista”.
A Folha esqueceu de registrar que as vaias dos parlamentares latifundiários foram sufocadas pelos aplausos à premiação do coordenador do MST.
A Folha conhece menos o Brasil que o Estado de Minas, e só ouviu vaias ao João Pedro Stedile.
Isso não é novidade também.
Já conhecida como “Falha de S. Paulo”, está caminhando para se tornar um “Diário Veja”, na mesma linha de um panfleto semanal vendido no nosso país.
* No mesmo mundo em que vive a Folha, vivem pessoas valorosas como o escritor Eduardo Galeano, que mandou a seguinte mensagem ao MST e ao João Pedro Stedile: “que boa notícia, essa. medalha! boa e rara. nao é frequente encontrar evidencias de que a justiça existe. te abraça, teu irmao”.
.
“João Stédile, fundador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), recebe homenagem na Câmara dos Deputados; ao ser anunciado, ouviu vaias”, afirma nota na Folha de S. Paulo.
Não poderia ser diferente.
No Brasil, existe um número grande de parlamentares que são donos de grandes propriedades que não cumprem a sua função social.
Ou seja, proprietários de áreas que são improdutivas, desmatam o meio ambiente ou desrespeitam a legislação trabalhista.
E lá na Câmara dos Deputados está parada desde 2004 a PEC do Trabalho Escravo, que obriga a expropriação de terras de quem explora trabalho escravo.
Essa máfia de deputados ruralistas tem nome e sobrenome: bancada ruralista.
De acordo com o Instituto de Estudos Socioeconômicos ( Inesc), há 117 deputados na atual legislatura.
Esses parlamentares vaiaram João Pedro Stedile, assim como vaiaram aquele que indicou o militante do MST, Brizola Neto, assim como vão vaiar qualquer lutador do povo que questione as bases da desigualdade social do Brasil.
Ou seja, a nota da Folha poderia constatar também a existência da gravidade.
Essa foi a conclusão, mais do que óbvia, que chegou o jornal Estado de Minas, em nota da coluna de Baptista Chagas de Almeida: “Líder e fundador do Movimento dos Trabalhadores Sem terra (MST), João Pedro Stedile foi homenageado na Câmara dos Deputados. Ficou entre vaias e aplausos. Nenhuma surpresa numa casa que tem a bancada ruralista”.
A Folha esqueceu de registrar que as vaias dos parlamentares latifundiários foram sufocadas pelos aplausos à premiação do coordenador do MST.
A Folha conhece menos o Brasil que o Estado de Minas, e só ouviu vaias ao João Pedro Stedile.
Isso não é novidade também.
Já conhecida como “Falha de S. Paulo”, está caminhando para se tornar um “Diário Veja”, na mesma linha de um panfleto semanal vendido no nosso país.
* No mesmo mundo em que vive a Folha, vivem pessoas valorosas como o escritor Eduardo Galeano, que mandou a seguinte mensagem ao MST e ao João Pedro Stedile: “que boa notícia, essa. medalha! boa e rara. nao é frequente encontrar evidencias de que a justiça existe. te abraça, teu irmao”.
.
Lula avisa: vem aí o debate sobre mídia
Reproduzo matéria publicada no Blog do Planalto:
Os ativistas da comunicação no Brasil devem se preparar para um importante debate que vai ganhar corpo a partir do ano que vem: a mudança na regulação dos meios de comunicação do País. O alerta foi dado pelo presidente Lula nesta quinta-feira (2/12) no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) em entrevista coletiva a oito rádios comunitárias. Segundo informou, o Ministério das Comunicações do governo Dilma Rousseff vai priorizar esse debate, com ampla participação da sociedade, porque a legislação brasileira é ultrapassada e não reflete o mundo altamente tecnológico e conectado à internet que temos hoje. A discussão está na mesa:
"O novo Ministério está diante de um novo paradigma de comunicação. Quero alertar vocês porque esse debate vai ser envolvente, tem muita gente contra e muita gente a favor. Certamente, o governo não vai ganhar 100% e quem é contra não vai ganhar 100%. Eu peço que vocês se preparem para esse debate. Se a gente fizer um bom debate conseguiremos encontrar um caminho do meio. Esse será o papel do novo Ministério de Comunicações".
Lula expressou a vontade de se dedicar às discussões a respeito do marco regulatório das comunicações após o fim do mandato, já que, segundo disse, poderá ter um discurso que não podia ter na função de presidente da República. Ele disse que como militante político exercerá um papel centralizador dos debates da sociedade brasileira para politizar a questão do marco regulatório e “resolver a história das telecomunicações de uma vez”. Para isso, "é preciso ter força política” e embasamento, para vencer “o monopólio” que existe atualmente nas comunicações.
Na opinião do presidente, é preciso mudar urgentemente o padrão da comunicação brasileira, que não reflete a pluralidade do País e não contribui para a difusão da diversidade cultural. Lula disse que não é mais possível que uma pessoa que mora na região Norte, por exemplo, só tenha acesso à programação de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na opinião dele, “sem querer tirar nada de ningúem”, é preciso que se dê a oportunidade para que moradores do Sudeste tenham acesso às informações de todo o País e para que todas as regiões estejam em contato com sua própria cultura.
"A democracia tem uma mão para ir e uma para voltar. Por isso é que nós trabalhamos a necessidade que você tenha uma programação regional para uma interação mais forte. Acho que poderemos avancar".
Durante a entrevista, que durou pouco mais de uma hora, o presidente falou sobre o preconceito que existe na política brasileira que o vitimou “a vida inteira” e que o assustou durante a campanha presidencial. Lula ressaltou, entretanto, que acredita que prevalecerá o bom senso e que está certo de que Dilma Rousseff fará mais e melhor, porque encontrou um País muito mais desenvolvido e com a economia em amplo crescimento.
"O que eu vi nessa campanha me assustou. Eu sempre fui vítima de preconceito, carreguei a vida inteira, e o preconceito deixa marcas profundas, quase que incuráveis. Eu não tinha noção de que eles seriam capazes de fazer uma campanha tao preconceituosa quanto fizeram com a Dilma… apenas porque era uma mulher candidata. Mas podem ficar certos de que a Dilma não veio de onde eu vim, mas ela vai para onde eu fui".
Participaram da entrevista com o presidente Lula as rádios Maria Rosa, de Curitibanos (SC); Heliópolis, de São Paulo (SP); Líder Recanto, do Recanto das Emas (DF); Oito de Dezembro, de Vargem Grande Paulista (SP); Santa Luzia, de Santa Luzia (MG); Cidade, de Ouvidor (GO), Fercal, de Sobradinho (DF) e Comunitária Integração, de Santa Cruz do Sul (RS). A entrevista foi transmitida ao vivo pelo Blog do Planalto e também por diversos outros blogs do País.
.
Os ativistas da comunicação no Brasil devem se preparar para um importante debate que vai ganhar corpo a partir do ano que vem: a mudança na regulação dos meios de comunicação do País. O alerta foi dado pelo presidente Lula nesta quinta-feira (2/12) no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) em entrevista coletiva a oito rádios comunitárias. Segundo informou, o Ministério das Comunicações do governo Dilma Rousseff vai priorizar esse debate, com ampla participação da sociedade, porque a legislação brasileira é ultrapassada e não reflete o mundo altamente tecnológico e conectado à internet que temos hoje. A discussão está na mesa:
"O novo Ministério está diante de um novo paradigma de comunicação. Quero alertar vocês porque esse debate vai ser envolvente, tem muita gente contra e muita gente a favor. Certamente, o governo não vai ganhar 100% e quem é contra não vai ganhar 100%. Eu peço que vocês se preparem para esse debate. Se a gente fizer um bom debate conseguiremos encontrar um caminho do meio. Esse será o papel do novo Ministério de Comunicações".
Lula expressou a vontade de se dedicar às discussões a respeito do marco regulatório das comunicações após o fim do mandato, já que, segundo disse, poderá ter um discurso que não podia ter na função de presidente da República. Ele disse que como militante político exercerá um papel centralizador dos debates da sociedade brasileira para politizar a questão do marco regulatório e “resolver a história das telecomunicações de uma vez”. Para isso, "é preciso ter força política” e embasamento, para vencer “o monopólio” que existe atualmente nas comunicações.
Na opinião do presidente, é preciso mudar urgentemente o padrão da comunicação brasileira, que não reflete a pluralidade do País e não contribui para a difusão da diversidade cultural. Lula disse que não é mais possível que uma pessoa que mora na região Norte, por exemplo, só tenha acesso à programação de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na opinião dele, “sem querer tirar nada de ningúem”, é preciso que se dê a oportunidade para que moradores do Sudeste tenham acesso às informações de todo o País e para que todas as regiões estejam em contato com sua própria cultura.
"A democracia tem uma mão para ir e uma para voltar. Por isso é que nós trabalhamos a necessidade que você tenha uma programação regional para uma interação mais forte. Acho que poderemos avancar".
Durante a entrevista, que durou pouco mais de uma hora, o presidente falou sobre o preconceito que existe na política brasileira que o vitimou “a vida inteira” e que o assustou durante a campanha presidencial. Lula ressaltou, entretanto, que acredita que prevalecerá o bom senso e que está certo de que Dilma Rousseff fará mais e melhor, porque encontrou um País muito mais desenvolvido e com a economia em amplo crescimento.
"O que eu vi nessa campanha me assustou. Eu sempre fui vítima de preconceito, carreguei a vida inteira, e o preconceito deixa marcas profundas, quase que incuráveis. Eu não tinha noção de que eles seriam capazes de fazer uma campanha tao preconceituosa quanto fizeram com a Dilma… apenas porque era uma mulher candidata. Mas podem ficar certos de que a Dilma não veio de onde eu vim, mas ela vai para onde eu fui".
Participaram da entrevista com o presidente Lula as rádios Maria Rosa, de Curitibanos (SC); Heliópolis, de São Paulo (SP); Líder Recanto, do Recanto das Emas (DF); Oito de Dezembro, de Vargem Grande Paulista (SP); Santa Luzia, de Santa Luzia (MG); Cidade, de Ouvidor (GO), Fercal, de Sobradinho (DF) e Comunitária Integração, de Santa Cruz do Sul (RS). A entrevista foi transmitida ao vivo pelo Blog do Planalto e também por diversos outros blogs do País.
.
A impagável entrevista do Sr. Cloaca
Reproduzo a versão irônica, "85% verdadeira", da entrevista concedida pelo Senhor Cloaca ao jovem repórter da Folha, logo após a coletiva de Lula aos blogueiros. Hilário, o texto foi publicado no blog Cloaca News:
- Olá, você é o senhor Cloaca, não é?
- Você, não. Senhor.
- Hãã...o senhor é o senhor Cloaca, não é?
- Até prova em contrário. E enquanto as pragas não pegarem...
- Será que voc...o senhor poderia me dar uma palavrinha?
- Uma só? Pode ser um adjetivo?
Algumas perguntas...
- Então, por que pediu uma palavrinha em vez de perguntar se podia fazer algumas perguntas?
- É que...,como voc...o senhor vê, sou novo nisso.
- Não vi nada. Mas vejo que você tem um crachá da Folha.
- É, pois é.
- É seu mesmo? Deixe-me ver a foto...
(Cara, crachá, cara, crachá, cara, crachá)
- Não repare muito, senhor Cloaca.
- Vem cá, você é sobrinho da Tia Lenita?- Quem?
- Deixa para lá...- Mas, senhor Cloaca...as perguntas...
- Ah, sim, claro!
- Voc...o senhor não acha que o Presidente Lula está querendo censurar a imprensa?
- Não, não acho. De onde você tirou essa ideia estapafúrdia?
- É que me mandaram perguntar...
- Você acha isso?
- Sabe, eu sou apenas um operário da mídia...
- Estou vendo. E vamos deixar claro que não tenho nada pessoal contra você, meu caroooo... qual é mesmo seu nome?
- (mostra o crachá) Breno. Breno Costa. E o seu?
- Senhor. Senhor Cloaca.
- Sei. Mas o seu nome verdadeiro...
- Isso não é importante. Sequer sou famoso.
- Mas agora está famoso, não é?
- Quem está famoso é o Senhor Cloaca.
- Mas, essa história de o Presidente Lula querer calar a imprensa...
- Que história, rapaz?
- O Lula atacou a imprensa, oras!
- O que o Presidente Lula fez foi manifestar suas ideias a respeito de como certa imprensa o tem tratado. Isso não é atacar a instituição Imprensa. Aliás, se você viu a entrevista que ele acabou de dar para os blogueiros...
- Uma entrevista chapa-branca, não é?
- Chapa-branca? Pode me citar algum exemplo?
- Bem...veja bem...ãããnnn...
- Escuta, não está na hora do seu Toddynho?
- Que horas são?
- Exatamente, meio-dia e quarenta.
- Então, a censura à imprensa...
- Olha, meu filho, a mesma liberdade que certa imprensa tem de publicar o que quiser contra o Lula tem o Lula de dizer o que pensa daquilo que publicaram contra ele. Ou a Imprensa não pode ser criticada?
- Não é isso...é que...
- Seu jornal, por exemplo, teve toda a liberdade de publicar que o Lula é assassino e estuprador.
- Veja bem...quer dizer...
- Seu jornal chamou a ditadura de ditabranda.
- É, isso é verdade.
- O que é verdade?
- Meu jornal chamou a ditadura de ditabranda.
- E você trabalha lá.
- Como eu disse, sou apenas um operário...
- Objetivamente, o que você quer saber de mim, que já não saiba?
- Voc...o senhor trabalha onde?
- Você vai publicar exatamente o que eu disser, não é?
- Sim.
- Assessoro políticos do PT-RS, mas vou evitar o assunto.
- É verdade que, na hora da foto, o Lula disse: vem cá, ô Cloaquinha"?
- Sim, é verdade, ele disse.
- E o senhor fez o quê?
- Nada. Apenas fui.
- Não vai se gabar disso?
- Vou, sim. Estou até pensando em botar uma placa no pescoço com os dizeres: O Lula me chamou depois: 'Vem cá, ô Cloaquinha!'
(Toca o celular. "Alô, mamãe! Como? Acabou??? Tudo bem, pode ser Ovomaltine!" Desliga o celular)
- Bem, obrigado pela entrevista, senhor Cloaca, mas estão me esperando para o almoço.
- Também vou indo. Até a próxima, Breno! E, olha, não aceite doces de estranhos na rua, tá?
O diálogo acima é 85% verdadeiro. E está gravado.
.
- Olá, você é o senhor Cloaca, não é?
- Você, não. Senhor.
- Hãã...o senhor é o senhor Cloaca, não é?
- Até prova em contrário. E enquanto as pragas não pegarem...
- Será que voc...o senhor poderia me dar uma palavrinha?
- Uma só? Pode ser um adjetivo?
Algumas perguntas...
- Então, por que pediu uma palavrinha em vez de perguntar se podia fazer algumas perguntas?
- É que...,como voc...o senhor vê, sou novo nisso.
- Não vi nada. Mas vejo que você tem um crachá da Folha.
- É, pois é.
- É seu mesmo? Deixe-me ver a foto...
(Cara, crachá, cara, crachá, cara, crachá)
- Não repare muito, senhor Cloaca.
- Vem cá, você é sobrinho da Tia Lenita?- Quem?
- Deixa para lá...- Mas, senhor Cloaca...as perguntas...
- Ah, sim, claro!
- Voc...o senhor não acha que o Presidente Lula está querendo censurar a imprensa?
- Não, não acho. De onde você tirou essa ideia estapafúrdia?
- É que me mandaram perguntar...
- Você acha isso?
- Sabe, eu sou apenas um operário da mídia...
- Estou vendo. E vamos deixar claro que não tenho nada pessoal contra você, meu caroooo... qual é mesmo seu nome?
- (mostra o crachá) Breno. Breno Costa. E o seu?
- Senhor. Senhor Cloaca.
- Sei. Mas o seu nome verdadeiro...
- Isso não é importante. Sequer sou famoso.
- Mas agora está famoso, não é?
- Quem está famoso é o Senhor Cloaca.
- Mas, essa história de o Presidente Lula querer calar a imprensa...
- Que história, rapaz?
- O Lula atacou a imprensa, oras!
- O que o Presidente Lula fez foi manifestar suas ideias a respeito de como certa imprensa o tem tratado. Isso não é atacar a instituição Imprensa. Aliás, se você viu a entrevista que ele acabou de dar para os blogueiros...
- Uma entrevista chapa-branca, não é?
- Chapa-branca? Pode me citar algum exemplo?
- Bem...veja bem...ãããnnn...
- Escuta, não está na hora do seu Toddynho?
- Que horas são?
- Exatamente, meio-dia e quarenta.
- Então, a censura à imprensa...
- Olha, meu filho, a mesma liberdade que certa imprensa tem de publicar o que quiser contra o Lula tem o Lula de dizer o que pensa daquilo que publicaram contra ele. Ou a Imprensa não pode ser criticada?
- Não é isso...é que...
- Seu jornal, por exemplo, teve toda a liberdade de publicar que o Lula é assassino e estuprador.
- Veja bem...quer dizer...
- Seu jornal chamou a ditadura de ditabranda.
- É, isso é verdade.
- O que é verdade?
- Meu jornal chamou a ditadura de ditabranda.
- E você trabalha lá.
- Como eu disse, sou apenas um operário...
- Objetivamente, o que você quer saber de mim, que já não saiba?
- Voc...o senhor trabalha onde?
- Você vai publicar exatamente o que eu disser, não é?
- Sim.
- Assessoro políticos do PT-RS, mas vou evitar o assunto.
- É verdade que, na hora da foto, o Lula disse: vem cá, ô Cloaquinha"?
- Sim, é verdade, ele disse.
- E o senhor fez o quê?
- Nada. Apenas fui.
- Não vai se gabar disso?
- Vou, sim. Estou até pensando em botar uma placa no pescoço com os dizeres: O Lula me chamou depois: 'Vem cá, ô Cloaquinha!'
(Toca o celular. "Alô, mamãe! Como? Acabou??? Tudo bem, pode ser Ovomaltine!" Desliga o celular)
- Bem, obrigado pela entrevista, senhor Cloaca, mas estão me esperando para o almoço.
- Também vou indo. Até a próxima, Breno! E, olha, não aceite doces de estranhos na rua, tá?
O diálogo acima é 85% verdadeiro. E está gravado.
.
Blogs brasileiros repercutem o Wikileaks
Reproduzo artigo de Raphael Tsavkko Garcia, publicado no sítio Global Voices: ·
O vazamento de mais de 250 mil documentos denunciando a prática de espionagem por parte do governo dos EUA causou furor também no Brasil, onde dezenas de documentos acabaram por colocar o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, em situação delicada. Natália Viana, do Opera Mundi, detalha o número de documentos vazados sobre o Brasil e diz que ainda há muito mais por vir:
"No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo. Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo".
Os documentos, ainda, demonstram o desconforto dos EUA com os máximos representantes da diplomacia brasileira, explica Altamiro Borges em seu blog:
"No caso brasileiro, conversas confirmam o desconforto dos EUA com a política externa soberana praticada pelo Itamaraty. O ministro Celso Amorim e o ex-secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães são encarados como inimigos do império. Já o ministro da Defesa, Nelson Jobim – que infelizmente a presidente Dilma Rousseff pretende manter no posto – é tratado como um “aliado” dos EUA".
Leandro Fortes, do blog Brasília, eu vi, vai ainda mais longe, acusando o Ministro Nelson Jobim de ser um informante dos EUA (usando a gíria popular X-9, que significa “informante”)
"Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.
[…]
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países".
Ao site oficial do Ministério da Defesa, Jobim negou ter criticado o então vice-chanceler brasileiro, Guimarães, informação também repassada pelo Twitter oficial do Ministério da Defesa.
Por outro lado, André Raboni, do blog Acerto de Contas, considera ridículas as desculpas dadas por Jobim e que suas declarações apenas comprovam sua função de informante da embaixada dos EUA:
"É absurdo (pra não dizer outra coisa) um ministro de Estado manter esse tipo de atitude colaborativa com um país que está tentando enfiar uma lei anti-terrorismo goela abaixo dos brasileiros. Uma lei que só interessa aos EUA, diga-se de passagem. Aliás, seria absurdo um ministro agir dessa forma com qualquer outro país, independentemente de serem os Estados Unidos e sua rede internacional de espionagem diplomática".
Danilo Marques, do blog O Inferno de Dandi, é irônico ao considerar que os EUA sentem ciúmes dos sucessos brasileiros em suas relações exteriores:
"Nos relatórios percebesse uma crise de ciúmes dos americanos, insatisfeitos com o sucesso brasileiro em suas relações exteriores. Achando que o Brasil está criando asas, a questão do Irã foi uma grande decepção aos que não gostam de dividir os brinquedos. Pois o Ministro Amorim, que defende as cores nacionais, afirmou em Washington que os americanos vão ter que largar de xilique, agora o panorama mundial pede outras relações diplomáticas".
Cristina Rodrigues, do Somos Andando, relembra outros episódios polêmicos me que se envolveu Nelson Jobim:
"Ele se posicionou contrário ao Programa de Direitos Humanos defendido pela sociedade civil e a criação de uma Comissão da Verdade. Parecia mais um aliado daqueles militares que comandaram o Brasil nos 21 anos entre 1964 e 1985. Foi peça-chave para derrubar Paulo Lacerda da Abin, Foram vários, enfim, os constrangimentos".
Luiz Carlos Azenha, do Vi o Mundo, acrescenta ainda que, segundo o WikiLeaks, Jobim teria também repassado ao embaixador americano a informação (falsa) de que Evo Morales, presidente da bolívia, teria “um tumor enfiado no nariz”.
Através dos documentos vazados, veio também à público [en] a informação de que os EUA estariam insatisfeitos com o fato do Brasil se recusar a implementar uma lei anti-terrorista em seu território, que não passou, segundo Hugo Albuquerque, do Descurvo:
"A ideia não vingou por pressão, inclusive, de Dilma Rousseff, atual chefe de estado e de governo. O argumento usado por ela é bem simples, como isso poderia ser usado para criminalizar movimentos sociais e, quem sabe, políticos".
Uma lei Anti-Terrorista teria como resultado, no Brasil, a criminalização de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), diz João Pedro Stédile em entrevista concedida ao Opera Mundi:
“É evidente que as pressões do governo dos EUA, tentando influenciar governos democráticos e progressistas a aderirem à sua sanha paranóica de terrorismo, visa criminalizar e controlar qualquer movimento de massas que lute por seus direitos e que ocasionalmente representem manifestações contra os interesses das empresas estadunidenses”
Hugo Albuquerque continua, ainda, criticando a forma pela qual os EUA e alguns analistas brasileiros tratam o terrorismo, traçando paralelos com o ideal fracassado de livre-mercado dos anos 90:
"A maneira como é narrada o aparente descaso do governo brasileiro com o “terrorismo” é uma peça antropológica, sem dúvida. Os americanos e os analistas nacionais - mais gringos que os próprios -, na verdade, não entendem como o Governo brasileiro ainda não descobriu o potencial de como controlar os seus, por meio do potencial de subjetivação dos seus cidadãos como “terroristas”, mas a maneira como isso é narrado é deliciosamente cínica, os tecnocratas apontam o governo como “imaturo” do mesmo modo como se fazia com os países que não queriam aderir ao livre-mercadismo nos anos 90: A nossa vontade é tamanha que quem não se dobra a ela, só pode ser um idiota. Uma forma de idealismo perversa, na qual os próprios ideólogos começam a acreditar nas mentiras que repetem - e aí, caríssimos, só o inferno é o limite".
Idelber Avelar, do Biscoito Fino, acrescenta:
"De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo".
Finalmente, Altamiro Borges finaliza, dando sua visão da importância dos dados vazados e do WikiLeaks:
"A vasta documentação tornada pública, num serviço inestimável da ONG Wikileaks, confirma que a luta contra a agressão imperialista é a principal batalha dos povos na atualidade para superar a opressão e a exploração".
.
O vazamento de mais de 250 mil documentos denunciando a prática de espionagem por parte do governo dos EUA causou furor também no Brasil, onde dezenas de documentos acabaram por colocar o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, em situação delicada. Natália Viana, do Opera Mundi, detalha o número de documentos vazados sobre o Brasil e diz que ainda há muito mais por vir:
"No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo. Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo".
Os documentos, ainda, demonstram o desconforto dos EUA com os máximos representantes da diplomacia brasileira, explica Altamiro Borges em seu blog:
"No caso brasileiro, conversas confirmam o desconforto dos EUA com a política externa soberana praticada pelo Itamaraty. O ministro Celso Amorim e o ex-secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães são encarados como inimigos do império. Já o ministro da Defesa, Nelson Jobim – que infelizmente a presidente Dilma Rousseff pretende manter no posto – é tratado como um “aliado” dos EUA".
Leandro Fortes, do blog Brasília, eu vi, vai ainda mais longe, acusando o Ministro Nelson Jobim de ser um informante dos EUA (usando a gíria popular X-9, que significa “informante”)
"Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.
[…]
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países".
Ao site oficial do Ministério da Defesa, Jobim negou ter criticado o então vice-chanceler brasileiro, Guimarães, informação também repassada pelo Twitter oficial do Ministério da Defesa.
Por outro lado, André Raboni, do blog Acerto de Contas, considera ridículas as desculpas dadas por Jobim e que suas declarações apenas comprovam sua função de informante da embaixada dos EUA:
"É absurdo (pra não dizer outra coisa) um ministro de Estado manter esse tipo de atitude colaborativa com um país que está tentando enfiar uma lei anti-terrorismo goela abaixo dos brasileiros. Uma lei que só interessa aos EUA, diga-se de passagem. Aliás, seria absurdo um ministro agir dessa forma com qualquer outro país, independentemente de serem os Estados Unidos e sua rede internacional de espionagem diplomática".
Danilo Marques, do blog O Inferno de Dandi, é irônico ao considerar que os EUA sentem ciúmes dos sucessos brasileiros em suas relações exteriores:
"Nos relatórios percebesse uma crise de ciúmes dos americanos, insatisfeitos com o sucesso brasileiro em suas relações exteriores. Achando que o Brasil está criando asas, a questão do Irã foi uma grande decepção aos que não gostam de dividir os brinquedos. Pois o Ministro Amorim, que defende as cores nacionais, afirmou em Washington que os americanos vão ter que largar de xilique, agora o panorama mundial pede outras relações diplomáticas".
Cristina Rodrigues, do Somos Andando, relembra outros episódios polêmicos me que se envolveu Nelson Jobim:
"Ele se posicionou contrário ao Programa de Direitos Humanos defendido pela sociedade civil e a criação de uma Comissão da Verdade. Parecia mais um aliado daqueles militares que comandaram o Brasil nos 21 anos entre 1964 e 1985. Foi peça-chave para derrubar Paulo Lacerda da Abin, Foram vários, enfim, os constrangimentos".
Luiz Carlos Azenha, do Vi o Mundo, acrescenta ainda que, segundo o WikiLeaks, Jobim teria também repassado ao embaixador americano a informação (falsa) de que Evo Morales, presidente da bolívia, teria “um tumor enfiado no nariz”.
Através dos documentos vazados, veio também à público [en] a informação de que os EUA estariam insatisfeitos com o fato do Brasil se recusar a implementar uma lei anti-terrorista em seu território, que não passou, segundo Hugo Albuquerque, do Descurvo:
"A ideia não vingou por pressão, inclusive, de Dilma Rousseff, atual chefe de estado e de governo. O argumento usado por ela é bem simples, como isso poderia ser usado para criminalizar movimentos sociais e, quem sabe, políticos".
Uma lei Anti-Terrorista teria como resultado, no Brasil, a criminalização de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), diz João Pedro Stédile em entrevista concedida ao Opera Mundi:
“É evidente que as pressões do governo dos EUA, tentando influenciar governos democráticos e progressistas a aderirem à sua sanha paranóica de terrorismo, visa criminalizar e controlar qualquer movimento de massas que lute por seus direitos e que ocasionalmente representem manifestações contra os interesses das empresas estadunidenses”
Hugo Albuquerque continua, ainda, criticando a forma pela qual os EUA e alguns analistas brasileiros tratam o terrorismo, traçando paralelos com o ideal fracassado de livre-mercado dos anos 90:
"A maneira como é narrada o aparente descaso do governo brasileiro com o “terrorismo” é uma peça antropológica, sem dúvida. Os americanos e os analistas nacionais - mais gringos que os próprios -, na verdade, não entendem como o Governo brasileiro ainda não descobriu o potencial de como controlar os seus, por meio do potencial de subjetivação dos seus cidadãos como “terroristas”, mas a maneira como isso é narrado é deliciosamente cínica, os tecnocratas apontam o governo como “imaturo” do mesmo modo como se fazia com os países que não queriam aderir ao livre-mercadismo nos anos 90: A nossa vontade é tamanha que quem não se dobra a ela, só pode ser um idiota. Uma forma de idealismo perversa, na qual os próprios ideólogos começam a acreditar nas mentiras que repetem - e aí, caríssimos, só o inferno é o limite".
Idelber Avelar, do Biscoito Fino, acrescenta:
"De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo".
Finalmente, Altamiro Borges finaliza, dando sua visão da importância dos dados vazados e do WikiLeaks:
"A vasta documentação tornada pública, num serviço inestimável da ONG Wikileaks, confirma que a luta contra a agressão imperialista é a principal batalha dos povos na atualidade para superar a opressão e a exploração".
.
Nelson Jobim e o cadável insepulto
Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, intitulado "Divã para livrar o país da síndrome do quepe", publicado no jornal Valor:
O período militar é um cadáver insepulto. A jovem democracia brasileira tem uma enorme dificuldade de lidar com seu passado. Nos momentos em que os conflitos políticos são de baixa intensidade, a tendência da sociedade é simplesmente jogar esse período negro da vida do país para debaixo do tapete. Quando são de média intensidade, o passado põe a cabeça de fora e lembra que continua no ar, como uma nuvem, e a chuva pode desabar a qualquer momento sobre nossas cabeças. Em situações de grandes conflitos, como no recente período eleitoral, grupos sociais mais conservadores retiram do embornal um discurso que parece ter saído da boca de um general-presidente, com grande espaço para teorias conspiratórias dando conta de perigosas "ameaças comunistas".
Como o uso do cachimbo normalmente entorta a boca, os movimentos políticos, desde o pré-64, voltam sempre para a lógica segundo a qual um lado sempre deve estar na ofensiva e o outro, na defensiva. A contaminação da oposição pelo velho udenismo trouxe junto o hábito de pedir a tutela dos quartéis, quando seu projeto político não consegue se viabilizar pelo voto. Mas uma das coisas que alimenta a recaída permanente da elite brasileira ao conservadorismo - e ao militarismo - é o outro lado. O velho PSD, de Tancredo Neves, também permanece como padrão de comportamento político: a recusa a qualquer tipo de confronto, em especial quando pode resvalar na área militar. Os dois lados se alimentam de um consenso forjado sabe-se lá onde, de que a direita tem legitimidade para levar o confronto ao limite, enquanto, do centro à esquerda, os atores políticos tornam-se irresponsáveis se não estiverem sempre conciliando.
As Forças Armadas são peça central nas situações de confronto: não só assimilam apelos de tutela da democracia, como são a instituição que avaliza as pressões de um grupo minoritário - de direita - sobre o resto da sociedade. A lembrança do passado só vem à cena política quando serve a esse jogo de pressão.
O Ministério da Defesa, concebido teoricamente para submeter o poder militar às instituições democráticas, nem bem nasceu e parece estar contaminado pela visão udenista das Forças Armadas, que requer sempre uma ação pessedista, de conciliação, para evitar o pior. O ministro Nelson Jobim, que o governo Lula considera ter desempenhado um papel importante na consolidação do Ministério da Defesa, é tido como um ponto de equilíbrio não por ter assumido o comando das armas, mas por ter exercido um papel de mediador das pressões militares junto a um governo civil de esquerda.
O vazamento de documentos relativos ao ministro, pelo Wikileaks, trouxe à luz provas de que as forças militares continuam um capítulo à parte na história da democracia brasileira - e isso, mesmo quando o seu chefe é civil. Um ministro da Defesa que foi mantido e se fortaleceu nas brigas que comprou dentro do governo, com colegas mais comprometidos com visões não-conservadoras sobre os Direitos Humanos e sobre a forma de lidar com o passado autoritário do país, expôs as suas divergências com o Ministério das Relações Exteriores a ninguém menos que o embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Gentilmente, cedeu ao embaixador a informação, dada confidencialmente pelo seu chefe, o presidente da República, sobre o estado de saúde do presidente da Bolívia, Evo Morales. As inconfidências ganham os jornais dias depois de Jobim ter sido confirmado, na mesma pasta, para o próximo governo. Continua ministro de Lula e será o ministro de Dilma Rousseff.
O governo Dilma acena para a manutenção de uma situação em que o Ministério da Defesa - e portanto as Forças Armadas - não se integra a um governo legitimamente eleito, mas se mantém no governo com altíssimo grau de autonomia, graças a ondas de pânico criadas por grupos de direita. Paga o mico das inconfidências de "um ministro da Defesa invulgarmente ativo", segundo definição do próprio Sobel em um de seus telegramas.
A falta de reação a ofensivas da direita tem seu preço. As Forças Armadas são um terreno fértil à pregação conservadora e a absorve com rapidez e clareza. Não deve ser à-toa que, depois de um processo eleitoral particularmente radicalizado - onde prevaleceu a lógica do udenismo que confronta e apela aos quartéis e do pessedismo que concilia - que a turma que se forma este ano na Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) tenha se batizado com o nome do general Emílio Garrastazu Médici, presidente militar do período mais sangrento da ditadura.
Os militares se retiraram para os quartéis, mas é evidente que continuaram reproduzindo internamente uma ideologia altamente conservadora, que não afasta o papel de tutela sobre a sociedade civil. Isso aconteceu porque não houve uma contra-ofensiva capaz de colocar outra visão sobre o papel dos militares na sociedade e fazê-la dominante. A discussão do aprimoramento da democracia deve passar por uma profunda revisão do papel das Forças Armadas e por uma integração, de fato, da instituição nos esforços democráticos da sociedade.
A propósito: as consultas sobre os processos contra os adversários políticos da ditadura instruídos pela Justiça Militar podem ser consultados na Unicamp, que recebeu todos os arquivos reunidos pelo grupo Tortura Nunca Mais, abrigado na Arquidiocese de São Paulo, durante a ditadura. O grupo copiou os processos na Justiça Militar e, com base neles, fez um importante trabalho de denúncia de torturas e assassinatos de opositores políticos do regime. O trabalho final do grupo assume como legítima a ideia de que as denúncias de tortura por parte dos presos políticos, feitas no período à Justiça Militar, tornam sem valor as informações obtidas por esses meios. Para saber o que fizeram os presos políticos para se tornarem presos políticos, é mais garantido que se pergunte isso a eles hoje. Na democracia e em liberdade.
.
O período militar é um cadáver insepulto. A jovem democracia brasileira tem uma enorme dificuldade de lidar com seu passado. Nos momentos em que os conflitos políticos são de baixa intensidade, a tendência da sociedade é simplesmente jogar esse período negro da vida do país para debaixo do tapete. Quando são de média intensidade, o passado põe a cabeça de fora e lembra que continua no ar, como uma nuvem, e a chuva pode desabar a qualquer momento sobre nossas cabeças. Em situações de grandes conflitos, como no recente período eleitoral, grupos sociais mais conservadores retiram do embornal um discurso que parece ter saído da boca de um general-presidente, com grande espaço para teorias conspiratórias dando conta de perigosas "ameaças comunistas".
Como o uso do cachimbo normalmente entorta a boca, os movimentos políticos, desde o pré-64, voltam sempre para a lógica segundo a qual um lado sempre deve estar na ofensiva e o outro, na defensiva. A contaminação da oposição pelo velho udenismo trouxe junto o hábito de pedir a tutela dos quartéis, quando seu projeto político não consegue se viabilizar pelo voto. Mas uma das coisas que alimenta a recaída permanente da elite brasileira ao conservadorismo - e ao militarismo - é o outro lado. O velho PSD, de Tancredo Neves, também permanece como padrão de comportamento político: a recusa a qualquer tipo de confronto, em especial quando pode resvalar na área militar. Os dois lados se alimentam de um consenso forjado sabe-se lá onde, de que a direita tem legitimidade para levar o confronto ao limite, enquanto, do centro à esquerda, os atores políticos tornam-se irresponsáveis se não estiverem sempre conciliando.
As Forças Armadas são peça central nas situações de confronto: não só assimilam apelos de tutela da democracia, como são a instituição que avaliza as pressões de um grupo minoritário - de direita - sobre o resto da sociedade. A lembrança do passado só vem à cena política quando serve a esse jogo de pressão.
O Ministério da Defesa, concebido teoricamente para submeter o poder militar às instituições democráticas, nem bem nasceu e parece estar contaminado pela visão udenista das Forças Armadas, que requer sempre uma ação pessedista, de conciliação, para evitar o pior. O ministro Nelson Jobim, que o governo Lula considera ter desempenhado um papel importante na consolidação do Ministério da Defesa, é tido como um ponto de equilíbrio não por ter assumido o comando das armas, mas por ter exercido um papel de mediador das pressões militares junto a um governo civil de esquerda.
O vazamento de documentos relativos ao ministro, pelo Wikileaks, trouxe à luz provas de que as forças militares continuam um capítulo à parte na história da democracia brasileira - e isso, mesmo quando o seu chefe é civil. Um ministro da Defesa que foi mantido e se fortaleceu nas brigas que comprou dentro do governo, com colegas mais comprometidos com visões não-conservadoras sobre os Direitos Humanos e sobre a forma de lidar com o passado autoritário do país, expôs as suas divergências com o Ministério das Relações Exteriores a ninguém menos que o embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Gentilmente, cedeu ao embaixador a informação, dada confidencialmente pelo seu chefe, o presidente da República, sobre o estado de saúde do presidente da Bolívia, Evo Morales. As inconfidências ganham os jornais dias depois de Jobim ter sido confirmado, na mesma pasta, para o próximo governo. Continua ministro de Lula e será o ministro de Dilma Rousseff.
O governo Dilma acena para a manutenção de uma situação em que o Ministério da Defesa - e portanto as Forças Armadas - não se integra a um governo legitimamente eleito, mas se mantém no governo com altíssimo grau de autonomia, graças a ondas de pânico criadas por grupos de direita. Paga o mico das inconfidências de "um ministro da Defesa invulgarmente ativo", segundo definição do próprio Sobel em um de seus telegramas.
A falta de reação a ofensivas da direita tem seu preço. As Forças Armadas são um terreno fértil à pregação conservadora e a absorve com rapidez e clareza. Não deve ser à-toa que, depois de um processo eleitoral particularmente radicalizado - onde prevaleceu a lógica do udenismo que confronta e apela aos quartéis e do pessedismo que concilia - que a turma que se forma este ano na Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) tenha se batizado com o nome do general Emílio Garrastazu Médici, presidente militar do período mais sangrento da ditadura.
Os militares se retiraram para os quartéis, mas é evidente que continuaram reproduzindo internamente uma ideologia altamente conservadora, que não afasta o papel de tutela sobre a sociedade civil. Isso aconteceu porque não houve uma contra-ofensiva capaz de colocar outra visão sobre o papel dos militares na sociedade e fazê-la dominante. A discussão do aprimoramento da democracia deve passar por uma profunda revisão do papel das Forças Armadas e por uma integração, de fato, da instituição nos esforços democráticos da sociedade.
A propósito: as consultas sobre os processos contra os adversários políticos da ditadura instruídos pela Justiça Militar podem ser consultados na Unicamp, que recebeu todos os arquivos reunidos pelo grupo Tortura Nunca Mais, abrigado na Arquidiocese de São Paulo, durante a ditadura. O grupo copiou os processos na Justiça Militar e, com base neles, fez um importante trabalho de denúncia de torturas e assassinatos de opositores políticos do regime. O trabalho final do grupo assume como legítima a ideia de que as denúncias de tortura por parte dos presos políticos, feitas no período à Justiça Militar, tornam sem valor as informações obtidas por esses meios. Para saber o que fizeram os presos políticos para se tornarem presos políticos, é mais garantido que se pergunte isso a eles hoje. Na democracia e em liberdade.
.
Washington ameaça o sítio Wikileaks
Reproduzo artigo de David Brooks, publicado no jornal mexicano La Jornada e traduzido pela Adital:
O governo dos Estados Unidos ameaça fiscalizar judicialmente a Wikileaks enquanto tenta superar a crise diplomática provocada pela divulgação de mais de 250 mil mensagens de suas 274 embaixadas e consulados e se intensifica o debate sobre as implicações da filtração. Noam Chomsky considerou que isso revela "o profundo ódio" dos governantes à democracia.
Enquanto a secretária de Estado, Hillary Clinton, reuniu-se com contrapartes na Ásia Central -muitos deles mencionados nas mensagens eletrônicas- para tentar minorar o golpe e resgatar seu prestígio, o Procurador Geral, Eric Holder e o Pentágono reiteraram que estão sendo realizadas investigações "criminais" acerca das filtrações de Wikileaks.
Algumas versões jornalísticas assinalaram que as autoridades consideram aplicar a Lei de Espionagem contra Julián Assange, o fundador e diretor de Wikileaks. O porta voz da Casa Branca, Robert Gibbs, declarou que "obviamente, existe uma investigação criminal sobre o roubo e difusão de informação sensível e classificada". Explicou que estão sendo avaliadas uma gama de opções para castigar os responsáveis.
Minimizam a filtração
Outros funcionários do governo de Barack Obama continuaram minimizando o assunto. O secretário de Defesa, Robert Gates, declarou a repórteres no Pentágono que a divulgação foi um assunto "embaraçoso"; porém, que as consequências para a política exterior estadunidense são limitadas. "O fato é que os governos estabelecem relações com os Estados Unidos porque é de seu interesse, não porque gostam de nós, não porque confiam em nós e não porque acreditam que podemos manter segredos".
Hillary Clinton reiterou no Cazaquistão que "foi um ato muito irresponsável" que "colocou em risco as vidas de pessoas inocentes em todo o mundo, sem ter consideração para com os mais vulneráveis, incluindo jornalistas".
Insistiu em defender a liberdade de expressão e criticou aos governos que reprimem os jornalistas. Na era da Internet, é difícil balancear a liberdade e a responsabilidade. "Temos que apoiar e proteger a liberdade de expressão, seja de um indivíduo ou de um jornalista. Porém, também tem que haver algumas regras ou algum sentido de responsabilidade que deve ser inculcado".
O Departamento de Estado desconectou o acesso aos arquivos da rede cibernética classificada do governo e reduziu o número de empregados que podem ver mensagens diplomáticas. A medida é temporária, indicou o porta voz P. J. Crowley, enquanto são reparadas "debilidades no sistema, que ficaram evidentes nessa filtração".
Ao mesmo tempo, o Departamento de Estado tentou desmentir que os diplomatas estadunidenses são espiões. A mensagem divulgada por Wikileaks assinada por Clinton, que inclui instruções a funcionários estadunidenses para buscar informações até de DNA, escaneamento oculares e biométricos de representantes de outros governos e dos mais altos funcionários da Organização das Nações Unidas, provocou críticas em várias partes sobre se os diplomatas estavam espionando.
Um alto funcionário do Departamento de Estado -não identificado- que declarou que as solicitações para obter essa informação pessoal foram enviadas por "administradores da comunidade de inteligência", e que os diplomatas estadunidenses não tinham obrigação de atender a esses pedidos, informou a agência AP. O porta voz Crowley sublinhou que "nossos diplomatas são diplomatas, não bens de inteligência".
O caso detonou um crescente debate aqui sobre o impacto e o significado da filtração massiva de documentos classificados -a maior na história, "Talvez a revelação mais dramática (...) é o ódio amargo à democracia que é revelado pelo governo dos Estados Unidos -Hillary Clinton e outros- e também pelo serviço diplomático", considerou Noam Chomsky, em entrevista com Amy Goodman, em Democracy Now. "Devemos entender (...) que uma das principais razões dos segredos governamentais é para proteger ao governo de sua própria população".
Tomou como exemplo o dito ontem por Clinton acerca de que as mensagens "confirmam o fato de que o Irã representa uma ameaça muito séria ante os olhos de muitos de seus vizinhos", já que os documentos revelam que líderes árabes instaram a Washington a atacar o Irã. Chomsky assinalou que "as pesquisas mais recentes (realizadas por Brookings Institution) reportam que 80% da opinião pública árabe vê a Israel como a principal ameaça na região; a segunda são os Estados Unidos, com 77%; e o Irã, com 10%. Isso não se informa nos jornais; porém, é muito familiar para os governos de Israel e dos Estados Unidos e seus embaixadores" e. portanto, o que as mensagens revelam não é a posição dos povos da região, mas a dos ditadores árabes e dos governos ocidentais.
Assim, "o significado principal das mensagens divulgadas até agora é o que nos dizem da liderança ocidental", assinalou Chomsky. Ao omitir-se a opinião pública do mundo árabe, como em outros aspectos que abordam essas mensagens, isso "revela o ódio profundo à democracia pro parte de nossas lideranças políticas e (nesse caso) da liderança política israelita".
Isso apenas está começando
Os quatro diários e a revista que difundiram o vasto acervo de mensagens eletrônicas diplomáticas informam que continuarão publicando mais durante pelo menos uma semana. Alguns editores afirmaram que isso apenas está começando.
Parece que tudo começou quando um analista de inteligência militar estadunidense de 22 anos de idade, que, aparentando estar escutando a Lady Gaga -cantando e movendo-se- estava "baixando" mais de um quarto de milhão de documentos diplomáticos que, após entregá-los em uma minimemória portátil a Wikileaks, sacudiram a vários governos do mundo.
.
O governo dos Estados Unidos ameaça fiscalizar judicialmente a Wikileaks enquanto tenta superar a crise diplomática provocada pela divulgação de mais de 250 mil mensagens de suas 274 embaixadas e consulados e se intensifica o debate sobre as implicações da filtração. Noam Chomsky considerou que isso revela "o profundo ódio" dos governantes à democracia.
Enquanto a secretária de Estado, Hillary Clinton, reuniu-se com contrapartes na Ásia Central -muitos deles mencionados nas mensagens eletrônicas- para tentar minorar o golpe e resgatar seu prestígio, o Procurador Geral, Eric Holder e o Pentágono reiteraram que estão sendo realizadas investigações "criminais" acerca das filtrações de Wikileaks.
Algumas versões jornalísticas assinalaram que as autoridades consideram aplicar a Lei de Espionagem contra Julián Assange, o fundador e diretor de Wikileaks. O porta voz da Casa Branca, Robert Gibbs, declarou que "obviamente, existe uma investigação criminal sobre o roubo e difusão de informação sensível e classificada". Explicou que estão sendo avaliadas uma gama de opções para castigar os responsáveis.
Minimizam a filtração
Outros funcionários do governo de Barack Obama continuaram minimizando o assunto. O secretário de Defesa, Robert Gates, declarou a repórteres no Pentágono que a divulgação foi um assunto "embaraçoso"; porém, que as consequências para a política exterior estadunidense são limitadas. "O fato é que os governos estabelecem relações com os Estados Unidos porque é de seu interesse, não porque gostam de nós, não porque confiam em nós e não porque acreditam que podemos manter segredos".
Hillary Clinton reiterou no Cazaquistão que "foi um ato muito irresponsável" que "colocou em risco as vidas de pessoas inocentes em todo o mundo, sem ter consideração para com os mais vulneráveis, incluindo jornalistas".
Insistiu em defender a liberdade de expressão e criticou aos governos que reprimem os jornalistas. Na era da Internet, é difícil balancear a liberdade e a responsabilidade. "Temos que apoiar e proteger a liberdade de expressão, seja de um indivíduo ou de um jornalista. Porém, também tem que haver algumas regras ou algum sentido de responsabilidade que deve ser inculcado".
O Departamento de Estado desconectou o acesso aos arquivos da rede cibernética classificada do governo e reduziu o número de empregados que podem ver mensagens diplomáticas. A medida é temporária, indicou o porta voz P. J. Crowley, enquanto são reparadas "debilidades no sistema, que ficaram evidentes nessa filtração".
Ao mesmo tempo, o Departamento de Estado tentou desmentir que os diplomatas estadunidenses são espiões. A mensagem divulgada por Wikileaks assinada por Clinton, que inclui instruções a funcionários estadunidenses para buscar informações até de DNA, escaneamento oculares e biométricos de representantes de outros governos e dos mais altos funcionários da Organização das Nações Unidas, provocou críticas em várias partes sobre se os diplomatas estavam espionando.
Um alto funcionário do Departamento de Estado -não identificado- que declarou que as solicitações para obter essa informação pessoal foram enviadas por "administradores da comunidade de inteligência", e que os diplomatas estadunidenses não tinham obrigação de atender a esses pedidos, informou a agência AP. O porta voz Crowley sublinhou que "nossos diplomatas são diplomatas, não bens de inteligência".
O caso detonou um crescente debate aqui sobre o impacto e o significado da filtração massiva de documentos classificados -a maior na história, "Talvez a revelação mais dramática (...) é o ódio amargo à democracia que é revelado pelo governo dos Estados Unidos -Hillary Clinton e outros- e também pelo serviço diplomático", considerou Noam Chomsky, em entrevista com Amy Goodman, em Democracy Now. "Devemos entender (...) que uma das principais razões dos segredos governamentais é para proteger ao governo de sua própria população".
Tomou como exemplo o dito ontem por Clinton acerca de que as mensagens "confirmam o fato de que o Irã representa uma ameaça muito séria ante os olhos de muitos de seus vizinhos", já que os documentos revelam que líderes árabes instaram a Washington a atacar o Irã. Chomsky assinalou que "as pesquisas mais recentes (realizadas por Brookings Institution) reportam que 80% da opinião pública árabe vê a Israel como a principal ameaça na região; a segunda são os Estados Unidos, com 77%; e o Irã, com 10%. Isso não se informa nos jornais; porém, é muito familiar para os governos de Israel e dos Estados Unidos e seus embaixadores" e. portanto, o que as mensagens revelam não é a posição dos povos da região, mas a dos ditadores árabes e dos governos ocidentais.
Assim, "o significado principal das mensagens divulgadas até agora é o que nos dizem da liderança ocidental", assinalou Chomsky. Ao omitir-se a opinião pública do mundo árabe, como em outros aspectos que abordam essas mensagens, isso "revela o ódio profundo à democracia pro parte de nossas lideranças políticas e (nesse caso) da liderança política israelita".
Isso apenas está começando
Os quatro diários e a revista que difundiram o vasto acervo de mensagens eletrônicas diplomáticas informam que continuarão publicando mais durante pelo menos uma semana. Alguns editores afirmaram que isso apenas está começando.
Parece que tudo começou quando um analista de inteligência militar estadunidense de 22 anos de idade, que, aparentando estar escutando a Lady Gaga -cantando e movendo-se- estava "baixando" mais de um quarto de milhão de documentos diplomáticos que, após entregá-los em uma minimemória portátil a Wikileaks, sacudiram a vários governos do mundo.
.
Assinar:
Postagens (Atom)