O prefeito demo da capital paulista, Gilberto Kassab, está se afogando no lamaçal das enchentes de São Paulo. A sua popularidade tem despencado, como constatou recente pesquisa do Ibope; os protestos populares contra a sua gestão se intensificam, como nas vaias dos alagados do Jardim Pantanal; e até a mídia demo-tucana passou a isolá-lo, temendo que o seu desgaste atrapalhe os planos do seu criador, José Serra, o presidenciável da oposição da liberal-conservadora. Algumas manchetes dos jornalões e comentários de âncoras da TV sinalizam que Kassab já foi rifado!
É bom lembrar que José Serra traiu descaradamente o PSDB, apunhalando o candidato oficial do partido, Geraldo Alckmin, para apoiar seu capacho demo. Em recente entrevista, Gilberto Kassab brincou que “durmo de paletó e gravata” para atender aos telefonemas do governador, conhecido por ser notívago. O declínio do prefeito deve tirar ainda mais o sono do governador, que gostaria de vê-lo como seu substituto cordato no Palácio dos Bandeirantes. A queda da sua popularidade fortalece a postulação do arqui-rival Alckmin, que até hoje não engoliu a traição de José Serra.
Insensibilidade social dos demos-tucanos
A pesquisa do Ibope, instituto atrelado aos demos-tucanos, foi a gota d’água– termo que apavora Serra e Kassab nestes dias de chuva. Ela registrou que a aprovação da gestão de Gilberto Kassab despencou de 46%, em novembro de 2008, para 28%. O Ibope até tentou relativizar a queda. Diz que ela se deve as enchentes e ao aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). “Há que se levar em conta que a pesquisa anterior foi feita após as eleições. O clima era outro. Agora estamos vivendo as enchentes”, afirma Márcia Cavallari, diretora executiva do instituto.
Mas não são apenas as inundações e o aumento do IPTU que causaram a queda de popularidade do demo. É o conjunto da obra desta prefeitura inepta e sem compromissos sociais. Como aponta excelente reportagem da Revista do Brasil, escrita por Antonio Biondi e Marcel Gomes, a capital paulista regrediu violentamente nas duas últimas gestões de José Serra e de sua cria, Kassab. Os investimentos nas áreas sociais despencaram, apesar do aumento da arrecadação da prefeitura. A insensibilidade social dos demos-tucanos é realmente crônica e patológica!
Culpa pelas mortes nas enchentes
No caso das enchentes, que já causaram dezenas de mortes e aterrorizam a cidade, não dá para culpar exclusivamente Deus e o povo – como alardeia a mídia demo-tucana. Kassab tem culpa no cartório e até poderia ser processado na Justiça. De 2006 a 2009, a prefeitura cortou R$ 353 milhões em ações de combate a enchentes. Ela usou menos de 8% dos R$ 18,4 milhões previstos no Orçamento de 2009 para construir piscinões, indispensáveis para amenizar as tragédias. “Para 2010, o prefeito destinou apenas R$ 25 milhões para obras e gerenciamento das áreas de risco.
O mesmo descaso criminoso se dá em outras áreas essenciais, principalmente para as populações mais carentes da capital. A saúde pública está abandonada, terceirizada e privatizada. Em 2009, Kassab anunciou com grande estardalhaço a utilização de R$ 90 milhões na construção de três hospitais: Brasilândia, Vila Matilde e Parelheiros. Apenas R$ 43 mil foram gastos (na sondagem do terreno da Brasilândia). Enquanto isto, a saúde é repassada para fajutas Organizações Sociais (OSs), que priorizam a “redução de custos” e precarizam o atendimento médico e hospitalar.
A crueldade dos albergues fechados
A assistência social é outra área que sofreu brutal regressão. Em 2003, a população de moradores rua era formada por 10.400 pessoas. Atualmente, já são mais 20 mil pessoas vagando pelas ruas. Neste cenário, o fechamento dos albergues foi uma crueldade. Uma assistente social entrevistada pela Revista do Brasil relata: “Ninguém conhece a realidade dessas pessoas, a mídia não mostra. Os moradores reclamam do fechamento de albergues e dizem que são levados de um lado a outro pelas peruas do ‘São Paulo Protege’. Não há política de inclusão, mas eles não têm como reagir”.
A prefeitura simplesmente fechou a estação coletora de lixo reciclável da Boracéia, reconhecida por sua ação reintegradora da população de rua. “Ali, os catadores tinham abrigo até para os seus cachorros. O projeto e 15 outras estações foram encerrados. Faz parte da linha higienista imposta à região central. Assim como a evacuação dos prédios São Vito, Prestes Maia e Mercúrio, que simbolizavam a resistência e a chance das classes mais pobres viverem no centro – mediante um projeto de recuperação dos imóveis para posterior inclusão na política habitacional”.
Ainda no quesito moradia, a gestão Kassab é uma desgraça. A construção em mutirões, apontada por especialistas como uma das formas mais baratas para enfrentar o déficit habitacional, sofreu redução de 75% entre 2004 (R$ 22,4 milhões) e o orçamento da prefeitura (R$ 5,8 milhões) para 2010. Cerca de 1,3 milhão de pessoas vivem em 1.600 favelas e essa população cresce a taxas de quase 4% ao ano. O demo Kassab parece não se incomodar com as suas condições precárias de habitação, que tornam estas famílias mais vulneráveis aos desmoronamentos e alagamentos.
Transporte individual e caos urbano
Já no transporte urbano, o quadro é de caos. Os corredores de ônibus, que foram ampliados na gestão de Marta Suplicy, estão quase paralisados. As verbas para a expansão neste ano sofreram corte de R$ 280 milhões. Já nas obras viárias, que priorizam a circulação de veículos privados, o prefeito promete investir cerca de R$ 4,4 bilhões. O recurso daria para cerca de 20 quilômetros de metro. “Não é à toa que a velocidade média do tráfego nas horas de pico, que já foi de 27 km/h em 1980, hoje está em 17 km/h”, apontam os jornalistas Antonio Biondi e Marcel Gomes.
Em 2008, na véspera das eleições municipais, a mídia deu uma forçinha para o candidato demo, exibindo a exaustão as imagens do governador José Serra entregando cheques gigantes a Kassab. Eles “simbolizavam” parte do R$ 1 bilhão que a prefeitura investiria na expansão do metrô. Foi puro teatro eleitoreiro da dupla Serra-Kassab. Naquele ano, a verba investida na Linha 5 (Santo Amaro) não alcançou nem a metade do prometido. Em 2009, a prefeitura destinou apenas R$ 50 milhões dos R$ 218 milhões previstos. Já para 2010, estão previstos somente R$ 5 milhões.
Regressão do CEU e dos programas sociais
Outras duas iniciativas inovadoras da prefeita Marta Suplicy, tão estigmatizada pela mídia demo-tucana, também estão sendo devastadas. Na área da educação, o projeto do Centro Educacional Unificado (CEU), que visava garantir educação de qualidade aos estudantes da periferia, teve seu objetivo desvirtuado. “A grande preocupação do CEU kassabiano é a polícia, não os instrutores, a linha política, a visão de cultura. Em termos de educação e cultura, não há diferença entre escolas de lata e CEUs”, relata um dos especialistas entrevistados pela Revista do Brasil.
Já a experiência bem sucedida encabeçada pelo economista Marcio Pochmann, que foi secretário do Trabalho, Desenvolvimento e Solidariedade na gestão Marta Suplicy e hoje preside o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi esvaziada. Em 2004, último ano da prefeita petista, foram investidos R$ 190 milhões em políticas de geração de emprego e renda nas regiões mais carentes da capital – o que resultou em sensível redução nos indicadores de violência. Até o final do ano passado, o demo Kassab havia aplicado apenas R$ 28 milhões nesta secretaria estratégica.
“Taxab” e o recorde em publicidade
Estes e outros estragos é que explicam a vertiginosa queda de popularidade do prefeito Gilberto Kassab, que acaba respigando nos planos presidenciais do seu criador, José Serra. E não dá para argumentar que houve diminuição dos impostos, exigência dos empresários e da “classe mérdia” que o apoiaram na eleição municipal. Muito pelo contrário. O recente aumento do IPTU deverá injetar mais R$ 564 milhões nos cofres da capital. Tanto que o demo já foi apelidado de Taxab. Na verdade, o dinheiro que falta na área social está sendo desviado para outras prioridades. Para este ano, estão previstos R$ 126 milhões em publicidade – novo recorde na história da cidade.